Até os aviões percebem

Por José Renato Nalini

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Os céticos do aquecimento global e aqueles que entregam o dossiê de dúvidas elaborado por pseudo-cientistas recrutados a bom soldo pelos interessados na destruição da floresta, enfrentarão problemas se viajarem de avião. A revista Climatic Change anuncia que as mudanças climáticas vão deteriorar a performance das decolagens. Vão exigir pistas mais longas e mais tempo para alcançar a velocidade necessária.

Isso é efeito do aquecimento global nos trinta maiores aeroportos do mundo. Nenhum deles está no Brasil. Ainda não conseguimos competir nessa área. Preferimos ser os campeões no homicídio de jovens – mais de sessenta mil por ano. Também estamos avançando no número de encarcerados. Já somos o terceiro do planeta. Mas ainda vamos melhorar.

A questão é física. Elementar para quem estudou. O aumento da temperatura deixa o ar menos denso e reduz a força de sustentação do avião. Ar mais quente diminui a eficiência dos motores, afetando potência e tração. O avião tem de ter mais velocidade para decolar e levará mais tempo para atingir a altura ideal de voo.

A distância das pistas atuais varia. O aeroporto de Madrid, o Barajas, precisará de mais 168 metros de pista para uma decolagem com segurança. Como as lideranças mundiais não se comovem com essa notícia – o problema é das companhias aéreas – estas terão de adotar estratégias para continuar no mercado.

Uma delas é reduzir a carga dos aviões. Quanto mais pesado, mais difícil de alçar voo. Pior ainda para quem não gosta de avião – estou nesse grupo seleto e minoritário – é que haverá mais turbulências de céu claro. São as mais problemáticas para as empresas, pois imprevisíveis. O aquecimento global acelera as correntes de ar e gera instabilidade. Turbulências aumentam custos de manutenção e podem causar acidentes. Quem já experimentou aqueles vácuos que parecem intermináveis, embora possam durar alguns segundos, diz que não gostaria de passar por isso outra vez.

Mas não é tudo. O aquecimento global implicará em nevascas, tempestades, tufões, furacões, vendavais. Cenário péssimo para a aviação. Que se tornará, por nossa culpa, uma atividade de risco maior do que aquele que até hoje era suficiente para manter em permanente tensão o viajante inquieto e desconfiado. Mas os cariocas não têm motivo para se assustar. O Santos Dumont será engolido quando o nível do mar aumentar em virtude do derretimento das calotas polares.

Haja coragem e confiança na transcendência! Esperar juízo da espécie humana é inócuo. Ela não se emenda. Por isso vai acabar. Mais dia, menos dia.

 

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Uninove, autor de “Ética Ambiental” e Presidente da Academia Paulista de Letras 2019-2020.

 

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