Por que o papel da escola é essencial na formação de leitores?

Pesquisas revelam que diminuiu a quantidade de leitores incentivados pelas escolas (de 23% para 19%) e que menos da metade (45%) das creches e pré-escolas realizam momentos de leitura

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Por outro lado, estados como Rio de Janeiro e Goiás promovem iniciativas de promoção da leitura, com distribuição de livros para estudantes e bibliotecas

 

O Dia Mundial do Livro, 23 de abril, nos convida a refletir sobre a importância da produção literária na formação dos indivíduos. Nesse contexto, a escola tem um papel fundamental: pode ser a porta de entrada para que crianças, especialmente aquelas sem acesso a livros em casa, descubram o universo da leitura. Um universo que amplia as linguagens, desperta a imaginação e fortalece o pensamento crítico.

Apesar da importância da leitura na formação das crianças, estudos mostram que o incentivo a essa prática ainda precisa ser mais fortalecido no ambiente escolar. A pesquisa Avaliação da Qualidade da Educação Infantil, conduzida pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (LEPES/USP) e pelo Movimento Bem Maior, com apoio do Itaú Social, revela que apenas 45% das turmas da Educação Infantil no Brasil realizam atividades de mediação de leitura de histórias, sendo que, em 5% desses casos, a prática ocorre sem intencionalidade pedagógica. O levantamento também aponta que 39% das turmas de creches e pré-escolas não incluem atividades literárias na rotina, e apenas 27% promovem momentos de leitura compartilhada.

A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada em 2024 pelo Instituto Pró-Livro (IPL), reforça esse cenário de alerta. O levantamento aponta que o número de leitores que identificam a escola como espaço de estímulo à leitura caiu de 23% para 19% nos últimos quatro anos. Além disso, a influência da escola na recomendação de livros tem diminuído significativamente: apenas 4% dos entrevistados disseram estar lendo uma obra sugerida por seus professores — um percentual que já foi de 25% em 2011 e caiu para 10% nas edições realizadas em 2015 e 2019.

Ações práticas

O livro literário foi considerado pela Secretaria de Educação de Goiás (Seduc-GO) uma ferramenta indispensável para superar o desafio da alfabetização do Estado. Levantamento em 2019 mostrou que cinco mil estudantes, entre o 3° e o 9° ano do Ensino Fundamental no Estado de Goiás, ainda não sabiam ler e escrever. Diante disso, a Seduc-GO implementou o programa Alfamais, um conjunto de estratégias em parceria com os municípios para garantir a alfabetização de todas as crianças do território goiano.

Mais de vinte e cinco mil kits literários, nos últimos dois anos, foram entregues às crianças da Educação Infantil e estudantes do primeiro ano do Ensino Fundamental. A seleção dos títulos levou em conta a faixa etária e os interesses do público-alvo, priorizando narrativas lúdicas, criativas e envolventes. Entre as obras escolhidas estão “O Menino da Pele Azul”, “O Sapo Barnabé” e “Quem Nunca”, que despertam a imaginação e fortalecem o vínculo das crianças com o universo da leitura.

No Rio de Janeiro, como parte do programa “Educação do Amanhã”, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc-RJ) distribuiu cinco obras literárias aos estudantes do ensino médio, abordando uma variedade de temas relevantes para essa etapa da vida escolar. A ação marca uma mudança importante: em vez de apenas disponibilizar os livros nas bibliotecas, os alunos passaram a ter a posse dos exemplares, podendo levá-los para casa e compartilhá-los com seus familiares, democratizando o acesso ao conteúdo. Essas iniciativas se apoiam na Lei nº 4.077, de 07 de janeiro de 2003, que estabelece a política do livro no Estado do Rio de Janeiro e também na Política Pública de Recomposição da Aprendizagem da Educação, homologada pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e publicada por meio de portaria no dia 1º de abril de 2025.

Além disso, a Seeduc-RJ investiu na formação de centenas de agentes de leitura (professores da rede capacitados para desenvolver atividades específicas nesse campo) em 2025 e ainda vai promover edições regionais de saraus literários, quando os estudantes e docentes poderão apresentar seus projetos de literatura desenvolvidos nas escolas.

“A leitura é um dos pilares para a aprendizagem e a formação cidadã dos nossos estudantes. Com a distribuição de livros e a atuação dos agentes de leitura queremos fortalecer o contato dos alunos com a Literatura e tornar a leitura uma prática prazerosa e cotidiana nas escolas. Essas ações fazem parte do nosso compromisso com a recomposição das aprendizagens e a ampliação do repertório cultural dos jovens”, explica a subsecretária de Gestão de Ensino da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc-RJ), Joilza Rangel.

Em Guarulhos, a Prefeitura Municipal também tem investido em ações de promoção de leitura nas escolas, com a realização de atividades culturais a partir do tema “Leitura: Direito de Todos”. Neste mês, por exemplo, foi realizado um evento de contação de histórias baseado no livro O Pequeno Colecionador, fábula da autora Liana Leão, apresentado pelas contadoras Titzi Oliveira e Tatiana Abrantes. A ação foi organizada pelo Departamento de Orientações Educacionais e Pedagógicas (DOEP), da Secretaria de Educação, com apoio do Grupo Eureka.

Literatura como prioridade

Investir em ações que incentivem a leitura e fortaleçam a formação de professores integra a base dos projetos voltados à ampliação do número de estudantes leitores. Para a pedagoga e especialista em leitura do Grupo Eureka, Malu Carvalho, a leitura literária transcende as disciplinas escolares, oferecendo uma abordagem interdisciplinar que amplia horizontes e estimula novas formas de ver o mundo. “É fundamental fornecer aos educadores ferramentas que ampliem seu repertório e diversifiquem suas estratégias de mediação e incentivo à leitura”, destaca.

Conheça alguns exemplos de iniciativas e estratégias de mobilização de leitura nas escolas, de acordo com o Guia de Experiências Literárias, distribuído para agentes literários do Rio de Janeiro:

  • Clubes de leitura: criação de grupos nos quais estudantes e adultos se reúnem para discutir livros selecionados, explorando temas complexos e contemporâneos, promovendo o diálogo e a troca de ideias;
  • Leitura compartilhada em bibliotecas: atividades que incentivam membros da comunidade a se reunirem para ler e debater textos de interesse comum, fortalecendo a inclusão social e o engajamento coletivo;
  • Slam Literário: Competição de poesia oral em que os participantes apresentam seus poemas de maneira intensa e expressiva, priorizando a performance e a conexão com o público;

Saraus: Encontros que reúnem músicos, poetas e artistas para compartilhar suas obras e performances, criando um ambiente de celebração artística e intercâmbio cultural

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