A Black Friday e o preço psicológico do consumo desenfreado
Por Thiago Lacerda
A Black Friday está chegando e, cm ela, uma infinidade de ofertas, descontos e promessas de oportunidades únicas. Mas, como psicólogo, sinto que é importante refletir sobre o lado menos visível desta data: o impacto emocional e psicológico que o frenesi de consumo pode causar. Em vez de trazer apenas satisfação, a Black Friday, para muitos, transforma-se em uma fonte significativa de estresse e ansiedade.
O apelo comercial dessa época é poderoso. A publicidade se vale de estratégias que criam uma sensação de urgência: ou aproveitamos as ofertas, ou estamos “perdendo algo fundamental”. Essa pressão — somada à competição por produtos limitados e à ideia de que estamos diante de uma oportunidade irrepetível — coloca as pessoas em um estado de alta tensão, gerando ansiedade. A gestão financeira é outro fator crítico: o medo de gastar demais e prejudicar o orçamento familiar acompanha muitos consumidores que, muitas vezes, ficam entre o desejo de economizar e a necessidade de manter o equilíbrio financeiro.
As expectativas infladas são outra questão problemática. A Black Friday promete verdadeiras “pechinchas”, mas a realidade, muitas vezes, decepciona. Quando o consumidor não encontra o que esperava, a frustração se instala, muitas vezes acompanhada por um sentimento de arrependimento. Na tentativa de aliviar essa sensação, as pessoas acabam consumindo ainda mais, alimentando um ciclo que traz alívio imediato, mas pode deixar marcas emocionais duradouras, como culpa e até sofrimento psíquico.
Esse padrão de consumo impulsivo durante a Black Friday é preocupante e pode ser um sinal de alerta. Fiquemos atentos aos sintomas: estresse e ansiedade em níveis elevados, comportamentos impulsivos e até mesmo isolamento social podem indicar que a linha entre o prazer do consumo e o risco psicológico foi ultrapassada. Comportamentos assim, se mantidos, podem degradar a saúde mental e dificultar o controle das próprias finanças.
Então, o que fazer? A resposta está no equilíbrio e na consciência. Planejar as compras e estabelecer um orçamento realista são atitudes essenciais para reduzir o risco de escolhas impulsivas e danos financeiros. É preciso estar atento às táticas de marketing e saber identificar o que é, de fato, uma boa compra e o que não passa de um apelo emocional cuidadosamente arquitetado. E, acima de tudo, é importante priorizar o bem-estar emocional. Praticar o autocuidado e buscar atividades que promovam relaxamento pode ajudar a atravessar esse período sem cair nas armadilhas do consumo desenfreado.
Como psicólogo, reforço a importância de focar na qualidade das aquisições e não na quantidade. E, se o estresse se tornar excessivo, não hesite em buscar apoio. Família, amigos e profissionais da saúde mental estão aqui para ajudar. A Black Friday pode trazer boas oportunidades, mas que elas não venham ao custo da nossa paz e equilíbrio.
Thiago Lacerda, psicólogo e docente do curso de Psicologia da Estácio