Dia Internacional da Educação destaca desafios e soluções para o futuro do ensino 

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Com foco em tecnologia, competências socioemocionais e bilinguismo, especialistas refletem sobre os caminhos para uma educação mais inclusiva, conectada e transformadora

O Dia Internacional da Educação, celebrado em 28 de abril, foi criado no Fórum Mundial de Educação de 2000. Na ocasião, 164 países assinaram a Declaração de Dacar, assumindo seis metas prioritárias: ampliar o acesso à educação infantil, garantir o ensino primário gratuito para todos, promover a equidade de gênero, reduzir o analfabetismo, melhorar a qualidade do ensino e atender às necessidades de aprendizagem de jovens e adultos.

Passados 25 anos, embora tenha havido avanços significativos, os desafios persistem e, em alguns casos, se intensificaram. De acordo com o Relatório de Monitoramento Global da Educação 2024 da UNESCO, 251 milhões de crianças e jovens ainda estão fora da escola em todo o mundo. Essa estagnação educacional gera impactos profundos não só sociais, mas também econômicos: estima-se que a evasão escolar e as lacunas no aprendizado possam custar à economia global cerca de 10 trilhões de dólares até 2030.

Frente a esse cenário, é urgente repensar os caminhos da educação. Soluções inovadoras vêm ganhando espaço, com destaque para o uso da inteligência artificial, a adoção do ensino híbrido e a valorização do bilinguismo, todos vistos como aliados na construção de uma educação mais inclusiva, eficaz e conectada com as realidades do século XXI.

Educadores destacam a urgência de repensar a escola diante da chegada da Inteligência Artificial Generativa (IAG), já presente nas salas de aula e capaz de transformar profundamente as práticas de ensino. A tecnologia escancara desigualdades digitais e impõe o desafio de formar alunos críticos, criativos e éticos. “A escola precisa formar sujeitos pensantes, éticos e autônomos, e isso exige integrar a tecnologia ao currículo de forma significativa”, afirma Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco. Para ela, o professor deve ser valorizado e preparado para mediar o uso pedagógico da IA. Celebrar esta data é, portanto, renovar o compromisso com uma aprendizagem mais humana, integrada e transformadora. Tecnologias, competências socioemocionais e múltiplas linguagens, quando trabalhadas de forma intencional, ampliam as oportunidades de desenvolvimento e formam cidadãos prontos para um mundo em constante mudança.

Tecnologia na educação: uma ponte para oportunidades 

A presença crescente da tecnologia nas salas de aula tem gerado discussões sobre os seus efeitos na educação. Quando aplicada com intencionalidade pedagógica, ela deixa de ser vista como distração e passa a representar uma poderosa ferramenta para democratizar o acesso ao conhecimento. A UNESCO aponta que mais de 90% das políticas públicas ainda não estão preparadas para lidar com a inteligência artificial nas escolas, o que ressalta a importância de um uso consciente e bem orientado dessas tecnologias.

Para Thais Pianucci, CEO da Start by Alura, solução que leva programação e pensamento computacional às escolas, a tecnologia tem o poder de romper barreiras geográficas e tornar o conhecimento mais acessível. “Ela representa acesso ao que antes era impensável: cursos de qualidade, mentores incríveis, comunidades que apoiam. Aprender deixou de ter CEP. A tecnologia não substitui o professor, ela amplia o alcance daquilo que transforma: o conhecimento”, afirma.

Na mesma instituição, Fernanda Mascheti, instrutora de tecnologia, acrescenta que a forma como essas ferramentas são integradas ao processo pedagógico é mais relevante do que a sua simples presença. Ao planejar experiências educativas com intencionalidade e expor os alunos a diferentes tecnologias, amplia-se o repertório expressivo e a capacidade de criação. Com isso, os estudantes passam a assumir um papel mais ativo, deixando de ser apenas consumidores de conteúdo. “A aprendizagem torna-se significativa quando o aluno é colocado no centro do processo”, destaca.

Nas escolas mais alinhadas com os desafios contemporâneos, a tecnologia tem sido cada vez mais incorporada de forma estratégica e alinhada à cultura de inovação educacional. Essa integração vai além do uso de ferramentas digitais: envolve a reestruturação de processos pedagógicos, a otimização da gestão escolar e o fortalecimento da comunicação com as famílias. “Estamos formando cidadãos do século XXI e a tecnologia deve ser nossa aliada nesse percurso, sempre com uma visão ética e humana. É essencial garantir que essas ferramentas não substituam o vínculo pedagógico, mas o fortaleçam”, afirma Juliana Storniolo, diretora de ensino da FourC Bilingual Academy. Para ela, quando utilizadas com intencionalidade, as tecnologias contribuem para que cada estudante construa um percurso de aprendizagem mais autônomo, criativo e conectado com as exigências do mundo atual.

Educação socioemocional: essencial na formação humana 

A educação socioemocional tem assumido um papel central nas escolas, refletindo diretamente na qualidade das relações interpessoais, no rendimento acadêmico e na saúde mental dos alunos. Competências como empatia, autorregulação e resiliência passaram a ser valorizadas com a mesma relevância dos conteúdos curriculares tradicionais. Dados da Organização Mundial da Saúde revelam que os transtornos mentais estão entre os principais motivos de afastamento escolar entre jovens. Em 2019, cerca de 14% dos adolescentes em todo o mundo viviam com algum tipo de transtorno mental, muitas vezes não diagnosticado nem tratado. Esse cenário evidencia a urgência de implementar ações preventivas e de apoio emocional dentro do ambiente escolar, promovendo o bem-estar dos estudantes e criando condições para que continuem a aprender e a desenvolver-se de forma saudável.

Nesse contexto, algumas instituições já colocam a saúde emocional no centro das suas práticas pedagógicas. No Anglo Alante, essa dimensão é tratada como prioridade, Ana Caroline Pereira Silva, professora de Laboratório de Inteligência de Vida, destaca que o ambiente escolar deve ser um espaço seguro de escuta e de valorização da individualidade de cada aluno. “Formar indivíduos preparados para os desafios da vida envolve desenvolver não apenas o intelecto, mas também o coração. Quando a escola sente, acolhe e compreende, ela transforma vidas”, afirma. A proposta da escola vai ao encontro da necessidade de integrar o desenvolvimento socioemocional ao currículo, promovendo um espaço em que o estudante se sinta visto, respeitado e capaz de lidar com os desafios emocionais do dia a dia.

Bilinguismo: expansão cognitiva, cultural e social 

O domínio de um segundo idioma na infância vai muito além da fluência linguística, é um fator determinante para o desenvolvimento global das crianças. Estudos demonstram que alunos bilíngues apresentam ganhos significativos em diversas áreas cognitivas, como flexibilidade mental, resolução de problemas, memória de trabalho e habilidades de multitarefa.

Mas os benefícios do bilinguismo não se limitam ao raciocínio lógico, no campo social e emocional, o contato com duas línguas contribui para a formação de indivíduos mais empáticos, abertos à diversidade e preparados para compreender diferentes perspectivas culturais. Isso é especialmente relevante em contextos educativos que buscam formar cidadãos do mundo, conscientes do seu papel numa sociedade plural.

A alfabetização em dois idiomas amplia as possibilidades de comunicação e promove uma conexão mais profunda com outras culturas, como explica Claudia Peruccini, gerente pedagógica da Red Balloon. “A alfabetização bilíngue é uma ponte para o mundo. Ao aprenderem a ler e escrever em duas línguas, as crianças não só desenvolvem competências linguísticas em ambos os idiomas, mas também se tornam mais receptivas a diferentes culturas e modos de pensar.”

Esse processo também estimula a curiosidade, a autonomia e a colaboração entre os estudantes. Lais Carvalho, coordenadora de Desenvolvimento Profissional da Beacon School, reforça que essa vivência fortalece a mentalidade internacional, além de promover respeito à diversidade e pensamento crítico. “Ao serem expostos a dois idiomas, os alunos desenvolvem flexibilidade cognitiva, maior consciência cultural e habilidades socioemocionais essenciais para atuar em um mundo interconectado e em constante mudança”. O bilinguismo, portanto, não é apenas um diferencial educacional é uma ferramenta essencial para preparar as novas gerações.

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