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Invasões de terra cresceram 213% no ano passado

O Brasil registrou 72 invasões de terra em 2023. Os dados são da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apontam que isso representa um aumento de 213% em relação ao número do ano anterior. Neste ano, a CNA já contabilizou 23 invasões a propriedades rurais, mesma quantidade de todo o ano de 2022.

Desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023, ocorreram 95 invasões a propriedades rurais, apontam os dados da CNA. A partir da série histórica do Incra — que vai de 2005 a 2022 — nota-se que o número de invasões de um ano e três meses para cá é maior do que o observado entre 2018 e 2022, período de cinco anos que compreende o último do ex-presidente Michel Temer e todo o mandato do também ex-presidente Jair Bolsonaro.

José Henrique Pereira, assessor técnico da Comissão de Assuntos Fundiários da CNA, diz que movimentos como o MST ganharam espaço no atual governo — o que contribuiu para o aumento das invasões.

Ele afirma que não é correto argumentar que as invasões são meios legítimos de pressionar as autoridades pela reforma agrária. “Não existe invasão legítima. Invasão é crime”, diz.

Pereira pontua também que o país deveria dar um passo adiante nessa discussão, pois o problema não é a disponibilidade de terras. “De acordo com dados do próprio Incra, temos mais de 88 milhões de hectares destinados à reforma agrária; mais de 200 mil lotes vagos. A reforma agrária é uma política que tem começo, meio e fim. Temos que investir agora no desenvolvimento de assentamentos e em titulação das terras, que é a fase final da reforma agrária”, avalia.

Advogado especialista em direito do agronegócio, Lucas Lousa diz que a partir dos dados é possível estabelecer uma relação entre o atual governo e o aumento de ocupações irregulares de propriedades rurais.

“Os números mostram tudo. Com a transição do governo começou essa intensificação dessas invasão de propriedade, coisa que a gente não via no governo anterior. Tudo indica que há, sim, uma relação, até por parte da ideologia do governo, da proximidade com esse Movimento dos Sem Terra”, diz.

Investimentos

Dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA, mostram que o agronegócio foi responsável por 23,8% de toda a riqueza gerada no país, no ano passado. O setor emprega mais de 28,3 milhões de pessoas — o que corresponde a cerca de 26,8% da população ocupada no país.

Para Lousa, a insegurança no campo atrapalha a atração de novos investidores para a agropecuária, setor que vem ganhando cada vez mais importância para a balança de comércio exterior e para o Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O principal parâmetro para se atrair ou para se afastar investimentos do setor é a presença ou não de segurança jurídica. E esse tipo de invasão, de ocupação irregular de terras produtivas, como vem acontecendo, sem obedecer  os parâmetros legais, gera essa insegurança e, com a insegurança, é óbvio que os investimentos também tendem a cair”, avalia.

Reação no Congresso Nacional

Em meio ao chamado Abril Vermelho — mês em que o MST intensificou as invasões por todo o país —, parlamentares da bancada do agro e da oposição no Congresso Nacional buscam aprovar projetos de lei que diminuam as ocorrências.

Uma das propostas, o PL 895/2023, suspende o pagamento de benefícios sociais, como o Bolsa Família, a pessoas condenadas por invasão a propriedades rurais ou urbanas. O texto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados — e, agora, será analisado pelo plenário.

São 17 os projetos de lei do pacote batizado de anti-invasão. José Henrique Pereira diz que a CNA apoia propostas que visem frear as invasões pelo país, como o que suspende os condenados de programas sociais.

“Esse projeto de lei é uma forma de tentar coibir essas invasões, criando vários empecilhos, retirando benefícios sociais daquelas pessoas que invadiram e impossibilitando o acesso a alguns cargos públicos. A gente considera isso positivo”, pontua. (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil).




Saber escutar nos aproxima das pessoas

 

 

Desde que desenvolvemos a linguagem, passamos a valorizar os grandes oradores. Na escola, os melhores alunos são os que dão as melhores respostas. Nas organizações não é diferente. Quem fala bem, se dá bem. Admiramos e promovemos líderes capazes de comunicar com clareza uma mensagem, envolver, cativar e persuadir outros por meio de sua linguagem.

O que tenho observado é que a habilidade que mais faz falta nas pessoas, especialmente nos líderes que acompanho é a escuta. Dada nossa educação, não é difícil perceber porque a escuta ainda não é valorizada, portanto não é desenvolvida. Nas empresas, executivos e executivas são valorizados pela arte da fala, tornam-se grandes contadores de histórias ou grandes negociadores.

São homens e mulheres reconhecidos por sua incrível capacidade de influenciar pessoas pela arte da fala. Sua capacidade de escutar fica em segundo plano. Sequer percebem que não sabem escutar. Sabem ouvir, mas alguns estão longe de saberem escutar.

Em minha trajetória, percebo que aprender a ter boa oratória é muito mais fácil que aprender a escutar. Porém, existe uma saída, pois aos poucos esse jogo está mudando. Para algumas organizações a empatia na liderança é uma habilidade valorizada.

Fala-se cada vez mais de uma liderança humanizada. Isso significa uma liderança que gosta e cuida de gente. E o que seria da empatia sem a escuta? Se não soubermos escutar, não poderemos compreender o que a outra pessoa está experienciando.

Escutar é difícil. Por si só, a escuta já é um problema. Para o filósofo chileno Rafael Echeverría, escutar é igual a “ouvir + interpretar”. A nossa capacidade de processar, interpretar e julgar a informação é nossa principal aliada e ao mesmo tempo nossa principal inimiga na escuta. Ao escutarmos, podemos acessar o mundo do outro. Por isso, a escuta é tão poderosa.

E ao escutarmos, interpretando o mundo do outro, podemos nos afastar do nosso. Nossa interpretação pode ser o oposto do que o outro tem a nos dizer. Contudo, se escutarmos bem, corremos o risco de aprender e de nos transformar pela fala do outro.

Quando escutamos verdadeiramente, mudamos. Não é possível sair da mesma forma que entramos em uma conversa, se nossa escuta for genuína. O que o outro fala, me impacta de diversas maneiras. Como o outro fala pode me levar a diversos lugares, dependendo da minha forma de ver o mundo.

Se conseguirmos suspender, por alguns minutos, nossa forma de ver o mundo para colocar a lente do outro, uma conversa se torna um portal aberto para novas possibilidades de ver, de ser e de fazer. Se somos capazes de escutar e perceber esse lugar de onde o outro fala, não tem erro. Sairemos transformados.

É por isso que nossa escuta é tão importante. Nos aproxima de qualquer pessoa, por mais diferente que esta pessoa seja de nós. Mas isso só é possível se tivermos interesse, se conseguirmos desapegar e estivermos suficientemente curiosos para conhecer até aquilo que achamos que já sabemos.

Esse é meu convite para você: escute de verdade. Seu mundo nunca mais será o mesmo.

 

Roberta Perdomo é especialista em Gestão Estratégica de Pessoas e autora do livro “Eu não nasci para liderar




CONVOCAÇÃO CLUBE SÃO PAULO (III)




O inesperado e o sem precedentes

 

 

 

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria. Nesse ataque, o comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Mohammad Reza Zahedi, e outras seis pessoas faleceram. A Guarda Revolucionária do Irã, também conhecida como Força Quds, é uma organização militar fundada em 1979, logo após a Revolução Iraniana, que resultou na queda do xá Mohammad Reza Pahlavi e no estabelecimento da República Islâmica do Irã, sob a liderança do aiatolá Ruhollah Khomeini.

Originalmente criada para proteger os ideais revolucionários do novo regime e defender o país contra ameaças internas e externas, a Guarda Revolucionária tornou-se uma das instituições mais poderosas e influentes do país persa. Operando independentemente das Forças Armadas regulares, é considerada uma força de elite que reporta diretamente ao Líder Supremo.

Além de suas operações dentro do Irã, a Guarda Revolucionária também desempenha um papel ativo em várias regiões do Oriente Médio, particularmente no apoio a grupos e movimentos aliados ao Irã, como o Hezbollah no Líbano e várias milícias xiitas no Iraque, na Síria e no Iêmen. A unidade mais conhecida da Guarda Revolucionária neste contexto é a Força Quds, responsável pelas operações extraterritoriais e pelo apoio a grupos aliados além das fronteiras do Irã.

