ESPAÇO ESPÍRITA
Logo após a Segunda Guerra Mundial, dois homens almoçavam num restaurante em Londres, Inglaterra.
A carne estava racionada. Cada cliente só podia comer um bife.
Um deles, brasileiro, após saborear o seu, pediu outro ao garçom. Este lhe disse que não poderia atendê-lo, em face da restrição vigente.
Nosso patrício sorriu, superior:
– Norma ingênua. Posso entrar noutro restaurante e comer mais um bife.
O garçom, imperturbável:
– Sem dúvida, o senhor pode fazer isso. Um inglês não faria.
Quando dizemos que cidadão é o indivíduo no pleno uso de seus direitos civis e políticos, exprimimos uma definição pela metade.
Ser cidadão é, também, o indivíduo cônscio de suas responsabilidades perante a sociedade. Leis são instituídas, visando disciplinar o relacionamento social e favorecer o bem-estar coletivo, compete-lhe observá-las, integralmente. Em países de cultura milenar, povos conscientes e esclarecidos, a cidadania é exercitada em plenitude, envolvendo direitos e deveres, em favor do bem-comum.
O inglês, no pós-guerra, período de grande escassez, observava estritamente o racionamento, a fim de que toda a população pudesse se alimentar.
Nosso povo, ainda pouco preparado para o exercício da cidadania, está sempre disposto a exercitar o “jeitinho brasileiro”. Em sua expressão mais simples, diríamos que é a arte de burlar as leis e os regulamentos em proveito próprio, sem cogitar de que, invariavelmente, haverá prejuízo a outrem. Os ingleses não tinham a fiscalização em seus calcanhares para obrigá-los a cumprir as normas. Sua observância era uma questão de maturidade.
Será a plenitude da cidadania, considerados os direitos e os deveres inerentes à convivência social, mera decorrência do tempo?
Teremos que esperar por uma cultura brasileira milenar para alcançar tal conquista? Certamente, não! A educação pode agilizar o processo. Não se trata da mera instrução que recebemos na escola, mas da educação fundamental, no lar, a partir do comportamento dos adultos. Se os pais não passam para a criança o exemplo de cidadania, de cumprimento de seus deveres, de respeito pelas leis, de fidelidade à verdade, como iremos mudar a mentalidade patrícia? migo dizia-se estarrecido com o que presenciou, certa feita, num jogo de futebol. Em dado momento, um menino de seus oito anos, indignado com suposta falha de arbitragem, proferiu palavrões. “Homenageou” a senhora mãe do juiz, atribuindo-lhe aquela profissão pouco recomendável. O pai o olhava sorridente, orgulhoso de sua atitude intempestiva. Que se pode esperar de um adulto que recebeu, na infância, esses estímulos ao destempero e à vulgaridade? Nesse aspecto, a Doutrina Espírita é instrumento divino, com lições incisivas que nos fazem pensar. Destaque para a Lei de Causa e Efeito, segundo a qual sempre receberemos de retorno todos os prejuízos que causarmos ao próximo. Lembrando o episódio na Inglaterra, o bife que subtrairmos ao vizinho, hoje, será o bife que faltará em nosso prato, amanhã.
É fundamental cumprir nossos deveres como cidadãos, a partir do elementar dever de ajudar os que passam por privações, atendendo à própria consciência.
E não estaremos fazendo grande coisa, leitor amigo. Apenas o mínimo necessário para que, na roda das reencarnações, não nos vejamos privados, amanhã, do direito de nos alimentarmos adequadamente.
Extraído do livro “Abaixo a depressão” – Richard Simonetti – Editora CEAC
U.S.E.-UNIÃO DAS SOCIEDADES ESPÍRITAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – INTERMUNICIPAL DE ASSIS