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A lampadazinha voadora

 

 

 Para Luana Cristina Melo de Souza (Minha “Lulu”)

NUM DOMINGO À TARDE, eu passeava com a minha filha Luana,  de seis anos, pelo sítio imenso de meu avô João, em Sorocaba,  interior de São Paulo, quando, de repente, a minha princesinha se deparou com uma espécie de luz muito pequena, quase imperceptível, piscando continuamente em meio as enormes  árvores frondosas que enfeitavam a quinta:

— Pai, pai,  — observou ela, espantada e atônita. — Veja  aquela luzinha que está fazendo um monte de pisca-pisca e fica voando pra lá e pra cá no meio do matagal!

Olhei apressado para a minha criança e indaguei:

— Onde, filha? Não estou vendo nada. Mostra para o papai.

— Ali, pai, ali… É uma lampadazinha voadora…

Ao desviar as vistas para onde o indicador apontava, e então mais atentamente prescrutar o ponto nevrálgico do tal achado, percebi que se tratava de um simples e solitário vagalume. Tentei explicar dizendo à minha menina, que aquilo estava longe de ser uma luzinha piscando; se tratava de um animalzinho invertebrado conhecido como lanterninha; ou pirífora.

Em palavras simples e sem rebusques,  pontuei que por obra do Criador da natureza, Deus, tinha aquele pequenino ser, a capacidade mágica de produzir, no escuro, uma ínfima e contínua luminosidade, graças a uma substância que carregava no corpo, conhecida como luciferase.

Todavia, apesar dessa explicação, a minha mocinha insistiu na idéia da lâmpadazinha voadora. Bateu pé, o que de certa forma achei de bom alvitre concordar. A garotinha tinha, logicamente, uma visão diferente da que eu expusera. Em outras palavras: via inspiração e ardor em uma coisa bucólica,  onde criaturas comuns (como eu) simplesmente não enxergavam nada além da ponta do nariz.

Por outro ângulo, Luana pequena demais, inocente aos extremos, incapaz, eu sabia, para entender o que significava um vagalume, ou pior, o que vinha ser essa tal de luciferase. Quando se tornasse adulta, certamente o dom que lhe era nato, fluiria. Ela seria uma poetiza, quem sabe uma escritora brilhante, a engendrar versos e textos bonitos e maviosos para enfeitar e colorir a vida das pessoas que encontrasse pelos seus caminhos.

Ainda um pouco espantada com a minha explicação  (animalzinho invertebrado, lanterninha, pirífora, vagalume, luciferase…) senti que tudo o que falei entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Sem mais delongas, e batendo na tecla da lampadazinha voadora, inquiriu  com um sorriso maroto nos olhos castanhos claros que refletiam toda a ternura meiga que emanava de dentro da sua alma literalmente em festa:

— Papai, e à noite, na hora de dormir?

— O que tem minha linda?

— Ele, o vagalume?!

— Eu sei, gatinha! O que tem o vagalume a noite, na hora de dormir? Fala…

— Ele fica no claro ou prefere ir pra caminha no escuro?!

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo.