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Diocese de Assis

 

          Chegamos a uma encruzilhada capaz de moldar nossas opções. Aliás, toda e qualquer encruzilhada sempre nos obriga a uma escolha, seguida do desejo de acertar e seguir o melhor caminho. A opção pelo Cristo, por seu seguimento e obediência a seus ensinamentos, também é uma dessas escolhas que um dia fizemos, faremos ou não. De uma forma ou de outra, essa opção religiosa exige uma atitude de coerência, o chamado testemunho de fé. Sem este, não há porque se dizer cristão. O testemunho é tudo na prática cristã.

          Foi essa a atitude mais marcante na história de vida de João Batista, o primeiro dos cristãos ainda no ventre da mãe, o primo consanguíneo que por primeiro anunciou a novidade cristã: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Isso não era um simples anúncio, um presságio qualquer, mas a mais profunda das certezas semeada e germinada com o vigor do coração profético daquela tênue voz… Aquela “voz que clama no deserto”, como diria Jesus, era portadora da mais pura das verdades ansiada e desejada por gerações milenares, que escreveram suas histórias ao custo de muita dor, sofrimento constante, mas esperança sempre renovada. “Eu vi e dou testemunho”, diria o profeta.

          Esse profetismo e testemunho incondicional, quase um pacto de sangue em prol da verdade messiânica, está se esgotando nos dias atuais. Estamos atravessando tempos nebulosos e de gritante arrefecimento da fé. Muitas cabeças hoje rolam, mas não como rolou a de João, entregue de bandeja aos caprichos e ciúmes de Salomé, a filha da  rainha, corrompida pelo pecado da ambição, do poder, da vaidade sem limites. Salomé, a serpente dos apelos mundanos, tem agora outras facetas, mas a mesma perversão daquela que persuadiu o rei. Continua idêntica em seus sorrateiros ataques à ingenuidade daqueles que a ela se submetem, pois todos os que se deixam enganar pelas seduções das belezas e ilusões mundanas, colocam a própria cabeça a prêmio. Com uma diferença: essa sentença, ao contrário daquela que vitimou o inocente Batista, fazem por merecer. Os palácios dos homens que cultuam a vida e seus prazeres, mas desdenham da dor e sofrimento da grande maioria de semelhantes ao largo dos seus reinados, não podem, não devem, não merecem proteção alguma das forças sobrenaturais que – estas sim – governam o mundo.

          Dia mais, dia menos, daremos conta do prejuízo que a incerteza na fé está propiciando à vida. Reconhecer o “Cordeiro de Deus”, que passa entre nós, é fácil, possível a qualquer vivente possuidor de um mínimo de razão ou consciência. Porém testemunhar sua autenticidade e ação exige comprometimento público. E aqui é que são elas. Nem sempre se é capaz de colocar em risco privilégios, mordomias, status ou mesmo prestígio político-social. Nem sempre a visão da fé é capaz de ampliar os horizontes da triste realidade do ceticismo, hedonismo e secularismo que hoje limita nossas atitudes testemunhais e aumenta nossas preocupações meramente transitórias. Deus é mais. É aquele que passa e tira o pecado do mundo! Purifica com água, mas batiza com fogo!

           Testemunhar é penetrar nessa fogueira, nesses mistérios de amor e fé. Batismo de Fogo é o nome… Quem realmente deseja ver restaurados os valores cristãos e humanos no mundo que hora ocupamos, precisa imergir nessa fogueira que queima sem consumir, que abrasa sem nunca esfriar, que brilha sem deixar sombras… A fé verdadeira, simples como a pomba, cristalina como a mais pura água, só será vencedora se forjada no fogo do Espírito que nos governa. “Eu vi e dou testemunho: este é o Filho de Deus!” (Jo 1,34).

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

            




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Compreender o mundo é um esforço que passa, não apenas, pelo poder letrado das pessoas porque, não é uma obra de especialistas. Na verdade, antes de ser macro, o mundo é micro. Isso significa, em primeiro lugar, que o mundo tem o tamanho do espaço, do tempo e das relações onde cada um vive e atua. Assim, o mundo deve ser compreendido, antes de tudo, a partir da minha relação com este mundo porque, cada um vê o mundo a partir do lugar em que ele está e, esse lugar não é somente geográfico mas, político, econômico, religioso, cultural, afetivo, ideológico… São vários filtros que nós usamos para “ver” o mundo. Por isso é que se diz: “cada ponto de vista é visto de um ponto”.

Enquanto compreensão, o mundo é micro, antes de ser macro. Mas não são vários mundos: são dimensões diferentes. Portanto, há que se ponderar que nada, neste mundo, é absoluto. Tudo é relativo, a não ser, por exemplo, princípios como o respeito à vida e à dignidade.

O mundo é uma realidade complexa, então, compreender o mundo é, também, uma obra complexa que deve levar em conta a responsabilidade de cada um na verdade sobre o mundo. Quem olha para o mundo o vê a partir de dentro e não de fora. E, não tem como se isentar. Por isso, todos somos responsáveis, por ação, por omissão ou por conivência.

A responsabilidade não é uma régua para medir culpa e nem fazer acusações mas, um fator de correspondência que, deixa claro como cada um está implicado nas relações e acontecimentos, que movem o mundo onde cada um está imerso. Responsabilidade não é uma câmera escondida que exerce vigilância para inibir ou incriminar mas, um luzeiro que deixa em exposição os atos de cada um no exercício de suas crenças, vontades e liberdade.

A responsabilidade é, o tempo todo, uma resposta nossa que nos envolve por inteiro, dos pés à cabeça; é a nossa marca onde passamos e onde agimos; é nossa digital existencial; é nosso carimbo. É pessoal mas, pode ser, também, familiar, comunitária, social…

É de se perguntar: Que noção temos de nossa responsabilidade? Sabemos que a responsabilidade define exigências sobre nós? Temos consciência de que não estamos isentos? Entendemos que a responsabilidade também tem níveis de corresponsabilidade?

As vezes é mais fácil culpar do que responsabilizar porque, a culpa se refere a um ato determinado e, as vezes isolado. A responsabilidade não! A responsabilidade não é, simplesmente, culpa porque, além do ato culpável, olha para as conseqüências do ato que, pode ser individuais e/ou sociais, locais e/ou universais, pequenas e/ou grandes, reparáveis e/ou irreparáveis, imediatas e/ou mediatas, presentes e/ou futuras…

Pensar, na linha da responsabilidade, nos leva a enxergar o universo mais abrangente de todas ações ou omissões humanas e o espectro de suas conseqüências. Por isso, antes de uma sentença de culpa, a responsabilidade chama a cada um para prestar contas de suas responsabilidades e compromissos.

Todos nós somos responsáveis: querendo ou não, sabendo ou não, conscientes ou não, livres ou não, crescidos ou não…

A responsabilidade não é uma escolha, é uma conseqüência! Nesse sentido, quanto mais consciência de nossa responsabilidade, melhor será a nossa resposta.

Sejamos responsáveis porque é assim que todos devemos ser tratados; porque este é o estágio desejável do crescimento e da maturidade humana; porque esta é a nossa razão de ser; porque este é o nosso maior legado!

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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          Quando o cardeal alemão Joseph Ratzinger, responsável pela área de Doutrina e Propagação da Fé dentro da Igreja Católica, foi proclamado Papa, em 19 de abril de 2005, um clima de preocupação tomou conta de grande parte do clero no mundo.  Estava no auge, especialmente nos países latino-americanos, a corrente doutrinaria conhecida como Teologia da Libertação, da qual o cardeal tornou-se crítico ferrenho, colocando em “silencio obsequioso” vários teólogos da berlinda, dentre os quais seu aluno “dileto”, o brasileiro Leonardo Boff. As trocas de farpas entre ambos eram conhecidas de todos, mas agora ter um papa como oponente nas ideias teológicas era ter um opositor de peso. Levou anos para se serenar esse conflito teológico, porém venceu a genialidade e extraordinária clareza ideológica do velho e bom professor.

           Bento XVI, como escolheu ser chamado, assumiu seu pontificado com a mão forte de alguém que bem conhecia o terreno onde pisava. Comandou por oito anos o rebanho de Cristo, com firmeza e determinação sem precedentes dentro da guerra ideológica que quase dividia a Igreja na época. Dizia em sua clareza pastoral:” Se alguém criticar a Igreja, não silencie… Defenda-a com coragem, pois ela é nossa Mãe”. E assim o fez durante seu pontificado, até que, num gesto de abnegação extremada, renunciou! Como assim? O primado de Pedro não é vitalício? Estaria ou não se contradizendo em seu ministério, se perguntavam seus seguidores e os grandes historiadores da era cristã. Houve já casos similares na história da Igreja, mas isso não seria omissão?

          O tempo nos provou a genialidade desse gesto. Sentindo suas forças se esvaírem e as limitações temporais impedirem maiores audácias em suas ações de líder maior do rebanho de Cristo, nada mais justo que ceder espaço a alguém com maiores vitalidades. Não seria justo continuar ocupando aquela cátedra quando o governo de um rebanho exigia mais lucidez e dedicação integral. Renunciou, sim, mas ficou na retaguarda. Como bem disse recentemente seu sucessor, o Papa Francisco: “O silêncio de Bento XVI é que tem governado a Igreja”. Seu silêncio e suas orações.

          Tão verdade essa afirmativa, que, ao completar seus 95 anos, em 18 de junho de 2022, em Munique, Alemanha, o Papa Bento comentou sobre essa sua “missão” orante pela Igreja, centro de suas preocupações e intercessões junto a Deus. Falava a seu secretário dessa sua constante preocupação, apesar de sentir a proximidade de seu fim terreno e pedir a Deus que abreviasse seus dias. Ansiava por um encontro com seu Senhor. Deixou então escapar uma afirmativa bem pessoal: “Nunca teria acreditado que seria tão longa a última parte do caminho” … Só mesmo uma alma sedenta de um encontro definitivo seria capaz de formular tão estranho, mas suave desejo!

          Esse foi Bento, o Papa que perdemos no limiar desse ano de muitas luzes e trevas, muitas esperanças e decepções, muitas derrotas e conquistas… Bento XVI, o Bentinho para alguns que se sentiam intimo pela sua pureza e simplicidade, mas o Ratzinger temido e respeitado por aqueles que se arvoravam em suas teologias e dogmas doutrinários, o alemão que abriu mão de seus carismas e poderes dentro da Igreja institucionalizada, para ser somente uma voz orante, deixou-nos um testemunho questionador ao escrever recentemente, quase as portas de sua morte: “Em breve me encontrarei diante do juiz supremo. Embora olhando para trás em minha longa vida eu possa ter tantos motivos para tremer e temer, ainda assim estou com o coração feliz porque confio firmemente que o Senhor não é apenas o juiz, mas ao mesmo tempo o amigo e irmão que já sofreu ele mesmo minhas insuficiências e, portanto, como juiz, é ao mesmo tempo meu advogado”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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          Em tempos de mudanças e expectativas, como em qualquer final de ano, o coração humano se enche de planos e sonhos renovados. Natural e positivo tal comportamento. Como também natural e positiva a renovação espiritual daqueles que acreditam na força interior de suas opções religiosas. Especialmente para aqueles que vivem uma espiritualidade encarnada e conflitante com o mundo. Um mundo cada dia mais agnóstico.

          Posto esse cenário, vem a questão: Como viver a fé em meio à descrença de muitos? Para nós, cristãos, essa é nossa prova dos nove, ou seja, o destemor e a alegria devem ser nossas características primeiras. Desafiar o mundo com espadas ou ironias não são armas apropriadas para quem se diz (ou ao menos tenta ser) um emissário da Paz que vem do alto. As armas do cristão são suas mãos vazias, estendidas na ação de solidariedade com o próximo ou unidas em louvor constante às dádivas que vem dos céus. Mãos que se usam na ação e na oração.  Não nos competem os argumentos da força, da coação, da discórdia, da violência ou do ódio, comuns entre aqueles que ignoram os princípios básicos da fraternidade que sonhamos. Se o mundo rejeita esse caminho, lembra-nos que por primeiro já rejeitou aquele que se fez o Caminho, Verdade e Vida. Mas Ele está voltando…

          Por uma dessas ironias que a realidade aparentemente oposta faz aos princípios da fé cristã, um irmão missionário escreveu-me o seguinte texto, nesta semana: “Já vi jovens usando camisetas com a mensagem ‘Lúcifer está voltando’. Se existir blasfêmia maior contra Deus, essa é uma delas”. Obrigado Adroaldo. O pior não é o anúncio de uma possível e gloriosa volta demoníaca, pois esta acontece deste o princípio da nossa história. Lúcifer sempre esteve conosco, nunca nos deixou. Essa é a verdade. Mas também é verdade que sua ação no mundo se intensifica de quando em vez. Como nos dias atuais. Lúcifer está deitando e rolando entre nós. E, por certo, dando boas e terríveis gargalhadas.

          Todavia, o Advento cristão renova nossas esperanças. Contemplar um Cristo menino numa manjedoura é alimentar as expectativas de um mundo melhor à luz das promessas de Deus. É contemplar a simplicidade e a grandiosidade da Promessa. E essa também é textual em nossas vidas: “Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo… e o seu reino não terá fim” (Lc 1, 32-33). Não há o que temer diante da solidez dessa promessa. Não só nos dá certezas de vitória, como também enche nossos corações de alegrias e esperanças redobradas. “Ainda um pouco de tempo, e já me não vereis; e depois mais um pouco de tempo e me tornareis a ver”. (Jo 16,16). Não podemos limitar esse espaço de espera ao tempo já passado (em especial aqueles três dias de morte e ressurreição), nem à promessa de “um advogado” o paráclito a defender nossas causas, mas também e principalmente à sua volta gloriosa “a julgar os vivos e os mortos”, a fazer a justiça que almejamos com ansiedade…

          Então a injusta perseguição, incompreensão, intolerância e cinismo do mundo contra os princípios cristãos cairá por terra. Porque fomos resgatados ao preço da dor. Porque “outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes” (Ef 5,8). Porque, mesmo diante de uma realidade antagônica ao que imaginamos e sonhamos ou à aparente decepção humana diante da Criação divina, aquela em que Ele só viu perfeição, nossa esperança ainda é maior e mais sólida. O caos nunca existirá para quem espera e confia. Porque Ele voltará triunfante, num novo Natal de luzes. E seu Reino não terá fim.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

           




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O tempo presente é de Festa: há todo um ritual de preparação até chegar para o momento. O Natal não é simplesmente festa, é festa litúrgica, por isso compartilho com todos uma reflexão sobre festa.

Festa é a linguagem mais completa e eloqüente da vida humana. Festa é um patrimônio da humanidade. Uma festa traduz, sempre, de modo grandioso, as verdades, os valores e a beleza existente no nascimento e na morte, nas lutas e nas labutas, nas alegrias e nas tristezas, nas vitórias e nos fracassos, nas perdas e nos ganhos, nas conquistas e nas derrotas, nas dúvidas e na fé de todos nós.

Festa é sempre Celebração da Vida. E sua perpetuação é garantida pelos ritos, símbolos, gestos que ocupam o imaginário das pessoas, ultrapassando a linha do tempo e as fronteiras sócio-culturais.