Logo após o ataque de 1º de abril, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, declarou que Israel teria violado o Direito Internacional “ao cometer o crime terrorista de atacar o edifício diplomático”. O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, afirmou que Israel não apenas deveria, mas seria punido. Foi nesse contexto que, entre o sábado, 13 de abril, e o domingo, 14 de abril, ocorreu um ataque sem precedentes no Oriente Médio: cerca de 300 drones e mísseis iranianos foram disparados em direção a Israel.

O ataque foi seguido por uma resposta já esperada: aliados de Israel, como Estados Unidos, Reino Unido e França, se mobilizaram para deter e interceptar os projéteis iranianos. O inesperado, no entanto, veio logo a seguir: a ajuda de países árabes. A Jordânia, por exemplo, abriu seu espaço aéreo para aviões israelenses e estadunidenses, e os próprios jordanianos teriam abatido alguns dos drones iranianos. Esse fato pode ter soado como uma surpresa, pois, no passado, a Jordânia já atacou Israel. Mais do que isso, uma parte significativa da população jordaniana tem origem palestina.

O outro aspecto sem igual do ataque recente foi o apoio da Arábia Saudita a Israel, interceptando disparos provenientes do Iêmen. A ajuda saudita, no entanto, não era necessariamente um gesto de proteção ou aliança com Israel, mas, sim, uma ação contra Teerã. A Arábia Saudita e o Irã, principais potências do Golfo Pérsico, competem tanto pela liderança quanto pela influência na região. Ambas as nações estão envolvidas em uma série de conflitos regionais, apoiando atores opostos e buscando expandir sua rede de aliados. No Iêmen, outro foco de instabilidade no Oriente Médio atual, a Arábia Saudita lidera uma coalizão militar que combate os rebeldes Houthis, apoiados pelo Irã. Além disso, os dois países têm interesses conflitantes na Síria, no Líbano e em outras nações.

Entre 18 e 19 de abril, Israel atacou o Irã em resposta. Esses ataques teriam atingido aeroportos e instalações militares – próximos a locais onde é desenvolvido o programa nuclear iraniano. Anteriormente, o Irã havia dito que qualquer resposta israelense escalaria o conflito, com uma nova rodada de disparos vindos de Teerã. Agora, a questão é se isso de fato ocorrerá. Por maior que tenha sido o ataque iraniano em 13 de abril, parece ser mais uma demonstração de força. Os iranianos certamente sabiam que o sistema de defesa “Domo de Ferro” de Israel interceptaria boa parte dos projéteis. Com a recente resposta de Tel-Aviv, poderemos presenciar uma escalada jamais vista dos conflitos no Médio Oriente – pois as forças iranianas são exponencialmente maiores que as de Israel.

Enquanto aliados de Israel tentam moderar as ações de Tel-Aviv, as bolsas de valores ao redor do mundo despencaram e o dólar no Brasil alcançou seu maior valor em mais de um ano. É provável que, em breve, vejamos novos reflexos nos preços do petróleo e das commodities em geral. Esses efeitos, no entanto, não são nem inesperados nem sem precedentes.

João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior e do Observatório Global da Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray

 




Diocese de Assis

 

 

É fundamental dar sentido para os nossos passos. Mas, antes, é necessário encontrar o caminho! Por não haver preocupação com o caminho é que surgem os atalhos; é que as pessoas se perdem; é que a vida desanda. A falta de caminho subjuga uma pessoa à fatalidade do destino.

O texto bíblico retirado de João 14,1-6 é bastante contundente:“Jesus continuou dizendo: ‘Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. (…) para onde eu vou, vocês já conhecem o caminho.’ Tomé disse a Jesus: ‘Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho?’  Jesus respondeu: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.”

São Clemente I, papa (século I) num dos fragmentos de sua carta aos coríntios, assim escreve:

“Este é o caminho, caríssimos, onde encontramos, nossa salvação: Jesus Cristo, o pontífice de nossas oferendas, nosso defensor e arrimo nas fraquezas.

Por ele nossos olhos se voltam para as alturas dos céus; por ele contemplamos, como num espelho, o rosto puríssimo e sublime de Deus; por ele abrem-se os olhos de nosso coração; por ele a nossa inteligência, insensata e obscurecida, desabrocha para a luz; por ele quis o Senhor fazer-nos saborear a ciência imortal, pois sendo ele ‘o esplendor da glória de Deus, foi colocado tão acima dos anjos quanto o nome que herdou supera o nome deles’” (cf. Hb 1,3.4).

Combatamos, portanto, irmãos, com todas as forças, sob as suas ordens irrepreensíveis.

Consideremos os soldados, que combatem sob as ordens dos nossos comandantes. Quanta disciplina, quanta obediência, quanta submissão em executar o que se ordena!

Nem todos são chefes supremos, ou comandantes de mil, cem ou cinquenta soldados, e assim por diante; mas cada um, em sua ordem e posto, cumpre as ordens do imperador e dos comandantes. Os grandes não podem passar sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. A eficiência depende da colaboração recíproca.

Sirva de exemplo o nosso corpo. A cabeça nada vale sem os pés, nem os pés sem a cabeça. Os membros do corpo, por menores que sejam, são necessários e úteis ao corpo inteiro; mais ainda, todos se harmonizam e se subordinam para salvar todo o corpo.

Asseguremos, portanto, a salvação de todo o corpo que formamos em Cristo Jesus, e cada um se submeta ao seu próximo conforme o dom da graça que lhe foi concedido.

O forte proteja o fraco e o fraco respeite o forte; o rico seja generoso para com o pobre e o pobre agradeça a Deus por ter dado alguém que o ajude na pobreza. O sábio manifeste sua sabedoria não por palavras, mas por boas obras; o humilde não dê testemunho de si mesmo, mas deixe que outro o faça. Quem é casto de corpo não se vanglorie, sabendo que é Deus quem lhe dá o dom da continência.

Consideremos, então, irmãos, de que matéria somos feitos, quem éramos e em que condições entramos no mundo, de que túmulo e trevas nos fez sair aquele que nos plasmou e criou, para nos introduzir no mundo que lhe pertence, onde nos tinha preparado tantos benefícios antes mesmo de termos nascido.

Sabendo, pois, que recebemos todas estas coisas de Deus, por tudo lhe demos graças. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém”.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Assistência Social alerta contra golpes pela internet

A Secretaria Municipal de Assistência Social emitiu um alerta a todos os beneficiários de programas sociais sobre uma série de tentativas de fraude que estão ocorrendo online. Recentemente, foram recebidos relatos de pessoas mal-intencionadas que estão utilizando diversos métodos, como envio de links, e-mails falsos e direcionamento para sites fraudulentos, na tentativa de obter informações pessoais e financeiras dos beneficiários.

Eis a nota distribuída pela secretaria:

É importante estar atento aos seguintes pontos:

Links suspeitos: Evitem clicar em links suspeitos enviados por e-mail, mensagem de texto ou redes sociais. Sempre verifiquem a origem do remetente e, se possível, entrem em contato diretamente com a instituição responsável pelos programas sociais para confirmar a legitimidade das informações.

Sites falsos: Não forneçam informações pessoais, como números de CPF, datas de nascimento ou senhas, em sites que parecem suspeitos ou não confiáveis. Verifiquem sempre a URL do site e, se houver qualquer dúvida, evitem inserir seus dados.

E-mails fraudulentos: Desconfiem de e-mails que solicitam informações pessoais ou financeiras, mesmo que aparentem ser legítimos. Instituições governamentais e organizações responsáveis por programas sociais raramente solicitam informações confidenciais por e-mail.

Compartilhem a informação: Ajude a espalhar essa mensagem entre outros beneficiários. Quanto mais pessoas estiverem cientes dessas tentativas de fraude, menor será o sucesso dos golpistas.

Reportem atividades suspeitas: Se receberem qualquer comunicação suspeita ou acreditarem terem sido alvos de fraude, por favor, reportem imediatamente às autoridades locais competentes e à instituição responsável pelo programa social do qual fazem parte.

Ressalta-se que para mais informações e orientações, os beneficiários podem procurar o CRAS de seu território. A segurança e o bem-estar dos beneficiários são a prioridade máxima da instituição. Em caso de dúvida ou preocupação, não hesitem em entrar em contato pelos canais oficiais de comunicação. Juntos, podemos combater essas práticas enganosas e proteger nossa população.

 

 






Quando resistir não é a solução

 

 

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste. Refletindo sobre esta sua famosa frase, consigo entender o quanto é importante encarar de frente as nossas dificuldades, os nossos anseios, pois só assim conseguimos despertar a consciência para um caminho de amadurecimento emocional.

Temos o hábito de nos cobrar sermos o tempo todo felizes, capazes, eficientes e muitas outras características que nos fazem acreditar que temos que ser perfeitos, que não podemos ou não devemos sentirmo-nos frustrados, ansiosos, tristes, decepcionados e quando algo acontece e percebemos estes sentimentos em nós que são considerados negativos, tendemos a resistir em entrar em contato com eles, pois os consideramos sinais de fraqueza e vulnerabilidade.

Sendo assim, ignoramos o que está se passando conosco internamente criando a ilusão de que com este comportamento estamos protegidos e assim nos sentiremos melhor. Certo? Não, errado…

Quanto mais fugimos dos nossos pensamentos, sentimentos e emoções, mais presos a eles ficamos, pois quando nos esforçamos para escondê-los de nós mesmos e dos outros, continuamos próximos deles, tentando empurrar para baixo o que está incomodando, construindo desta forma uma barreira que impede de nos enxergarmos por completo com todas as qualidades que nos pertencem, nos limitando a aceitar o nosso modo de ser e sentir.

Agindo assim, ficamos remando contra a maré, e a dor e o sofrimento velados, podem inclusive aparecer através de sintomas físicos como uma doença ou uma alteração orgânica até que possamos dar-lhes a devida atenção. É como quando temos uma ferida infeccionada e insistimos em cobri-la, o pus que está por baixo dela quer sair a todo custo, e enquanto não tiramos o curativo e deixamos o pus sair, a ferida fica ali latejando.

Segundo Jung, quanto mais resistimos aos nossos medos, ao que nos assusta, aos nossos sentimentos considerados por nós ruins, mais poder e domínio eles terão sobre nós; agiremos de maneira inconsciente repetindo padrões de comportamento sem nem sequer saber para que estamos agindo daquela maneira.

Portanto negar, resistir, fugir àquilo que nos incomoda, só agrava os estados de ansiedade, inquietação e nervosismo.

A tristeza, a ansiedade, os medos, as frustrações, as decepções, os conflitos, nos tornam humanos e aceitar que estes aspectos fazem parte de nós, pode colaborar para vivermos de maneira mais harmoniosa e gentil, contribuindo com o nosso equilíbrio e liberdade emocionais.

 

 

Por Renata Nascimento é psicólogaclínica de orientação junguiana




Casamento se faz com amor e reconquista

Com os anos de relacionamento, não é incomum que todo aquele encanto, a alegria, o prazer de estar com a pessoa amada enfraqueça, diminua, encolha e desbote. Em outras palavras, a conexão vai se perdendo. E, com ela, a intimidade.

Com a convivência, o desgaste, problemas que todo casal enfrenta, a conexão se reduz ou até desaparece. O grande desafio é mantê-la, é recolocá-la na rotina, é renová-la, reerguê-la. E mesmo fortalecê-la, caso não tenha se perdido. Porque nunca é demais estar cada vez mais ligado a quem se ama.

É preciso entender, antes de tudo, que as formas de se manter conectado a alguém mudam com o tempo. A afinidade inicial, que deu o clique lá atrás, quando vocês começaram o namoro, pode não ser mais a mesma.

Se, com o passar dos anos, você quer voltar ao que o(a) aproximava de seu amor, pode ser que reencontre exatamente aquela conexão inicial – mas pode ser também que ela tenha ficado no passado mesmo, para sempre.

Por isso é importante você conhecer seu(sua) parceiro(a), se interessar por ele/ela, procurar o que a(o) liga a ele/ela agora. Às vezes, como no filme Casal improvável, essa conexão pode estar nos momentos mais banais, mais triviais, mais simples da vida.

Portanto, ela começa de algo que vocês já têm. Não é preciso inventá-la. Claro que não é fácil manter compatibilidade em todas as áreas da vida ao mesmo tempo. As conexões são dinâmicas, como a vida. Por isso, em cada momento, é indispensável saber o que o outro deseja, o que ele/ela pensa, quais são suas demandas e carências.

