À jovem senhora da minha aldeia
Ainda eras pequena indomável quando, pés descalços, forasteiro envergonhado, vasculhei os labirintos do teu corpo.
Tu os escancarava, sem pejo e pudor, mais que insinuando: pode entrar, fique à vontade, a casa é sua.
Meninote, imberbe e introvertido, escaneei todas as curvas invisíveis de tua silhueta, transitei pelos atalhos mais obscuros da tua alma,
Fingi aceitar tua conservadora mania de viver, pois, é justo lembrar que tu, anfitriã dos meus sonhos, não guardavas segredos de alcova.
Incrível que, tanto tempo depois, ainda guardo de ti o aroma das madrugadas, das nem tão inocentes boemias à luz da lua, a que me arrastavas em jornadas inebriantes
Saiba pois, velha amiga e confidente, que trago de ti as lições do bem e do mal. Eterno aprendiz, hoje vou te abraçar e dizer-te: Gratidão, senhora! És para sempre um pedaço de mim.
Daniel Pereira é jornalista, residente em São Paulo