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Diocese de Assis

 

          Assim a Igreja apresenta mais uma de suas campanhas missionárias, desejando antes que esse caminho seja feito com corações ardentes. Sempre gostei da mística presente no simbolismo de uma caminhada, em especial com o lirismo dos pés descalços. “Corações ardentes, pés a caminho” é o lema da nova Campanha Missionária desse outubro ardente em sua temperatura máxima, mas que também precisa do ardor renovado das muitas vocações missionárias ainda inseguras no desafio evangelizador. Coincidentemente, temos no início desse mês um evangelho desafiador: “Filho, vai trabalhar hoje na vinha!” O convite aos dois filhos se repete hoje. A resposta é que são elas…

Vejam bem: ambos se contradizem! O primeiro diz que não vai. Mas vai. O segundo diz que vai. Mas não vai. E a pergunta final de Jesus se torna enigmática, mas também profundamente questionadora: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” (MT 21,31).

Estamos diante de uma situação que nos diz respeito, como Igreja que somos. No tempo de Jesus eram dois os grupos que constituíam o Povo de Israel. O primeiro era a classe vigente da casta religiosa, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo. O segundo era a ralé, prostitutas e cobradores de impostos, a classe mais abjeta, as ovelhas perdidas, como denominou Jesus. Já os governantes e elites sociais estavam fora da meta de salvação, pois não tomavam parte no aprisco das ovelhas, não constituíam a chamada “vinha” do Senhor. O objetivo primeiro na construção do Reino de Deus deveria ser o povo de Israel e os dois filhos representavam esse povo.

O que mudou? Não fosse a universalidade da missão cristã, que no holocausto da cruz agregou todos os povos e se tornou uma questão humana, humanitária, sem distinção de classes, ou raças, ou crenças, a vinha do Senhor é hoje seara sem divisas. Por isso o desafio cristão não tem limites, é universal. Por isso a Igreja conclama: “Ide da Igreja local aos confins do mundo”. Evangelizar não é um mero direito constitucional, que respeite fronteiras ou culturas, ou tradições místicas de um povo. É dever outorgado pela força da fé que move um coração ardente, renovado na descoberta de um novo Reino, a possibilidade de transformação do mundo, dos homens e mulheres tocados pela revelação cristã. Parece discurso dogmático ou proselitismo puro e simples, mas antes das pregações místicas que Jesus pronunciou na vizinhança do Calvário, a prática e o exemplo se deram com seus “pés a caminho” pela periferia da Terra Santa, da Samaria e das Galileias  que constituíram o cenário de sua escola evangelizadora. “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos procedem”… Creram por primeiro. Mateus e Madalena que o digam.

Então, quem faz a vontade do pai? Num primeiro momento, muitos dizem não ao desafio missionário que Jesus nos faz diuturnamente. Porém, agraciados pela revelação da verdade, acabam cedendo e se tornam evangelizadores ardorosos. Pior são aqueles que dizem sim a tudo e a todos, mas na última hora fogem de qualquer compromisso ou testemunho da fé que dizem possuir. Lembre-se do que nos disse o Mestre: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino de Deus”. Com qual dos filhos você se identifica?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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“Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Diariamente, todos juntos freqüentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação.”

Quando olhamos os Atos dos Apóstolos 2,42-47 encontramos o perfil do tipo de Igreja que é necessário ser edificada entre nós:

1). Perseverar na doutrina dos apóstolos – Comunidade de fé;

2). Unir-se para rezar e para celebrar a Eucaristia – Comunidade de oração;

3). Os cristãos devem viver unidos, em solidariedade – Comunidade de amor;

4). Dar testemunho; ser uma Igreja missionária – Comunidade de vida.

Visto desta maneira somos chamados a enxergar que a Igreja não é apenas uma instituição, mas um organismo vivo. Sendo a Igreja um organismo vivo, precisamos repensar a nossa relação com ela e refazer a nossa mentalidade. Vejamos!

  1. A Teologia de São Paulo sobre a Igreja.

Na Primeira Carta aos Coríntios 12,12-31, São Paulo compara a Igreja a um corpo. Diz que há muitos membros e uma cabeça. Cada membro tem sua função própria. Todos estamos unidos a Cristo, a cabeça, sem o qual o corpo não pode existir. Nós somos os membros. Temos funções diferentes. O Corpo de Cristo poderia funcionar melhor se todos os membros fossem membros conscientes e cumpridores de sua missão.

  1. A Teologia de São João sobre a Igreja.

No Evangelho de João 15,1-17, parecida com a imagem do corpo é a comparação da videira e os ramos. O ramo somente pode dar fruto quando fica ligado ao tronco que é Jesus Cristo. Isto quer dizer que somente quando ficamos unidos a Cristo, tendo a mesma mentalidade, podemos dar verdadeiros frutos.

  1. A Teologia do Vaticano II sobre a Igreja.

Uma comparação muito usada depois do Concílio Vaticano II é a do POVO EM MARCHA. Assim como o Povo de Israel caminhava para a Terra Prometida, assim o “Novo Povo de Deus está caminhando para a Terra Prometida”.

Nós não andamos sozinhos, mas juntos, como povo. Não podemos parar. Sempre enxergaremos novos panoramas, novas situações que nos pedem mudanças e adaptações. Estamos indo para um fim. Não marchamos sem destino. Nossa Terra Prometida é o Reino de Deus. Nós estamos construindo este Reino desde já, através da nossa atuação como cristãos no mundo. Este mundo deve ser melhor, deve ser um mundo de paz, de justiça, de amor. Devemos construí-lo sem descansar, unindo as forças, impregnando este mundo de valores evangélicos, de um espírito cristão.

  1. A Teologia de Mateus sobre a Igreja.

No Evangelho de Mateus 5,13-16, Cristo diz que sua Igreja é o sal da terra e a luz do mundo Os cristãos devem ser o sal da terra. Quando os cristãos viverem conforme o espírito de Cristo, o mundo será melhor, mais habitável, mais feliz. Os cristãos devem ser a luz para o mundo: indicar O caminho da felicidade e da verdadeira libertação, o caminho da justiça e do amor. Se a Igreja for verdadeiramente LUZ, como Cristo, nosso mundo sairá das trevas e saberá encontrar o caminho que leva à verdadeira paz.

Será que nós somos, de fato, sal e luz para nosso mundo, nosso ambiente, nossa família, nosso bairro, nossa paróquia?

Nós somos muitos, mas formamos um só corpo, que é o corpo do Senhor, a sua Igreja; pois todos nós participamos do mesmo pão da unidade, que é o corpo do Senhor, a comunhão.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Não há dúvida de que Deus é onisciente (tudo conhece), onipresente (está presente em todo lugar), onipotente (é todo ele poder) é, também, sabedoria infinita, misericórdia eterna, amor compassivo e justo juiz.

Apesar da verdade dessas palavras, não compreendemos inteiramente a Deus.  Aliás, suas ações, presença e projeto, por vezes, nos parecem estranhos, inconcebíveis e irrealizáveis. Mas é o próprio Deus quem faz o alerta pelo profeta Isaías: “Os meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos – oráculo de Javé. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos caminhos de vocês, e os meus projetos estão acima dos seus projetos” (Is 55,8-9).

Em Deus, todas as coisas, pessoas, fatos, acontecimentos, a história e a vida ganham sentidos e direções às avessas de nossas expectativas. Deus subverte, completamente, nossas certezas, seguranças, mentalidades e projetos: do nada ele faz o tudo; do débil ele faz o forte; do pequeno e ele faz o grande; do humilde ele faz o sábio; da morte ele faz a VIDA…

Que loucura de Deus é essa? Quem o poderá compreender? Quem lhe poderá resistir?

A grande loucura de Deus é a Loucura da Cruz!

“…a Escritura diz: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.’ Onde está o sábio? Onde está o homem culto? Onde está o argumentador deste mundo? Por acaso, Deus não tornou louca a sabedoria deste mundo? De fato, quando Deus mostrou a sua sabedoria, o mundo não reconheceu a Deus através da sabedoria. Por isso através da loucura que pregamos, Deus quis salvar os que acreditam.

Os judeus pedem sinais e os gregos procuram a sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas, para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus. A loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

Portanto, irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade. Mas, Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante. Desse modo, nenhuma criatura pode se orgulhar na presença de Deus.  Ora, é por iniciativa de Deus que vocês existem em Jesus Cristo, o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e libertação, a fim de que, como diz a Escritura: ‘Aquele que se gloria, que se glorie no Senhor’.” (1Cor 1,19-31).

A loucura de Deus é, portanto, irresistível e transformará em ‘loucos’ todos os que se aproximarem dele. Porque, embora a sabedoria do mundo pareça sábia, é a loucura de Deus que é a verdadeira Sabedoria.

Eis a oração de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado…” (Mt 11,25-27).

Que ninguém se iluda! Que ninguém se engane! A perfeição da sabedoria é a loucura de Deus que se concretiza nos maiores atos de amor, entre os quais, a Cruz é, sem dúvida, o primeiro e o último.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS

 




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Clássica é aquela pergunta que Pedro fez a Jesus: Quantas vezes devo perdoar? Sete? Ou seja: tomando-se o numeral sete como símbolo da plenitude infinita (são sete os dons do Espírito, sete os Sacramentos da Igreja, sete as principais dores da Cruz, sete os dias da semana, etc.) elevado ao potencial máximo da resposta enigmática que Jesus apresenta ao multiplicar por setenta (70 X 7), temos aí não uma simples questão matemática, mas um estrondoso e infinito desafio de perdão. Setenta vezes sete supera nossa capacidade de perdão, torna-se um desafio infinito. Não tem limites.

Esse desafio de Cristo vai além das nossas expectativas de perdoar e ser perdoado. Só mesmo no Reino dos Céus encontraremos tamanha misericórdia e capacidade de amor! Exatamente nessa circunstância é que nasce a parábola do Rei Misericordioso, capaz de perdoar “uma enorme fortuna” do empregado prestes a ser vendido como escravo para pagar sua dívida. O mesmo empregado que, agraciado com uma anistia sem igual, não foi capaz de perdoar um pobre companheiro que lhe devia “apenas cem moedas”. Eis-nos aqui, de mala e cuia, sem por nem tirar. Queremos nos ver livres de nossas grandes dívidas, mas não deixamos escapar um mísero centavo do pobre que eventualmente nos deve.  Esse é o padrão monetário que nos governa, a dinâmica mercantilista dum mundo excessivamente materialista. Quanto ganho com isso, quanto perco naquilo? Nossas atitudes estão intrinsicamente ligadas às vantagens que possamos obter a cada passo, a cada decisão ou conquista obtida. Não é o que ganho, mas o que perco que avaliamos com prioridade. Ao passo que na perspectiva do perdão verdadeiro, aquele do qual nos falou Jesus, quem perde em favor do irmão ganha mais do que merece, recebe a plenitude das graças do Reino dos Céus!

Mas ainda há aqueles que não conseguem visualizar essa lógica, bem presente na compreensão dos sete dons espirituais. Daí a importância do Batismo Pentecostal, a graça derramada nos sete simbólicos dons que devemos pedir sempre ao Pai, se quisermos sair da nossa ignorância (Eles não sabem o que fazem!). Daí também a importância de valorizarmos os sete sacramentos que a Igreja nos oferece em várias etapas da nossa vida, se quisermos assumir em vida as dimensões proféticas, sacerdotais e régias da fé cristã. Daí a necessidade de entender e aceitar como nossa as sete principais dores de Cristo na cruz. E assumir nossas tarefas cotidianas com a certeza de que também merecemos um descanso final: pois “no sétimo dia, Ele descansou”!  Quando isso se der em nossas vidas teremos a alegria de um final feliz. Ou a tristeza da condenação final. “É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco se cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (Mt 18, 35). Sem atitudes de perdão não há salvação.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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De todas as doutrinas e teorias religiosas que o mundo conhece, nenhuma é mais radical do que o cristianismo. Seu estandarte é o do sofrimento; sua bandeira, a cruz. Daí a razão da resistência de muitos em trilhar o caminho estreito que o homem de Nazaré apontou a seus seguidores. Daí, e com razões, a rejeição quase global dos grandes pensadores e iluminados espiritualistas de verem o cristianismo como uma seita de fanáticos sonhadores, cuja prédica é apaixonadamente cativante, mas cuja prática é contraditoriamente chocante com a realidade e os ideais de vida de qualquer humano mais sensato. Como conciliar uma pregação de paz e amor com a ultrajante humilhação da sentença de uma cruz? Ainda não existiu castigo mais cruel contra a dignidade humana do que a morte de cruz. Mas o Mestre da mansidão e paz de espírito vem a público e declara com todas as letras: “Quem quiser me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”.

Penso ser este o momento da grande demandada dos seguidores de Jesus. Quantos ali renunciaram, não a si, mas ao Cristo? Quantos, a partir daquele desafio inesperado, viraram seus calcanhares e sacudiram as poeiras de seus pés, buscando não mais o calor causticante das areias incertas de um deserto repleto de miragens, para retomarem os mármores e as muralhas de seus palácios, da civilização injusta que o reinado humano construía aos trancos e barrancos. Trocaram a Via Crucis pela Via Ápia. Melhor a certeza de um Reino de glória e poderes terrenos do que a incerteza de um reino do outro mundo, cujo preço cheirava a sangue e sacrifícios “em troca” de uma vida palpável, real, plausível. Cristo pedia muito.     Trocar as benesses de um status social, privilégios de um reino bem sucedido, uma hierarquia solidamente constituída, uma posição  de poder, o respeito adquirido ao custo de muita garra e determinação, não… não era o caso da grande maioria de seus ouvintes. Pior ainda para aqueles que bem entendiam o significado humilhante, degradante, abjeto de qualquer condenado ao castigo da cruz romana. Não, isso não!

Isso, sim! Esse é o caminho mais coerente e certeiro do seguimento cristão. O único! Jesus não deixou por menos, acusando até mesmo Pedro, seu fiel escudeiro, de estar possuído por Satanás por tentar dissuadi-lo dessa ideia de morte… e morte de cruz! “Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens”! – disse-lhe Jesus (Mt 16, 23). O anúncio da paixão era ainda um enigma na cabeça de seus seguidores. Não se encaixava no projeto de um Novo Reino, ideia central de sua pregação, que até então se tornara a principal motivação daqueles que seguiam seus passos. Ainda hoje, muitos se deixam guiar pelas aspirações de um Mundo Novo no aqui de uma realidade contraditória com os sonhos de justiça, paz, esperança, dignidade ou quaisquer outras expectativas que possam contribuir para a construção de um mundo mais humano. Neste sonho a cruz cotidiana está fora. No entanto, para surpresa geral, essa é a chave da redenção que almejamos. Cristianismo e cruz são sinônimos! Sem a realidade crucial dos sacrifícios, das renúncias, das mortificações, da morte em favor do outro… nunca entenderemos a riqueza dos ensinamentos cristãos! O radicalismo cristão não é mera utopia, mas certeza de um caminho a seguir.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Ouvimos falar, constantemente, sobre liturgia. Mas, o que é liturgia!?

A chave de compreensão da liturgia como lugar de encontro homem-Deus-homem é a MEMÓRIA. Não como simples lembrança de algo que já passou e não volta mais. Como algo vivo que continua nos movendo e dirigindo. Estamos falando de memória como ato de Re-cordar, Re-lembrar, Re-tomar, Re-ver, Re-viver, Re-atualizar, Re-fazer, Re-aver…

Memória, em liturgia, não se trata de um mero exercício mental; de uma capacidade intelectual.  Trata-se, outrossim, de uma reabilitação da experiência em termos vivenciais feita através de gestos, símbolos, palavras…  No âmbito da fé, até as coisas que parecem mais insignificantes ganham importância e sentido.

A liturgia é exatamente isso, a reatualização de uma experiência vivida, como se estivesse acontecendo exatamente naquele instante, comigo dentro.

A razão desta simultaneidade são as experiências fundantes da fé.

Passemos em revista as grandes experiências bíblicas que fundaram e refundaram a vida litúrgica das comunidades sendo, por sua própria força, um divisor de águas, marcando um antes e um depois da sua existência.

ÊXODO: Escravidão (força de trabalho)  ð Libertação ð Terra Prometida ð Seder Pascal (Ceia Pascal – memória)

O que chamamos de Êxodo é a libertação do povo de Deus que era escravo no Egito. Ligadas a isso estão a caminhada do povo pelo deserto, a festa da Páscoa, a celebração da Aliança com Deus, os Mandamentos recebidos no nome Sinal, a fuga do Egito e a experiência do deserto. Tudo isso está nos livros do Êxodo, Números, Deuteronômio, Levítico. Mas, a toda hora a Bíblia se refere a esses acontecimentos.

Até mesmo no Novo Testamento, o evangelista Mateus apresenta Jesus como um novo Moisés e a Páscoa dos cristãos, a culminância da libertação que era celebrada pelos judeus lembrando a saída do Egito.

EXÍLIO: Expropriação (Terra/Lei/Templo) ð Repatriação ð Reconstrução do Templo ð Circuncisão (pertença – memória ).

O Exílio foi a experiência dolorosa que o povo passou quando se viu expulso de sua terra, obrigado a sobreviver numa cultura diferente. O Êxodo e o Exílio são lembrados em muitos Salmos (Sl 137).  É o povo que reza cantando a história da interferência de Deus na sua vida. Profetas também falam disso e contam de novo os fatos. O mesmo faz o livro da Sabedoria (a respeito do Êxodo) e o livro das lamentações (a respeito da Exílio).

RESSURREIÇÃO: Anúncio (promessa) e Nascimento ð Missão ð Paixão-Morte-Ressurreição ð Eucaristia (páscoa – memória – 1Cor 11,17-26)

Durante muito tempo não havia nada escrito sobre Jesus, só havia a forte impressão deixada por ele nas pessoas que o conheceram. E essa impressão ganha novo sentido com a morte e ressurreição de Cristo.  Foi essa  experiência que provocou nas pessoas uma resposta diferente para a pergunta: Quem é esse Jesus de Nazaré? Por isso, a morte e ressurreição de Jesus são um tema que volta sempre nas cartas de Paulo e no Apocalipse.

NASCIMENTO DA IGREJA: Pentecostes ð Ensinamento dos Apóstolos/Comunhão Fraterna/Fração do Pão/Oração ð Comunidade (corpo místico – memória (At 2,42-47; 1Cor 12,4-31)

A Igreja que nasce em Pentecostes é que produz todos os livros do Novo Testamento, que só começaram a ser escritos muitos anos depois da morte de Jesus.  O que foi escrito é o que foi recordado e vivenciado com Jesus e a partir de Jesus

LITURGIA, a partir dessas considerações é: a reatualização da vida, compreendida dentro dos mistérios da fé – a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus – ritualizada através de gestos, símbolos, sinais, palavras e ações, para ser celebrada.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




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A canção infantil nos diz que ela bota ovo amarelinho. Uma pepita de ouro por dia! Envolta na mais pura clara, qual néctar dos deuses, sua gema brilha tanto quanto o ouro mais puro das minas de Salomão. Parece conto infantil, mas é pura realidade. Num mundo globalizado, onde tudo o que acontece no quintal alheio chega ao conhecimento de todos, até os ovos da pobre galinácea que cisca seus entulhos é capaz de nos despertar a cobiça. Porque os melhores ovos estão no quintal vizinho e não no nosso?

Vivemos tempos de ganância e cobiça extremas. Se o tênis do amigo tem uma estrela a mais, um milímetro de sofisticação e tecnologia lhe altera o valor, o meu tem que ser melhor. Se a grife que o outro usa é mercadologicamente melhor, hei de encontrar outra mais rara, mais cara. Se o perfume lhe marca a presença pela exclusividade do aroma, o meu há de ser tão ou mais personificado que anunciará minha presença antes mesmo de estar presente. Se o carro que me veste (sim, carro hoje é indumentária) não despertar maiores exclamações estará chegada a hora de substituí-lo por outro mais moderno. Nossos referenciais ultrapassaram a beleza da simplicidade que veste os corações mais puros. Já não sou eu quem vive, é o mundo que vive em mim. Ser e ter estão na essência da moda e do consumo que nos alimenta. Nada seremos sem o peso dessas medidas de sucesso.

Paradoxalmente, não é essa a essência da vida. Há mais riquezas onde a sofisticação escasseia. O excesso tecnológico dos dias atuais, muitas vezes, nos faz recordar com lirismo os dias passados. Quem nunca aspirou pela simplicidade. Pela objetividade da comunicação via correio – tinha até os “elegantes” que torpedeavam corações apaixonados – do simples botão dial de nossos velhos aparelhos eletrônicos, do velho coador de pano que simplesmente coava, sem apitos, sem desperdícios; do feijão sem inflação, do “amarelinho” da carijó, direto do produtor ao consumidor. Mas saudade não põe a mesa. Todavia, inveja ainda mata Abel.

Sinto claramente a intensificação desse crime fraticida. O excesso de conforto está matando o respeito ao que é do outro. A inveja tornou-se grande aliada da ambição pessoal. Até no campo sentimental, cobiça ao que não nos pertence torna-se um desafio que bem alimenta o orgulho pessoal, esse que só sabe desrespeitar vitórias e conquistas que não sejam próprias. Mata-se não só fisicamente, mas moral, espiritual e até sentimentalmente o outro, porque aquilo que desejamos só se conquista com a derrota, a usurpação, a eliminação do outro que trilha um mesmo caminho nosso. A competitividade toma conta. A esportividade já não é esporte, mas guerra! Nesse jogo, que vença o melhor, que brilhe o mais esperto, que o pódio seja do mais poderoso, aquele que é forte porque pode, mas por dentro é tão fraco quanto banana podre, vazio como ovo choco, gorado. Belo por fora, fétido por dentro!

Em tempos de competições, que se reavaliem nossos jogos de vida. Ou de morte. As conquistas do vizinho são dele. As nossas talvez lhes despertem admirações tanto quanto admiramos e aplaudimos as dele. Essa reciprocidade é a alegria que nos falta numa sociedade estritamente materialista e consumista. Não se deixe instrumentalizar pela ambição sem medidas. Somos mais que meros competidores. Somos iguais, mas distintamente diferentes nos sonhos, na ambição, no instinto de reconhecer nossos méritos e respeitar os méritos do outro. “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!” (Rom 11,33).  

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Num tempo de tantos mestres e doutores, qual o verdadeiro mestre? Que mestre devemos seguir? Com saber se estamos sendo formados ou deformados? Como evitar a enganação e os oportunismos? Como escapar do conhecimento que é fanatismo e obsessão? Como superar a “mesmice” e o indiferentismo?

Um só Mestre! É preciso dizer sem demora que Jesus é o único, o verdadeiro e o insubstituível Mestre. É ele mesmo quem diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai, senão por mim!” (Jo 14, 6). Ele é o mestre da vida que dá a própria vida pela nossa. Por isso, “quanto a vocês, nunca se deixem chamar de mestres, pois um só é o Mestre de vocês e, todos vocês são irmãos” (Mt 23,8).

Prudentes e sem malícia. As nossas inquietações são justas, mas, as vezes, as respostas que procuramos e esperamos são verdadeiras armadilhas. Ao invés de um caminho e de uma direção, vivemos encurralados, num beco sem saídas. O medo de voltar atrás, de recomeçar, de perder, de correr riscos, de confrontos e frustrações, nos empurram ao conformismo destruidor, fazendo-nos acomodar à solução mais fácil: ficar aqui mesmo para não sofrer mais. A este respeito o Evangelho é bem claro: “Tomem cuidado com o fermento dos fariseus que é a hipocrisia” (Lc 12,1).  E acrescenta: “Sejam prudentes como as serpentes, mas sem malícia como as pombas” (Mt 10,16).

Sem discernimento não se vai longe. A falta de discernimento daquilo que é bom e verdadeiro, nos coloca diante de situações de risco, e, a nossa vida vai perdendo o seu sentido. De tal sorte que, o nosso conhecimento servirá, mais como corda ao nosso pescoço do que como sandálias aos nossos pés. “Vai chegar o tempo em que não se suportará mais a doutrina; pelo contrário, com a comichão de ouvir alguma coisa, os homens se rodearão de mestres ao seu bel-prazer. Desviarão seus ouvidos da verdade e os orientarão para as fábulas” (2Tm 4,3-4).

Síndrome de onipotência.

Ninguém é perfeito e detentor de toda a verdade. Ninguém atingiu o grau definitivo de mudança e conversão. Todos nós estamos a caminho. O fato de termos uma experiência a mais ou de termos atingido um grau maior de conhecimento, de descoberta e de mudança, não significa que estamos em melhor posição do que os outros. Todos nós estamos em processo e a caminho. Se não houver humildade não haverá mudança. Se não houver confiança, não haverá entrega. Se não mudança, não haverá conversão. Os que não se permitem à obra de Deus não veem a salvação que vem de Deus porque vivem da própria onipotência como síndrome. Abaixo os autossuficientes e os orgulhosos!

Tagarelas e Papagaios. Diz o ditado que: “peixe morre pela boca”. Neste sentido, nossa falta de critério quando falamos, afirmamos ou proclamamos algo, nos coloca diante de complicações. Nem tudo o que ouvimos devemos reproduzir como verdade. O apego a algumas “verdades” que ouvimos ou aprendemos em certa ocasião, demonstra muito mais a fraqueza do que a força das pessoas. Se ficamos agarrados às palavras, mesmo as mais sábias, sem a força do exemplo é porque não sabemos o que fazer com a vida. Nesse sentido, alguns se destacam como bons tagarelas e papagaios.

Finalidade do Conhecimento. A finalidade objetiva do conhecimento é “o amor, que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sem hipocrisia. Alguns já se desviaram desta linha e se perderam num palavreado inútil; pretendem se passar por doutores da lei, mas não sabem nem o que dizem e nem o que afirmam tão fortemente” (1Tm 1,5-7).

Atitude: vigilância! Liberdade em Cristo: “Cuidado para que ninguém escravize vocês através de filosofias enganosas e vãs, de acordo com tradições humanas, que se baseiam nos elementos do mundo e não em Cristo” (Cl 2,8). Fé imbatível: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns renegarão a fé, para dar atenção a espíritos sedutores e doutrinas demoníacas” (1Tm 4,1). Esperança do céu: “Rejeite, porém, as fábulas ímpias, coisas de pessoas caducas. Exercite-se na piedade (…) a piedade é proveitosa para tudo, pois contém a promessa da vida presente e futura” (1Tm 4,7-8).

Se é para seguir como discípulo, que não seja atrás de ‘qualquer mestre’!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

É isso mesmo. Por mais estranho que o título lhe pareça, essa é a situação de muitos cristãos no mundo. Estão órfãos! E, o pior, por opção pessoal. Abandonaram a mãe que têm. Digo mais: cristão sem Maria não pode se dizer cristão, membro da família de Cristo. Portanto, não existe. Pronto: disse tudo o que estava entalado, que oprimia meu coração mariano. E, do outro lado, posso ouvir nitidamente: lá vem outro católico defender Maria. Que o digam, pois é isso mesmo!

Então, se você se arrisca em continuar nessa leitura, nada mais oportuno do que seguir uma narrativa bíblica. Está lá, em Lucas (1,39-56) e nos relata a visita de Maria a Isabel. Ocorre que a prima dileta de Maria estava grávida, já no sexto mês, apesar da idade avançada. Maria, menina ainda (alguns dizem ter ela mais ou menos 15, 16 anos), quase que num ato de confirmação do milagre que o anjo lhe anunciara, subiu às pressas as montanhas e seus olhos puderam ver o que seu coração já dizia: para Deus nada é impossível. De fato, o menino no ventre de Isabel pulou de alegria ao sentir a presença do primo que chegava. De fato, as palavras de alegria que selaram aquele encontro não poderiam ser outras: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Mil vezes bendita, mil vezes bendito! A mãe do Senhor se dignou visitar a mãe do precursor, aquele que iria preparar os caminhos de um novo tempo, que iria realizar as promessas anunciadas pelo anjo e confirmadas também no ventre da idosa Isabel.

Então, a alegria transbordante de Maria não mais tem palavras que exprimam sua intensidade, sua gratidão pela confirmação do milagre. Maria, extasiada, não fala por si. Ao contrário, prostra-se diante da grandiosidade divina, e reza. Profere palavras bíblicas que bem conhece e que seu coração faz transbordar naquele instante. O magnificat espelha a magnificência de Deus e a magnitude do milagre que se opera em seu ventre: “Minha alma glorifica o Senhor”. Explode seu coração. Aos borbotões, Maria despeja vários Salmos que a alegria daquele momento tenta descrever com fidelidade. Até trechos do profeta Isaias são lembrados naquela oração porque seu Deus “olhou para a humildade de sua serva”, aquela que, desde então, seria proclamada “bem-aventurada por todas as gerações”, porque “sua misericórdia se estende sobre os que o temem”. Bendita mulher através da qual  Deus manifestou “o poder de seu braço, derrubou dos tronos os poderosos, exaltou os humildes, saciou os indigentes e despediu os ricos de mãos vazias”. Bendita mulher a quem muitos hoje podem repetir a saudação da própria Isabel: “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?”

Se Maria não teve palavras para justificar ou mesmo explicar o tamanho do milagre que se operou em seu ventre, quem somos nós para não valorizar essa maternidade em nossas crenças? Se o próprio Cristo seguiu seus conselhos, cresceu “em graça e sabedoria” diante dela, pediu-lhe a bênção filial, beijou suas mãos com reverência, obedeceu às suas ordens, seremos melhores que Ele? Quão doce para Maria era ouvir Jesus a lhe chamar: “Mãe!” E a nos dizer, um dia, através de João a nos representar diante da cruz: “Eis aí a tua Mãe!”

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

A cena é quase surreal, mas também cômica. Alta madrugada. Escuridão total. Cansados de lutarem contra ondas agitadas e vento impetuoso, faziam a travessia contrariados, mas determinados a alcançar a outra margem, conforme ordens recebidas. De repente, o horizonte riscado por um relâmpago se torna tenebroso e ameaçador. Raios triscam sobre suas cabeças e o vento sopra cada vez mais forte. Está difícil controlar a embarcação e o medo toma conta dos indefesos tripulantes. Eis que, entre um relâmpago e outro, surge no horizonte a silhueta de um homem… um homem caminhando tranquilamente sobre as ondas, seguindo em direção a eles.

– “É um fantasma!” , gritam quase em uníssono.

Mas o “fantasma” continua sua caminhada sobre as águas. Vem até eles a passos firmes, enquanto a tripulação em polvorosa solta gritos de terror.

– “Tranquilizai-vos, sou eu, não tenhais medo!”

O “fantasma” se dá a conhecer. Jesus não só acalma seus temerosos discípulos, como também desafia um deles.

– “Vem!”.

Tinha que ser Pedro, o impulsivo Pedro! Dá seus primeiros passos sobre as ondas, mas logo cai na realidade e afunda como pedra, a pedra que sempre foi. Certamente, a gargalhada foi geral. Não só pelo alívio de se sentirem são e salvos ao lado de Jesus, como também por se verem e se sentirem ridicularizados diante da observação e advertência do Mestre: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” Não só Pedro, mas todos ali se deixaram ruborizar diante dessa afirmativa.

Nesse barco estamos nós, todos nós. Basta um pequeno solavanco ou um sinal mal interpretado que nos interpele nas noites escuras, para demonstrarmos nossa fé sem raízes, nossa fragilidade limitada pela lógica terrena, para ressuscitarmos os fantasmas adormecidos em nossa racionalidade humana e insegura. Quantos fantasmas rondam nossa fé, atormentam nossos corações, põem à pique nossa integridade espiritual? Tal qual crianças insones com medo da escuridão, que se aterrorizam com a própria sombra ou a canção de uma brisa amena em suas janelas, o sussurrar suave de uma pobre coruja sobre seu telhado… Qualquer sinal, mal definido numa madrugada da vida, é tudo, menos Jesus que vem ao nosso encontro. Essa é nossa fé pequena, agindo em nosso inconsciente. Enquanto isso, a outra margem nos acena com a segurança de uma vida renovada, livre das ameaças de uma travessia difícil e ameaçadora à integridade que sonhamos. Essa é nossa travessia; esse é o barco que nos abriga, conquanto quem nos incentiva a alcançar o outro lado, a margem oposta, apenas nos diz: “Vêm, não tenham medo!”.        

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]