PREPARE A VOLTA QUANDO PROGRAMAR SUA IDA.
Eles saíram com a intenção de ir a uma festa! Eram amigos em tudo!
O programa já estava definido: sair bem cedo de casa – no máximo às 18h – para aproveitar a noite toda, e voltar no raiar do sol.
Se fosse noutros tempos, certamente, iriam à pé ou de jumento. Mas, agora, eles possuem moto e vão de moto. Aliás, todos, naquele povoado, já tem moto. E, tudo o que é preciso fazer fazem de moto: cuidam do rebanho; vão para a feira; vão para a escola; levam para o médico; transportam o que colhem; levam animais; vão e voltam com toda a família – até seis já se viu numa dessas motos – frequentam o interior; visitam os amigos e vão para churrascos e festas.
Os jumentos, coitados, não servem mais para essas lidas. Estão abandonados nas rodovias, matas e estradas. Alguns morrendo de fome e sede. Outros morrendo ou matando em acidentes de carro e moto.
Nos últimos tempos foram registrados inúmeros casos de acidentes envolvendo animais nas estradas: gado, ovelha, bode e jumento. Ninguém está isento! Parece uma procissão. Quando estão todos, num rebanho, até que fica fácil identificar, desviar e avisar os outros motoristas. Mas, o problema mais sério são aqueles animais, principalmente jumentos, que surgem de uma hora pra outra do meio do mato, invadindo a estrada.
Semana passada, por exemplo, mais um caso entre dezenas. O motorista estava indo para um compromisso seu. Tinha dado uma carona. Eram quatro no carro; uma Hillux. A certa altura da estrada, tendo avistado um grupo de jumento, logo pensou: “vou matar a carreira”. E assim fez. Livrou-se dos animais que estavam na estrada e, quando imaginou que estava livre do perigo, retomou a velocidade do veículo. Já próximo dos 60kmh foi surpreendido por dois jumentos que surgiram inesperadamente, do meio do mato, invadindo a estrada. Estavam no cio. Não deu tempo de nada. A batida foi inevitável. Um bateu na lateral e o outro na frente. Grande impacto, seguido de um silêncio abissal. Rompido o silêncio, todos desceram e foram ver o estrago. Os jumentos se levantaram e saíram correndo. Um saiu mancando e sangrando. Recebeu uma forte pancada na parte traseira. O carro é que sofreu mais danos. A parte dianteira quebrou toda porque o material era frágil, além do radiador furado. Feitas as verificações e acionado as ajudas e os amigos, esperaram o tempo entre uma água e um cuscuz que foi chegando na beira da estrada.
Voltado à festa dos amigos. Eles saíram conforme o programado: ás 18h. Surpreendentemente, o tempo mudou para chuva. O tempo estava inspirado. Mas, eles não se detiveram. Seguiram viagem em direção à festa. Outros amigos seus viriam logo após. Eles estavam ansiosos e cheios de vontade de chegar festar e dançar. Jovens como eram, queriam muito se divertir.
Chegados à festa, entregaram-se à tudo o que a noite oferecia. Triste porém, foi a volta. Cinco horas da manhã: lama na estrada, velocidade na moto, álcool na cabeça e animais na pista. Com tantas combinações perigosas, não poderia dar outra coisa senão um acidente fatal. A ideia era ir se divertir e voltar. Mas, aquela noite só teve ida feliz. Na verdade, nem a ida foi feliz porque preparou uma volta cheia de dor e morte. Infelizmente é isso o que acontece: quem vai não se dá conta que precisa voltar. E, voltar bem e em paz.
Na estatística brasileira, o Piauí é um dos campeões em morte por acidente de trânsito, principalmente com moto. E, se os números são estarrecedores, muito mais estarrecedores são os fatos, as histórias, os acontecimentos e as dores.
Planejar a volta é tão necessário quanto programar a ida.
Quem sai de casa com a intenção de ir, precisa saber que precisa voltar.
PE. EDVALDO PEREIRA DOS SANTOS