Festa litúrgica é tudo isso, só que vivido e experimentado dentro de uma perspectiva religiosa porque remete à esfera do Divino e do Sagrado todo o sentido e o valor do que está celebrando. Isso quer dizer que, o enfoque, a razão primeira e o motivo fundamental da Celebração são as obras de Deus na vida humana e, por conseguinte, a atração, o fascínio, o impacto, a emoção, o calor e os sentimentos experimentados em razão destas “obras exemplares”.

Quando olhamos a Sagrada Escritura, nos deparamos com uma enormidade de festas, ligadas, principalmente, ao universo simbólico do mundo agro-pastoril, porque este é o eixo da existência e da sobrevivência do povo da Bíblia. Encontramos a festa das Tendas, do Dia da Expiação, dos Tabernáculos, da Páscoa, do Sábado, de Pentecostes e muitas outras festas. Com isso, a Tradição Bíblica nos ensina que, a razão de ser das festas é manter viva a memória histórica dos grandes feitos de Deus e o senso de valor e pertença a esta história. Na Sagrada, Escritura, portanto, festa é um SINAL de algo primoroso: a relação entre Deus e os homens.

O Cristianismo conservou as festas no bojo de sua concepção teológico-doutrinária garantindo-lhes o sentido místico mas, aprofundando e desenvolvendo seu poder pedagógico para iniciar e inserir as pessoas no mundo do sagrado e da fé, a partir das ricas experiências de Deus feitas pelo Povo de Israel.

O Catolicismo, depositário de uma herança de fé milenar, mantém a mesma tradição bíblico-cristã das festas, como espaço genuíno de celebração da vida e das grandes obras de Deus. E perpetua, através delas, aquele senso de valor e de pertença à História de Salvação que os nossos antepassados viveram e que continua sendo atual e verdadeira para nós.

O Cristianismo, num período importante de auto-afirmação, suplantou os cultos pagãos politeístas e a festa ao Deus sol com a festa do único Deus e Sol verdadeiro: o Cristo. Sendo assim, o dia 25 de dezembro foi consagrado para celebrar a Festa do Natal de Jesus.

O natal como celebração do Nascimento de Jesus é um marco referencial porque, estabeleceu o início de um novo tempo, tanto no calendário como na história da humanidade. O Natal é um divisor de águas entre para a fé, a cultura e para a sociedade.

O Sentido bíblico do natal começa com uma promessa de Deus: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emannuel – Deus-conosco” (Is 7,14). Deus cumpre a sua promessa: “quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4).  Assim, “a Palavra de Deus se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Natal é a festa universal da Encarnação de Deus na vida e na história humana. O nascimento de Jesus confirma e cumpre o propósito de Deus em relação a nós: nos resgatar, nos recuperar do pecado e nos salvar.

A ordem é festejar! Nós somos festa! Vida longa a todos nós para que, depois das festas na terra, alcancemos celebrar a festa no céu! Feliz Natal a todos. Que o menino Jesus seja, de fato, a novidade da festa que celebramos.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




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Estamos chegando no final do ano e, quando chega este tempo, precisamos exercer escolhas, tomar decisões, fazer mudanças que correspondam ao horizonte de realização pessoal, profissional, familiar… Isso significa ter que parar, pensar, refletir, rezar para encaminhar tudo com maior poder de acerto. Nesse caso, é preciso planejar.

O QUE É PLANEJAR? Planejar é organizar a vida de uma pessoa ou instituição É implantar um processo de intervenção na realidade. É dar clareza e precisão à ação de uma pessoa, grupo, serviço ou instituição. É deixar de improvisar. É prever. É projetar o futuro. É pensar antes qual o melhor caminho para chegar ao objetivo.

