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Espaço Espírita

Nem sempre as pessoas que de nós se aproximam usam de gentileza ou de compreensão. Muitas vezes, tomam atitudes agressivas, ferindo-nos com o verbo da maledicência ou da calúnia, e impedindo-nos de alcançar os bons propósitos que buscamos.      

Quando isso nos acontece, é chegada a hora de exercitarmos a caridade da paciência.                                                                                

Quantas vezes também nós nos excedemos em nossos atos ou proferimos palavras menos felizes, e acabamos, inconscientemente ou não, por ferir alguém!                                

Como exigirmos de nossos irmãos atitudes corretas que nem sempre as temos?            

Enxerguemos tais criaturas quais enfermos da alma, necessitados do bálsamo que cura todos esses desajustes interiores: o amor.  

Todos nós, encarnados ou desencarnados, pelas imperfeições que ainda carreamos de outras encarnações, somos eternos necessitados da paciência de Deus para conosco. Quantos erros possamos ter cometido! Quantos atos tenhamos praticado que hoje podem envergonhar a nós mesmos! Quantas palavras ferinas tenhamos dirigido ao nosso próximo, em momentos de intemperança mental! Quantas vezes teríamos chegado ao extremo da calúnia ou da blasfêmia, sem que nos sentíssemos arrependidos por isso!         

Mas Deus, na Sua infinita misericórdia e paciência, sempre nos perdoou e nos proporcionou novas oportunidades de redenção.                

Lembra-te de tudo isso, meu irmão, e não te esqueças jamais de exercitar a caridade da paciência diante das agressões físicas ou morais que vieres a sofrer.

IRMà MARIA  DO  ROSÁRIO

Extraído do livro “Na cura da alma” – Psicografia: Lúcia Cominatto – Editora EME

USE  INTERMUNICIPAL  DE  ASSIS

ÓRGÃO DA UNIÃO  DAS  SOCIEDADES  ESPÍRITAS  DO  ESTADO  DE  SÃO  PAULO




Diocese de Assis

“A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contacto atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado.

Ao entregar à Igreja o seu sacrifício, Cristo quis também assumir o sacrifício espiritual da Igreja, chamada por sua vez a oferecer-se a si própria juntamente com o sacrifício de Cristo. Assim no-lo ensina o Concílio Vaticano II: « Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, [os fiéis] oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela” (Carta Encíclica Ecllesia de Eucharistia, nº 12 e 13, p. 17 e 19).

 

“Sem efusão de sangue não há remissão” (Hb 9,22b).

Dom Oscar Arnulfo Romero, assassinato a 24 de março de 1980, com um tiro no peito, por um “esquadrão da morte”, aos 63 anos quando celebrava a missa na capela de um hospital de San Salvador, El Salvador. A guerra civil salvadorenha foi nesse período, de 1980 a 1992.

Seu último sermão, gravado na maior clareza possível, naquele instante da Morte, foi um apelo de justiça e paz. E quando terminou a gravação, ouviram-se também na fita os tiros, que lhe arrebataram a vida terrena.

Ele mesmo, no entanto, profetizara: “Ressuscitarei em meio ao meu povo. Vivo dentro do povo”. Foi um exemplo na luta em defesa dos direitos humanos.

Em seus sermões dominicais, retransmitidos pelo radio, Dom Oscar Romero defendia os pobres, denunciava assassinatos, desmascarava os governantes corruptos e mentirosos. Romero foi indicado pelo parlamento britânico para o Prêmio Nobel da Paz de 1979. Perdeu o prêmio de Estocolmo para Madre Teresa de Calcutá.

Em todos os lugares, as comunidades recordarão as palavras que, poucos dias antes de ser morto, dissera Dom Romero: “Freqüentemente, tenho sido ameaçado. Como cristão, não creio em morte sem ressurreição. Se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho. (…) Como pastor, estou obrigado a dar a vida por aqueles que amo que são todos os salvadorenhos, até pelos que vão me assassinar. Ofereço a Deus o meu sangue pela redenção e pela ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça que não creio merecer. Mas, se Deus aceita o sacrifício da minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e o sinal de que, em breve, a esperança se tornará realidade…”

De fato, o seu sangue, derramado pelas balas assassinas, misturou-se, literalmente, ao vinho do cálice que ele sustentava para celebrar o memorial da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele não queria morrer, nem vivia uma espiritualidade baseada no sacrifício e na dor. Acreditava que o caminho para a intimidade com Deus passa pela solidariedade efetiva aos irmãos e irmãs, especialmente às pessoas mais carentes e oprimidas. Dizia que sem a prática da justiça e o compromisso pelos direitos humanos vividos por todos, a adoração a Deus é fantasia narcisista. Ora, El Salvador, menor país da América Central. tem 50% dos habitantes vivendo com menos de 10 dólares por mês. Desde 1932, militares, preparados pelo governo americano, dominam o país com mão de ferro.

As comunidades e o povo de El Salvador continuam resistindo. A ressurreição da qual falava Dom Romero já se manifesta no próprio milagre de sobreviver. Ele afirmava: “A glória de Deus é a vida dos pobres”.

Quase vinte anos depois, a memória deste profeta, carinhosamente conhecido pelas comunidades como “São Romero das Américas”, torna-se mais importante. 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




Diocese de Assis

 

          Interessante observar na parábola do rico e o pobre, contada em Lucas, 16,10-31, que somente o pobre tem seu nome revelado, enquanto o rico permanece um ilustre desconhecido. É a única parábola em que Jesus cita um nome. Interessante também é a coincidência do nome, o mesmo do amigo ressuscitado por Jesus, Lázaro, que etimologicamente também significa aquele que sofre de lepras, morfético…Mesmo assim, Jesus o dignifica, colocando-o num patamar capaz de fazer inveja aos mais afortunados dessa vida. Olhando para os dias atuais, a parábola tem muito a nos ensinar.

          O conflito social é latente. Não exclui regime político, nem religioso. Sequer nações poderosas ou mesmo subdesenvolvidas. As diferenças de classes estão em qualquer sociedade humana. Mesmo assim, a fé cristã ainda prega a igualdade e a fraternidade como pilares de sustentação do mundo novo que sonhamos. Não se vá esperar a morte, o julgamento final, para se concluir que as desigualdades entre nós são fatores dos muitos conflitos que desestabilizam nossas relações pessoais. O rico da parábola percebeu tardiamente a desgraça que seu egoísmo lhe proporcionou na eternidade. Nosso problema é exatamente esse. Demoramos a enxergar a realidade do outro lado e, quando nos damos conta, clamamos por misericórdia, suplicando até mesmo a caridade dos lazarentos que um dia ignoramos ao redor de nossos pretensos palácios, nossa arrogância existencial. Os pedestais que construímos em vida tornar-se-ão os abismos a nos separar na realidade das graças celestiais. O que aqui plantamos, lá colheremos.

          São muitos os Lázaros ao nosso redor. Pagam o preço da nossa possível salvação, pois são eles os instrumentos que Deus enviou para nos ajudar na redenção humana e no nosso aprimoramento espiritual. Não podemos ignorá-los. Nem os condenar. Lázaros hoje caminham conosco numa mesma calçada, adentram nossas igrejas, prédios públicos ou áreas de lazer, à cata de nossas sobras. Integram movimentos sociais na esperança de mudanças. Gritam por igualdade em muitas de nossas ruas ou praças. Agitam suas bandeiras em passeatas ou entregam suas esperanças no uso de drogas e vícios que anestesiam suas dores e decepções. Lázaros também ocupam cargos políticos e religiosos, na tentativa de nos despertar. Lázaros estão nas trincheiras dos muitos conflitos entre povos e nações… sentem o cheiro mórbido da pólvora nos canhões e visualizam o clarão insano de nossas armas nucleares. Lázaro pode ser eu ou você, um dia…

          O perigo das riquezas é o pecado por omissão. Ou seja: não é o fator riqueza que condena, mas a negligência do rico com relação à pobreza que grassa ao redor de sua mesa, sua casa, suas posses… O rico da parábola, tardiamente, se deu conta dessa sua omissão. Desejou avisar aos seus, alertá-los quanto a esse perigo, mas já era tarde. Cada qual deveria prestar contas segundo o alerta que lhes fora dado em vida, pela lei, pelos profetas, pela palavra que lhes fora proclamada… A consciência dos deveres estava embutida em suas vidas pelo conhecimento da Palavra. E isto lhes era suficiente, se quisessem realmente agradar a Deus. Simplesmente cumprir seus desejos de solidariedade, fraternidade, responsabilidade social. Eis aqui o único e fatal perigo que o mau uso das riquezas é capaz de proporcionar. Quem faz de seus bens instrumentos de opressão e humilhação aos menos favorecidos despreza um privilégio que poucos conseguem: ser útil no processo de crescimento de muitos que rodeiam nossa vida, nosso trabalho, nossa profissão neste mundo.

          O crescimento das virtudes é a multiplicação das verdadeiras riquezas. Essas, necessariamente, não exaltam o nome do rico, mas dá-lhe dignidade na medida que dignifica os Lázaros que o cercam. Serão eles que exaltarão e revelarão esse nome na presença de Deus. Que o nosso seja um destes.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]