A ENTREVISTA DE REGINA DUARTE NA CNN BRASIL

Por Valmor Bolan

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A atriz Regina Duarte, Secretária Nacional da Cultura, deu a sua primeira longa entrevista a uma emissora de televisão, a CNN Brasil, e chocou a todos pelo seu despreparo para a função que ocupa. Levando colinha de mão para ler tópicos do que a sua pasta vem fazendo, não conseguiu manter o equilíbrio emocional necessário em situações como esta, respondendo às questões feitas pelos jornalistas. Como pessoa pública, Regina Duarte deveria estar melhor preparada para ser questionada não só por suas posições pessoais sobre temas nacionais, mas também pelos complexos problemas que vivemos na atualidade. Ela se incomodou pelas perguntas que iam sendo feitas, não conseguindo oferecer argumentos convincentes. Deu a impressão de estar vivendo fora da realidade, sem sensibilidade para com o drama vivido atualmente pelo mundo todo, em meio à pandemia de coronavírus, que vem vitimando a tantos, inclusive artistas. Se irritou quando foi indagada sobre o porquê não se manifestou publicamente sobre a perda de vários artistas (Rubem Fonseca, Moraes Moreira, Aldir Blanc, Flávio Migliaccio, etc.), dizendo que não pretendia abrir um obituário no site da Secretaria da Cultura, banalizando assim o sentido de homenagear aqueles que deram uma contribuição cultural ao País. Depois, evocou os tempos de ditadura, banalizando também a prática da tortura, cantando trecho da famosa canção da Copa de 70, “Pra Frente Brasil”, indiferente à dor das famílias que perderam seus entes queridos, vitimadas pela covid 19. A cada resposta dada, expunha o seu despreparo e insensibilidade para o momento atual em que vivemos.

Numa situação como esta, sabendo de sua fraqueza e inexperiência num cargo público de alta relevância, Regina Duarte poderia ter escolhido um diretor ou diretora-executiva (número 2 da pasta) e evitar dar entrevistas, ficando como uma espécie de rainha da Inglaterra, o que a teria preservado. Mas ao se expor como fez na CNN Brasil, comprometeu-se de tal modo, que dificilmente irá se recuperar do desastre que foi a sua entrevista. Não é justificável dizer que os jornalistas lhe prepararam uma emboscada, acuando-a com perguntas incômodas. Todos que assumem cargos públicos sabem que estão sujeitos a isso. Mas infelizmente ela não se saiu bem na entrevista e mostrou um pensamento debilitado, e uma flagrante falta de competência. Ainda no final da entrevista deu um chilique, ao se recusar a ouvir uma opinião crítica feita pela atriz Maitê Proença. Não só teve o chilique, como praticamente a entrevista foi encerrada com isso.

Realmente foi triste ver como uma atriz com quase 50 anos de trabalho televisivo, não soube dar conta do básico que tinha de fazer naquele momento, que era apenas apresentar o que vem realizando a frente da Secretaria da Cultura. Não só terá agora a rejeição da classe artística e intelectual do País, mas de muitos que viram o pouco que poderá fazer, daqui para frente, nessa função. Esperamos que consiga, ao menos, uma assessoria mais qualificada para lhe auxiliar, porque a sua performance ficou muito a desejar. Tudo isso mostra a crise em que vivemos do sentido e do valor da educação e da cultura em nosso País, o que requer da sociedade mobilização para que tenhamos quadros melhores para lidar com os desafios do momento.

 

é doutor em Sociologia. 

 

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