É a partir daí que novas conexões se tornam possíveis. Isso não quer dizer que elas sejam fáceis. Aliás, é exatamente nos momentos mais difíceis que essa ligação é posta à prova. É fácil conectar-se quando tudo está bem.

Porém, quando seu(sua) companheiro(a) está passando por um mau momento ou quando ele/ela está errando com você, aí é muito trabalhoso manter ou gerar conexão. Ela é a forma como a outra pessoa se sente percebida e amada. Tudo parte daí.

É preciso ser um “operário do amor” e trabalhar muito para que a afinidade não se perca e sempre se renove. Porque, uma vez que diminui, a tendência é que, com o tempo, a distância entre o casal só aumente. A relação madura entre um homem e uma mulher é algo desafiador. É necessário ser criativo(a), interessado(a), paciente, sensato(a). E, principalmente, mobilizar toda a sua capacidade de amar.

Quando falamos em conexão, o objetivo é entender que essa reaproximação, essa reconquista da intimidade transmite ao(à) seu(sua) companheiro(a) a certeza de que ele/ela é amado(a), admirado(a). Isso propicia segurança. Uma pessoa se solta, se desinibe, se conecta somente num ambiente em que se sente segura. As relações afetiva e física dificilmente serão boas num ambiente de insegurança e de desconfiança.

O relacionamento amoroso é uma ótima forma de desenvolvimento pessoal. Observe quanta capacidade, quanta habilidade você precisa desenvolver para manter um namoro ou um casamento. Ou seja, a partir de um relacionamento saudável você se prepara para lidar com o trabalho, com as amizades, com os filhos, com os pais. É em casa que aprendemos a cuidar, a amar. A conexão gera harmonia e entendimento.

 

Déa Jório, fisioterapeuta especialista em Saúde da Mulher, e Jal Reis, terapeuta e educador sexual, casados há 10 anos e autores do livro “21 Hábitos para Apimentar o Relacionamento”.




O livro de Tobias: uma história edificante

 

No século III antes de Cristo um grande número de judeus moravam no Egito, em Alexandria. O nome desta cidade era uma homenagem ao famoso Alexandre (356-323 a. C.), criador de um grande Império que, a partir da Grécia, passando pelo Egito, chegava até a Índia. 

As suas conquistas levaram a ‘impor’ a língua grega. Por isso, muitos judeus que moravam em Alexandria já não falavam o hebraico, mas apenas o grego. Daí surgiu a iniciativa de traduzir toda a Bíblia do Antigo Testamento do hebraico para o grego. E, como, segundo uma tradição, os tradutores da Bíblia do hebraico para o grego teriam sido setenta, esse texto foi chamado a Bíblia dos Setenta (LXX). A tradução foi realizada aos poucos e, além disso, na Bíblia Grega estão sete composições novas, a saber: Tobias, Judite, os dois Livros dos Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. São os chamados livros deuterocanônicos, quer dizer, reconhecidos como textos oficiais da Bíblia num segundo momento; e são aceitos pelas Igrejas Católica e Ortodoxa.

Como escreveu corretamente o biblista francês Pierre Benoit, no seu livro ‘Exegese et Theologie II’ (1961), inspirando a tradução grega da Bíblia, o Espírito Santo não repudiou a primeira etapa da Bíblia escrita em hebraico, mas a desenvolveu rumo ao universalismo cristão.

O livro de Tobias (Tb) é um deles e está dividido em catorze capítulos. O nome Tobias, abreviatura hebraica de ‘Tôbiyyâh’, significa ‘Deus é bom’.  Esse livro, no texto grego chamado de Tobit, foi escrito por volta de 200 anos Antes de Cristo, para os judeus que moravam fora da Palestina, especialmente em Alexandria. Apesar de ser ‘deuterocanônico’,  o livro era muito popular entre os judeus no tempo de Jesus e nos ajuda a conhecer a espiritualidade judaica da Diáspora, quer dizer, dos lugares daqueles judeus que moravam fora da Palestina.

