Tecnologia de monitoramento cresce no Brasil e levanta questões sobre privacidade
O uso de câmeras de reconhecimento facial avança enquanto o país busca equilíbrio entre segurança e liberdade
As câmeras de monitoramento estão cada vez mais inseridas em nosso dia a dia. Presentes em ruas, comércios, edifícios residenciais, escolas e transportes públicos, elas desempenham um papel central no reforço da segurança urbana.
O Brasil ocupa a quinta posição no ranking global de países com maior número de redes de câmeras equipadas com tecnologia de reconhecimento facial. Um levantamento da Top10VPN, vinculado ao grupo de direitos digitais “Privacy.co”, revela que o país possui mais de 266 mil redes de câmeras dotadas dessa tecnologia. Essa ampla difusão é muitas vezes associada à prevenção e resolução de crimes, mas também levanta debates sobre os limites do monitoramento e seus impactos na privacidade individual.
A reflexão sobre como equilibrar segurança e proteção de dados torna-se cada vez mais urgente em um cenário onde a vigilância tecnológica avança rapidamente. Pedro Marcondes Thut Medeiros, capitão da Polícia Militar e especialista em segurança pública, explica que o equilíbrio entre segurança e privacidade é um dos maiores desafios da atualidade. “As câmeras são ferramentas fundamentais na prevenção e resolução de crimes, mas é preciso que seu uso seja regulamentado para evitar excessos e preservar os direitos.
Dados do Panóptico, iniciativa do Centro de Estudo de Segurança e Cidadania (CESeC) voltada ao monitoramento de novas tecnologias em segurança, revelam que cerca de 47,6 milhões de brasileiros estão potencialmente sob vigilância de câmeras. A região Sudeste lidera esse cenário, com 21,7 milhões de pessoas sendo monitoradas por esses dispositivos. “Enquanto elas contribuem para um ambiente mais seguro, precisamos ter clareza sobre quem acessa esses dados e como eles são armazenados”, alerta Pedro Marcondes. Ele destaca que casos de vazamento de imagens reforçam a necessidade de critérios rigorosos na gestão dessas informações.
A questão da privacidade está no centro desse debate. Para muitas pessoas, a presença dos equipamentos pode gerar a sensação de estar sendo constantemente vigiado, mesmo em situações do cotidiano, como uma caminhada no parque ou uma ida ao supermercado. “O grande dilema é que, ao ceder parte da privacidade para garantir mais segurança, é possível abrir brechas para abusos, seja pelo uso indevido das imagens ou pela falta de transparência em relação ao monitoramento”, explica Pedro Marcondes.
Ele também destaca que tecnologias como reconhecimento facial e inteligência artificial estão ampliando o alcance das câmeras, tornando-as mais invasivas. “Quando um sistema pode identificar não apenas onde você está, mas também quem você é, o impacto na liberdade individual é significativo”, completa.
Para o especialista, a solução está em políticas públicas que garantam tanto a eficácia das câmeras na segurança quanto a proteção da privacidade dos cidadãos. “Transparência é essencial. A população precisa saber quem está monitorando, por que e como essas imagens serão usadas. Além disso, é fundamental que haja regulamentação e punições claras para o uso inadequado dessas ferramentas”, sugere.
Enquanto a tecnologia avança, o debate sobre segurança e privacidade continuará sendo essencial para garantir que a busca por proteção não resulte em uma sociedade onde a vigilância se torne opressiva. “O que buscamos é um equilíbrio, onde segurança e liberdade coexistam em harmonia”, conclui Pedro.
Sobre
Com mais de 14 anos de experiência na Polícia Militar do Estado de São Paulo, Pedro Marcondes Thut Medeiros é Capitão da PM e especialista em segurança pública. Formado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco, possui vasta experiência em patrulhamento tático, controle de distúrbios civis, e operações de inteligência. Reconhecido por sua competência, foi premiado diversas vezes por sua atuação, incluindo medalhas de mérito pessoal e liderança em operações de grande escala. É membro de associações internacionais de segurança e polícia, como IPSA e IPA.