Diocese de Assis
AVANCE PARA ÁGUAS MAIS PROFUNDAS
A afirmação básica do Evangelho é a valorização incondicional da pessoa! Por isso, as opções de Jesus estão, sempre, em conflito com os interesses sociais, políticos, econômicos e religiosos de sua época e da nossa.
Vivemos num tempo marcado por alguns traços de desumanidade, não obstante as dores e sofrimentos presente no mundo todo: materialismo, indiferença, insensibilidade, violência, perversão moral, agressões múltiplas, rotulações, mentiras
do materialismo, da rotulação e da indiferença, da insensibilidade.
Apesar de viver neste mundo e neste tempo, precisamos aprender a romper com as obviedades deste nosso mundo e deste nosso tempo. Se queremos dar o “corte” temos que avançar para águas mais profundas, conforme a dica do Evangelho.
“Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: ‘Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.’ Simão respondeu: ‘Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.’ Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se arrebentavam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem” (Lc 5,1-11).
É preciso se abrir à oportunidade de mudança; acolher os motivos de alegria; dar razão à esperança; permitir a hora da parada e entender o tempo do silêncio. Isso significa, conforme o Evangelho: dar atenção à Palavra; tomar decisão pessoal; fugir do consenso; sair da obviedade; renunciar o rótulo. O evangelho é construção de fé a partir do Mistério, por isso é, ainda, tarefa de cada um de nós, hoje.
Quando a oportunidade da mudança se abre e não mudamos, a vida se torna alvo da mais dura descrença e imobilismo, roubando a coragem de um coração que fica relegado à sombra da desconfiança e do medo. Mudar é sadio porque significa crescimento, desinstalação, descoberta e avanço.
Quando o motivo de alegria acontece e não nos alegramos a vida se converte em abismo intransponível ou, quem sabe, em poço da ingratidão escavado pelo racionalismo mórbido, pela insensibilidade e pela indiferença. A alegria do coração é vida para o ser humano porque possibilita, a qualquer pessoa, manter-se de cabeça erguida e contente, mesmo em meio às contradições, incertezas e males.
Quando a razão da esperança ilumina e não ‘esperançamos’, a vida, facilmente ou fatalmente perde o brilho, fica apagada, perde o sentido e se desespera. A esperança é o carro chefe da liberdade. É ela quem permite aos que põem os pés no caminho, olhar para frente, recuperar o entusiasmo, desabrochar para a confiança e perseverar na fé. Ter esperança é aprender o diálogo na tensão passado-presente-futuro.
Quando a hora de parar desperta e não paramos, a vida se torna um cansaço permanente, roubando a energia de um corpo que realiza cada vez menos, interage cada vez menos e é empurrado, cada vez mais, para compensações de momento para aliviar o estresse, o cansaço e os pesos. Compensação não vale a pena; não é nada bom; não interessa; desumaniza. Bom mesmo é aceitar o limite do corpo e permitir-se parar.
Quando o tempo do silêncio e não silenciamos, a vida fica ruidosa e incomunicável, desgastando qualquer palavra e tirando a força dos ouvidos. Silêncio não é emudecimento; não é deixar de falar. Silêncio é, antes de tudo, saber falar, saber calar, saber escutar. Tal atitude requer o encontro com a Palavra (de Deus) na sua pureza. Porque, aliás, a voz de Deus é o Silêncio.
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS