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Diocese de Assis

 

A aventura da vida nos leva, muitas vezes, a menosprezar perigos e desdenhar valores que Deus depositou em nós. Conduzimos nossas existências com a adrenalina em constante alta, como se aqui estivéssemos tão somente para mostrar nossa coragem e desafiar nossos limites. Fazemos de nossas vidas uma eterna competição com os semelhantes e uma constante queda de braços com os desafios que a natureza nos coloca. De repente nos surpreendemos com perguntas sem respostas. O que aqueles cinco aventureiros foram bisbilhotar no fundo do oceano, ao lado dos destroços do maior desastre náutico que nossa história já testemunhou? Não é o Titanic, o até então maior navio do mundo, cuja tripulação ironizou o poder divino (Nem Deus afunda esse navio!), símbolo inconteste da prepotência humana? Desafiar o perigo é pôr à prova o ilusório poder humano em confronto com as leis divinas. Nenhum passarinho “cai por terra sem a vontade do nosso Pai”, está escrito. E registrado: “Bem mais que os pássaros valeis vós” (Mt 10,31).

Nesta questão de valores inventamos uma bolsa, uma maneira de pesar e medir os recursos que temos, sem, no entanto, considerar o lastro da vontade de Deus. Essa, sim, impõe limites, traça regras, freia a audácia humana de se achar senhor e diretor da vida e dos desafios que ela nos apresenta. Quem é capaz de recriar uma existência diante da fatalidade da morte? Quem, senão o Criador, conhece a capsula que nos envolve neste mundo e nos fornece condições para bem explorar a profundidade e os limites do espaço que aqui ocupamos? O bom senso e o instinto de sobrevivência falam mais alto do que nossos ideais de conquistas e aventuras desafiadoras. É preciso redimensionar nossos sonhos e projetos de grandeza, se quisermos manter nossos pés no chão da realidade que nos cerca. O episódio acima é apenas um pequeno exemplo daquilo que a humanidade está atraindo para si quando longe do bom senso e da cautela que a fé e esperança em Deus nos ensina a valorizar.  A vida tem limites. Só a fé é capaz de superá-los. Mas essa exige o lastro do testemunho diante dos homens: acreditar; nunca desafiar!

Não é o que constatamos em muitas das circunstâncias que envolvem nossas vidas. A pessoa de fé sabe das capacidades infinitas que tem para vencer desafios, superar os eventuais problemas, buscar soluções positivas baseadas na proteção “dos céus”, nunca na contemplação inerte dos “desastres” que cercam nossa história e nossa prepotência tipicamente humana. A pessoa de fé acredita na proteção divina, mas nem por isso irá desafiar os limites da lógica e do bom senso. Muito menos desafiar Deus. Não é uma questão de poderes ou imposição de limites para a capacidade sempre desafiadora que temos ao explorar nosso mundo, nosso universo. Deus não impede essa qualidade operante das ações humanas. Exatamente nela é que reside o progresso, o crescimento, o aprimoramento da nossa evolução. O que não podemos é negar a força criativa que nos trouxe até aqui e nos mostra sempre o caminho do respeito e da coerência que só a fé é capaz de respeitar. Quem nega isso, rejeita Deus e sua proteção.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Praticar a fé não é, apenas, cumprir ritos, observar preceitos, obedecer normas, conhecer as regras, saber as doutrinas, memorizar a Bíblia, manter em dia as devoções, ir ao templo… Tudo isso ajuda mas, o princípio da fé é o amor a Deus e ao próximo que se desdobra em várias atitudes, comportamentos, ações e serviços coerentes com o amor. Se somos fortes no amor, somos fortes em tudo; se somos fracos no amor somos fracos em tudo porque, o amor não só dá força… o amor é força. Nesse sentido, nas fontes do amor, estão firmados o começo e o fim de todas as coisas. Já dizia Santo Agostinho: “Ama e faze o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa, senão o amor, serão os teus frutos”.

O amor não será, apenas, sentimento mesmo que seja, essa, uma de suas mais fortes expressões. O amor não será, apenas, emoção… não será, apenas, desejo… não será, apenas, afeto… não será, apenas, vontade… o amor será muito mais. O amor será tudo. E, somente por isso, será suficiente, necessário e forte. O amor será a fonte. O amor será a origem e o fim. O amor será Deus. Diz-nos, a Palavra de Deus: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele. E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. Amados, se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus está conosco, e o seu amor se realiza completamente entre nós. Nisto reconhecemos que permanecemos com Deus, e ele conosco: ele nos deu o seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. E nós reconhecemos o amor que Deus tem por nós e acreditamos nesse amor. Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1João 4,7-16).

A grande Boa Nova do amor é que, em Jesus, no altar, ele se tornou alimento. O amor se tornou alimento para nutrir tanto o corpo, quanto a alma. Sem amor, corremos o risco de desfalecer, tombar, enfraquecer, adoecer e morrer. Sem amor não existimos… não podemos nada… não somos nada.

O amor será tudo em nós porque, como alimento diário, nos manterá sadios de corpo e de alma:  em forma, em equilíbrio, em harmonia, em totalidade… em Deus. O Amor, que nos alimenta, também, nos transformará em alimento, isto é, em testemunhas. E, esta será a nossa verdade, nossa esperança, nossa força, nossa fé, nossa razão de ser. Seremos o amor!

Santa Teresinha do Menino Jesus assim entende a sua vocação: Serei o Amor! Em meu Amor pela Igreja e ardor missionário eu quisera ser Apóstolo, Profeta e Mártir, também Sacerdote, tudo escolher! No Corpo do Senhor, porém, os membros nunca são iguais: do todo procurando o bem, nenhum é mais. Corpo do Senhor, a Igreja, deve ter um Coração: pra que Santa ela seja, eis o Amor – minha Vocação! Dom melhor, o mais perfeito, tudo abrange, tudo alcança… Pulsa o Coração da Igreja em meu peito: Serei o Amor! Quisera percorrer a Terra e anunciar o Cristo a todos os Irmãos; plantar a Cruz em todo canto, dar a minha Vida pela Salvação. Mas a resposta eu encontrei a este apaixonado Amor: é a Caridade – eis a lei, o Dom Maior! O Amor alcança todo tempo, está em toda parte, é eterno o Amor! E toda Vocação abrange, nada se sustenta sem o Dom maior. Eu sei, enfim, minha Missão, na Mãe Igreja, o meu lugar: ser tudo, ser seu Coração, somente amar!”

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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            A sabedoria oriental possui muitas pérolas. E preciosas pedras. Uma pequena pedra é fonte de belas lições filosóficas. Basta observá-las com os olhos do coração.

Conheci um jovem cujo passatempo preferido era colecionar pedras. Tinha-as das mais variadas formas, matizes e consistência. Algumas preciosas, mas a maioria não. Contudo, aos seus olhos, todas possuíam uma preciosidade mística, uma história, uma procedência. Ao longo dos anos, constituíram sua própria razão de viver, cada qual encerrando um mistério, um ato de conquista, uma lenda pessoal.

Aquele estranho hobby encerrava quase um ideal de vida: colecionar, catalogar, juntar as pedras de seu caminho. Não compreendia aquela obstinação e aparente perda de tempo desse meu amigo. Mas filosofei: o que fazemos neste mundo é nada mais, nada menos um contínuo ato de juntar pedras, catar os cacos do caminho que trilhamos. Afinal, o que o homem foi buscar na Lua senão um punhado de pedras para satisfazer seu próprio ego? E agora, uma de suas engenhocas não vasculha o solo de Marte para catalogar suas pedras?

Parece-nos que a Idade das Pedras não tem fim. Mas, segundo nossa vã sabedoria, que por anos buscou os mistérios e benefícios da pedra filosofal – e nunca a encontrou de fato – existiu na Índia um jovem ansioso por encontrar uma pedra que transformasse tudo em ouro. Saiu por aí. Catava todas as pedras que encontrava. Batia-as na fivela de seu cinto, na esperança de vê-lo reluzir, fazer-se ouro puro. Assim passou a vida. Já velho e cansado, procurou a sombra de frondosa árvore. Sua busca só lhe proporcionara decepções. Melhor descansar, desistir do sonho, cair na real. Foi quando, olhando para a fivela do cinto, percebeu o inconfundível brilho aurífero, que quase lhe cegava a vista. Sim, era ouro, ouro puro! Havia encontrado a pedra mágica. Mas quando, onde, em que circunstancias? Sua obstinação pelo bem que sempre perseguiu e seus quase mecânicos gestos para atingir seu ideal, fizeram-no descuidar-se por um momento. Cochilou. Tivera em mãos a oportunidade de mudar sua vida e não percebera.

Esse é um dos mistérios do ideal que buscamos em vida. Às vezes gastamos toda nossa existência nesta busca. Às vezes o temos ao alcance, mas passamos despercebidos por ele. Ou o atiramos pelo caminho, sem nos dar conta de sua preciosidade, do milagre que ele pode operar – ou já operou – em nossas vidas. Lançamos fora nosso ideal.

De uma forma ou de outra, agimos como os jovens dessa história. Colecionamos pedras em nossa existência. Tropeçamos nelas. Buscamos uma que nos seja preciosa, senão a filosofal – aquela que norteia nossas vidas – ao menos a pepita miraculosa que realiza nossos sonhos, nossas ambições. Mas as escrituras nos advertem: “Não te embrenhes num caminho de perdição e não tropeces nas pedras. Não te metas num caminho escabroso, para não pores diante de ti uma pedra de tropeço” (Ecle 32,25).

A mensagem da fé cristã também busca o caminho das pedras. Jesus se dizia a pedra angular, aquela que os construtores rejeitaram. Os que conhecem a história da arquitetura greco-romana sabem avaliar o peso dessa afirmativa. Suas construções desconheciam os milagres do concreto armado e tinham como estruturas principais seus belos e portentosos arcos de pedra. Toda sustentação desses arcos só era possível se houvesse uma pedra angular, resistente e bem moldada. Uma cunha, que suportava e travava todo peso de qualquer edificação. Jesus se dizia tal pedra.

Mas não parou por aí. Sobre outra pedra fundou sua Igreja. E nos colocou no seu átrio. Introduziu-nos neste mistério como rochas miraculosas, capazes de oferecer ao mundo, não riquezas, nem a mágica de transformar tudo em vil metal, mas em água-viva, fonte prodigiosa donde nasce a vida eterna. Rochedo donde brota água para o coração sedento do mundo, eis o que devemos buscar como ideal de fé.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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Nós temos boca é para falar! Como é bom falar! Mas, precisamos saber controlar o poder da língua. A língua é capaz de tudo: construir e destruir, bendizer e amaldiçoar, elogiar e criticar, fazer e desfazer, crescer e minguar…

A Sagrada Escritura, nas suas primeiras páginas, constata que Babel, a confusão das línguas é uma estrutura perniciosa da auto-suficiência humana que deturpa valores e relações (cf. Gn 11,1-9).

A língua é sempre muito controversa porque, “salta”, com a maior rapidez e facilidade, do louvor a Deus à injustiça brutal.

São muitas as vozes que clamam em nós, mas, nem sempre deixamos ecoar o som que reverbera as nossas verdades mais profundas. Reverberamos sim: piadas, anedotas, indecências, escárnios.  Por que não falamos mais coisas que edificam? “Que nenhuma palavra inconveniente saia da boca de vocês; ao contrário, se for necessário, digam boa palavra, que seja capaz de edificar e fazer o bem aos que ouvem” (Efésios 4,29).

“Todo mundo logra o seu próximo, e ninguém fala a verdade; treinam a língua para falar mentiras, e praticam a injustiça até se cansar. A língua deles é uma flecha envenenada: tudo o que falam é pura tapeação. Cada um fala de paz com o próximo, mas, no íntimo, está preparando armadilhas” (Jr 9,4.7).

“As vezes, a pessoa escorrega sem querer. Quem nunca pecou com a língua?” (Eclo 19,16). “Os políticos emudeciam, e a língua deles ficava colada ao céu da boca” (Jó 29,10).

“Há quem use a língua como espada, mas a língua dos sábios produz cura. A língua sincera permanece para sempre, mas a língua mentirosa dura apenas um instante” (Pr 12,18.19). “Quem vigia a própria boca conserva a vida; quem solta a língua caminha para a ruína” (Pr 13,3).

“Morte e vida dependem da língua; quem sabe usá-la, comerá do seu fruto” (Pr 18,21). “Quem guarda a boca e a língua evitará muitos apertos” (Pr 21,23). “Os imbecis têm a mente na língua; os sábios têm a língua na mente” (Eclo 21,26). “A chicotada deixa marca, mas o golpe da língua quebra os ossos. Muitos já caíram pelo fio da espada, mas não foram tantos como as vítimas da língua” (Eclo 28,17.18).

Diante destas questões todas: que crédito podemos dar à palavra de alguns jornais e jornalistas que, inescrupulosamente, forjam notícias?  Que crédito podemos dar à palavra de alguns políticos que, vergonhosamente, mentem e corrompem? Que crédito podemos dar à palavra de certos pregadores da Palavra de Deus que, mercenariamente, agem por dinheiro? Que crédito podemos dar à palavra dos agiotas que, oportunistamente, oferecem a mão para depois arrancar os corações? A quem dar crédito? Que crédito merecem aqueles que fabricam, usam e disseminam as infames fake news e outros estragos?

“Quem irá colocar um guarda na minha boca e um selo de prudência nos meus lábios, para eu não cair por culpa deles e a minha língua não me arruinar?” (Eclo 22,27). “Os meus lábios não dirão falsidades e a minha língua não pronunciará mentiras” (Jó 27,4). “Porque a sabedoria abriu a boca dos mudos e soltou a língua dos pequeninos” (Sb 10,21). “Como recompensa, o senhor me deu língua e, com ela, eu o louvarei” (Eclo 51,22).

Esconder a palavra para não dar ocasião à língua, não será, nunca, uma solução ou um caminho porque, ninguém vive sem a palavra. O que, naturalmente podemos e devemos fazer é cultivar a espiritualidade do silêncio que nos enche de sabedoria, além de nos preparar para a palavra certa, na hora certa.

Que Deus nos dê o dom do Silêncio!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Definir o amor tornou-se o maior desafio daqueles que procuram exaltá-lo ou justifica-lo. As loas, versos e canções que tangem nossos ouvidos, dia e noite, o definem grotescamente, não como um sentimento puro e profundamente belo, mas com a grosseria e voluptuosidade de um ato, um momento, uma ilusão. Esse é o amor humano, a grande atração não mais sentimental, mas sensorial, que faz das relações humanas um magnetismo simplista e circunstancial; não mais uma afeição profunda e estável como deveria ser. Perdemos o sentido mais intrínseco de nós mesmos, o amor que nos nutre e gera a vida, a vida em sua plenitude. Onde erramos?

É preciso retroceder na origem dos tempos, dos fatos, da nossa própria razão de ser. É preciso reencontrar aquilo que somos, que justifica nossa razão, nosso existir nessa história.  “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’… Deus contemplou a sua obra, e viu que tudo era muito bom”. Era muito bom. Muito! Não há aqui meio termo. A visão do Criador era a de uma obra perfeita, muito boa, em especial aquela com a qual se identificou à primeira vista: a criatura humana, sua imagem e semelhança! E Deus se apaixonou por ela, sua criatura mais que perfeita!  Tanto que, para redimi-la da infidelidade praticada, lhe dá uma segunda chance e oferece parte de si mesmo em holocausto de dor e redenção. Cristo foi a maior prova de amor que Deus nos deu nessa história. Mesmo assim, continuamos negligenciando e deturpando esse Amor.

Não ouvimos o apelo do profeta: “Quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos” (Os 6,6). Continuamos surdos ao apelo de Jesus no deserto de nossas praias, no comodismo de nossas ações contrárias ao amor puro, ao respeito do que é justo, à construção de mais dignidade pessoal e coletiva, à sensatez de uma vida coerente com as bênçãos da criação divina: “Crescei e multiplicai-vos!” Onde está esse crescimento, essa multiplicação de dons, de vida plena? Onde nossa resposta aos apelos de Deus: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores”. Ou será que banimos de nossa história o conceito de pecado, de fraqueza, dos limites que julgamos impostos de cima e por isso os renegamos? Não mais aceitamos ordens, nem disciplina, nem regras? Mandamentos? Nem pensar…

Quem ousou definir Deus como Amor, o Amor maiúsculo? Exatamente o discípulo mais jovem, “aquele que o Senhor amava”. Aquele do qual hoje a mente poluída e deturpada de alguns avançados “teóricos” justifica a homo afetividade, a permissividade, a libertinagem em excesso. Deus é Amor e o Amor é Deus. Sem manchas, sem desvios, sem deturpações! “Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo”. Aqui não há espaço para qualquer outra prática que não seja a do respeito mútuo, da pureza de sentimentos, da fidelidade “até o fim”, a morte propriamente dita. Aqui a reciprocidade é maior do que nossa desolação e eventuais desencantos, nossas provações e tentações mundanas. “Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor” (Jo 15,9). Esse amor ainda está no ar. E hoje Ele nos chama: “Vem e segue-me”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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          De todos os segredos e mistérios que cercam a existência humana nenhum é maior e mais inexplicável do que a Trindade e a Unidade de um Deus. Este que dizemos ser Uno e Trino, Criador e Redentor, Pai, Filho e Espirito Santo, um ser em três pessoas. Qual seu segredo, origem, mistério? Tentar explicar ou entender com nossa limitada sabedoria tamanho mistério e tão inefável segredo é próprio do animal humano que sequer sua existência é capaz de entender ou explicar. Então nos sobra a mais óbvia e inspirada definição, vinda da boca de um santo, não um qualquer, mas João, aquele que Jesus amava: Deus é Amor.. e ponto!

Desde então, foram muitos os santos que se debruçaram sobre esse mistério, tentando, à luz das ciências e compreensões humanas, por um basta sobre o assunto. Dentre eles, o que mais ocupou seu tempo com teorias, teses e palavreado infindável foi Santo Agostinho, venerando doutor da Igreja. Além de suas Confissões, uma obra onde expos toda sua fragilidade e pequenez humana diante de Deus, escreveu também Trindade, uma obra volumosa, ótimo “tijolo” para se calçar uma porta aberta. Brincadeira minha. Ironias à parte, foi exatamente ao final dessa obra que Agostinho melhor se aproximou de uma explicação mais sensata.

Dizia o doutor da Igreja, teólogo e um dos maiores pensadores da era cristã, ser necessário crer para compreender, mas igualmente compreender para crer. Assim, textualmente, um dia afirmou: “É pela razão que podemos obter a certeza de que Deus existe e é uma natureza eterna e imutável”. Aqui fé e razão entram em pauta nas discussões humanas.  Mesmo assim, como explicar a Trindade? Eis seu maior dilema, um assunto que, literalmente, iria morrer na praia… isso mesmo! Estando o grande pensador em uma praia deserta, onde sempre buscava introspecção e intimidade com Deus, eis que um menino lhe tirou a atenção com um passatempo bem típico de qualquer criança. Indo e vindo sem cessar, do mar para a areia e da areia para o mar, o menino enchia um recipiente com a água do mar e a depositava cuidadosamente num buraco feito à mão na imensidão daquela praia. Intrigado com a cena, Agostinho interrogou a criança:

– Que fazes menino?

– Estou mudando o mar para esse buraco…

– Não vês ser isso impossível?

Então, com um olhar angelical, mais para piedoso do que para inocente, o menino se revelou um enviado celestial para lhe dar a resposta que buscava e que concluiria seu volumoso estudo sobre as verdades divinas

– Isso é fácil. Impossível mesmo é compreender e explicar o mistério da Santíssima Trindade.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Não há dúvida de que Deus é onisciente (tudo conhece), onipresente (está presente em todo lugar), onipotente (é todo ele poder) é, também, sabedoria infinita, misericórdia eterna, amor compassivo e justo juiz.

Apesar da verdade dessas palavras, não compreendemos inteiramente a Deus. Aliás, suas ações, presença e projeto, por vezes, nos parecem estranhos, inconcebíveis e irrealizáveis. Mas, é o próprio Deus quem faz o alerta pelo profeta Isaías: “Os meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos – oráculo de Javé. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos caminhos de vocês, e os meus projetos estão acima dos seus projetos” (Is 55,8-9).

Em Deus, todas as coisas, pessoas, fatos, acontecimentos, a história e a vida ganham sentidos e direções às avessas de nossas expectativas. Deus subverte, completamente, nossas certezas, seguranças, mentalidades e projetos: do nada ele faz o tudo; do débil ele faz o forte; do pequeno e ele faz o grande; do humilde ele faz o sábio; da morte ele faz a VIDA…

Que loucura é essa de Deus? Quem o poderá compreender? Quem poderá resistir?

“… a Escritura diz: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.’ Onde está o sábio? Onde está o homem culto? Onde está o argumentador deste mundo? Por acaso, Deus não tornou louca a sabedoria deste mundo? De fato, quando Deus mostrou a sua sabedoria, o mundo não reconheceu a Deus através da sabedoria. Por isso através da loucura que pregamos, Deus quis salvar os que acreditam.

Os judeus pedem sinais e os gregos procuram a sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas, para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus. A loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”.

Portanto, irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade. Mas, Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante. Desse modo, nenhuma criatura pode se orgulhar na presença de Deus.  Ora, é por iniciativa de Deus que vocês existem em Jesus Cristo, o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e libertação, a fim de que, como diz a Escritura: “Aquele que se gloria, que se glorie no Senhor” (1Cor 1,19-31).

Eis a oração de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado…” (Mt 11,25-27).

Que ninguém se iluda! Que ninguém se engane! A perfeição da sabedoria é a loucura de Deus!

Essa loucura não cabe na lógica humana, não cabe nos pensamentos humanos, não cabe nas medidas humanas, não cabe nos desejos humanos, não cabe nos planos humanos até que, tudo, em cada um de nós, humanos, seja resgatado e iluminado pelo divino que Deus soprou, desde a criação.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




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Para muitos leitores, nos dias atuais, o sinônimo para pentecostes é algo desconhecido; soa quase a um palavrão sem sentido algum. Uma palavra longe de sua origem festiva, seu verdadeiro significado. De fato, uma festa bem antiga, judaica por excelência, e que reunia em Jerusalém milhares e milhares de judeus do mundo todo. Uma festa eloquente, grandiosa, que chegava a durar sete semanas, quando o povo celebrava o resultado de suas colheitas e traziam ao Templo parte de seus dízimos de gratidão a Deus pelas dádivas da terra. E eis que já haviam decorridos cinquenta dias de outra grandiosa festa judaica, a páscoa, que  celebrava a passagem do anjo da morte, aquele que poupou somente as famílias onde suas casas tinham a marca do sangue do cordeiro imolado. Aquela páscoa se tornou a redenção do novo povo de Deus! Aquela páscoa é hoje razão de ser de nossa fé. Agora, decorridos cinquenta dias da ressurreição de Cristo, eis que sua promessa de nos enviar um defensor se realiza durante essa outra festa.

Essa mesma  promessa faz surgir um novo Pentecostes, uma nova festa da Colheita, agora com duração não de sete semanas apenas,(7×7=49+1) mas de sete dons… sete graças espirituais que nos foram derramadas dos céus quais bençãos divinas a fecundar nossas almas, nossas vidas sedentas de novas esperanças. Chegou nosso tempo de colheita, nossa festa de gratidão. Os dons derramados naquela humilde casa na periferia de Jerusalém possui o júbilo, a preciosidade de uma colheita abundante, que nossa insignificância e pequenez não merece, mas que a generosidade do Pai infunde em nós como sementes fecundas de uma seara privilegiada. Seus sete dons são os selos de predileção de Deus pelo seu povo, filhos amados e benditos que seu coração de Pai elegeu para si. Isso é o que somos! Isso é o que celebramos nesse Novo Pentecostes, a grande festa do destemor, da coragem, da audácia, da alegria e dos privilégios que os dons do Espírito Santo infundem naqueles que Ele escolheu para si. Por isso se diz que o sacramento do Crisma confirma em nós o sentimento de pertença a Deus, reveste-nos com a couraça da proteção divina, renova em nossos corações a maturidade da fé que recebemos em nosso Batismo, reforça nossas convicções da plenitude de vida advinda do Reino dos Céus, nos faz apreciar o que é justo e reto  e gozar das alegrias da consolação verdadeira… Isso e muito mais. Não apenas sete, mas setenta vezes sete… Infinitesimamente mais.

Como vemos, as significações numéricas dessa festa têm suas motivações históricas e tradicionais, mas perdem-se na avaliação quantitativa das graças que o amor de Deus proporciona àqueles que se deixam guiar pelo seu Espírito santificador. Não podemos medir ou quantificar o Amor, em especial Aquele que se diz o próprio. Esse não tem limites, origem, princípio e fim. Esse está em tudo, toma conta, invade, preenche. É a fonte, o manancial de tudo que dá sentido à vida, a tudo o que somos, temos ou iremos ser e ter um dia. Entregar-se a essa graça e unção é abandonar-se em Deus como instrumentos de sua ação no mundo, na história, na festa da colheita farta que Ele deseja realizar em nós, por nós. Esse é nosso tempo de semeadura, nossa razão de ser e de existir, de aqui estar de passagem, mas deixar em nosso tempo o registro de uma multiplicação infinitesimal dos dons que o Senhor depositou em nós. Seja nossa colheita cevada ou trigo, quanto devolveremos a Ele, o dono da vinha, o Senhor da Festa? Você recebeu tantas moedas! Quanto de Dízimo devolverá ao Dono da casa… dessa casa que é a vida, o mundo? Lembre-se: não vale devolver os mesmos sete dons. Não esconda suas moedas; multiplique-as!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Quem inventou a possibilidade do fim do mundo não foi o medo e a insegurança humana em seus dias de crises existenciais, mas o próprio Cristo em sua despedida terrena. Eis que Ele acena aos homens em sua ascensão aos céus, aventando esse assunto e se dizendo companheiro de nossa jornada até o fim, o final dos tempos. “Estarei convosco sempre!”, é sua promessa. Para os exegetas, o anúncio de Cristo em sua despedida terrena é muito mais que uma força de expressão, um adeus momentâneo. É a prova cabal e real de que tudo converge para o cerne da Criação, que tem em Cristo seu maior mistério, a razão de ser, de existir, que dá sentido à existência humana. Fomos plasmados no coração do Pai e a Ele voltaremos através das promessas do seu Filho, sob a ação e unção do seu Espírito. Eis o tripé que sustenta e dá razão a tudo o que somos, vemos e sentimos neste mundo. Um dia tudo acaba e só nos restará o retorno ao Pai, fonte e origem desse tudo, desse universo que pensamos possuir! Eis tudo!

Mas não é só de ilusões que nossa vida é feita. Há uma realidade muito maior e mais ampla que esse mundo tangível, essa matéria impactante a moldar nossas vidas, a construir sonhos e acumular ambições. Somos mais que um conjunto de células ou um universo de átomos radioativos ou não. O fluxo e refluxo do coração humano é o mais simples exemplo desse pulsar de vida que a autoridade divina nos possibilitou experimentar neste mundo, ou seja: a vida é um constante fluxo e refluxo que flui do coração de Deus. Uma diástole e sístole espiritual. Quem foge dessa realidade torna-se o sangue derramado, que se esvai do coração, das veias dilaceradas do Redentor humano e se perde no chão da triste realidade terrena… Essa linguagem figurada não é mera pregação dogmática, mas prerrogativa da fé cristã: “Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Eis o caminho, a verdade e a vida do refluxo existencial. Nossa passagem terrena tem um retorno definido, uma rota a seguir. O mundo que ocupamos é o veículo, o instrumento momentâneo desse retorno. Quem se perde pelo caminho é aquele que foge dessa sintonia que as veias da fé cristã apontam como verdade imutável e essencial proclamada por Cristo: “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28,18-19).

Aqui reside a autoridade da Igreja sobre os destinos humanos. Não é uma simples retórica de força e poder, à luz dos conceitos políticos que usurpam as definições de autoridade ou governo dos povos. A autoridade concedida à Igreja no mundo engloba “todos os povos”, aos quais sua mensagem de fé e esperança se estende apontando a cruz como sinal e estandarte de redenção, de libertação das correntes que porventura nos prendam, nos imobilizam, nos sufocam neste mundo. A ação da Igreja diante dessa realidade é uma ação moderadora, capaz de anunciar um novo caminho denunciando os desvios que “derramam” o sangue dos injustiçados, dos inocentes, dos espoliados desse ensinamento de fé. “Ide e fazei discípulos” é muito mais que um imperativo institucional, uma ação dogmática; é uma necessidade de preservação. Uma ação de coerência com a vida, essa que ora ocupamos momentaneamente, mas que um dia devolveremos aos pés da cruz de Cristo, aquele que caminha conosco. “Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja” (Ef 1,22). Sim,  o fim do mundo será para todos os que se desviarem desse caminho de fé e esperança imutáveis, indestrutíveis, imortais…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




Diocese de Assis

 

Maio nos lembra Maria. Outrora nos lembrava as noivas e seus vestidos brancos a simbolizar pureza. Mas ainda festejamos a maternidade, como dom maior daquelas que são capazes de gerar a vida. Sim, ainda, pois a proveta ai está e não duvido se um dia surpreendidos formos com incubadoras sofisticadas a substituir o sagrado ventre maternal… Mas, enquanto a lógica persiste apesar das pretensões da Ciência que no campo genético já faz diabruras nunca antes imagináveis, o sim de Maria continua música para os ouvidos angelicais.

Salve Rainha! A maternidade humana está intrinsecamente ligada ao ato da Criação, pois que dá continuidade à obra divina. Com ela nos aproximamos mais da misericórdia do Pai, pois que a cada nascimento renasce a esperança de dias melhores e os céus glorificam o seu Nome, enchendo de luz qualquer vale das lágrimas e da insignificância humana. Uma criança assim gerada é depositária dos mais nobres sentimentos e dos mais sagrados sonhos que possamos imaginar para qualquer lar, doce lar. O que é nobre, o que é sagrado dá ares de realeza à maternidade de qualquer mulher; independe de sua condição social. Por isso delas se diz: rainha do lar!

Vida doçura e esperança nossa! Quem possui outra imagem de suas próprias mães? Por mais indignos, insubordinados, rebeldes e alheios que possamos ser, qualquer filho ou filha têm na figura materna um hiato de paz, de aconchego, de esperança por dias melhores, por caminhos mais largos, por sonhos mais belos. O olhar de mãe, o colo, as mãos, a proteção, o levantar-se das muitas quedas, as vigílias nas noites febris, o cuidado com as ruas, o trânsito, a escola, o lanche, o remédio… Ah, mãe, quanta doçura, quanto carinho, quanto amor!

Pois até Deus, na pessoa de Jesus, experimentou esse privilégio humano: os desvelos de uma mãe. Não era degredado, nem filho de Eva, mas Filho de Deus! Princípio e Fim, Alfa e Omega, a origem de Jesus poderia dispensar a figura materna de Maria, não fosse ela um instrumento precioso aos olhos do Pai. Sua maior e mais preciosa virtude, condição mínima para merecer tão sublime privilégio, Deus não buscou no histórico de sua saúde física, jovialidade, pureza, nem na descendência de seu povo, sua origem, sua formação, suas crenças, nem nas posses ou tradições familiares, nem na cor de sua pele, no idioma que falava, na cultura que possuía… Seu único e maior mérito para ser mãe do Redentor estava em seus lábios e em seu coração submisso à vontade de Deus. Sim! Sim, eu posso, eu aceito, eu quero… eu agradeço! Eis o segredo de uma maternidade abençoada, privilegiada com hosanas e glórias! Eis o sim de Maria!

Essa é nossa advogada, mãe de Deus e dos homens, cujo olhar maternal suplicamos sobre a humanidade, sobre cada um de nós. Cristianismo sem a maternidade de Maria é órfão, incompleto, imperfeito. Não se compreende uma fé que ignore a importância da mediação de Nossa Senhora no processo da Redenção, pois o próprio Jesus dela se serviu para ser quem foi, realizar o que realizou, ensinar o que nos ensinou. E, numa festa nupcial, quando o filho já adulto e bem formado ainda vacilava no início de sua missão, nada como um empurrãozinho materno. “Mãe, minha hora ainda não chegou”. Como não, depois de tanto desterro, tanto sofrimento, tanta expectativa humana por uma esperança maior? Então Maria dá as coordenadas para o primeiro milagre, o início de todos os demais: “Façam tudo o que ele mandar”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]