Arte & Política

  Por José Renato Nalini

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            Constatou-se no Brasil, neste turbulento período de política partidária exacerbada, a participação de artistas em adesão a um dos polos de confronto. Ouvi muita gente dizer que artista não deve fazer política, pois a arte é neutra. Não é verdade.

            Uma obra artística é sempre modo de expressão de uma ideia política. E isso é verificável para quem estuda tanto a história da arte como a história das ideias políticas.

            A forma sempre foi a ideia central no debate artístico. Considerá-la o conceito central e básico é insuficiente. A história da arte entranha-se na história do espírito, pois uma obra de arte reflete o significado extraível do momento histórico e das concepções espirituais do tempo em que foi produzida.

            Uma produção artística resulta da intencionalidade de seu autor. Isso sempre foi assim. No Egito, por exemplo, o artista não era um criador individual, mas o mero executor de uma intencionalidade artística transpessoal. É o que Manuel Garcia-Pelayo chama de “fenômenos politicamente condicionados”, assim chamados aqueles que não têm por si natureza política, mas cujas modalidades foram condicionadas e até determinadas por motivações políticas. Ou, o que é mais preciso: “há um fenômeno politicamente condicionado ali onde o desenvolvimento dialético normal de uma esfera da realidade (arte, ciência, economia, etc.), é retificado ou deformado pelo influxo de fatores políticos de natureza ideal ou real”.

            Pode-se chegar ao ponto em que ocorre uma transmutação da realidade, ou seja, algo que só em sua aparência é artístico, econômico ou científico, mas que renunciou às próprias exigências naturais, para converter-se em subalterno servidor de uma realidade estranha. É o que explica uma adesão irrestrita, fanática até, a uma ideologia. Fenômeno que impede o diálogo, o debate e a discussão com adeptos de outra corrente, considerada como grupo inimigo, não mero adversário no terreno das concepções políticas.

            O que restará de verdadeira arte após a decantação das emoções? Quais as músicas que sobreviverão? As expressões artísticas geradas pelo entusiasmo ou fervor que podem ser instantâneos e, como a paixão, arrefecem, minguam e morrem? O tempo dirá.

 

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.    

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