Meu filho caiu na trend: e agora? Perigos da busca por pertencimento entre crianças e adolescentes

Psicóloga alerta para os impactos sociais e emocionais da exposição precoce ao ambiente digital

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Com o uso das redes sociais começando cada vez mais cedo, os desafios se tornaram fonte de preocupação para pais, educadores e especialistas. Protagonizando tragédias, as “trends” virtuais se tornam um perigo silencioso, vivido dentro de casa. Izabella Melo, professora de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (CEUB), aponta que o risco vai além da exposição a conteúdos impróprios, afetando a formação da identidade, da moralidade e da visão de mundo de crianças e adolescentes.

Embora a internet facilite o contato com pessoas da mesma faixa etária ou com interesses semelhantes, também potencializa riscos físicos, psicológicos e morais. “A web reproduz e, muitas vezes, amplifica dinâmicas de opressão que já existem fora dela, como racismo, misoginia, LGBTfobia e intolerância religiosa. Para crianças e adolescentes de grupos marginalizados, os ambientes digitais são ainda mais violentos. É nesse período que se constrói quem somos e o que entendemos como certo ou errado”, explica Melo.

Segundo a docente do CEUB, a busca por aceitação em um grupo social torna esses públicos mais vulneráveis a trends online. Izabella explica que, ao aceitar um desafio, muitas vezes a criança ou adolescente está, na verdade, tentando garantir seu pertencimento social e evitar a exclusão, mecanismo ainda relacionado ao fenômeno do bullying.

“Existe uma necessidade muito forte de ser aceito. Às vezes, aceitar participar de um desafio é visto como ‘prova de lealdade’. Este grupo incentiva ou silencia diante de comportamentos violentos, já que quem está em volta fará de tudo para não ser o próximo alvo, inclusive se submeter a comportamentos arriscados.”

Proteção, legislação e presença familiar

Na avaliação da psicóloga, o enfrentamento dessa questão exige uma abordagem multissetorial. No campo das políticas públicas, ela sugere a regulamentação mais rigorosa das redes sociais, em consonância com as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Crianças e adolescentes ainda não têm as habilidades cognitivas completamente formadas. O cérebro termina seu desenvolvimento por volta dos 24 ou 25 anos. Até lá, o pensamento é mais concreto e menos capaz de avaliar riscos abstratos”.

No âmbito familiar, a docente do CEUB chama atenção para a necessidade de acompanhamento ativo da vida digital dos filhos. Segundo a psicóloga, é comum entre os pais a liberação do uso irrestrito da internet por falta de tempo, fruto de rotinas sobrecarregadas: “Nestes casos melhorar condições de trabalho, transporte público e segurança financeira das famílias também é uma forma indireta de proteger essas crianças”.

Mais do que proibir o uso do celular e das redes sociais entre crianças e adolescentes, a especialista defende a construção de relações baseadas em diálogo, atividades em família e presença ativa. “A melhor proteção é garantir adultos presentes, atentos e dialogando constantemente. Isso diminui não só o tempo de tela, mas a exposição a conteúdos nocivos”, finaliza a especialista do CEUB.

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