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Diocese de Assis

 

          De todos os segredos e mistérios que cercam a existência humana nenhum é maior e mais inexplicável do que a Trindade e a Unidade de um Deus. Este que dizemos ser Uno e Trino, Criador e Redentor, Pai, Filho e Espirito Santo, um ser em três pessoas. Qual seu segredo, origem, mistério? Tentar explicar ou entender com nossa limitada sabedoria tamanho mistério e tão inefável segredo é próprio do animal humano que sequer sua existência é capaz de entender ou explicar. Então nos sobra a mais óbvia e inspirada definição, vinda da boca de um santo, não um qualquer, mas João, aquele que Jesus amava: Deus é Amor.. e ponto!

Desde então, foram muitos os santos que se debruçaram sobre esse mistério, tentando, à luz das ciências e compreensões humanas, por um basta sobre o assunto. Dentre eles, o que mais ocupou seu tempo com teorias, teses e palavreado infindável foi Santo Agostinho, venerando doutor da Igreja. Além de suas Confissões, uma obra onde expos toda sua fragilidade e pequenez humana diante de Deus, escreveu também Trindade, uma obra volumosa, ótimo “tijolo” para se calçar uma porta aberta. Brincadeira minha. Ironias à parte, foi exatamente ao final dessa obra que Agostinho melhor se aproximou de uma explicação mais sensata.

Dizia o doutor da Igreja, teólogo e um dos maiores pensadores da era cristã, ser necessário crer para compreender, mas igualmente compreender para crer. Assim, textualmente, um dia afirmou: “É pela razão que podemos obter a certeza de que Deus existe e é uma natureza eterna e imutável”. Aqui fé e razão entram em pauta nas discussões humanas.  Mesmo assim, como explicar a Trindade? Eis seu maior dilema, um assunto que, literalmente, iria morrer na praia… isso mesmo! Estando o grande pensador em uma praia deserta, onde sempre buscava introspecção e intimidade com Deus, eis que um menino lhe tirou a atenção com um passatempo bem típico de qualquer criança. Indo e vindo sem cessar, do mar para a areia e da areia para o mar, o menino enchia um recipiente com a água do mar e a depositava cuidadosamente num buraco feito à mão na imensidão daquela praia. Intrigado com a cena, Agostinho interrogou a criança:

– Que fazes menino?

– Estou mudando o mar para esse buraco…

– Não vês ser isso impossível?

Então, com um olhar angelical, mais para piedoso do que para inocente, o menino se revelou um enviado celestial para lhe dar a resposta que buscava e que concluiria seu volumoso estudo sobre as verdades divinas

– Isso é fácil. Impossível mesmo é compreender e explicar o mistério da Santíssima Trindade.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Não há dúvida de que Deus é onisciente (tudo conhece), onipresente (está presente em todo lugar), onipotente (é todo ele poder) é, também, sabedoria infinita, misericórdia eterna, amor compassivo e justo juiz.

Apesar da verdade dessas palavras, não compreendemos inteiramente a Deus. Aliás, suas ações, presença e projeto, por vezes, nos parecem estranhos, inconcebíveis e irrealizáveis. Mas, é o próprio Deus quem faz o alerta pelo profeta Isaías: “Os meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos – oráculo de Javé. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos caminhos de vocês, e os meus projetos estão acima dos seus projetos” (Is 55,8-9).

Em Deus, todas as coisas, pessoas, fatos, acontecimentos, a história e a vida ganham sentidos e direções às avessas de nossas expectativas. Deus subverte, completamente, nossas certezas, seguranças, mentalidades e projetos: do nada ele faz o tudo; do débil ele faz o forte; do pequeno e ele faz o grande; do humilde ele faz o sábio; da morte ele faz a VIDA…

Que loucura é essa de Deus? Quem o poderá compreender? Quem poderá resistir?

“… a Escritura diz: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.’ Onde está o sábio? Onde está o homem culto? Onde está o argumentador deste mundo? Por acaso, Deus não tornou louca a sabedoria deste mundo? De fato, quando Deus mostrou a sua sabedoria, o mundo não reconheceu a Deus através da sabedoria. Por isso através da loucura que pregamos, Deus quis salvar os que acreditam.

Os judeus pedem sinais e os gregos procuram a sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas, para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus. A loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”.

Portanto, irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade. Mas, Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante. Desse modo, nenhuma criatura pode se orgulhar na presença de Deus.  Ora, é por iniciativa de Deus que vocês existem em Jesus Cristo, o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e libertação, a fim de que, como diz a Escritura: “Aquele que se gloria, que se glorie no Senhor” (1Cor 1,19-31).

Eis a oração de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado…” (Mt 11,25-27).

Que ninguém se iluda! Que ninguém se engane! A perfeição da sabedoria é a loucura de Deus!

Essa loucura não cabe na lógica humana, não cabe nos pensamentos humanos, não cabe nas medidas humanas, não cabe nos desejos humanos, não cabe nos planos humanos até que, tudo, em cada um de nós, humanos, seja resgatado e iluminado pelo divino que Deus soprou, desde a criação.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




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Para muitos leitores, nos dias atuais, o sinônimo para pentecostes é algo desconhecido; soa quase a um palavrão sem sentido algum. Uma palavra longe de sua origem festiva, seu verdadeiro significado. De fato, uma festa bem antiga, judaica por excelência, e que reunia em Jerusalém milhares e milhares de judeus do mundo todo. Uma festa eloquente, grandiosa, que chegava a durar sete semanas, quando o povo celebrava o resultado de suas colheitas e traziam ao Templo parte de seus dízimos de gratidão a Deus pelas dádivas da terra. E eis que já haviam decorridos cinquenta dias de outra grandiosa festa judaica, a páscoa, que  celebrava a passagem do anjo da morte, aquele que poupou somente as famílias onde suas casas tinham a marca do sangue do cordeiro imolado. Aquela páscoa se tornou a redenção do novo povo de Deus! Aquela páscoa é hoje razão de ser de nossa fé. Agora, decorridos cinquenta dias da ressurreição de Cristo, eis que sua promessa de nos enviar um defensor se realiza durante essa outra festa.

Essa mesma  promessa faz surgir um novo Pentecostes, uma nova festa da Colheita, agora com duração não de sete semanas apenas,(7×7=49+1) mas de sete dons… sete graças espirituais que nos foram derramadas dos céus quais bençãos divinas a fecundar nossas almas, nossas vidas sedentas de novas esperanças. Chegou nosso tempo de colheita, nossa festa de gratidão. Os dons derramados naquela humilde casa na periferia de Jerusalém possui o júbilo, a preciosidade de uma colheita abundante, que nossa insignificância e pequenez não merece, mas que a generosidade do Pai infunde em nós como sementes fecundas de uma seara privilegiada. Seus sete dons são os selos de predileção de Deus pelo seu povo, filhos amados e benditos que seu coração de Pai elegeu para si. Isso é o que somos! Isso é o que celebramos nesse Novo Pentecostes, a grande festa do destemor, da coragem, da audácia, da alegria e dos privilégios que os dons do Espírito Santo infundem naqueles que Ele escolheu para si. Por isso se diz que o sacramento do Crisma confirma em nós o sentimento de pertença a Deus, reveste-nos com a couraça da proteção divina, renova em nossos corações a maturidade da fé que recebemos em nosso Batismo, reforça nossas convicções da plenitude de vida advinda do Reino dos Céus, nos faz apreciar o que é justo e reto  e gozar das alegrias da consolação verdadeira… Isso e muito mais. Não apenas sete, mas setenta vezes sete… Infinitesimamente mais.

Como vemos, as significações numéricas dessa festa têm suas motivações históricas e tradicionais, mas perdem-se na avaliação quantitativa das graças que o amor de Deus proporciona àqueles que se deixam guiar pelo seu Espírito santificador. Não podemos medir ou quantificar o Amor, em especial Aquele que se diz o próprio. Esse não tem limites, origem, princípio e fim. Esse está em tudo, toma conta, invade, preenche. É a fonte, o manancial de tudo que dá sentido à vida, a tudo o que somos, temos ou iremos ser e ter um dia. Entregar-se a essa graça e unção é abandonar-se em Deus como instrumentos de sua ação no mundo, na história, na festa da colheita farta que Ele deseja realizar em nós, por nós. Esse é nosso tempo de semeadura, nossa razão de ser e de existir, de aqui estar de passagem, mas deixar em nosso tempo o registro de uma multiplicação infinitesimal dos dons que o Senhor depositou em nós. Seja nossa colheita cevada ou trigo, quanto devolveremos a Ele, o dono da vinha, o Senhor da Festa? Você recebeu tantas moedas! Quanto de Dízimo devolverá ao Dono da casa… dessa casa que é a vida, o mundo? Lembre-se: não vale devolver os mesmos sete dons. Não esconda suas moedas; multiplique-as!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Quem inventou a possibilidade do fim do mundo não foi o medo e a insegurança humana em seus dias de crises existenciais, mas o próprio Cristo em sua despedida terrena. Eis que Ele acena aos homens em sua ascensão aos céus, aventando esse assunto e se dizendo companheiro de nossa jornada até o fim, o final dos tempos. “Estarei convosco sempre!”, é sua promessa. Para os exegetas, o anúncio de Cristo em sua despedida terrena é muito mais que uma força de expressão, um adeus momentâneo. É a prova cabal e real de que tudo converge para o cerne da Criação, que tem em Cristo seu maior mistério, a razão de ser, de existir, que dá sentido à existência humana. Fomos plasmados no coração do Pai e a Ele voltaremos através das promessas do seu Filho, sob a ação e unção do seu Espírito. Eis o tripé que sustenta e dá razão a tudo o que somos, vemos e sentimos neste mundo. Um dia tudo acaba e só nos restará o retorno ao Pai, fonte e origem desse tudo, desse universo que pensamos possuir! Eis tudo!

Mas não é só de ilusões que nossa vida é feita. Há uma realidade muito maior e mais ampla que esse mundo tangível, essa matéria impactante a moldar nossas vidas, a construir sonhos e acumular ambições. Somos mais que um conjunto de células ou um universo de átomos radioativos ou não. O fluxo e refluxo do coração humano é o mais simples exemplo desse pulsar de vida que a autoridade divina nos possibilitou experimentar neste mundo, ou seja: a vida é um constante fluxo e refluxo que flui do coração de Deus. Uma diástole e sístole espiritual. Quem foge dessa realidade torna-se o sangue derramado, que se esvai do coração, das veias dilaceradas do Redentor humano e se perde no chão da triste realidade terrena… Essa linguagem figurada não é mera pregação dogmática, mas prerrogativa da fé cristã: “Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Eis o caminho, a verdade e a vida do refluxo existencial. Nossa passagem terrena tem um retorno definido, uma rota a seguir. O mundo que ocupamos é o veículo, o instrumento momentâneo desse retorno. Quem se perde pelo caminho é aquele que foge dessa sintonia que as veias da fé cristã apontam como verdade imutável e essencial proclamada por Cristo: “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28,18-19).

Aqui reside a autoridade da Igreja sobre os destinos humanos. Não é uma simples retórica de força e poder, à luz dos conceitos políticos que usurpam as definições de autoridade ou governo dos povos. A autoridade concedida à Igreja no mundo engloba “todos os povos”, aos quais sua mensagem de fé e esperança se estende apontando a cruz como sinal e estandarte de redenção, de libertação das correntes que porventura nos prendam, nos imobilizam, nos sufocam neste mundo. A ação da Igreja diante dessa realidade é uma ação moderadora, capaz de anunciar um novo caminho denunciando os desvios que “derramam” o sangue dos injustiçados, dos inocentes, dos espoliados desse ensinamento de fé. “Ide e fazei discípulos” é muito mais que um imperativo institucional, uma ação dogmática; é uma necessidade de preservação. Uma ação de coerência com a vida, essa que ora ocupamos momentaneamente, mas que um dia devolveremos aos pés da cruz de Cristo, aquele que caminha conosco. “Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja” (Ef 1,22). Sim,  o fim do mundo será para todos os que se desviarem desse caminho de fé e esperança imutáveis, indestrutíveis, imortais…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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Maio nos lembra Maria. Outrora nos lembrava as noivas e seus vestidos brancos a simbolizar pureza. Mas ainda festejamos a maternidade, como dom maior daquelas que são capazes de gerar a vida. Sim, ainda, pois a proveta ai está e não duvido se um dia surpreendidos formos com incubadoras sofisticadas a substituir o sagrado ventre maternal… Mas, enquanto a lógica persiste apesar das pretensões da Ciência que no campo genético já faz diabruras nunca antes imagináveis, o sim de Maria continua música para os ouvidos angelicais.

Salve Rainha! A maternidade humana está intrinsecamente ligada ao ato da Criação, pois que dá continuidade à obra divina. Com ela nos aproximamos mais da misericórdia do Pai, pois que a cada nascimento renasce a esperança de dias melhores e os céus glorificam o seu Nome, enchendo de luz qualquer vale das lágrimas e da insignificância humana. Uma criança assim gerada é depositária dos mais nobres sentimentos e dos mais sagrados sonhos que possamos imaginar para qualquer lar, doce lar. O que é nobre, o que é sagrado dá ares de realeza à maternidade de qualquer mulher; independe de sua condição social. Por isso delas se diz: rainha do lar!

Vida doçura e esperança nossa! Quem possui outra imagem de suas próprias mães? Por mais indignos, insubordinados, rebeldes e alheios que possamos ser, qualquer filho ou filha têm na figura materna um hiato de paz, de aconchego, de esperança por dias melhores, por caminhos mais largos, por sonhos mais belos. O olhar de mãe, o colo, as mãos, a proteção, o levantar-se das muitas quedas, as vigílias nas noites febris, o cuidado com as ruas, o trânsito, a escola, o lanche, o remédio… Ah, mãe, quanta doçura, quanto carinho, quanto amor!

Pois até Deus, na pessoa de Jesus, experimentou esse privilégio humano: os desvelos de uma mãe. Não era degredado, nem filho de Eva, mas Filho de Deus! Princípio e Fim, Alfa e Omega, a origem de Jesus poderia dispensar a figura materna de Maria, não fosse ela um instrumento precioso aos olhos do Pai. Sua maior e mais preciosa virtude, condição mínima para merecer tão sublime privilégio, Deus não buscou no histórico de sua saúde física, jovialidade, pureza, nem na descendência de seu povo, sua origem, sua formação, suas crenças, nem nas posses ou tradições familiares, nem na cor de sua pele, no idioma que falava, na cultura que possuía… Seu único e maior mérito para ser mãe do Redentor estava em seus lábios e em seu coração submisso à vontade de Deus. Sim! Sim, eu posso, eu aceito, eu quero… eu agradeço! Eis o segredo de uma maternidade abençoada, privilegiada com hosanas e glórias! Eis o sim de Maria!

Essa é nossa advogada, mãe de Deus e dos homens, cujo olhar maternal suplicamos sobre a humanidade, sobre cada um de nós. Cristianismo sem a maternidade de Maria é órfão, incompleto, imperfeito. Não se compreende uma fé que ignore a importância da mediação de Nossa Senhora no processo da Redenção, pois o próprio Jesus dela se serviu para ser quem foi, realizar o que realizou, ensinar o que nos ensinou. E, numa festa nupcial, quando o filho já adulto e bem formado ainda vacilava no início de sua missão, nada como um empurrãozinho materno. “Mãe, minha hora ainda não chegou”. Como não, depois de tanto desterro, tanto sofrimento, tanta expectativa humana por uma esperança maior? Então Maria dá as coordenadas para o primeiro milagre, o início de todos os demais: “Façam tudo o que ele mandar”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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O dia das mães está ai. Já é possível ver muitas pessoas se movimentando em torno deste dia que se tornou referência de muitas atitudes e iniciativas. Hoje, como ontem, cabem, ainda, alguns questionamentos como: “O que comemorar? Por que comemorar?

As perguntas não têm cinismo e nem resposta óbvia. Mas, precisamos nos posicionar de modo crítico sobre o que comemoramos, muitas sem notar significado, razões, sujeitos. Qual é, afinal de contas, o sentido e valor de se comemorar o dia das mães?

Quando chegam as datas comemorativas, as pessoas começam a tirar do baú da nostalgia, o seu “Kit de comemoração” que, habitualmente usam em cada festividade: roupas, frases feitas, sorrisos amarelos, intenções de não repetir o vexame da bebedeira da última festa, etc, etc e tal.

O comércio aproveita as datas comemorativas para estimular o consumo. Muitas promoções, gritarias, desfile de ostentação e luxo, entra e sai, correria de última hora, empura-empura, perdas de ônibus, etc. Mas, tudo fica bem arranjado sob um lindo papel de presente.

O feriado e/ou o dia comemorativo provoca uma comoção geral: aumento da jornada de trabalho nos dias anteriores; buscas ofegantes de passagem de ônibus e trem e, quando há requinte, passagem de avião; noites mal dormidas; cansaço; malas prontas e cheias, “pé na areia”: a viagem e a festa.

Começando de manhã, bem cedo, a festa não tem hora pra acabar. É preciso aproveitar tudo! A mãe, sempre sumida entre pratos e talheres entre carnes e verduras. Fala-se de tudo; ri-se de tudo; come-se de tudo; dorme-se; chora-se.

O dia acabou, o jeito é voltar para casa. E, lá se foi mais uma festa.

É verdade a festa! A festa!? Mas, o que é que se comemorou mesmo? É verdade, como é que se esqueceu o motivo da festa. A mãe! É verdade, a mãe! Deixa pra lá, a mãe perdoa

O ano que vem tem mais, a gente faz diferente…..

Qualquer semelhança com as nossas festas é mera coincidência.

As nossas comemorações estão sempre longe do que deveria ser de fato: mudamos as finalidades; esquecemos os homenageados; aprontamos arruaças; esvaziamos sentidos; perdemos a razão. O que acontece com o dia das mães, acontece com a maioria dos dias comemorativos. E, todo ano é a mesma coisa….

Precisamos nos retratar com aquela que já está acostumada, a não ver os dias passarem e, o seu dia, vê-lo sendo “levado”.

Precisamos, no dia-a-dia, valorizar e amar aquela que durante o ano todo não se esquece de nós, para que no SEU DIA, naturalmente, ao levantar possamos dizer: Bom dia, Mamãe! Eu te amo! Seja Feliz Sempre!

ORAÇÃO

Nós vos louvamos Pai, e, vos bendizemos pelo cuidado das mães, que continuam a cercar de amor e carinho toda pessoa que vem ao mundo. Nós vos pedimos: abençoai todas as mães. Fazei que elas descubram o vosso amor no trato com seus filhos. Que elas sejam sempre carinhosas; pacientes nas horas de aborrecimento; firmes quando é preciso corrigir; alegres mesmo nas dificuldades. Que elas sejam vossa imagem: fontes de vida e, também a imagem de Jesus: defensoras da vida. Possam encontrar em vós, Senhor, Pai e Mãe, a felicidade de servir e, assim, dia após dia, vos louvar e bendizer. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Parece um título fúnebre. Mas não é. Ao contrário, meu desejo é dar-lhe um pouco de poesia, já que habituados estamos a contemplar uma cova com repugnância e medo. Uma cova tem também seu lado místico. A história bíblica nos relata a experiência do profeta Daniel, lançado numa cova de leões. Tudo por inveja à confiança do rei sobre seu exemplar ministério. Seus inimigos, muitos deles ambicionando o posto que ocupava, desejavam vê-lo pelas costas, derrotado. Deus intervém e usa aquela experiência de uma noite numa cova cheia de leões como oportunidade para manifestar seu poder, sua proteção sobre aqueles que lhe são fiéis. Da cova aterrorizante faz emergir uma inusitada prova de amor. O homem sobre o qual a inveja e a ambição lançam seus olhares fulminantes, desdenhando a fidelidade e integridade de sua alma, é posto em liberdade, são e salvo, agora revestido da glória da predileção divina.

São muitas as covas em nossas vidas. São muitos os leões que nos espreitam. A história que nossa história escreve possui semelhanças, porém não meras coincidências com a história do profeta. Para não dizer que a repetimos constantemente em nossas vidas. Ou você nunca se sentiu no fundo do poço, da cova, como um José do Egito vendido pelos irmãos?

O próprio filho de Deus, espoliado em todos os seus direitos e em sua dignidade humana, humilhado, destroçado, acabou assassinado pela prepotência dos donos da “verdade” e depositado às pressas numa cova emprestada. Isso tudo para não estragar a festa que corria solta na sociedade dita religiosa daqueles que condenaram o dono da Verdade. Os leões já não estavam restritos a uma cova. Ao contrário, estavam bem soltos e até saciados, soberanos nas ruas da Jerusalém de pedras, o modelo das civilizações da época. A cova de Jesus possuiu a mística da aceitação momentânea, oportunidade extraordinária para dela emergir, mais uma vez, a luz do poder divino, a vitória sobre todas as desgraças desse labirinto de intrigas e desilusões humanas. Deixou de lado as “ataduras” que lhe impuseram, a mirra, o aloés, a química e o perfume deste mundo trágico e ilusório. Tirou seu pé da cova, ressurgiu dos mortos.

Ora, tudo isso hoje escrevo com um objetivo final. Um olhar místico e piedoso para o fundo de uma cova especial. Olhar que vem de longe, do meu tempo de criança ainda livre e aventureira pelas ruas da minha Palmital, a cidade que me viu crescer. Um dia me convidaram a representar o menino Francisco num carro alegórico sobre os videntes de Fátima. Minha mãe interviu, explicando e convencendo: aceite, filho, você vai representar o menino que viu a mãe de Jesus na cova… Não esperei a conclusão. O susto foi grande, mas a curiosidade maior. Então, juntamente com duas meninas que representavam Lúcia e Jacinta, me entronizaram num cenário belíssimo, tendo ao alto a imagem serena daquela mãe aureolada por uma coroa de estrelas e distribuindo seu sorriso ao povo em procissão. Ali eu era o menino Francisco. Ali representava um pequeno pastor de uma história que marcou minha existência para sempre, a bela história das aparições marianas em Fátima, Portugal.

Hoje, ao recordar aquela cena, vem-me sempre a singeleza de um local ermo, tranquilo, um sítio encravado entre montanhas e um arbusto como aquele do Sinai, que o fogo jamais consumia, mas que encheu de poesia o significado da mensagem divina, a aliança de amor entre Deus e os homens. Aquele mesmo arbusto, agora manifestando a beleza de uma Virgem. E o verso ainda ecoa em meu coração saudosista: “A treze de maio, na Cova da Iria, eis que aparece a Virgem Maria”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Estamos olhando para as mulheres na Bíblia!

Como a Bíblia trata as mulheres? É machismo, discriminação ou preconceito algumas passagens que podemos constatar na Bíblia? Como entender o posicionamento de alguns escritores sagrados ao se referir às mulheres?

No Novo Testamento, reconhecemos um novo modo de tratar a mulher, a partir de Jesus. Ele nasceu de uma mulher (Gl 4,4ss). Ele conhecia-lhes a vida e as fadigas cotidianas e se interessou por elas, como nas parábolas do fermento (Mt 13,33); da dracma perdida (Lc 15,8ss); do juiz iníquo e da viúva importuna (Lc 18,1ss).

Jesus faz milagres a pedido de mulheres como de homens: a sogra de Pedro (Mt 8,14; a filha de Jairo e a hemorroísa (Mt 9,18-26); a mulher cananéia (Mt 15,21-28); a viúva de Naím (Lc 7,11-17).

Jesus aceitou ser ungido por uma mulher e a defendeu contra as críticas (Mt 26,10). Com Marta e Maria Jesus tinha um relacionamento familiar e profundo (Lc 10,38-42). Conversou sem embaraço com a samaritana, na beira do poço de Jacó (Jo 4,7ss.27).

Jesus não carrega sentimentos misóginos nem tão pouco de inferiorização da mulher. Revoluciona o modo de tratá-la e faz de sua práxis um ensinamento.

Desde o inicio da Igreja Primitiva, as mulheres aparecem como membro de pleno direito (At 1,14; 12,12); muitas mulheres convertidas são chamadas pelo nome (At 16,13s; 17,4.12). As mulheres tomavam, ativamente, parte da vida da Igreja realizando e recebendo boas obras (At 6,1).

As ambigüidades e aparentes contradições no modo de tratamento, presente em algum escritor sagrado, provém do modo como, culturalmente, a mulher era levada em consideração na sociedade onde viviam. Obviamente, as mudanças de tratamento, em relação à mentalidade sobre a mulher, foram uma verdadeira revolução.

O pecado não nasceu por culpa da mulher.

É pena que, mesmo entre nós, a mulher não é tratada como merece e, por si mesma, algumas vezes não se assume como mulher e nem se apresenta como deve. Cabe dizer, entretanto que, acima de qualquer mentalidade e cultura está a natureza que, faz da mulher um ser único e irrepetível pelo seu valor e importância no ciclo da vida; ela é mãe.

A mulher é intuitiva e protagonista por natureza

Intuição é uma sensibilidade humana, facultado pela capacidade de percepção, discernimento e, pressentimento das coisas o que amplia, consideravelmente, o campo de visão, alarga os horizontes e facilita resoluções, ações e processos. Por causa da sobrecarga natural de exigências, solicitações, obrigações e cuidados que pesam sobre a mulher, esse dom e muitos outros estão à sua disposição, para levar avante a vida de muitos protagonismos.

O livro do Eclesiástico em 26,1-5.13-18 faz considerações importantes e revolucionárias, para a época, sobre a importância e distinção da mulher: “Feliz o marido que tem mulher virtuosa; a duração de sua vida será o dobro. Mulher habilidosa é alegria para o marido, que viverá em paz por toda a vida. Uma boa mulher é uma sorte grande, que será dada aos que temem ao Senhor. Rico ou pobre, estará contente e terá sempre rosto alegre. Mulher graciosa alegra o marido, e com seu saber o fortalece. Mulher discreta é dom do Senhor, e mulher bem-educada não tem preço. Mulher modesta duplica seu encanto, e não há valor que pague a mulher casta. Como o sol levantando-se sobre as montanhas do Senhor, assim é a beleza da mulher em sua casa bem arrumada. Como lâmpada brilhando no candelabro sagrado, tal é a beleza do rosto num corpo bem acabado.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

          A relação estabelecida entre Jesus e seus seguidores exige, por primeiro, reciprocidade. Não é uma exigência burocrática, na base da obediência e obrigação meticulosa entre duas partes que constroem uma relação de convivência apenas. Não um simples código de conduta serviçal ou contratual, como muitos o fazem numa relação de trabalho ou alhures. Nem algo que se assemelhe a um pacto nupcial ou afetivo, com fins de se construir uma convivência harmoniosa pura e simples. Ao contrário, Jesus exige muito mais, a partir de um profundo conhecimento mútuo. “Eu os conheço. Da mesma forma como vocês me conhecem. Conheço a voz, o nome, os anseios, os desejos, os sonhos, a luta, os fracassos… tudo, tudo da vida de vocês. E vocês?”

Essa é a essência da metáfora que Jesus contou a seus discípulos, ao lhes narrar a história do Bom Pastor. Tão simples e maravilhosa que os ouvidos moucos de seus ouvintes não foram capazes de entende-la num primeiro momento. Como assim, porta, aprisco, ovelhas? O que Jesus queria dizer com aquele palavreado sem sentido? A dureza dos corações atrelados à realidade pura e simples, à cruenta realidade de uma sociedade injusta e insegura, não lhes permitia entender o quão maravilhosa era a história que Ele lhes contava. Primeiramente, afirmava ser Ele a porta do redil, aquele estranho local de aconchego e proteção, um oásis no deserto, um céu na terra… Isso mesmo, Ele lhes falava do Paraíso, o aprisco divino pelo qual só se entrava passando por Ele, a porta única da salvação que almejamos. “A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz” (Jo 10,3). Só Jesus tem licença do Pai para nos dar acesso às serenas e verdejantes “pastagens” paradisíacas do Reino Celeste, porque quem entra por outro caminho é o ladrão, o salteador das ovelhas.

Por outro lado, conhecemos sua voz, suas palavras, sua promessa… A ovelha do rebanho protegido está em perfeita harmonia com o comando do seu pastor e segue  sua voz, suas orientações, desconhecendo assim o comando oportunista dos estranhos, aqueles que diuturnamente rondam o rebanho em busca das ovelhas incautas, distraídas, surdas às palavras do único e verdadeiro pastor. Nesta relação é que se estabelece o vínculo protetivo que a fé cristã promete aos que seguem as promessas de proteção e amor daquele que se diz o verdadeiro e único redentor da humanidade. Eis porque a Palavra de Deus deve ser o centro dos conhecimentos da vida cristã. Eis aqui a importância de se conhece-la e aprofundá-la como fonte primeira dos estudos que preenchem nossa sabedoria, nossa sede primeira de intelectualidade e ciências humanas. Não é a religiosidade que garante nossa integridade, mas é a constante relação com os mistérios que rondam nossa existência que nos revela a grata proteção e predileção de Deus por seu povo. Essa é uma experiência estritamente pessoal, uma certeza só concedida àqueles que vivem uma relação íntima, pessoal, tranquila e serena com o Mestre de nossas vidas, o Bom Pastor!

Tudo isso vem de uma relação clara e suscinta, uma prática de fé coerente, adulta, amadurecida na experiência íntima com o Cristo que vive em nós. Esse é o segredo, o nosso segredo de perseverança! Quem vive essa experiência entra pela porta certa, faz parte de uma relação de amor só possível de ser sentida e vivenciada na imersão dos mistérios que nos foram revelados. “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo: tanto entrará como sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9). Eis tudo! Essa certeza vale mais que qualquer outra ilusão humana, qualquer entorpecente ou droga, qualquer falsa promessa de segurança e libertação oferecida pelos ladrões e salteadores da nossa espiritualidade, da segurança advinda do rebanho cristão, das promessas de “vida em abundância” que só Cristo oferece ao mundo! Eis porque sou cristão. Eis porque torço para que todos os que amo e quero bem também o sejam, que você que foi capaz de me ler até aqui também o seja, também viva essa experiência de predileção e proteção divinas. Só quem conhece, ama! Só quem ama, vive! Quem não vive, vegeta!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

No contexto do mês de maio, vamos falar das mulheres…

Como a Bíblia trata as mulheres? É machismo, discriminação ou preconceito algumas passagens que podemos constatar na Bíblia?  Como entender o posicionamento de alguns escritores sagrados ao se referir às mulheres?

A complexidade das relações interpessoais vai configurando o lugar social de cada pessoa. Nesse sentido, o lugar social da mulher, em todas as sociedades, salvo ledo engano, parece estar submetido a uma cultura notadamente masculina.  Portanto, para entender a realidade social da mulher é preciso entender, antes, a cultura que lhe serve de substrato hoje ou no mundo bíblico.

No antigo Oriente Médio a mulher em geral não tinha os direitos de uma pessoa livre; era sempre sujeita ao homem, ao pai ou ao marido. Por conta de algumas poucas leis, ganharam força, ante a sua inferioridade jurídica, no que diz respeito aos negócios, ao matrimônio, à viuvez, à herança.

Na Grécia, a posição da mulher é, também, baixa.  Sua vida era rigorosamente limitada à casa e, sua responsabilidade era a procriação e educação dos filhos legítimos.  Como no Oriente Médio, a fidelidade conjugal não era obrigatória para o marido. Por isso, crendo-se que, sendo por natureza, de instinto ninfomaníaco, a mulher permaneceria fiel se atentamente vigiada.

A lei e o costume romanos davam ao pai um rigoroso poder sobre filhos e filhas, mas em Roma a posição da esposa e da mãe era mais elevada do que na Grécia e no Oriente, tanto na dignidade como nos direitos legais.  Entretanto, a liberdade, não pôs fim à licenciosidade sexual tanto do homem como da mulher.

O Antigo Testamento  faz uso do mesmo contexto do mundo antigo para se referir à mulher, pondo em relevo uma mentalidade hebraica, em termos de lei, até mais incisiva: a mulher é propriedade do homem (Gn 12,12-20; 19,8; 20,2; Jz 19,24-27).  Entretanto, em termos sociais, sua condição parece gozar maior conceito: as mães são incluídas no mandamento da honra aos pais (Ex 20,12;  Lv 19,3; Dt 5,16); podiam tomar parte nas celebrações festivas (Ex 15,20; Jz 11,34); tomavam parte nas festas religiosas (Dt 12,12; Jz 13,20.23).

Merecem destaque personalizado as mulheres citadas por sua coragem, inteligência, força ou devoção: Raab (Js 2); Micol (1Sm 19,11ss); Abigail (1Sm 25,14ss); Resfa (2Sm 21,7ss); a mulher de Sunam (2Rs 4,8ss); as figuras das mulheres dos patriarcas – Sara, Agar, Rebeca, Raquel e Lia  (como Jezabel, Dalila e Atalia, são mais complexas, mas é difícil afirmar que mulheres desta categoria representavam uma classe secundária); Débora, uma heroína hebraica e as mulheres do livro de Rute;  Judite e Ester.

A lei hebraica previa certa proteção especial à mulher: lei para a mulher prisioneira de guerra (Dt 21,10ss); para a mulher falsamente acusada de adultério (Dt 22,13ss); para a moça violentada (Dt 22,28ss). Deve-se admitir que estas leis são exceção, contudo, pode-se deduzir que a condição da mulher era mais garantida pelo costume do que pela lei.

A passagem mais significativa do AT, sobre a condição da mulher, é Gn 2: A mulher é “igual ao homem”, da sua espécie, “osso de seus ossos, carne de sua carne”, por isso o homem deixa seus pais para viver com ela.

O trabalho da mulher era muito duro; ela devia moer, fazer pão, buscar água e material combustível, fiar, tecer, costurar, cuidar dos filhos e da casa, arar, semear, colher, debulhar, respigar.

(Continua no próximo artigo)

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS