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Diocese de Assis

 

Estamos no meio do mês de outubro!

E, você poderia me perguntar: “o que isso tem de novidade”?

E eu lhe responderia: “Nada! A não ser que este é o único outubro do ano de 2023, o que é óbvio; que nunca vamos ter um outro outubro de 2023, o que é outra obviedade; que o final de ano está próximo, que é mais óbvio ainda. Mas, não é tão obvio assim, que o seu 13º antes de chegar já está comprometido; que no próximo pleito podemos encontrar eleitores mais maduros; que a situação de crise ético-moral brasileira pode despertar os cristãos a serem menos omissos; que as prisões poderão ser, também, para os intocáveis do país; que os salários astronômicos no futebol inspire uma revisão salarial responsável dos verdadeiros trabalhadores do Brasil; que o crime seja detido; que a honra do trabalho não se dobre ao dinheiro…

Outubro, hoje, é, no mínimo, uma inquietação para todos nós!

Não dá para olhar para trás e, simplesmente, dizer: “não me lembro o que se passou” ou “o que passou não importa” ou, ainda “eu recupero nos próximos meses”.

O ano 2023 está, praticamente, no fim. Outubro é prova cabal disso.  E não adianta dizermos que o tempo está passando rápido demais. O tempo está correndo com a mesma velocidade de sempre. O tempo tem sua ordem e se movimenta no ritmo. O tempo não faz concessões de horas, nem de minutos, nem de segundos e muito menos de centésimos ou milésimos de segundos. Nós, sim, estamos demasiado vagarosos.

É hora de reagirmos frente às exigências de um novo tempo!

“Desperte, você que está dormindo. Levante-se dentre os mortos, e Cristo o iluminará. Estejam atentos para a maneira como vocês vivem: não vivam como tolos, mas como homens sensatos, aproveitando o tempo presente, porque os dias são maus. Não sejam insensatos; ao contrário, procurem compreender a vontade do Senhor. Não se embriaguem com vinho, que leva para a libertinagem, mas busquem a plenitude do Espírito” (Efésios 5,14-18).

“Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: Tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para arrancar a planta. Tempo para matar e tempo para curar. Tempo para destruir e tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para bailar. Tempo para atirar pedras e tempo para recolher pedras. Tempo para abraçar e tempo para se separar. Tempo para procurar e tempo para perder. Tempo para guardar e tempo para jogar fora. Tempo para rasgar e tempo para costurar. Tempo para calar e tempo para falar. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para a guerra e tempo para a paz”. (Eclesiastes 3,1-8).

“Portanto, aquele que julga estar em pé, tome cuidado para não cair. Vocês não foram tentados além do que podiam suportar, porque Deus é fiel e não permitirá que sejam tentados acima das forças que vocês têm. Mas, junto com a tentação, ele dará a vocês os meios de sair dela e a força para suportá-la” (1Coríntios 10,12-13).

“…busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas. Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade” (Mateus 6,33-34).

Não precisamos deixar o tempo passar e nem o amanhã chegar para tomarmos iniciativas de mudança, seja ela qual for.

O fundamental é que nos tornemos protagonistas, sujeitos, atores principais… e não meros coadjuvantes atrás de nossa própria sombra.

Devemos olhar cada dia como se fosse o primeiro, o último e, o único. Afinal somos nós que fazemos a nossa história!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

UMA ANDORINHA NÃO FAZ VERÃO

Ainda é primavera, é verdade. Mas as primeiras incursões de andorinhas americanas em meu quintal já anunciam o verão. Logo serão milhares, em revoada lírica sobre nossos telhados, fugindo do inverno do hemisfério norte, mas deixando aqui seus alaridos e dizendo a todos que sol e calor lhes dão energia para voos tão longínquos. Fazem-me pensar na beleza da vida e no esforço de sempre a louvar, apesar da árdua viagem longe dos ninhos. Aqui encontram mais calor, mais alimentos, luz e beleza…

Aves migratórias seguindo o rastro do Sol! Pudéssemos também nós entender o sentido dessa viagem em nossas vidas! Pudéssemos trazer para nossa existência a lição que esse esforço inspira! Em especial neste mês missionário! Em especial quando somos convidados a refletir sobre o valor de nossa presença neste mundo, no qual temos por ideal cristão a tarefa de levar conosco a bagagem de nossa fé, a vida missionária. Não é uma tarefa que se cumpre por obrigação, mas razão de ser, essência da missão que um dia recebemos no ninho das nossas origens cristãs. Não preciso aqui repetir os refrãos que sibilam em nossos ouvidos desde a catequese, mas toma-los com mais critérios para alimentar nossa viagem neste mundo, nossos voos existenciais em busca do verdadeiro Sol, a luz que nos ilumina por completo, a razão de nossa fé. Eis pois: é Deus quem nos alimenta, nos aquece e nos revela a beleza da vida cristã.

Mas as andorinhas nos ensinam. Uma só não faz verão. Sozinha não faz borbulhar o espetáculo de um mistério da natureza, seus voos repletos de lições de sobrevivência, de encantamento, de louvor. Quem nunca se encantou com elas? Eis que o conjunto é que faz o espetáculo. Eis que na vida missionária da igreja que somos, uma única voz soa a um grito no deserto, não convence, não revela a importância da luz que nos atrai, não faz verão. Dai a importância de uma vida missionária coesa, em sintonia com as diretrizes da Igreja, em harmonia com os ensinamentos de Cristo, em concordância com os riscos que uma viagem tão longa e misteriosa – a vida – nos faz realizar com alegria e determinação. Não importa a distância. Não importa o quadrante, o hemisfério, o terreno árido ou fecundo, mas são estes o destino onde nossa missão se realiza, permanente ou momentaneamente, para saudarmos a vida e glorificarmos seu Criador, nossa Luz.

Unamos nossas forças nessa viagem. Deus nos guia e nos conduz em direção à vida. Sem bolsas, sem alforjes. Ensina-nos a viagens mais audaciosas em nossos planos existencialistas. Quer-nos em sintonia com Ele, confiando sempre em sua Providência. Dá-nos o alimento necessário, não só o pão de cada dia, mas igualmente o pão do céu, sua palavra em nossa boca. Assim se constrói um espírito missionário. Aberto para o mundo e para sua realidade. Confiante nos planos de Deus. Sejam estes bem realizáveis dentre os nossos, no mundinho de nossas origens ou em terras distantes, onde sua luz e sua inspiração nos guiou para também lá fazer brilhar os mistérios da nossa natureza divina. Isso tudo não é subserviência à sua vontade, mas transbordamento da verdade que domina uma criatura agradecida pelo dom da vida. Somos sujeitos da transformação que sonhamos para o mundo. Um mundo sem os cravos da violência, da corrupção, da fome e da injustiça que vemos campear em todos os hemisférios, de norte a sul, leste a oeste. Como andorinhas em revoada, a soma dos esforços individuais que nossa doutrina nos pede será a grande contribuição da presença missionária de nossa Igreja no mundo. Não menosprezemos essa força que temos, essa capacidade de transformar o mundo com nossa ação e presença, o voo missionário para anunciar novos tempos aos homens. Afinal, nossas ações concretas de fraternidade e misericórdia confirmam nossa missão: “Enviados para testemunhar o Evangelho da Paz”. Nada mais.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Santa Teresinha do Menino Jesus (nascida em 1873), Tem um testemunho eucarístico belíssimo. Sua vida, à semelhança do Cristo, está marcada pelo sacrifício da vida-à-serviço e do amor-doado: “Minha vocação é o amor” exclama Teresinha. “Jesus! Quero amá-lo; amá-lo como nunca foi amado.” Tereza enfatiza: “Que ele me dê um amor sem limites.” Noutra passagem diz: “A todo preço quero colher a palma; se não for pelo sangue, é necessário que seja pelo amor! Não quero senão esta ciência, porque eu não tenho nenhum outro desejo, senão este: amar Jesus até a loucura!” E, mais uma vez assevera: “O amor é devotado a Deus sem reserva, e sempre cheio de reconhecimento, não deixa de confiar nele, ainda quando lhe parece estar desamparado” (Imitação de Cristo III 5,7).

Tal foi o amor de Santa Teresinha, na aceitação do sofrimento. Foi neste ponto que se revelou maravilhosamente sua virtude de força e sua vida, profundamente eucarística.

Indagando sobre o sofrimento, Teresinha pergunta: “Como Deus, que nos ama tanto pode ser feliz quando sofremos?…” E, a resposta não tarda a ser sugerida pelo seu próprio coração: “Oh, Não! Jamais nosso sofrimento o torna feliz. Esse sofrimento nos é necessário; então ele no-lo envia como que virando a cabeça.” E com a maior simplicidade Terezinha testemunha: “Custa-lhe (a Deus) aproximar-nos da fonte das lágrimas, mas sabe que é o único meio de nos preparar para o conhecermos como ele se conhece, para tornar-nos, também, deuses.” A grande questão é que “não estamos ainda em nossa pátria, e a tentação deve nos purificar como o ouro sob a ação do fogo”.

Teresinha estava com apenas quatorze anos de idade e já compreendia a utilidade do sofrimento: “É bem verdade que a gota de fel deve ser misturada a todos os cálices e, eu penso que, os espinhos ajudam muito a nos desprender da terra; eles elevam nosso olhar acima deste mundo.”

O pensamento de que a nossa vida de provação neste mundo é apenas uma passagem, “uma noite numa má hospedaria”, a consolava docemente, projetando sobre todas as suas cruzes um clarão bendito da eternidade.

Escrevendo, certa vez, à sua irmã Celina dizia: “o tempo é apenas uma miragem, um sonho… Deus já no vê na gloria, Ele desfruta de nossa beatitude eterna!.. Oh! Quanto este pensamento faz bem à minha alma! Compreendo, então, porque nos deixa sofrer…”

Com sincera disposição do coração, Teresinha admite: “A provação amadureceu e fortificou minha alma, de tal sorte que nada mais neste mundo me pode contristar”.

Compraz-se em meditar a vida de Jesus e de sua Mãe. Vendo, então, que Deus não lhes poupou sofrimento, aprecia melhor os seus próprios sofrimentos e diz: “Jesus, no seu amor imenso, nos escolheu uma cruz preciosa entre todas… Como nos queixar, quando ‘ele mesmo foi considerado como um homem ferido por Deus e humilhado?’” (Is 53,4).

Jesus nos resgatou pela cruz! Para cooperar com ele na redenção do mundo, é preciso que paguemos o mesmo tributo. Por isso diz: “Jesus tem por nós um amor tão incompreensível, tão delicado, que nada quer fazer sem nos associar a si. Quer que tenhamos parte com ele na salvação das almas. O criador do universo espera a oração, a imolação de uma alma pequenina para salvar uma multidão de outras, resgatadas como ela, ao preço de seu sangue.”

De modo mais contundente, afirma: “Precisamos viver de sacrifícios; sem isto a vida seria meritória?” (…) “Oh! Não percamos a provação que Jesus nos envia; não faltemos à ocasião de explorar essa mina de ouro…”

Em tão poucas linhas, aprendemos com Santa Teresinha do Menino Jesus, que é impossível parar de sofrer, como muitos propõem. Isso é um absurdo! Possível é, dar sentido ao sofrimento. E, o sentido está no fato de que o sofrimento é participação no Mistério de Cristo.

PE. EDVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Alma de criança, coração de menina apaixonada. Assim podemos resumir a  vida de uma jovem, doutora e mestra da fé pequena, porém grandiosa em sua simplicidade e prática devocional. Uma simples agulha perdida e diligentemente recuperada era um gesto de amor a Deus. Sua via de humildade e santidade provocou não só um sorriso na face serena de uma estátua a representar Maria, como também a tornou conhecida no mundo como a menina das coisas simples. Dotada de muitos dons, dentre os quais a arte da pintura, um dia registrou a inocência de um menino a brincar num belo jardim, povoado por pássaros e rosas e vigiado pela Divina Face. Esse quadro tornou-se sua obra prima a registrar o que poderia ter sido um dia na vida do menino Jesus. Aos quatorze anos foi aceita, por concessão papal, como noviça num convento carmelita, onde viveria durante longos e reveladores dez anos… Longos no sofrimento de uma tuberculose fatal, mas reveladores na alegria de uma fé imortal. Morreu em plena juventude, aos 24 anos. De quem estamos falando?

De uma doutora da Igreja. Tão auspicioso e raro título foi lhe concedido pelo Papa João Paulo II, em 1997, centenário de sua morte. A razão desse título foi justificada pela preciosa tese sobre a Infância Espiritual, que a tornou conhecida como santa das pequenas virtudes e práticas devocionais capazes de provar seu extremado amor ao Menino Jesus. Dai ser conhecida como Terezinha do Menino Jesus. Esse, sim, seu título primeiro, o nome que escolheu para viver na clausura de um convento carmelita.

Falamos também de uma grande missionária, a maior delas, a padroeira de todas as missões católicas. Assim a reconheceu o Papa Pio XI, em 1927, que lhe concedeu o título de Padroeira Universal das Missões sem nunca ter saído de sua terra. Como assim?  Toda pessoa que, no lugar onde vive, serve como missionária do amor de Deus. Ela mesma nos diria como, mostrando-nos na prática seu extremado amor pelos sacerdotes e missionários do mundo, pelos quais vivia em perene oração e intercessão, além de lhes enviar cartas de incentivo. Dizia: “O que conta é o amor, só o amor. Ser missionário não é uma questão geográfica, mas uma questão de amor”. Amor pelas causas de Deus.

Santa das Rosas. Gostava de atirar pétalas quando o Santíssimo passava à sua frente. Amava o perfume das rosas. Um dia ganhou de uma das freiras um pau seco, um estorricado galho de roseira, que plantou no jardim do convento. Não demorou muito e aquele ramo quase morto produziu sua primeira flor. Dizem que continua a florescer até hoje, às vezes até mesmo durante o inverno, como aconteceu no dia de sua morte. Aquele galho ofereceu à jovem moribunda uma bela rosa que encheu de perfume o ambiente de sua agonia final. “Foi como se uma chuva de rosas caísse sobre ela”, testemunhou uma de suas companheiras.

Hoje, cento e cinquenta anos após seu nascimento, mais um Papa entra nessa história, para dignificar a pureza dessa alma santa. Papa Francisco assina agora mais uma de suas Cartas Apostólicas, relembrando a vida de uma jovem apaixonada. Diz Francisco: ”No ano em que celebramos o 150 aniversário de Santa Terezinha do Menino Jesus, peçamos a graça de amar Jesus como ela amou, de lhe oferecer nossas provações e dores, como ela o fez, para que seja conhecido e amado por todos”. Morreu aos 24 anos. Seu livro de memórias, intitulado “História de uma alma”, tornou-se o maior best-seller religioso dos tempos modernos.

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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Tudo é de Deus e leva a marca e o selo de autenticidade do Criador.

Criatividade e originalidade são as marcas de sua obra. Nada igual: tudo único e irrepetível. Não existe rascunho, nem forma, nem cópia!

Porque tudo é de Deus, tudo é sagrado e bendito; tudo é bem feito e bonito; tudo é mistério infinito; tudo é bom!

É esta a expressão bíblica que caracteriza o final de cada dia da criação: “e Deus viu que era bom!” Quando da criação do ser humano, no sexto dia, a expressão ganha uma ênfase de intensidade: “e Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom” (Gn 1,31).

A obra de Deus não para. Deus continua trabalhando, com as próprias mãos. Agora, não para criar originalidades; elas já existem, estão ai, e, são completas. Embora deterioradas, exploradas e mal tratadas por nós.

Agora, o trabalho de Deus se concentra na restauração do homem…

A melhor obra de Deus precisa de ajustes diários e permanentes; precisa de obediência e correção; precisa de disciplina e conversão; precisa de virtude e direção; precisa de recomeço e perdão; precisa de amor e comunhão; precisa de santidade e libertação; precisa de fé e salvação; precisa de vida nova e ressurreição.

O que teria acontecido com a melhor obra de Deus?

Por que toda a originalidade das coisas permanecem completas e a do ser humano não? Por que é preciso ajustes diários e permanentes? Teria Deus falhado em alguma coisa?

Nada de errado na criação do ser humano.

Tudo está de acordo com o plano original da criação: a melhor obra do Deus Criador estará, sempre, em suas mãos. Quem foi feito à imagem e semelhança do Criador e, recebeu do seu Espírito, precisa de retoques permanentes em vista desta verdade.

Isso não fere, em nada, a liberdade que o próprio Deus Criador imprimiu na consciência e garantiu na essência humana. Pelo contrário é em vista desta liberdade, sempre ameaçada pelo pecado que, o Deus criador recria, incessantemente. Assim nos lembra São Paulo na carta aos Gálatas: “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, sejam firmes e não se submetam de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5,1).

São Propósitos do Criador:

Jeremias 18,1-6: “Palavra que Javé dirigiu a Jeremias: ‘Levante-se e desça até a casa do oleiro; aí eu comunicarei minha palavra a você’. Desci até a casa do oleiro e o encontrei fazendo um objeto no torno. O objeto que ele estava fazendo se deformou, mas ele aproveitou o barro e fez outro objeto, conforme lhe pareceu melhor. Então veio a mim a palavra de Javé: Por acaso será que não posso fazer com vocês, ó casa de Israel, da mesma forma como agiu esse oleiro? – oráculo de Javé. Como barro nas mãos do oleiro, assim estão vocês em minhas mãos, ó casa de Israel.”

Isaías 49,14-16: “Sião dizia: ‘Javé me abandonou, o Senhor me esqueceu!’ Mas pode a mãe se esquecer do seu nenê, pode ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, eu não me esquecerei de você. Veja! Eu tatuei você na palma da minha mão; suas muralhas estão sempre diante de mim.”

Isaías 44,2-5: “Assim diz Javé, que o fez, que o formou no ventre e o auxilia: Não tenha medo, meu servo Jacó, meu querido, meu escolhido. Vou derramar água no chão seco e córregos na terra seca; vou derramar meu espírito sobre seus filhos e a minha bênção sobre seus descendentes. Crescerão como planta junto à fonte, como árvores na beira dos córregos. Um vai dizer: ‘Eu pertenço a Javé’. Outro se chamará com o nome de Jacó; outro ainda escreverá na palma da mão: ‘De Javé’. E como sobrenome tomará o nome de Israel.”

Porque tudo é de Deus, Ele cuida!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 

 




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          Assim a Igreja apresenta mais uma de suas campanhas missionárias, desejando antes que esse caminho seja feito com corações ardentes. Sempre gostei da mística presente no simbolismo de uma caminhada, em especial com o lirismo dos pés descalços. “Corações ardentes, pés a caminho” é o lema da nova Campanha Missionária desse outubro ardente em sua temperatura máxima, mas que também precisa do ardor renovado das muitas vocações missionárias ainda inseguras no desafio evangelizador. Coincidentemente, temos no início desse mês um evangelho desafiador: “Filho, vai trabalhar hoje na vinha!” O convite aos dois filhos se repete hoje. A resposta é que são elas…

Vejam bem: ambos se contradizem! O primeiro diz que não vai. Mas vai. O segundo diz que vai. Mas não vai. E a pergunta final de Jesus se torna enigmática, mas também profundamente questionadora: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” (MT 21,31).

Estamos diante de uma situação que nos diz respeito, como Igreja que somos. No tempo de Jesus eram dois os grupos que constituíam o Povo de Israel. O primeiro era a classe vigente da casta religiosa, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo. O segundo era a ralé, prostitutas e cobradores de impostos, a classe mais abjeta, as ovelhas perdidas, como denominou Jesus. Já os governantes e elites sociais estavam fora da meta de salvação, pois não tomavam parte no aprisco das ovelhas, não constituíam a chamada “vinha” do Senhor. O objetivo primeiro na construção do Reino de Deus deveria ser o povo de Israel e os dois filhos representavam esse povo.

O que mudou? Não fosse a universalidade da missão cristã, que no holocausto da cruz agregou todos os povos e se tornou uma questão humana, humanitária, sem distinção de classes, ou raças, ou crenças, a vinha do Senhor é hoje seara sem divisas. Por isso o desafio cristão não tem limites, é universal. Por isso a Igreja conclama: “Ide da Igreja local aos confins do mundo”. Evangelizar não é um mero direito constitucional, que respeite fronteiras ou culturas, ou tradições místicas de um povo. É dever outorgado pela força da fé que move um coração ardente, renovado na descoberta de um novo Reino, a possibilidade de transformação do mundo, dos homens e mulheres tocados pela revelação cristã. Parece discurso dogmático ou proselitismo puro e simples, mas antes das pregações místicas que Jesus pronunciou na vizinhança do Calvário, a prática e o exemplo se deram com seus “pés a caminho” pela periferia da Terra Santa, da Samaria e das Galileias  que constituíram o cenário de sua escola evangelizadora. “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos procedem”… Creram por primeiro. Mateus e Madalena que o digam.

Então, quem faz a vontade do pai? Num primeiro momento, muitos dizem não ao desafio missionário que Jesus nos faz diuturnamente. Porém, agraciados pela revelação da verdade, acabam cedendo e se tornam evangelizadores ardorosos. Pior são aqueles que dizem sim a tudo e a todos, mas na última hora fogem de qualquer compromisso ou testemunho da fé que dizem possuir. Lembre-se do que nos disse o Mestre: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino de Deus”. Com qual dos filhos você se identifica?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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“Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Diariamente, todos juntos freqüentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação.”

Quando olhamos os Atos dos Apóstolos 2,42-47 encontramos o perfil do tipo de Igreja que é necessário ser edificada entre nós:

1). Perseverar na doutrina dos apóstolos – Comunidade de fé;

2). Unir-se para rezar e para celebrar a Eucaristia – Comunidade de oração;

3). Os cristãos devem viver unidos, em solidariedade – Comunidade de amor;

4). Dar testemunho; ser uma Igreja missionária – Comunidade de vida.

Visto desta maneira somos chamados a enxergar que a Igreja não é apenas uma instituição, mas um organismo vivo. Sendo a Igreja um organismo vivo, precisamos repensar a nossa relação com ela e refazer a nossa mentalidade. Vejamos!

  1. A Teologia de São Paulo sobre a Igreja.

Na Primeira Carta aos Coríntios 12,12-31, São Paulo compara a Igreja a um corpo. Diz que há muitos membros e uma cabeça. Cada membro tem sua função própria. Todos estamos unidos a Cristo, a cabeça, sem o qual o corpo não pode existir. Nós somos os membros. Temos funções diferentes. O Corpo de Cristo poderia funcionar melhor se todos os membros fossem membros conscientes e cumpridores de sua missão.

  1. A Teologia de São João sobre a Igreja.

No Evangelho de João 15,1-17, parecida com a imagem do corpo é a comparação da videira e os ramos. O ramo somente pode dar fruto quando fica ligado ao tronco que é Jesus Cristo. Isto quer dizer que somente quando ficamos unidos a Cristo, tendo a mesma mentalidade, podemos dar verdadeiros frutos.

  1. A Teologia do Vaticano II sobre a Igreja.

Uma comparação muito usada depois do Concílio Vaticano II é a do POVO EM MARCHA. Assim como o Povo de Israel caminhava para a Terra Prometida, assim o “Novo Povo de Deus está caminhando para a Terra Prometida”.

Nós não andamos sozinhos, mas juntos, como povo. Não podemos parar. Sempre enxergaremos novos panoramas, novas situações que nos pedem mudanças e adaptações. Estamos indo para um fim. Não marchamos sem destino. Nossa Terra Prometida é o Reino de Deus. Nós estamos construindo este Reino desde já, através da nossa atuação como cristãos no mundo. Este mundo deve ser melhor, deve ser um mundo de paz, de justiça, de amor. Devemos construí-lo sem descansar, unindo as forças, impregnando este mundo de valores evangélicos, de um espírito cristão.

  1. A Teologia de Mateus sobre a Igreja.

No Evangelho de Mateus 5,13-16, Cristo diz que sua Igreja é o sal da terra e a luz do mundo Os cristãos devem ser o sal da terra. Quando os cristãos viverem conforme o espírito de Cristo, o mundo será melhor, mais habitável, mais feliz. Os cristãos devem ser a luz para o mundo: indicar O caminho da felicidade e da verdadeira libertação, o caminho da justiça e do amor. Se a Igreja for verdadeiramente LUZ, como Cristo, nosso mundo sairá das trevas e saberá encontrar o caminho que leva à verdadeira paz.

Será que nós somos, de fato, sal e luz para nosso mundo, nosso ambiente, nossa família, nosso bairro, nossa paróquia?

Nós somos muitos, mas formamos um só corpo, que é o corpo do Senhor, a sua Igreja; pois todos nós participamos do mesmo pão da unidade, que é o corpo do Senhor, a comunhão.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Não há dúvida de que Deus é onisciente (tudo conhece), onipresente (está presente em todo lugar), onipotente (é todo ele poder) é, também, sabedoria infinita, misericórdia eterna, amor compassivo e justo juiz.

Apesar da verdade dessas palavras, não compreendemos inteiramente a Deus.  Aliás, suas ações, presença e projeto, por vezes, nos parecem estranhos, inconcebíveis e irrealizáveis. Mas é o próprio Deus quem faz o alerta pelo profeta Isaías: “Os meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos – oráculo de Javé. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos caminhos de vocês, e os meus projetos estão acima dos seus projetos” (Is 55,8-9).

Em Deus, todas as coisas, pessoas, fatos, acontecimentos, a história e a vida ganham sentidos e direções às avessas de nossas expectativas. Deus subverte, completamente, nossas certezas, seguranças, mentalidades e projetos: do nada ele faz o tudo; do débil ele faz o forte; do pequeno e ele faz o grande; do humilde ele faz o sábio; da morte ele faz a VIDA…

Que loucura de Deus é essa? Quem o poderá compreender? Quem lhe poderá resistir?

A grande loucura de Deus é a Loucura da Cruz!

“…a Escritura diz: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.’ Onde está o sábio? Onde está o homem culto? Onde está o argumentador deste mundo? Por acaso, Deus não tornou louca a sabedoria deste mundo? De fato, quando Deus mostrou a sua sabedoria, o mundo não reconheceu a Deus através da sabedoria. Por isso através da loucura que pregamos, Deus quis salvar os que acreditam.

Os judeus pedem sinais e os gregos procuram a sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas, para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus. A loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

Portanto, irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade. Mas, Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante. Desse modo, nenhuma criatura pode se orgulhar na presença de Deus.  Ora, é por iniciativa de Deus que vocês existem em Jesus Cristo, o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e libertação, a fim de que, como diz a Escritura: ‘Aquele que se gloria, que se glorie no Senhor’.” (1Cor 1,19-31).

A loucura de Deus é, portanto, irresistível e transformará em ‘loucos’ todos os que se aproximarem dele. Porque, embora a sabedoria do mundo pareça sábia, é a loucura de Deus que é a verdadeira Sabedoria.

Eis a oração de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado…” (Mt 11,25-27).

Que ninguém se iluda! Que ninguém se engane! A perfeição da sabedoria é a loucura de Deus que se concretiza nos maiores atos de amor, entre os quais, a Cruz é, sem dúvida, o primeiro e o último.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS

 




Diocese de Assis

 

Clássica é aquela pergunta que Pedro fez a Jesus: Quantas vezes devo perdoar? Sete? Ou seja: tomando-se o numeral sete como símbolo da plenitude infinita (são sete os dons do Espírito, sete os Sacramentos da Igreja, sete as principais dores da Cruz, sete os dias da semana, etc.) elevado ao potencial máximo da resposta enigmática que Jesus apresenta ao multiplicar por setenta (70 X 7), temos aí não uma simples questão matemática, mas um estrondoso e infinito desafio de perdão. Setenta vezes sete supera nossa capacidade de perdão, torna-se um desafio infinito. Não tem limites.

Esse desafio de Cristo vai além das nossas expectativas de perdoar e ser perdoado. Só mesmo no Reino dos Céus encontraremos tamanha misericórdia e capacidade de amor! Exatamente nessa circunstância é que nasce a parábola do Rei Misericordioso, capaz de perdoar “uma enorme fortuna” do empregado prestes a ser vendido como escravo para pagar sua dívida. O mesmo empregado que, agraciado com uma anistia sem igual, não foi capaz de perdoar um pobre companheiro que lhe devia “apenas cem moedas”. Eis-nos aqui, de mala e cuia, sem por nem tirar. Queremos nos ver livres de nossas grandes dívidas, mas não deixamos escapar um mísero centavo do pobre que eventualmente nos deve.  Esse é o padrão monetário que nos governa, a dinâmica mercantilista dum mundo excessivamente materialista. Quanto ganho com isso, quanto perco naquilo? Nossas atitudes estão intrinsicamente ligadas às vantagens que possamos obter a cada passo, a cada decisão ou conquista obtida. Não é o que ganho, mas o que perco que avaliamos com prioridade. Ao passo que na perspectiva do perdão verdadeiro, aquele do qual nos falou Jesus, quem perde em favor do irmão ganha mais do que merece, recebe a plenitude das graças do Reino dos Céus!

Mas ainda há aqueles que não conseguem visualizar essa lógica, bem presente na compreensão dos sete dons espirituais. Daí a importância do Batismo Pentecostal, a graça derramada nos sete simbólicos dons que devemos pedir sempre ao Pai, se quisermos sair da nossa ignorância (Eles não sabem o que fazem!). Daí também a importância de valorizarmos os sete sacramentos que a Igreja nos oferece em várias etapas da nossa vida, se quisermos assumir em vida as dimensões proféticas, sacerdotais e régias da fé cristã. Daí a necessidade de entender e aceitar como nossa as sete principais dores de Cristo na cruz. E assumir nossas tarefas cotidianas com a certeza de que também merecemos um descanso final: pois “no sétimo dia, Ele descansou”!  Quando isso se der em nossas vidas teremos a alegria de um final feliz. Ou a tristeza da condenação final. “É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco se cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (Mt 18, 35). Sem atitudes de perdão não há salvação.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

De todas as doutrinas e teorias religiosas que o mundo conhece, nenhuma é mais radical do que o cristianismo. Seu estandarte é o do sofrimento; sua bandeira, a cruz. Daí a razão da resistência de muitos em trilhar o caminho estreito que o homem de Nazaré apontou a seus seguidores. Daí, e com razões, a rejeição quase global dos grandes pensadores e iluminados espiritualistas de verem o cristianismo como uma seita de fanáticos sonhadores, cuja prédica é apaixonadamente cativante, mas cuja prática é contraditoriamente chocante com a realidade e os ideais de vida de qualquer humano mais sensato. Como conciliar uma pregação de paz e amor com a ultrajante humilhação da sentença de uma cruz? Ainda não existiu castigo mais cruel contra a dignidade humana do que a morte de cruz. Mas o Mestre da mansidão e paz de espírito vem a público e declara com todas as letras: “Quem quiser me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”.

Penso ser este o momento da grande demandada dos seguidores de Jesus. Quantos ali renunciaram, não a si, mas ao Cristo? Quantos, a partir daquele desafio inesperado, viraram seus calcanhares e sacudiram as poeiras de seus pés, buscando não mais o calor causticante das areias incertas de um deserto repleto de miragens, para retomarem os mármores e as muralhas de seus palácios, da civilização injusta que o reinado humano construía aos trancos e barrancos. Trocaram a Via Crucis pela Via Ápia. Melhor a certeza de um Reino de glória e poderes terrenos do que a incerteza de um reino do outro mundo, cujo preço cheirava a sangue e sacrifícios “em troca” de uma vida palpável, real, plausível. Cristo pedia muito.     Trocar as benesses de um status social, privilégios de um reino bem sucedido, uma hierarquia solidamente constituída, uma posição  de poder, o respeito adquirido ao custo de muita garra e determinação, não… não era o caso da grande maioria de seus ouvintes. Pior ainda para aqueles que bem entendiam o significado humilhante, degradante, abjeto de qualquer condenado ao castigo da cruz romana. Não, isso não!

Isso, sim! Esse é o caminho mais coerente e certeiro do seguimento cristão. O único! Jesus não deixou por menos, acusando até mesmo Pedro, seu fiel escudeiro, de estar possuído por Satanás por tentar dissuadi-lo dessa ideia de morte… e morte de cruz! “Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens”! – disse-lhe Jesus (Mt 16, 23). O anúncio da paixão era ainda um enigma na cabeça de seus seguidores. Não se encaixava no projeto de um Novo Reino, ideia central de sua pregação, que até então se tornara a principal motivação daqueles que seguiam seus passos. Ainda hoje, muitos se deixam guiar pelas aspirações de um Mundo Novo no aqui de uma realidade contraditória com os sonhos de justiça, paz, esperança, dignidade ou quaisquer outras expectativas que possam contribuir para a construção de um mundo mais humano. Neste sonho a cruz cotidiana está fora. No entanto, para surpresa geral, essa é a chave da redenção que almejamos. Cristianismo e cruz são sinônimos! Sem a realidade crucial dos sacrifícios, das renúncias, das mortificações, da morte em favor do outro… nunca entenderemos a riqueza dos ensinamentos cristãos! O radicalismo cristão não é mera utopia, mas certeza de um caminho a seguir.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]