A tragédia anunciada no Rio Grande do Sul
Por Mauro Bragato
As enchentes que assolam o Rio Grande do Sul há mais de duas semanas, com um saldo trágico de 148 mortes e meio milhão de desabrigados, escancaram a vulnerabilidade do estado frente aos eventos climáticos extremos intensificados pelas mudanças climáticas. A catástrofe, que já afeta 2,1 milhões de pessoas em 447 municípios, exige ações urgentes e eficazes para mitigar seus impactos e prevenir futuras tragédias.
Estudos científicos recentes, como o realizado pelo grupo ClimaMeter, evidenciaram que as chuvas que atingiram a região Sul do país foram 15% mais intensas devido às mudanças climáticas em curso.
As consequências das enchentes vão além dos números alarmantes de mortes e desabrigados. A saúde pública enfrenta o risco iminente de surtos de doenças infecciosas, como diarreias, leptospirose e dengue, que se propagam rapidamente em ambientes contaminados.
A economia do estado, fortemente impactada, sofre perdas incalculáveis na agricultura, com lavouras destruídas e animais mortos, na indústria, com fábricas paralisadas e infraestruturas danificadas, e no comércio, com lojas fechadas e mercadorias perdidas. Os efeitos dessa crise econômica se estendem por toda a cadeia produtiva, afetando empregos, renda e o desenvolvimento do estado.
A resposta do governo federal, com a liberação de um pacote de R$ 50 bilhões e a suspensão da dívida pública do estado, é um passo importante, mas não suficiente. A reconstrução do Rio Grande do Sul demanda um esforço conjunto de todos os setores da sociedade, com investimentos em infraestrutura, moradia, saúde e prevenção de desastres.
É preciso investir em sistemas de alerta precoce, mapeamento de áreas de risco, construção de diques e barragens, além de promover a educação ambiental e a conscientização da população sobre os riscos e medidas de prevenção.
Nesse contexto, o papel do poder público e dos parlamentares é fundamental. Aos governantes cabe a responsabilidade de liderar o processo de reconstrução, destinando recursos, elaborando planos de ação e implementando políticas públicas eficazes.
Aos parlamentares, cabe o papel de fiscalizar a aplicação dos recursos, propor leis que fortaleçam a prevenção e o enfrentamento de desastres naturais e garantir que os interesses da população afetada sejam atendidos.
A aprovação da suspensão da dívida do Rio Grande do Sul com a União pela Câmara dos Deputados é um exemplo de ação legislativa que pode contribuir para a recuperação do estado.
Além disso, a solidariedade entre os estados da federação é crucial neste momento. Estados como São Paulo, com maior capacidade econômica e logística, podem contribuir significativamente para a reconstrução do Rio Grande do Sul.
A mobilização de recursos, envio de equipes de resgate e assistência médica, doação de alimentos, água e medicamentos, além do apoio na reconstrução de infraestruturas, são exemplos de ações que podem fazer a diferença na vida das pessoas afetadas.
A experiência de outros países, como a Holanda, referência mundial em engenharia hidráulica, pode ser valiosa na busca por soluções eficazes. A expertise holandesa em planejamento de diques, barragens e sistemas de drenagem pode contribuir para a criação de uma infraestrutura resiliente no Rio Grande do Sul, capaz de proteger a população e minimizar os danos causados por futuras enchentes. A cooperação internacional, com intercâmbio de conhecimentos e tecnologias, pode ser fundamental para o enfrentamento desse desafio.
A tragédia gaúcha é um alerta para todo o país. As mudanças climáticas são uma realidade inegável, e seus impactos já se fazem sentir com força crescente em diversas regiões do Brasil.
É necessário que governos, empresas e sociedade civil se unam em um esforço conjunto para mitigar os efeitos do aquecimento global, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e investir em energias renováveis. A transição para uma economia de baixo carbono é essencial para garantir um futuro mais seguro e sustentável para todos.
A reconstrução do Rio Grande do Sul é um desafio colossal, mas não impossível. Com planejamento, investimentos, cooperação, liderança do poder público e a solidariedade de outros estados, é possível transformar a tragédia em oportunidade para construir um estado mais resiliente, preparado para enfrentar os desafios do futuro e garantir o bem-estar de sua população.
A união de esforços em todos os níveis é fundamental para superar essa crise e construir um futuro mais seguro e próspero para o Rio Grande do Sul e para o Brasil.
Mauro Bragato é deputaddo estadual (SP)