Diocese de Assis

DO PRINCÍPIO AO FIM, A PALAVRA!

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A espiritualidade cristã conserva, no seu depósito, uma relação fundamental com a Palavra: tudo tem sua origem pela Palavra.

No princípio, de acordo com as descrições do Gênesis, é pela Palavra e através dela que Deus cria todas as coisas com o “faça-se” primordial. E a cada “faça-se”, tudo se tornava realidade e Deus via que tudo era bom, porque correspondia à sua Palavra Criadora. “Deus disse: ‘Que exista a luz!’ E a luz começou a existir. Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas: à luz Deus chamou “dia”, e às trevas chamou “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia” (Gn 1,3-5)

“Dabar” é o termo hebraico para se referir à Palavra em Ação.

“A essência da palavra Dabar é, perfeitamente, relacionada com a ‘ordem’, trazendo o significado de ‘organização’, de ‘estrutura’, de ‘sucessão’. O universo existente descrito nos textos da Torá é uma sucessão de pronunciamentos ‘verbalização’ estruturada e organizada dentro da criação.” É Deus falando e tudo ganhando existência! “Em uma observação interessante sobre a palavra ‘cosmos’ (do grego ‘Kosmos’) vemos que seu significado literal é ‘ordem’, ‘organização’. Sendo assim, ‘bem ordenado’ ou ‘ornamentado’, também é sinônimo de ‘universo’. A palavra ‘universo’ vem do Latim, cujo sentido é: ‘Uni’ significa: Único e ‘Verso’ significa: Frase Falada: O universo é uma “única frase falada”.

“O Dabar vem, portanto, acompanhado de uma força capaz de criar, de gerar a partir do nada, de entrar em relação com todas as realidades existentes e de transformar o ser”

O Antigo Testamento tem dois grandes ícones ligados à Palavra: Moisés e Elias que, curiosamente, aparecem nas descrições da Transfiguração de Jesus, no Monte Tabor: “Nisso lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com Jesus” (Mt 17,3).

Moisés é o guardião da “Dez Palavras” ou seja, dos Dez mandamentos. Foi escolhido, pelo Senhor, para receber tais palavras, gravadas em pedras e ensiná-las ao Povo de Deus, no deserto, a fim de conservar a memória do Deus presente e conservar-lhe o amor e a obediência: “Moisés convocou todo o Israel e disse: ‘Ouça, Israel, os estatutos e normas que hoje eu proclamo aos seus ouvidos, para que os aprendam e cuidem de praticar: Javé nosso Deus fez uma aliança conosco no Horeb” (Deuteronômio 5,1-2).

Elias é o profeta: o homem da Palavra. É encarregado, pelo próprio Deus, para anunciar seus preceitos, ordens e vontade e, ao mesmo tempo, denunciar os desvios e as conseqüentes punições aos recalcitrantes que não se deixam converter pela palavra. “Elias, o tesbita de Tesbi de Galaad, disse ao rei Acab: “Pela vida de Javé, o Deus de Israel, a quem sirvo: nestes anos não haverá orvalho nem chuva, a não ser quando eu mandar” (1Rs 17,1).

O Novo Testamento é, por assim dizer, a maior de todas as revelações proféticas: Deus se faz Palavra e comunica-se como fonte de vida e salvação ao seu povo.

Jesus é o Verbo ou a Palavra do Pai. Nele, o Pai realiza a nova Criação no seu corpo e seu sangue. Que dizer: na sua encarnação, paixão, morte e ressurreição.

No Evangelho do João encontramos o seguinte relato: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. No começo ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a Palavra se fez homem e habitou entre nós..(João 1,1-4.14).

Paulo é o símbolo do homem convertido pela Palavra ao Amor-Palavra-Jesus: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada” (1Cor 13,2).

Sem uma profunda experiência pessoal com a Palavra de Deus, que é o Cristo, corremos o risco de, mesmo sendo religiosos, não atingirmos o núcleo e a verdade da fé.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS

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