Tobit, um exilado da tribo de Neftali, residente em Nínive, capital da Assíria, piedoso, observante, caridoso, fica cego. Seu parente, Ragüel, em Ecbátana, tem uma filha, Sara, que viu morrer sucessivamente sete noivos, mortos na noite do casamento pelo demônio Asmodeu. Tobit e Sarah, cada qual por seu lado, pedem a Deus que os livre desses infortúnios e, dessas duas preces, Deus faz uma grande alegria: envia seu anjo Rafael, que conduz Tobias, filho de Tobit, à casa de Ragüel, faz que ele se case com Sara e lhe dá o remédio que curará o cego.

É uma história edificante, na qual têm lugar notável os deveres para com os mortos e o conselho de dar esmola. O sentimento de família aí se exprime com emoção e encanto. Desenvolve uma noção muito elevada do matrimônio, quase uma antecipação do conceito cristão. 

O anjo Rafael, cujo nome significa ‘Deus cura’, manifesta e ao mesmo tempo esconde a ação de Deus, do qual é instrumento. É essa providência cotidiana, essa proximidade de um Deus benévolo, que o livro convida a reconhecer.

Nesse livro, percebe-se que os judeus, morando fora da Palestina num  meio pagão, como cidadãos cooperam com os governantes justos, mas defendem-se dos injustos e daqueles que não lhes dão a liberdade de seguir a Lei de Moisés.

O livro de Tobias contém belíssimas preces de louvor, de súplica e de ação de graças, comparáveis aos mais belos salmos, sobretudo a ação de graças do capítulo 13: “Bendito é Deus, que vive para sempre, e bendito é seu Reino! Ele castiga e tem compaixão, faz descer até o fundo do abismo e faz, pela sua majestade, voltar da perdição. Não há quem possa fugir da sua mão. Celebrai-o, filhos de Israel, diante das nações para o meio das quais ele os dispersou e aí mostrou sua majestade. Exaltai-o  diante de todos os viventes, pois ele é o nosso Senhor, ele é o nosso Pai, ele é o nosso Deus por todos os séculos”.

Lino  Rampazzo é doutor em Teologia, professor no curso de Teologia da Faculdade Canção Nova.




Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

 

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas. Esse, inclusive, era o foco do grupo Live Promotora, que se apresentava como uma empresa de serviços de concessão de empréstimos para pessoas físicas. Estima-se que a empresa fraudulenta tenha enganado mais de mil vítimas e retido aproximadamente 22 milhões de reais.

O caso, contudo, tem caminhado na Justiça, onde muitas dessas vítimas tentam buscar seus valores investidos e a dignidade de volta. Dos suspeitos de liderarem a fraude, foram apreendidos até o momento cerca de R$ 200 mil.

Os serviços oferecidos pelo grupo consistiam em crédito consignado, portabilidade de crédito e consultoria financeira. Eles captavam as vítimas dizendo ser representantes de bancos que atuavam com empréstimos consignados, garantindo que, em caso de realização de empréstimo, reduziriam o valor das parcelas pagas pela pessoa física, de modo a proporcionar um lucro resultante da diferença entre o valor pago no empréstimo e o valor que receberiam com o retorno das financeiras.

Além do retorno financeiro previsto com essa redução, o grupo também prometia a aplicação do montante no mercado financeiro e a devolução acrescida de uma rentabilidade de 13,3%, o que cativava ainda mais as vítimas. Isso, contudo, jamais aconteceria.

Apesar do caso correr em segredo de justiça, o Instituto de Proteção e Gestão do Empreendedorismo e das Relações de Consumo (IPGE) demandou uma Ação Civil Pública que visa representar coletivamente as vítimas de mais esse golpe devastador.

O crime de pirâmide financeira cresce assustadoramente ano após ano no país. Cada vez mais, golpistas dão roupagens diferentes para tal prática, com a mesma finalidade: enganar as pessoas e tirar delas todo recurso possível. Cabe aos departamentos de polícia a investigação e à justiça a condução dessas ações, de modo a recuperar os valores perdidos por milhares e até mesmo milhões de vítimas, bem como punir exemplarmente quem comete esse tipo de golpe.

Jorge Calazans é advogado especialista na área criminal, conselheiro estadual da Anacrim e sócio do escritório Calazans & Vieira Dias Advogados, com atuação na defesa de vítimas de fraudes financeiras