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Diocese de Assis

 

Não há como fugir da curiosidade que o título aqui desperta. Por experiência, definição, ironia, crítica ou mesmo rejeição, sabemos que a casa da sogra foi sempre sinônimo de encontros e desencontros familiares. Lá se forjam os pilares de uma família, mesmo que muitas vezes suas bases não estejam devidamente preparadas para a solidez que exigem. Lá, filhos, genros e noras, bem como netos e bisnetos, se espelham no exemplo dos mais velhos e moldam seus futuros à luz de um testemunho de vida, positivo ou negativo. É na casa da sogra que se desenha o futuro de muitos lares.

Pois bem: foi na casa da sogra de Simão Pedro que Jesus buscou abrigo, um local para repousar momentaneamente, após um dia inteiro de pregações numa das sinagogas da região. Queria apenas um cantinho para refazer suas forças, mas lá também encontrou problemas. Sua anfitriã, a sogra de Pedro, estava acamada, ardendo em febre e sem coragem alguma para lhe fazer as honras da casa. Compreensivo e atencioso, Jesus se aproximou de seu leito, olhou-a com seu olhar sempre misericordioso, “segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se” (Mc 1,31). Quase que instantaneamente, a febre sumiu. E ela se pôs a lhe servir os quitutes da casa. A história se espalhou como um rastilho de pólvora e, mal se tinha posto o sol daquele dia, “levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio”. Mateus registra um detalhe sintomático: “A cidade inteira se reuniu em frente da casa”. Acabou-se o descanso do Mestre nazareno…

Nada disso seria relevante, não fosse a presença de Jesus. Presença e ação. Ação e atração. Poderia ser um local qualquer, uma casa, uma praia ou mesmo, como era de seu feitio, um encontro casual no templo ou na rua. Para se obter uma bênção ou cura de Jesus, basta um encontro com Ele. A casa da sogra foi circunstancial, mas sua cura não. Foi necessário estender-lhe a mão, deixar-se levantar por Ele. Foi preciso reconhecer em si a graça alcançada e, “imediatamente”, se colocar a serviço. Aquela mulher, que hospedou Jesus em sua casa, soube valorizar sua presença, seu encontro com Ele. Obter a cura veio da alegria em bem servi-lo, face ao privilégio daquela visita.

A febre do mundo não nos deixa entender muitos desses momentos em nossa vida cotidiana. Você já se perguntou quantas vezes Jesus buscou hospedagem em sua casa, em seu coração? Quantas vezes nossas vidas atribuladas e agitadas pelas circunstâncias que prostram nosso ânimo e coragem, nos fizeram indiferentes à presença de Deus nesses momentos? Quantas vezes não vimos sua mão estendida e deixamos de servi-lo com nova disposição? Não foram as lamúrias daquela velha senhora que se fizeram ouvir naquele leito febril, mas sim a alegria e gratidão pela visita ilustre. Aquela mulher não despejou reclamações e queixumes aos pés do Senhor.  A presença de Jesus renova qualquer alma, mesmo aquelas que se deixaram dominar pelas febris ilusões dessa nossa casa comum, o mundo.

Daquela casa Jesus saiu de fininho, durante a madrugada, para rezar e saudar um novo dia. Só então os donos da casa deram por sua falta, pois a alegria restaurada pelos milagres ali presenciados era maior que os detalhes de sua retirada estratégica. É assim mesmo. Cumprida a missão, é preciso seguir o caminho. Jesus continua entre nós, no deserto de nossas tribulações, no conflito de nossas enfermidades, marcando presença, realizando milagres, atraindo corações sedentos de vida nova. Quando o reencontraram, os discípulos lhe disseram: “Todos estão te procurando”! Você também?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

 

Tem gente que não acredita em Deus, mas teme os demônios. Tem gente que faz pacto com demônios, mas ignora os pactos que Deus fez e faz com a humanidade. Tem gente que duvida dos poderes demoníacos e desdenha dos poderes de Deus. Tem gente que paga pra ver e outros que só acreditam vendo. Enquanto isso…

Os seres feitos à semelhança de seu Criador, aqueles que refletem em vida a fiel imagem do Pai, põem em dúvida sua origem divina, enquanto o príncipe das trevas, o demônio em pessoa, demostra naturalmente sua fé em Deus: “Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!” (Mc 1,24).  Ora, ora… Se o demônio é capaz de demonstrar toda sua ciência e conhecimento da missão redentora de Cristo, quem somos nós para duvidar dos planos de salvação traçados por Deus através de Jesus? Este não veio para condenar, mas para salvar. Até mesmo a  salvação de Satanás era uma possibilidade, remota sim, mas viável, se este se submetesse aos ensinamentos trazidos pelo “Santo de Deus”. Mas a ousadia demoníaca não perde sua pose… Então  Jesus dita as ordens do momento: “Cala-te, sai deste homem!” E o espírito imundo obedece, reconhece a autoridade daquela voz.

A legião demoníaca cresce à medida que lhe permitimos sua ação entre nós. Seu maior pecado é a inveja, a necessidade que tem de se igualar a Deus, enquanto seus demônios tumultuam e agitam a história humana com todo e qualquer tipo de ações contrárias ao projeto de Deus. Afinal, o Pai da Mentira não nos quer à salvos, postos à direita do trono que poderia ter sido seu. O anjo do mal não admite essa predileção divina e quer nossa derrota de corpo e de alma. O embate entre o bem e o mal visa nossa destruição, segundo o ponto de vista demoníaco. Ou nossa Salvação, segundo desejos de Deus. Aqui entra o livre arbítrio, a nossa escolha, o caminho que seguiremos.

Somos livres para decidir nosso futuro. Deus apenas nos aponta o caminho, através da doutrina deixada por seu Filho. Daí sua importância, o farol que esta representa, a necessidade premente que temos de divulga-la o mais possível, buscando adeptos, saneando mentes e corações confusos, perturbados pela ação demoníaca, incertos na definição do caminho a seguir, de qual seja a crença verdadeira. Deus ou o Demônio? O bem ou o mal? Luz ou trevas? Eis que, absurdamente, grande maioria ainda tem dúvidas; está perdida entre a realidade terrena e a obscura incerteza do outro lado dessa história. “Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade”! Eis no que resulta a conscientização doutrinaria da Igreja, a ação missionária de seus discípulos. Se neste embate vencerem os demônios que nos cercam, a culpa da derrota terá sido pela nossa omissão evangelizadora, nunca pela nossa ação. Portanto, a destruição ou não, a salvação ou derrota da história humana está em nossas mãos. Depende de nós!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

 

Nossa visão sobre as coisas está sempre prejudicada pela identificação de felicidade com circunstância. Vivemos a prisão dos momentos. Confundimos o todo com a parte. Medimos o pequeno pelo grande. Dedicamos uma parte consideravelmente grande de nossa vida com negatividade. Distraímo-nos, facilmente, com bobagens: coisas artificiais e superficiais. Somos um poço de reclamação permanente. Nunca estamos contentes com nada.

Na verdade cada um de nós precisaria redescobrir o centro motivacional da vida para compor a própria existência. Porque a maior causa de nossa visível insatisfação com tudo e, a vezes, com todos, não é outra coisa senão, a falta de sentido humano. A questão é que vivemos para fora de nós mesmos. Somos forasteiros da nossa própria condição. Somos turistas da nossa humanidade. Somos visitantes de nossa história. Nos escondemos em padrões culturais, políticos, econômicos e, até religiosos como um escudo de proteção. E deveria ser isso para nós, plataforma do sentido humano.  Em outras palavras, nós vivemos sempre a partir das referências externas: é o que fulano diz, é o que beltrano pensa, é o que sicrano gosta… Vivemos a ditadura da exterioridade e isso não é vida que valha a pena.

Na linguagem bíblica, a parábola do semeador resume aquilo que é a vida humana em suas misérias e grandezas, suas forças e fraquezas, suas aberturas e fechamentos, sua humanidade e divindade. Enfim, o sentido profundo de uma existência completa, assumida e não negada.

“Jesus ensinava-lhes muitas coisas com parábolas. No seu ensinamento dizia para eles: ‘Escutem. Um homem saiu para semear. Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; os passarinhos foram e comeram tudo. Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda. Porém, quando saiu o sol, os brotos se queimaram e secaram, porque não tinham raiz. Outra parte caiu no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto. Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, brotando e crescendo: rendeu trinta, sessenta e até cem por um.’  E Jesus dizia: ‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça’!

O semeador semeia a Palavra. Os que estão à beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a ouvem, chega Satanás e tira a Palavra que foi semeada neles.  Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e a recebem com alegria; mas eles não têm raiz em si mesmos: são inconstantes, e, quando chega uma tribulação ou perseguição por causa da Palavra, eles logo desistem. Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; mas surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, que sufocam a Palavra, e ela fica sem dar fruto. Por fim, aqueles que receberam a semente em terreno bom, são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um” (Mc 4,2-20).

Precisamos recuperar-nos para nós mesmos. Precisamos redescobrir os valores que nos fazem ser gente. Precisamos recuperar a nossa integridade. Precisamos responsabilizarmo-nos por tudo aquilo que diz respeito ao nosso ser total. Precisamos refazer a aliança de amor conosco mesmo.

É tempo de refazer-nos para não sucumbirmos às múltiplas ditaduras no nosso tempo; principalmente, nossas próprias ditaduras!

É tempo de refazer-nos, dando voz o silêncio para que, a força da sabedoria que ativa outras virtudes e dons venha, não das muitas palavras, mas do coração que se deixa tocar pelo amor e pela misericórdia!

É tempo de refazer-nos como humanos irmanados!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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O grande desafio que o cristianismo propõe ao mundo é encarar a realidade do tempo presente. Seja este bom ou ruim, o fato é que a fé cristã nos convida a viver o aqui e o agora com a perspectiva do olhar de Cristo. Este transforma realidades adversas com a nossa presença e ação, se acreditarmos nas boas novas claras e objetivas que retumbaram no deserto da Galileia e ecoam agora em nossos corações. O momento é o nosso. Seguir Jesus é acreditar que também temos voz nesse processo de mudanças proposto a quem “tem olhos para ver e ouvidos para ouvir”. Agora é nossa vez.

Isso posto, eis que falta a ação, a necessidade única de coerência com o desafio que nos foi feito: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. Simão e André, Tiago e João nos representam. A árdua tarefa de um trabalho “em águas mais profundas”, onde os resultados são mais promissores e a compensação mais generosa, é a promessa que nos foge quando cruzamos nossos braços diante da perspectiva de um novo Reino, um tempo de bonanças e esperanças renovadas, o mundo novo que sonhamos. Estamos às portas dessa nova realidade, mas hesitamos na ação, duvidamos da capacidade de mudanças que a fé nos oferece. Somos ou não os agentes de transformação do mundo, como nos ensina a Igreja? Somos ou não a luz das trevas que nos cercam, como nos disse o Cristo? Somos ou não esse fermento na massa, capaz de levedar e fazer crescer a esperança por dias melhores? Se tudo isso é característica da fé cristã, o que estamos esperando?

As perguntas nos assombram,  confronta com a realidade oposta àquilo que ouvimos, enquanto consertávamos nossas redes, preparávamos nossos instrumentos de trabalho. Esse é o grande obstáculo dos meticulosos trabalhadores da messe! Preocupam-se em demasia com suas capacidades e recursos operacionais, mas pouco fazem por não se abandonarem plenamente na fé que nutrem. Se acham donos da verdade mas não mergulham na Verdade de Cristo. Será mesmo assim? Terei sucesso nessa empreitada de tudo deixar e partir, seguindo Jesus? O que nos falta é o abandono nas mãos Daquele que nos desafia a ir em frente, a dar o primeiro passo, a seguir à sombra de suas promessas. Coerência também é abandono. Acreditar é se deixar guiar.

Não fomos nós que escolhemos esse caminho, mas é o próprio Senhor quem nos escolhe para trilhá-lo. Quem se deixa guiar pelas sendas desse caminho estreito torna-se discípulo, portanto alguém que tenta imitá-lo. Não há alegria maior do que segui-lo. A mudança de rumos vai de encontro aos anseios da humanidade, que não quer discórdias, não quer doenças, não quer injustiças, nem desamor, nem gerras. Papa Francisco falou recentemente em alto e bom som: “A guerra é a mais terrível das doenças sociais… e os mais fracos é que pagam o preço”. Muitos acharam ser este um gesto de intromissão deste.  Católico que rejeita os alertas de sua Igreja, os ensinamentos de sua tradição apostólica, a autoridade de seu pontífice, há muito deixou de ser católico. Melhor continuar “consertando” suas redes imprestáveis.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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          Normalmente, quando nos aproximamos de alguém que nos agrade e nos cative com sua simpatia, jeito de ser, de olhar, de pensar, logo queremos saber mais a seu respeito. Onde mora, quem são seus familiares, donde vem, o que faz? Foi o que aconteceu com os dois discípulos de João que, vendo Jesus passar, abandonaram tudo e o seguiram. Aquela quase espionagem foi logo descoberta e o mestre não os repeliu, ao contrário, abriu as portas de sua casa para os acolher e hospedar com desvelo. André era um destes. Não tardou para convidar mais um àquele time de curiosos, seu irmão Simão.

“Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer Pedra)” (Jo 1,42). Assim se iniciou a comunidade dos apóstolos, com o primado de Pedro já se despontando dentre eles. Aqui nascia a “eclesia”, a primeira comunidade cristã. Nascia na casa de Jesus, seu primeiro e único mestre!

A questão ainda não está de todo respondida. “Mestre, onde  moras?” Esse é o dilema da comunidade órfã dos ensinamentos cristãos, pois quem por primeiro faz a pergunta não são os curiosos observadores dos passos de Jesus, mas Ele próprio: “O que estais procurando?”. A resposta a uma dúvida humana é sempre uma pergunta que se repete. O que procuramos? Saber onde Ele mora é pouco, não nos basta como sonhadores por um mundo novo, um novo sentido existencial, uma vida mais justa e amena em suas provações diárias. O que procuramos é tudo isso e muito mais, que o olhar misterioso daquele “estranho forasteiro” guardava dentro de si. Seria sua casa a fonte do que procuravam, o celeiro do segredo que seu olhar denunciava? “Vinde ver”, lhes desafiara Jesus. Naquele fim de dia permaneceram com Ele em sua casa.

Acharam o que procuravam? Teria Jesus lhes revelado de pronto todo seu projeto eclesial, os principais pontos do ministério que iniciava, os segredos de sua doutrina de paz e amor? Não, claro que não! A escola seria longa, o caminho árduo, as provações diárias. Haveriam de aprender na caminhada, no amor e na dor de uma convivência construída à luz das revelações diárias. A casa era apenas um detalhe circunstancial, pois logo, logo nem isso teriam. Nem “onde repousar a cabeça”, diante do árduo trabalho pela frente. Talvez aquele primeiro momento tenha sido um simples prelúdio que o olhar penetrante e maravilhoso de Jesus lhes revelava com a manifestação de um amor muito mais profundo e misericordioso. Era isso o que viam naquele “lar, doce lar”, onde Maria lhes servia os quitutes de uma casa pobre.  Talvez um jarro d´água, uma tortilha qualquer, mas muito amor e respeito. Eles foram, eles viram! Eles degustaram tudo aquilo na casa de Jesus.

O que estamos procurando? E esperando? Na casa de Jesus cabemos todos, somos bem-vindos e acolhidos com o mais puro amor. Na casa de Jesus o maná do deserto ainda cai do céu, o pão e os peixes se multiplicam com sua graça e predileção por “aqueles que o Pai lhes deu”. Na casa de Jesus ainda está Maria, a serviçal sempre atenta e carinhosa, que nos ensina a fazer “tudo o que Ele nos mandar”.  A Igreja, a verdadeira Igreja, ainda é essa misteriosa casa! A Igreja, povo de Deus que sonha e sofre, sofre e sonha, mas resiste com sua esperança imortal. Onde está Jesus nisso tudo? Pe. Júlio Lancellotti, numa revelação da graça atuante nessa Igreja, nos disse recentemente: “Às vezes procuro Jesus no Sacrário, mas Ele fica em silêncio e teima em se esconder debaixo de viadutos e pontes de concreto”. Ali também é sua morada…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Não se encontra uma pessoa de fé genuína sem que esta não tenha tido uma revelação dos céus. Isso mesmo: a fé é uma revelação divina. Por isso, a imagem de uma estrela guiando os três reis e atraindo a curiosidade dos pastores nas cercanias de Belém não é uma simples alegoria ou metáfora bem escrita; é uma manifestação sobrenatural. Alguns autores tentam associar a visão dessa estrela com a passagem de um cometa qualquer. Outros a consideram simples ilusão de ótica. Outros um recurso literário para se explicar a grandiosidade do milagre que a encarnação do Verbo representou para a humanidade. De uma forma ou de outra, Deus emitiu um sinal aos crédulos e incrédulos: “Nasceu para vós o Salvador!”

Interessante é observar o caminho percorrido pelos magos. Foram diretos a Jerusalém, cidade santa e palco até hoje dos muitos atritos e divergências que a fé num Deus único tem provocado durante sua história de milênios. Bateram às portas do rei Herodes, o grande cego das manifestações divinas a seu povo eleito e – já naquela época – injustiçado e perseguido pelos poderes humanos. Seria ele o teocrata das ilusões de poder, para quem a pergunta dos reis caiu como uma bomba em seu colo: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2).  Aquela informação, vinda da boca de forasteiros importantes, vizinhos com poderes idênticos aos seus, não poderia ser desconsiderada ou ficar sem uma resposta à altura. Tanto que Herodes simulou interesse e articulou uma armadilha: “Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo”.

Por trás do poder humano o que quase sempre impera é o jogo de interesses. Esse é o grande perigo a que incorrem povos e nações oprimidas pela lei dos mais fortes e acaba no “massacre dos inocentes”, na perseguição àqueles que anseiam pela vinda do Messias. Essa é a razão única para se explicar os fatos que circundam a história da Igreja e a perseguição deflagada aos que vivem seu espírito de fé e esperança num mundo melhor. Padre Júlio Lancellotti, nestes dias turvos de incompreensão e acusações injustas, que nos diga! Papa Francisco em seus dias de calvário pela má interpretação de seus ditos e escritos, pela não compreensão de sua pureza evangélica, que nos diga! Padres e bispos comprometidos com a Igreja pobre, santa, mas também pecadora pela fragilidade humana que possui, que nos digam! A soberba imperialista e a falsa ideia de um cristianismo sem compromisso com os mais fracos não combina com a revelação daquela pobre manjedoura na periferia de uma Judéia quase invisível no mapa.

Quase que ao mesmo tempo, o grande desafio feito pelos anjos da revelação divina foi a motivação de contemplar o milagre anunciado. Os pastores diziam uns aos outros: “Vamos até Belém, e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou” (Lc 2,15). Quem lhes revelou esse caminho? Quem lhes apontou o estranho brilho daquela luz sobre um estábulo pobre, insignificante, improvisado, onde o grande milagre da revelação se manifestava? Eis a grandiosidade da fé dos pequenos. Não exige teorias e teoremas, prova dos nove, certidões e carimbos. Basta reconhecimento de um milagre, visão do caminho que a luz divina lhes aponta. “Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura (Lc 2,16)”.  A simples contemplação de um fato e a revelação nele contida lhes era suficiente. Por isso, deram glórias e louvaram a Deus, “por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito”. A fé pura e genuína só exige um coração aberto aos milagres do cotidiano. O povo sabe disso…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




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Os dias vividos nesta terra não deveriam ser comparados com nada pesado ou penoso, mesmo quando temos que enfrentar crises, problemas, dificuldades, perseguições, medos, infelicidades, maldades, tristeza, morte… Tudo isso, e muito mais, faz parte da mesma vida que tem alegrias, prazeres, belezas, abundâncias, flores, farturas, festas…

Por que haveríamos de maldizer a dor se com isso maldizemos, também, a providência dos remédios que curam? Por que poderíamos rejeitar as tristezas se, com isso rejeitamos, também, as alegrias espalhadas por toda a vida? Por que teríamos objeção às dificuldades se, com isso, objetamos o processo de crescimento por causa do enfrentamento delas?

A vida humana é um mistério longe de ser esgotado pelos nossos desejos, ilusões e apatias. Por isso, em qualquer situação deveríamos ser agradecidos porque, por detrás de uma tristeza existe, sempre, uma alegria; na sombra de uma dor aparece, sempre, um remédio; ao lado de uma dificuldade acontece, sempre, muito crescimento e maturidade.

Viver é sentir o sopro da eternidade em nós e no mundo!

O escritor sagrado do livro do Eclesiastes em 5,17-19, tem uma bonita descoberta: “Concluí que a felicidade para o homem é comer e beber, usufruindo de toda a fadiga que ele realiza debaixo do sol, durante os dias de vida que Deus lhe concede. Essa é a sua porção. Todo homem que recebe de Deus riquezas e bens para que possa sustentar-se, ter a sua porção e desfrutar do seu trabalho, considere isso dom de Deus.  19 Desse modo, o homem não se preocupa demais com sua vida fugaz, porque Deus o mantém ocupado na alegria do coração.”

O mesmo escritor sagrado do Eclesiastes oferece alguns discernimentos importantes que deveríamos levar em conta, para vencer nossas ansiedades e resistências contra a vida que temos e que, diante dela não podemos tudo e não sabemos tudo:

Discernir e resistir

“Mais vale a honradez do que um bom perfume, e o dia da morte é melhor que o dia do nascimento. É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde se faz festa, pois aquele é o fim de todo homem e faz, desse modo, quem está vivo refletir. É melhor a tristeza do que o riso, porque, debaixo de um rosto triste, o coração pode estar alegre.

O pensamento do sábio está na casa onde há luto, mas o pensamento do insensato está na casa onde se faz festa. É melhor ouvir a repreensão do sábio do que o elogio dos insensatos, porque assim como crepitam os gravetos debaixo do caldeirão, tal é o riso do insensato. Isso também é fugaz, porque a extorsão torna insensato o sábio, e o suborno lhe corrompe o discernimento” (Eclesiastes 7,1-7).

O futuro pertence a Deus

“Mais vale o fim de uma coisa do que o seu começo, e a paciência é melhor do que a pretensão. Não fique tão depressa com o espírito irritado, porque a irritação se abriga no peito dos insensatos. Não diga: ‘Por que os tempos passados eram melhores que os de hoje?’ Não é a sabedoria que faz você levantar essa questão. A sabedoria é boa como uma herança, e útil para aqueles que vêem o sol, pois à sombra da sabedoria se vive como se vive à sombra do dinheiro. Mas a sabedoria é mais vantajosa, porque faz viver quem a possui.

Procure compreender a obra de Deus, porque ninguém endireita o que ele encurvou. Esteja alegre no dia feliz, e no dia da desgraça procure refletir, porque um e outro foram feitos por Deus, para que o homem nunca possa descobrir nada do seu próprio futuro” (Eclesiastes 7,8-14).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Um dia termina, outro começa. Assim também anos, séculos, milênios…No alvorecer de um novo ano há sempre as reminiscências do que se foi. Ter sido bom ou ruim depende da perspectiva de cada um. O fato é que sobrevivemos, ultrapassamos os umbrais de um novo tempo. Ao último coube a missão de apagar as luzes, fechar portas e janelas, exalar o perfume no ar ou sacudir a poeira dos pés. Ilusoriamente, é assim que nos despedimos do passado. Ontem foi ontem, o que vale é o hoje, o presente.

“Completaram-se os dias para a purificação”, nos diz o último dos evangelhos do ano, quando celebramos o Dia da Sagrada Família. Aqui está o gancho, o fio da meada dessa oportuna reflexão no início de um novo tempo que chega. Segundo a tradição judaica, após o nascimento de uma criança observava-se um período pós-parto, quando mãe e criança se resguardavam do esforço exaurido para se alcançar “vida nova”. Após vencer essa etapa, obrigatoriamente, eram conduzidos ao templo, para apresentar o recém-nascido ao Senhor. “Todo primogênito do sexo masculino” era consagrado solenemente a Deus. O menino Jesus se enquadrava no privilégio dessa consagração, apesar de sua origem divina já o consagrar como oferta viva e perene de Deus aos homens. Mas lei é lei, se cumpre!

O cumprimento desta passa pelas expectativas da história humana, onde o que existia  ( e continua a existir) era a esperança de um novo tempo, o sonho de liberdade perene advindo da promessa de um Messias, um salvador. Tal qual o sonho do velho Simeão, que ansiava contemplar a face serena e promissora desse libertador do seu povo sofrido. Eis que lhe foi concedida essa graça. Com o menino nos braços, naquele encontro casual no templo, Simeão agradeceu: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram  a tua salvação” (Lc 2,29-30). Nisso resulta a fé dos que leem nos acontecimentos do dia a dia a ação sempre generosa de Deus. Não são as trevas do passado motivos de pânico e desânimo pelas expectativas futuras. Quando a esperança é maior que a realidade que nos cerca, com certeza, daremos aos nossos braços a oportunidade de embalar um sonho envolto na imagem de uma criança consagrada; uma criança-esperança que nasce todos os dias, tal qual o menino Jesus apresentado naquele Templo.

Também somos templo! Templos vivos do Espírito Santo. Também é possível remexer nossos sonhos e esperanças, tirar deles o mofo que deixamos acumular, fazê-los reluzir novamente à luz da fé que ainda nos sobra e encontrar, dentro de nós mesmos, a face sempre serena e sorridente desse menino de luz. “Esse menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos…” Esse menino renasce sempre, a cada ano, a cada nova etapa de nossas vidas, com o propósito único de renovar e fortalecer nossos sonhos e esperanças. “Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”, profetizou Simeão, para calcar em nossos propósitos de vida uma fé além e acima de nossa cruenta realidade.  Agora depende de nós. Ser boa ou ruim a história que hoje escrevemos, com a nossa vida, depende de cada um de nós. Não fiquemos só na expectativa de um novo tempo, uma realidade nova. Os sonhos são passíveis de realização. se nossa vontade for maior. Se nossos esforços seguirem os passos da Sagrada Família, aquela que nos deu exemplo em tudo, até na dor, na desesperança de momentos. Porém, como o salmista, devemos lembrar: “A esperança dos maus dá em nada” (Sl 112). Acenda sua luz.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

O ano novo está ai, de portas abertas e, não podemos cruzar os braços e esperar as coisas acontecerem sozinhas, como num passe de mágica. Nós temos obrigação de nos envolvermos com a vida que temos. Somos responsáveis pelo que somos, pelo que queremos e pelo que devemos fazer.

Sabemos que tudo tem o seu tempo e o seu lugar e que, nada, acontece por acaso. Deus tem falado, sempre e claramente, a respeito de tudo o que devemos ser, querer e fazer.

Ninguém nasce pronto! Aprendemos a caminhar, caminhando! Por isso, enquanto caminhamos, aprendemos a ouvir a voz de Deus, através dos acontecimentos, das pessoas… e, de nós mesmos. São os sinais dos tempos. Aliás, é preciso muita coragem para enxergar e assumir as ‘revelações’ dos sinais dos tempos porque, muitas vezes, tais ‘revelações’ despertam, em nós, medos e angustia.

Nossa vida está marcada por muitos sinais que sugerem uma profunda e verdadeira revisão de vida. Como não podemos fugir dessa necessidade, vamos fazer revisão para operarmos com mais eficiência e eficácia, em tudo o que nos for dado.

Trata-se de refletirmos sobre a nossa e o nosso batismo; sobre nossa vida e existência. Quer dizer, refletir sobre a nossa experiência de Deus e nossa missão ou, melhor ainda, refletir sobre o nosso ser e o nosso fazer. Não só refletir, refletir e dialogar! Só assim descobriremos novos caminhos para a realização pessoal e comunitária.

Estamos em tempo de revisão geral: pessoal, familiar, profissional, religiosa… Não perca esta oportunidade! Logo abaixo tem um roteiro muito sugestivo para sua revisão de vida. Bom Trabalho!

Roteiro prático de revisão de vida.

Imagine que você está para morrer. Você deve escrever uma carta para os seus amigos; uma espécie de testamento, cujos capítulos ou partes poderiam ter títulos baseados nos seguintes tópicos:

  1. As coisas que amei na vida;
  2. As seguintes experiências me foram caras;
  3. Estas ideias me trouxeram libertação;
  4. Estas crenças eu deixei para trás;
  5. Estas convicções foram minhas normas de vida;
  6. Eu vivi para tais coisas;
  7. Estas foram as visões interiores que obtive na escola da vida: a) visões de Deus; b) visões do mundo; c) visões da natureza humana; d) visões de Jesus Cristo; e) visões do Amor; f) visões de da religião; g) visões da Oração;
  8. Estes foram os riscos que enfrentei;
  9. Estes foram os perigos com que brinquei;
  10. Estes foram os sofrimentos que me amadureceram;
  11. Estas são as lições que a vida me ensinou;
  12. Estas são as influências que modelaram minha vida (pessoas, ocupações, livros, acontecimentos…);
  13. Estes são os textos bíblicos que iluminaram meu caminho;
  14. Estes são os fatos de minha vida dos quais eu me arrependo;
  15. Estas são as realizações de minha vida;
  16. Estas são as pessoas que venero em meu coração;
  17. Estes são os meus desejos não realizados;
  18. Agora, procuro um final para este documento: a) uma poesia (minha ou de outro); b) uma oração; um desenho; c) uma foto de revista; d) um texto bíblico ou qualquer coisa que me pareça apropriada para pôr um fecho neste meu testamento.

Parece complicado, mas não é não. Tente! Faça um ano novo diferente.

Em 2024 estaremos juntos de novo! Feliz ano novo!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Está no ar a magia da revelação cristã, embrulhada como presente numa manjedoura de animais, num curral quase sempre fétido e improvisado. Está no ar o que deveria ser a maior e mais bela das festividades humanas; não mais o  é. O que fizemos do nosso Natal? A resposta exige tato e sensibilidade, que só a alma serena e devota de um poeta é capaz de nos dar com certeza e precisão: “É Natal, a partilha é possível, necessária, mudará tudo”. Obrigado, companheiro das desilusões e da esperança renovada. Natal é muito mais do que a festa da hipocrisia e do farisaísmo que a domina. É nossa oportunidade de redenção.

Então, o que faremos? Por enquanto, na ala dos desentendidos estão muitos dos burrinhos dos nossos presépios ou das vaquinhas sonolentas e indiferentes ao milagre que acontece diante de seus olhos. Veem, mas não enxergam. Tristes estes, que fazem da noite divina um hiato do tempo, a ruminar sonolentamente seus dias e ignorar os sinais de um novo dia que vence as trevas e prepara nova aurora de vida e esperança. De burrinhos e vaquinhas de presépio temos muito.

Mas há aqueles que se deixam representar pelos inesperados e curiosos visitantes de primeira hora, extasiados que estavam com o clarão de uma luz a iluminar aquela noite mágica. Diziam-se pastores, operários sempre atentos aos sinais de perigo e alerta contra as ameaças dos lobos e coiotes a rondar seus rebanhos. Onde estão estes agora? O que fizeram da magia daquela noite aureolada pelo solstício de uma revelação divina? Um deles trazia nos ombros uma ovelha perdida, desgarrada ou, quiçá, ferida no caminho. Aquela ovelha lhe representa?

Perguntas por perguntas, já vemos o limiar dos reinados terrenos a caminho do berço improvisado. Trazem também presentes. Porém muito mais simbólicos do que os que oferecemos hoje, na onda do consumismo que dominou esse momento cristão. Ouro, ilusão do ouro! Incenso como nossas loas voláteis e passageiras! A mirra de nossos amargores, falácias, decepções! Eis o que temos para oferecer; eis tudo o que hoje depositamos no altar da fé que pensamos ter…

Cadê o ouro verdadeiro, a riqueza maior que poderíamos colocar naquele berço casto e sagrado? Quem ali é capaz de oferecer seu único tesouro que nenhuma ferrugem ou ácido da indiferença mundana seja capaz de corroer, consumir? Quem se dispõe a oferecer a vida, o mais precioso dos tesouros que um dia recebemos de Deus?

Mas há também o simbolismo do incenso, esse que é capaz de se elevar de nossos corações com o perfume casto e suave de nossa gratidão. Nossas orações ganham essa dimensão sagrada, quando elevada aos céus com a pureza e simplicidade de uma fé transformadora, saudável, reluzente como qualquer alma generosa e complacente. Saibamos incensar o menino que nasce diuturnamente em nossos corações, agraciados por sua presença.

Por fim, saibamos também presenteá-lo com a mirra, a essência da profilaxia que nos cura e liberta de todo mal. O santo remédio do arrependimento e da purificação que nos prepara a alma para viver intensamente com a saúde espiritual de que tanto o mundo precisa. Quando soubermos valorizar esse espírito natalino com o respeito que ele merece, teremos a resposta aos dilemas e problemas que hoje temos. E a pergunta será: O que mais poderemos fazer?

                             WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]