Diocese de Assis
A FELICIDADE É UM DOM PARA QUEM, AINDA, TEM CORAÇÃO.
Todo mundo busca a felicidade e, esta busca pode acabar justificando tudo… tanto as melhores como as piores intenções, tanto o bom como o mal costume, tanto a justiça como a injustiça, tanto o bem como o mal das pessoas. E o que é pior: justificativas sem qualquer dor de consciência.
O que está acontecendo conosco? Por que nos tornamos desmedidos nas coisas? Por que a busca da felicidade a qualquer custo? Por que, apesar de tudo: das glórias, das vantagens, dos prazeres, da fama, do poder… tudo parece tão pouco e tão insuficiente? Por que acordamos, todos os dias, com aquela sensação de que não era bem assim… de que poderia ser melhor… de que é preciso acontecer alguma coisa diferente… que é preciso mais… mais… sempre mais?
Uma chave de leitura importante, para compreendermos este esvaziamento do sentido das coisas, dos valores, das pessoas, da verdade, do amor, do bem e da vida é que, todos nós fomos lançados no grande caldeirão das sensações. E isso não é de hoje. É de muito tempo! Tornou-se cultura! Está correndo em ‘nossas veias’! Sem que nos demos conta, medimos tudo, avaliamos tudo, escolhemos tudo, decidimos tudo pelas sensações produzidas em nós.
Estamos na égide das sensações… no império das sensações! Se não sentimos não aceitamos como verdade. E, portanto, o que sentimos é o que é a verdade! Parece louco, não é? Mas, é o que está acontecendo conosco. Temos medido tudo pela ‘lei das sensações’. Tente refletir! Quantas vezes você rompeu relacionamentos porque sentia que a pessoa ‘não ia com a sua cara’, não gostava de você, estava ‘armando’ contra, falava mal de você etc, etc e tal? Quantas vezes você fez escolhas, mudou de padre, de pastor, de paróquia, de igreja, de religião… porque não estava se sentindo bem? Quantas vezes isso… quantas vezes aquilo… quantas vezes aquilo outro por causa das sensações.
As sensações não são um mal em si mesmo! Pelo contrário, elas são matrizes de vida. O problema é que se tornou única lei e única referência. Precisamos romper com a cultura das sensações. Porque somos mais complexos. A medida não é a sensação. Temos outras medidas que superam os sentimentos, as emoções e as sensações produzidas pela subjetividade hedonista da cultura neoliberal.
De fato, a absolutização do prazer como vertente de realização humana criou uma geração de insatisfeitos. E, quanto mais portas para o prazer são abertas, tanto menos elas são suficientes. O imediatismo que tira o sabor de tudo, também banaliza. A vida está sob o risco da banalização. Tudo está valendo menos do que realmente vale!
O racionalismo moderno semeou a onipotência tecno-científica como salvação para todos os problemas do mundo. O resultado, porém, desta combinação, ao longo do tempo, foi a emergência de um mundo de cabeça grande e coração pequeno.
Como na vida os extremos se tocam, o ser humano desta nossa época é muito mais objeto do que sujeito; muito mais matéria do que pessoa; muito mais vibração do que energia; muito mais libido do que afeto; muito mais desejo do que amor; muito mais carne do que corpo; muito mais sensação do que percepção.
Ora, a sensibilidade humana, “pós pós-moderna”, não é fruto da humanização que resultaria do ‘diálogo’ do homem com todas as suas possibilidades e circunstâncias. Antes, é uma reação defensiva e compensatória à solução racionalista de ver e explicar o mundo. Por isso, me parece cheio de razão, a quem deseja a verdadeira felicidade, num mundo de compensações minimalistas, o ressurgimento das razões do coração que a razão desconhece, como dizia Blaise Pascal. A questão está posta: precisamos reconsiderar a pessoa como Pessoa para darmos um salto de qualidade nas buscas e repostas sobre o verdadeiro bem humano. Seria esse, um processo maravilhoso de ‘pessoalização’.
Vale a pena considerar algumas indicações bíblicas neste processo de reconstrução da pessoa: “Não siga o seu instinto nem a sua força, para satisfazer os seus caprichos” (Eclo 5,1-8); “Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens” (1Cor 15,12.16-20).
- EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS –