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Diocese de Assis

 

A verdade do natal não é, simplesmente, uma data, um calendário, um tempo. A verdade do natal é uma luz que ilumina as trevas… todas as trevas… em todos os lugares e pessoas. A verdade do natal ultrapassa data, calendário, tempo para alcançar distâncias e distantes, noite e dia, bons e maus, pequenos e grandes, ricos e pobres, amigos e inimigos… Extremos e contrastes, surpresas e rupturas marcam o nascimento do Deus-luz nas trevas.

Oh! Noite em que a Luz quebrou o domínio das trevas! A Luz brilhou nas trevas! É o Natal do Senhor! Noite de alegria, pois nasceu o Salvador da humanidade.

O testemunho bíblico

A Sagrada Escritura faz o natal passar pela promessa de salvação. Uma esperança que ensina a viver na conversão. São Paulo a Tito ajuda esclarecer esta perspectiva.

“A graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Essa graça nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, para vivermos neste mundo com autodomínio, justiça e piedade, aguardando a bendita esperança, isto é, a manifestação da glória de Jesus Cristo, nosso grande Deus e Salvador. Ele se entregou a si mesmo por nós, para nos resgatar de toda iniqüidade e para purificar um povo que lhe pertence, e que seja zeloso nas boas obras” (Tt 2,11-14).

O profeta Isaías visualiza o tempo da luz para um povo em situação de trevas: é a chegada da libertação e da paz.

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso. Multiplicaste o povo, aumentaste o seu prazer. Vão alegrar-se diante de ti, como na alegria da colheita, como no prazer dos que repartem despojos de guerra. Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro Maravilhoso’, ‘Deus Forte’, ‘Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz’. Grande será o seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo de Javé dos exércitos é quem realizará isso” (Is 9,1-6).

Ao contrário do nascimento de João que acontece em casa, em torno de parentes e vizinhos, Jesus nasce fora da sua cidade, numa estrebaria, rodeado somente de seus pais, Maria e José. Duas ideias convém ressaltar a respeito do natal, mais de cunho espiritual que exegético: a primeira delas é a observação do evangelista de que, chegados a Belém, não havia lugar na hospedaria em que Maria pudesse dar à luz o seu Filho. Uma gruta, provavelmente, que abrigava o rebanho dos pastores durante a noite e o defendia das intempéries do tempo, será o lugar do parto. Essa notícia visa despertar no leitor e no ouvinte do evangelho o desejo de tê-lo acolhido em sua própria casa. A segunda ideia é o anúncio cujo objeto é uma grande alegria: nasceu o Salvador. Considerados impuros, no tempo do Messias, por sua própria profissão, eles serão destinatários e portadores da alegria da salvação. É antecipada, aqui, a missão de Jesus: “o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido.”

É assim que Lucas nos faz ver a chegada do Menino-Deus-Luz.

“Enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa. Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse aos pastores: ‘Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura’.” (Lc 2, 1-14).

Desejo a todos um Natal de Luz! Bendita seja a Luz em nossas trevas!

 

PE. Edvaldo Pereira dos Santos




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Diz a sabedoria popular: “Não dê trela para um louco, senão você acaba igual”. Mas é na loucura de muitos que encontramos a verdade em plenitude. Ao menos foi assim que se nos revelou a mais cristalina das verdades humanas. Eis que um maltrapilho e andarilho, um quase esmoler das nossas vilas e cercanias, andava por aí gritando que o tempo já se cumpriu, nova aurora se anunciava, que os dias que tantos sonhavam estavam chegando. O pobre esfarrapado nem calçado tinha. Vestia-se com peles e comia gafanhotos embebidos em mel silvestre. E gritava em alto e bom som as verdades que seu peito retinha: “Daquele que vem não sou digno sequer de desatar seus calçados!”

Sim, esse era o profeta de um novo tempo. Não era o Messias como muitos pensavam, mas seu discurso possuía o timbre de uma revelação maravilhosa. Tal qual aquele louco que perambulava pelas ruas de um Rio dum janeiro qualquer, num passado bem recente, clamando por mais gentileza aos transeuntes apressados pela correria dos nossos tempos. Cuidado, devagar! “Gentileza gera gentileza!”, dizia a todos. Da mesma forma, aquele às margens de um outro rio, um Jordão puro e cristalino, também dizia: “Vigiai, vigiai!” Estejam atentos, pois a pureza dessas águas não se compara com a força transformadora e cristalina da promessa que Ele vai realizar: seu batismo no Espírito. O caudaloso rio que renova a vida do nosso deserto não se compara em nada ao rio de graças e bênçãos que “Aquele que vós não conheceis – e que vem depois de mim” (Jo  1, 26) – tem para nos oferecer.

Esse João Ninguém , mesmo assim, continuava seu rito de iniciação, purificando a todos com seu gesto batismal. Daí a importância desse ritual em nossas vidas, o princípio de uma caminhada de fé, o batismo nas águas que nos permite antecipar a necessária preparação para nosso advento espiritual, nossa vida em consonância com os planos de Deus, que nos revela o clima de paz e harmonia sempre presentes em Betânia, além do Jordão. O local das revelações cristãs onde coincidentemente João estava batizando. Betânia tornou-se símbolo de paz e harmonia, uma casa predileta do Cristo entre nós. Ao longo de seu ministério era ali que Jesus refazia suas forças, na companhia de Lázaro, suas irmãs e muitos discípulos amados por Ele. Dentre eles, familiares de João, seu primo que “perdeu a cabeça” pela fé que professou…

“Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”. Essa era sua identidade, sua única razão de ser, de existir, que aparentemente nos soa como demência pura e simples, cuja consequência lhe foi fatal, mas nos proporcionou o reconhecimento do Cristo entre nós. Eis sua maior riqueza, a virtude da “gentileza” de revelação profética! Se hoje temos Jesus como a maior dádiva divina, se sua doutrina chegou até nós como o mais perfeito roteiro para se alcançar a plenitude que sonhamos, se nossa história encontrou novo sentido após a aurora do anúncio de que o “Cordeiro de Deus” está entre nós, foi graças à coragem e insanidade de João Batista, a voz que hoje retumba no deserto de nossas tribulações: “Vigiai e orai, pois o Reino de Deus está próximo”!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Em todo tempo é tempo de missão, mas, quando se aproxima o natal de Jesus, nos vemos convocados, de novo, por aquele que é o enviado do Pai e que, a partir de Belém e da manjedoura nos ensina a viver em missão.

Vida em missão é como semente lançada na terra: entra no mistério do crescimento, do fruto maduro e da colheita. Mas é bom enfatizar que, não é a vida de um lado e, a missão de outro, mas, vida em missão; juntas e misturadas.

A vida foi concebida para ser missão e a missão para ser vida. Separadas, elas não são sementes, não são lançadas, não brotam, não crescem, não frutificam e não viram colheita.

Eis, portanto, o alerta que nos faz o Senhor: “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna. Se alguém quer servir a mim, que me siga. E onde eu estiver, aí também estará o meu servo. Se alguém serve a mim, o Pai o honrará” (Jo 12,24-26).

Mas, afinal de contas, que outro sentido e valor teria a nossa vida? De que maneira seria tão preciosa? Como encontraria tantas razões? Onde seria revestida com tanta beleza?

Paulo tem algumas convicções sobre o valor e o sentido da vida em missão que, resultaram da vivência e aprofundamento, pessoal, no mistério do Cristo morto e ressuscitado. São iluminações que nos ajudam, também, a responder sim, com convicção:

Considerar o Cristo como o centro e a razão de tudo.

“Por causa de Cristo, porém, tudo o que eu considerava como lucro, agora considero como perda. Quero, assim, conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a comunhão em seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a ele em sua morte, a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos. Não que eu já tenha conquistado o prêmio ou que já tenha chegado à perfeição; apenas continuo correndo para conquistá-lo, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo” (Fl 3,7.10-12).

Receber, da graça de Deus, a força na fraqueza.

“Ele, porém, me respondeu: ‘Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder.’ Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. E é por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12,9-10).

Sustentar, com o testemunho, o serviço confiado por Cristo.

“Mas, de modo nenhum considero minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e o serviço que recebi do Senhor Jesus, ou seja, testemunhar o Evangelho da graça de Deus” (At 20,24).

As respostas de Paulo e de tantos homens e mulheres, na história da fé, nos permitem entender que não se trata de qualquer vida e de qualquer missão mas, a vida em missão a partir do Mistério de Cristo, de sua própria vida em missão.

Sendo assim, compreendendo a nossa própria existência no mundo, como ‘um viver em missão’, daremos sentido novo a tudo o que somos e fazemos, sonhamos e queremos, e projetamos e realizamos; terá razão e sentido o passado, o presente e o futuro; ganhará mais sentido a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, a vida e a morte…

Viveremos em missão porque, viver em missão é como nossa respiração diária, faz parte de nós!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Surpreso fiquei com o anúncio de que rodovia que uso diariamente e que liga meu interior à grande capital foi eleita como a segunda melhor rodovia brasileira. Não só surpreso, mas igualmente decepcionado, pois imaginei o quão péssimas seriam as demais. Porque por aqui o tráfego é terrível, os remendos se sucedem uns sobre os outros, os longos aclives e declives tornam-se as maiores causas de grandes acidentes e o título histórico de corredor da morte ainda não lhe foi tirado em definitivo. Sinceramente, onde “arranjaram” esse título?

Mas a surpresa acontece numa semana em que o calendário litúrgico nos desafia: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!”  O grito profético do deserto é bem atual, posto que nos chama à responsabilidade e nos convida a refletir sobre fatos, acidentes e incidentes, que nos rondam diuturnamente e para os quais sempre apontamos culpados, damos-lhes nomes e sobrenomes, mas nunca nos incluímos nesta vasta lista. Consertar estradas não é atribuição nossa. Os responsáveis que arquem com as consequências de eventuais desastres.

Confessemos os nossos pecados. Neste campo aparentemente vazio, que constitui também nosso “interior”, está a raiz condutora da vitalidade necessária para “aplainarmos” os caminhos do Senhor. Endireitar suas veredas é também manter nossa ligação com a capital celeste, a Jerusalém que sonhamos. Endireitar suas veredas é evitar “remendos” improvisados e fazer das artérias de nosso coração um canal de fluxo e refluxo permanente com a vontade de Deus; é evitar longos aclives de declives, altos e baixos, mas construir pontes seguras que nos unam aos canais das graças celestes. É alcançar o outro lado sem os obstáculos do medo e da insegurança.

Por isso o grito no deserto é a voz da nossa consciência a pedir socorro. Do Batista herdamos a consagração batismal, mas também a audácia testemunhal, ou seja: a coragem de apontar a todos o Cristo que passa, o Cordeiro de Deus entre nós. “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu” (Mc 1,7). Essa deveria ser a afirmativa mais sonora e constante na vida dos que evangelizam. Nada fazemos com nossas fraquezas e limitações pessoais, mas através delas é que nos tornamos capazes de transformar o mundo com nossa presença e ação missionária. Como diria Paulo: quando sou fraco é que me sinto forte”. Na estrada que hoje percorremos a paisagem não é das melhores, mas o tráfego terá mais fluidez se nos dispusermos a endireitar seu trajeto e buscarmos com mais objetividade as metas que o Espírito nos aponta. Metas de um novo tempo. Caminhos certeiros e seguros que só o anúncio evangélico é capaz de proporcionar àqueles que percorrem a estrada da vida. Mas ainda se surpreendem com a revelação de ser esta não a segunda, mas a melhor rodovia de retorno à nossa morada definitiva.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Basta a proximidade de qualquer final de ano para as previsões fatalistas de videntes e sensitivos invadirem nossas mídias e assombrarem o povo simples. Simples na fé e ignorantes na doutrina. Uma dessas sensitivas, ainda hoje, saiu-se com um prognóstico de que nos próximos trinta anos grande parte da população mundial iria “desencarnar” e só sobraria uma maioria de gente boa, purificando-se a raça humana como sonhou o Criador. Até aqui, o desastre não seria tão ruim. Mas Deus é Pai de todos e sua misericórdia se estende “de geração em geração”.  Para bons e maus.

Então, como fica o Evangelho desse início de Advento, onde Marcos (13, 33-37) mostra toda a clarividência de Jesus, nos apontando um final dos tempos? “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer”. Essa é a verdade que nos preocupa. Um dia iremos prestar contas, frente a frente, cara a cara, com o Senhor de tudo, o dono da nossa casa comum, que hoje quase destruímos com a desordem que aqui praticamos. Estamos assustados com os prejuízos que já se somam como verdadeira catástrofe ambiental. As conferências e planos de restauração estão aí, para “inglês” ver, mas com conteúdos que, se respeitados, seriam de boa valia diante do  caos que ora vemos e sentimos na pele. O aquecimento global é fato. A crise alimentar cresce assustadoramente. A escassez da água potável e dos reservatórios hídricos também preocupa. Nossas matas têm menos verde. As queimadas matam aves e animais do outrora paraíso terreno.

Onde te escondes, Senhor? “Como nos deixastes andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações para não termos o teu temor?” (Is 63,17) O grito de socorro que agora ouvimos parece-nos tardio. Mas vem a hora – e é chegada – de que a consciência do desastre e a visão dos prejuízos nos dão novo alento de esperança e nos faz mais submissos diante da confiança que o Pai nos deposita. Então o milagre acontece. Então a criança insubordinada que ainda somos se dá conta de que algo precisa ser melhorado; um comportamento contrário aos padrões da boa conduta e do respeito ao que é de todos passa a gerir eventuais atitudes de irresponsabilidade coletiva. O bem se torna mais desejado.

Eis que um novo advento, um retorno aos sonhos de uma esperança renovada torna-se aspiração de vida nova. Esse é o momento. Esse é o final que desejamos e que buscamos com nova esperança, novo ardor no coração daqueles que hoje se dão conta da “bagunça” que aqui fizemos. Volte, Senhor Jesus! Estamos dispostos a “desencarnar” o homem velho e fazer nascer no coração de todos o alerta de um novo tempo. “Para que não suceda que, vindo de repente”, o Senhor nos encontre dormindo”. Deixemos de lado as previsões catastróficas… Essas não têm espaço na vida daqueles que alimentam suas esperanças e conduzem suas vidas na expectativa do retorno aos Planos de Deus. Neste não há derrota, destruição e morte. “Vigiai!”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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          Pensar e imaginar um  reino onde seus súditos, predominantemente, são pobres criaturas famintas e sedentas, despidas de qualquer traje digno de um padrão social, estropiadas em seus direitos de cidadania, acometidas de muitas doenças ou prisioneiras de um sistema injusto, é pensar e imaginar um povo derrotado e falido em qualquer projeto.

Por outro lado, pensar e imaginar um rei soberano e glorioso, dono das maiores riquezas, capaz de estender seu poder até os  confins do mundo, exibir seu cetro magistral acima de qualquer reinado, impor sua autoridade sem equiparar-se com qualquer outro soberano na terra, escolher seu povo com critérios fora dos padrões convencionais, é pensar e imaginar um reinado utópico, quase impossível…

Eis que esse Rei existe e seus súditos constituem um povo eleito, uma leva infindável de desvalidos que foi posta à direita de seu rei e elevado à posição de herdeiros universais. “Vinde, benditos do meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! (Mt 25,34). Eis a maior riqueza do Rei dos reis… Essa é a predileção, opção preferencial no dizer teológico que muitos refutam, do legítimo herdeiro universal do reino infinito que Deus nos oferece como a única riqueza imperecível desse mundo. Serão eles o fiel da balança que julgará nossos critérios de riquezas e justiça até aqui imaginados pelos reinados do mundo dos homens. Será sob a ótica da convivência fraterna e solidária entre nós que a soberania e vitalidade desse reino se sobrepujará sobre todos os demais.

Cristo-Rei haverá de reinar num universo de pobreza e carências múltiplas. Essa é a base de seu reinado, seu poder acima de tudo e de todos os poderes e potestades que possamos imaginar. O universo dos pobres determina o poder de Deus! Neste, as fortunas e ilusórias riquezas dos que se acham donos desse mundo é falácia transitória, imoral, falível como qualquer outro projeto de poder humano.

Mas quando virás, Senhor? Essa é a pergunta que todos se fazem. Independentemente de sua resposta, o que nos salta aos olhos é a lição da pobreza. Não será sobre o acúmulo de bens que seremos julgados. A questão se chama desapego, desprendimento ou mesmo partilha. Sobre esses itens, aliados à boa administração dos bens recebidos, é que mereceremos ou não a recompensa maior “no Reino que para todos se está preparado”. O importante é a consciência de que somos pobres, paupérrimos; nada seríamos ou teríamos sem a concessão do Senhor do Universo, o herdeiro universal! Daqui só levaremos as mãos vazias, porém o coração cheio de gestos concretos de amor àqueles que prefiguraram o rosto do Cristo entre nós. “Eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar” (Mt, 25, 43). Nesse universo está a salvação, o passaporte para o Reino definitivo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Final do Ano Litúrgico!

A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo encerra o ano litúrgico de 2023 e abre os horizontes e perspectivas do novo ano litúrgico de 2024.

O ano litúrgico é diferente do ano civil que termina em 31 de dezembro e começa um novo ano em 1º de Janeiro. Para o Calendário Litúrgico, o tempo tem outras referências e compreensão que a medição cronológica. O tempo, na Liturgia é Kairós. “Os gregos antigos tinham três conceitos para o tempo: chronos, kairós e Aeon. Chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido, associado ao movimento linear das coisas terrenas, com um princípio e um fim. Kairós refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece, o tempo da oportunidade. Aeon já era um tempo sagrado e eterno, sem uma medida precisa, um tempo da criatividade onde as horas não passam cronologicamente, também associado ao movimento circular dos astros, e que na teologia moderna corresponderia ao tempo divino.”

Para a liturgia, a ação de Deus, na história, marca a vida de tal maneira que, os acontecimentos, desta história, passam a “marcar” o tempo e ser referência pessoal e comunitária para tudo. Dessa forma, o calendário litúrgico tem como eixo, os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), formando um ciclo de três anos que se alternam a cada ano. O Ano A é Mateus; o ano B é Marcos e, o ano C, é Lucas. Estamos terminando o ano A (Mateus). O Novo ano litúrgico que se dá no próximo final de semana é o ano B (Marcos)

Pois bem, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo encerra o ano litúrgico de 2023 e traduz as perspectivas e horizontes da fé que apontam para aquele que é o Rei.

O Antigo Testamento traz a profecia do Rei-Pastor que cuida do seu povo como o pastora cuida das ovelhas.

Ez 34,11-12.15-17: “Assim diz o Senhor Javé: Eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas. (…) reunirei de todos os lugares por onde se haviam dispersado, nos dias nebulosos e escuros. Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar – oráculo do Senhor Javé. Procurarei aquela que se perder, trarei de volta aquela que se desgarrar, curarei a que se machucar, fortalecerei a que estiver fraca. Quanto à ovelha gorda e forte, eu a destruirei, pois cuidarei do meu rebanho conforme o direito. Quanto a você, rebanho meu, assim diz o Senhor Javé: Vou julgar entre ovelha e ovelha, entre carneiros e bodes”

O Novo Testamento nos aproxima da figura do Rei-Jesus que apascenta o seu povo com a própria vida. Ele tem o poder de tudo submeter, inclusive a morte.

1 Cor 15,20-26.28:“Cristo ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram. De fato, já que a morte veio através de um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, na sua própria ordem: Cristo como primeiro fruto; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. A seguir, chegará o fim, quando Cristo entregar o Reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo principado, toda autoridade, todo poder. Pois é preciso que ele reine, até que tenha posto todos os seus inimigos debaixo dos seus pés.  O último inimigo a ser destruído será a morte…”

Também no Novo Testamento, aparece a figura do Rei-Juiz que tem o poder de julgar os povos todos no advento do Reino do Pai.

Mt 25,31-46: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita, e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita. ‘Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo…’”

A visão de final de ano litúrgico, sob a Hegemonia e o Senhorio de Cristo, nos permite uma visão de esperança, assegurada como Boa Nova do Reino de Deus.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Pensar a dinâmica do Reino de Deus com os critérios do reino dos homens é coisa própria do materialismo humano. Por isso Jesus explica essa dinâmica falando de dinheiro, juros e correções monetárias, para que a cabecinha oca de alguns consiga penetrar nos mistérios e na grandiosidade do que seja esse Reino que nos aguarda. Os talentos eram uma espécie de moeda vigente à época. Tornou-se nossa moeda de troca para nossa própria salvação. Mas não uma moedinha qualquer! Senão, vejamos…

Qualquer recurso que a vida coloque em nossas mãos, no caminho que trilhamos, na história que aqui vivemos, deve ser um trampolim de crescimento, um meio de obtermos vantagens e provarmos nossa capacidade de renovação de forças. Isso é o mínimo que Deus nos pede diante dos homens. Que aproveitemos as chances que temos, que valorizemos os recursos, os dons recebidos em vida. Se a um lhe foi dado cinco, no mínimo, há o dever da multiplicação. Dois, o dobro. Um apenas…, que este não se perca no desânimo dos derrotistas, dos insatisfeitos, dos invejosos! Pois esse um também pode render tanto quanto os talentos daquele que foi melhor agraciado e que teve maiores responsabilidades, mais trabalho a desenvolver.

Sinceramente, nesta perspectiva, prefiro ser aquele que recebeu menos. Pois multiplicar o pouco é mais fácil do que administrar fortunas. Mas a ingenuidade do pequeno é se deixar enterrar na derrota, diante da grandiosidade dos que possuem mais. Inveja pura e simples! Esse é o caminho dos que se deixam vencer pelo “olho gordo” sobre as graças daqueles que imaginamos privilegiados diante de Deus. “Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez!” (Mt 25,28). O pouco com Deus é muito, nos diz a sabedoria do povo. Ou seja, é preciso valorizar o “pouco” que pensamos receber, para que a generosidade do Pai se manifeste em nós. Os juros e dividendos dessa matemática são proporcionalmente mais rentáveis que a lógica calculista dos banqueiros do nosso mercantilismo social. Aos olhos de Deus o que conta é nossa ação, nossos esforços a serviço do Reino. A serviço do Reino deveria ser um adesivo em nossas vidas!

Mas eis que, não contentes e corroídos pela inveja e preguiça, escondemos ou enterramos dons e talentos graciosamente recebidos. Perdemos o segredo da Eternidade; ignoramos a lógica da graça, que é contrária à lógica mundana, pois, aos olhos de Deus, “aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25-29). Cuidado! Não interprete esse versículo com os critérios da visão materialista, apenas. Aqui não se trata do sonoro tilintar de nossas falíveis e desvalorizáveis moedas – invencionice humana – , mas dos preciosíssimos dons e talentos que um dia recebemos de Deus. Nessa perspectiva, os juros que destes possamos gerar é que nos garantirão a Salvação esperada. Sé é que seja esta sua maior ambição. Caso contrário, delete tudo o que leu até aqui.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Se existe algo no mundo que seja gerador de graças e bênçãos ao humano que somos, esse algo se chama talento. Ou seja: o espírito criativo do ser humano deriva dos dons e talentos que possui. Nenhum outro animal ou criatura é capaz de criar alternativas, multiplicar bens, gerar soluções, apontar erros ou construir novos caminhos do que o próprio ser humano. Mas isso é graças à sua inteligência, dirá alguém. Exatamente. Essa é nosso maior talento, que nos distingue de todos os demais seres vivos que nos rodeiam. O dom do discernimento é o rótulo diferencial que nos faz soberanos entre todas as demais criaturas do reino, seja este animal, vegetal ou mesmo espiritual. Ah! Existe esse último? Ainda bem que sim…

A vida espiritual nos aponta um Reino em maiúsculo. Infelizmente, por conta da desatenção de muitos para esse detalhe, enterramos os maiores talentos que um dia recebemos gratuitamente e negligenciamos seus bens e benefícios. Deixamos de aproveitar das maiores graças e bênçãos que essa passagem terrena, a vida, oferece generosamente a todo e qualquer “empregado” do Reino de Deus. Por conta e risco dessa negligência humana com o sagrado é que o mundo está como está. Os dons e talentos que nos acompanham desde o berço e que se somam à nossa história ao longo dos anos, não são méritos nossos, mas dádivas divinas, celestiais se você assim preferir. O fato é que nada teríamos e nada seríamos sem o consentimento do Pai, o mesmo que nos criou, que nos concedeu não só a vida, mas também a consciência do respeito a ela, da gratidão por ela.

Fora disso, nossos méritos deixam de ser dádivas, para se tornarem sinais de maldição, de usurpação. Tudo o que amealhamos ou conquistamos sem a unção da fé, sem a gratidão do Senhor que nos concedeu a administração de seus bens “de acordo com a capacidade de cada um”, dia mais, dia menos haveremos de lhe prestar contas. Seremos cobrados não só pela negligência com os bens que nos foram confiados, como igualmente pela malícia de nos apossarmos de bens que não os nossos, de talentos que não nos foram confiados, de dons que nunca possuímos. Aqui encontramos explicações para a fugacidade e inconsistência de riquezas que pensávamos possuir. O servo infiel, oportunista, malandro na arte do engodo, nunca encontrará reconhecimentos diante do patrão providente e justo. “Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e ceifo onde não semeei?” (Mt 19,26). Tu sabias que diante da ciência divina nenhum subterfúgio é capaz de prosperar? Que enganamos a muitos homens e até à nós mesmos, mas a Deus não se engana? Que nada escapa do Juízo Final? É, o servo mau aqui fica mal…

Então, multiplicar os talentos é muito mais do que questão de sobrevivência. Não somente social, terrena, financeira ou moralmente falando, mas também e principalmente no quesito mais precioso desse latifúndio terreno: o reino espiritual que coroa nossa existência. Nossos dons terrenos, materiais, são esmolas irrisórias diante dos dons mais preciosos que o Patrão lá do alto nos confiou um dia. Esses, sim, deveremos multiplicar cem por um. Essa é a proporcionalidade que nos será cobrada um dia.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Quantas vezes ouvimos falar da história das virgens previdentes e não previdentes, que buscavam as graças de um noivo? Quantas vezes aprofundamos essa história, sem nunca a entendermos plenamente? Pois é essa exatamente a parábola das almas sedentas pelo encontro definitivo com Deus, a maior e mais pura aspiração da natureza espiritual do ser humano. Essa é a razão do nosso existir. Para perfazer esse caminho é preciso manter acesa a chama da nossa fé, trazer conosco o combustível necessário que clareia os passos dos que almejam (almejar vem de buscar com a alma) as alegrias do Reino entre nós.

Recordando em suma: Jesus coloca nessa história o exemplo de dez virgens. Cinco eram previdentes, cinco não. As previdentes traziam consigo o óleo necessário para manter acesa a chama de suas luzes. Sabiam que, no cair da noite, nas horas derradeiras do dia mais sonhado de suas existências, haveriam de reconhecer mais facilmente o noivo que vinha e que as receberiam de imediato sob o brilho de suas luzes. Haveriam de brilhar para Ele. Seriam a luz do mundo em trevas. Já as imprevidentes, sem preocupações maiores, sem critérios de um caminhar longe das trevas que as encobriam, pois que “o noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e dormindo”, foram surpreendidas com a falta de óleo em suas lâmpadas. E encontraram fechadas as portas do Reino. Nisso resulta nossa imprevidência com as coisas do alto, as questões do ser espiritual que somos!

Fica, pois, bem evidente a simplicidade dos ensinamentos cristãos, cuja racionalidade está centrada no objetivo do nosso existir: ser luz do mundo! Ser sinal de salvação no meio das trevas que nos encobrem, da noite longa e tenebrosa dessa vigília na espera do “noivo” que chega, que aparentemente parece demorar, mas que há de chegar no momento que menos se espera. Não há como improvisar esse momento, essa festa “de casamento” que Deus nos prepara como encontro definitivo num mundo novo com o qual sonhamos. “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!” (Mt 25, 11) Esse é o brado mais retumbante da humanidade, mesmo que muitos ainda estejam indiferentes e achem ser possível “comprar o óleo” da salvação no momento final, no último instante de suas vidas. Não há como garantir esse momento, “pois não sabeis qual será o dia nem a hora”, e a conquista do Reino Definitivo se inicia no agora do nosso existir. Quem quiser garantir seu lugar ao Sol, sob a Luz da verdade que nos rege neste mundo, deve estar atento, diuturnamente, pois que a vigilância constante é nossa única garantia, nosso passaporte para a Eternidade.

Tudo isso resume nosso existir, dá sentido à vida. Não é mera pregação de fanáticos ou beatos confinados em crenças escatológicas, adventícias. Há um outro lado nessa história, que todos respeitamos, mas nem todos o fazem por merecer. A previdência de grande maioria está centrada apenas no seu aspecto social, nas falácias de uma aspiração meramente transitória, essa crença humana que diz ser a vida uma instituição de momentos, de circunstâncias, de fatos plausíveis e palpáveis. Melhor não pagar pra ver. Melhor manter acesa a chama da nossa fé.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]