“Há risco de vermos juros acima de 14% novamente, em 2025”, alerta especialista da FIPECAFI

Tensões no Oriente Médio e Coréia do Sul, novidades no Plano de Governo de Trump e os próprios desafios internos do Brasil podem contribuir para taxa entre 12% ou mais nesta divulgação

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Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá para definir a taxa básica de juros, sendo a última reunião do ano. Segundo os especialistas da FIPECAFI, a expectativa é de um novo aumento da Selic de 12%, mas que no próximo ano deva superar os 13,5% ou atingir patamares superiores a 14%. Essa projeção, quando analisada, está condicionada à incerteza em relação à aprovação e efetividade das medidas fiscais propostas pelo governo.

O especialista em Mercado Financeiro da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), Felipe Nasciben, explica que parte do mercado já aposta em uma alta 0,75% na próxima reunião e os DI´s futuros chegaram a projetar uma Selic podendo ir até próximo de 15%.

“Há um risco de vermos juros acima de 14%, novamente. Há um Banco Central pressionado neste momento e, mais uma vez, deverá ter de ser um pouco mais agressivo do que gostaria. Acredito que, a contragosto e, talvez sem unanimidade, irá elevar 0,75% na próxima reunião levando a Selic terminal para 12%, ante os 11,75% anteriormente projetado. Já as projeções de DI, precificadas pelo mercado, me soam ainda exageradas neste momento e não vejo a Selic indo a 15%, mas elevo minha expectativa de final de ciclo de alta, antes projetada para 12,5% a 13,0%.

Porem, agora, estimo 13,0% a 13,5%, deixando claro subir, mas isso apenas se o governo for malsucedido na aprovação e execução do pacote de medidas fiscais recentemente apresentadas”, analisa.

Já na opinião do também especialista em Mercado Financeiro da FIPECAFI, Rogério Paulucci, a última reunião do ano, o Copom deve elevar a Taxa Selic para 11,75% ao ano. Para 2025, as expectativas do mercado reveladas no último relatório Focus são que a taxa Selic feche em 12,63% ao ano, uma alta em relação às semanas anteriores.

“No ano que vem, o BC tem um enorme desafio pela frente. Isto é, manter as expectativas de inflação próximas ao centro da meta de 3% ao ano. Esta dificuldade é potencializada pelo cenário internacional. As taxas dos treasuries bonds norte-americanos, principal referência de juros internacionais, subiram após a eleição de Donald Trump. Isto levou a uma valorização do dólar em relação a uma cesta de moedas internacionais. Maiores índices nos Estados Unidos atraem capital tornam os ativos em dólar mais atraentes e direcionam o fluxo de recursos para a economia norte-americana. Este movimento obriga o Banco Central brasileiro a manter um diferencial entre as taxas internas em relação aos números dos treasuries”, explica.

Mercado Financeiro

Paulucci ainda traz atenção sobre as políticas protecionistas a serem adotadas por Donald Trump, incluindo possíveis aumentos tarifários, que podem afetar o comércio internacional e a economia brasileira. Além disso, cita que os estímulos fiscais nos EUA podem elevar a inflação americana, levando o Federal Reserve a interromper o ciclo de queda e voltar a aumentar os juros. Taxas mais altas nos EUA tornam os investimentos em dólares mais atrativos, pressionando o real e podendo forçar o Banco Central do Brasil a elevar a Selic para manter a atratividade dos ativos brasileiros e o capital estrangeiro no país.

Ainda sobre os próximos meses, o especialista espera que o Banco Central do Brasil ajuste a Taxa Selic também em resposta a perda de credibilidade fiscal. Ou seja, a percepção do mercado acerca do descontrole nos gastos públicos aumenta a desconfiança entre os investidores, elevando o risco ao país. “Isso resulta em aumento dos juros futuros negociados e depreciação cambial, já que os investidores demandam prêmios de risco maiores para ativos brasileiros. A incerteza fiscal, vindo do Governo Federal, pressiona o BC na adoção de uma política monetária mais restritiva, elevando o índice para conter a inflação e estabilizar a moeda”, comenta especialista em Mercado Financeiro da FIPECAFI, Rogério Paulucci.

Cenário

Ao analisar o cenário interno e externo é possível ver que, no contexto do Brasil, a inflação, embora tenha apresentado alta, não é o único fator de preocupação. A incerteza fiscal, com medidas como a isenção de IR, e a valorização do dólar geram um cenário de maior risco e pressionam os preços para cima.

“Paralelamente, recentemente, os dados sobre o baixo nível de desemprego e o aumento do consumo indicam um aquecimento da economia, o que também contribui para a inflação, segundo os especialistas. Para eles, essa combinação de fatores, mesmo que alguns sejam positivos, aliados à incerteza, exige uma ação mais firme do Banco Central”, comenta especialista em Mercado Financeiro da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), Felipe Nasciben.

Nasciben também comenta sobre a externalidades, ainda mais agora com incertezas geopolíticas no Oriente Médio e na Coreia do Sul, cujo ato recente de fechar o parlamento, por muitos foi visto como uma tentativa de golpe, contribuindo para a pressão global.

“Já nos EUA, teremos resultado de payroll no final desta semana que podem contribuir para uma consolidação da defesa da tese de mais uma redução da taxa de juros. Dado a estabilidade da inflação americana, se vier um resultado em linha e o discurso do Fed mantiver otimismo, acredito em mais uma queda. Desde o início dessa semana, até as bolsas americanas parecem já estarem precificando essa queda”, finaliza.

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