O planejamento é um processo de tomada de decisões. É pensar ANTES, DURANTE e DEPOIS da ação. O planejamento é uma tomada de decisões para transformar a realidade em que se decidiu intervir. Quando não planejamos, improvisamos, sem perceber que outros estão planejando para nós e nos levam na conversa.  Quando as pessoas que planejam têm uma mística, uma opção de vida, uma raiz religiosa, o planejamento é uma força incomensurável de ação.

POR QUE PLANEJAR? Na medida em que queremos realizar alguma ação, precisamos esclarecer bem qual o motivo, ou quais os motivos que nos levam a realizar tal ação. Uma ação é considerada EFICIENTE quando é bem feita. Quando, além de eficiente, ela for também transformadora, será considerada EFICAZ.

Quando realizamos ações apenas eficientes, não estaremos contribuindo em nada para a transformação das estruturas injustas que nos rodeiam.

O primeiro motivo que nos leva a planejar é a necessidade de realizarmos ações EFICAZES, transformadoras. Nisto nós temos um compromisso a partir de nossa fé. Não podemos conviver com as injustiças gritantes que estão por aí. Os crescentes desafios que aparecem exigem de nós uma vida planejada.

Um segundo motivo importante que nos leva a planejar é a escassez de recursos. Quanto menos recursos tivermos, mais nossa ação precisa ser planejada.

Existe, ainda, um terceiro motivo que nos obriga a realizar ações planejadas. É a complexidade da ação! É a complexidade dos problemas. Quanto mais complexos forem os problemas ao nosso redor, mais precisamos planejar, pois, do contrário, a complexidade dos problemas vai nos absorvendo e, necessariamente, cairemos no ativismo. Esquecemo-nos do necessário e mergulhamos no urgente. Aliás, esta é uma tática do sistema dominante: tratar com superficialidade as coisas profundas e com profundidade as coisas superficiais.

PARA QUE PLANEJAR? Não basta que tenhamos claros os motivos que nos levam a realizar um planejamento. É profundamente importante que tenhamos claro também qual a finalidade das ações que vamos planejar. Aonde queremos chegar! O que pretendemos realizar. Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve!

O planejamento não é solução mágica. Não resolve tudo e, principalmente, não funciona de forma instantânea. É um longo processo, no qual não apenas se trabalha, mas se aprende enquanto o trabalho se desenvolve. Não cobre deficiência de recursos, mas ajuda a aproveitar melhor os recursos que tivermos. Ajuda também a ver melhor a realidade, a detectar os problemas. É uma ferramenta e, como tal, não substitui os operários, mas permite que a obra ganhe qualidade e que eles possam contemplar com mais satisfação o progresso que realizam.

O ano 2023 está ai e, com ele, muitas possibilidades de realização pessoal e familiar. Quem não quiser mergulhar na frustração, por não ver as coisas se realizarem, deve se adiantar aos acontecimentos e a vida. Deve planejar.

Portanto, mãos-à-obra, há uma vida inteira para ser administrada e construída. Não deixe a vida te levar, leve-a; conduza-a. Sua hora é agora!

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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          Desde sempre, de quando em vez, Deus envia profetas ou santos para alertar seu povo. Mas, de todos os enviados até aqui, nenhum se compara à pessoa mística e curiosa do profeta João Batista, primo de Jesus. Figura realmente tosca e radical, com seus trajes que beiravam o ridículo (peles de animais e um cajado rude), com sua barba descuidada, seu olhar penetrante e sua voz possuidora do timbre de uma verdade cristalina, não era certamente uma pessoa que se aproximasse da normalidade e da sensatez das demais. Basta dizer que vivia no deserto e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre. Porém, dentro dessa radicalidade existia uma voz. E essa voz atraia multidões! Possuía o imã de um alerta geral, a coerência que levava à conversão, ao batismo em novas águas!

          Só essa análise já nos prova a importância de sua missão: preparar o povo para um novo tempo, um caminho reto, certeiro, em direção ao Cristo que vem!. Endireitar, reconstruir as estradas, apresentar o cordeiro de Deus!

          Até aqui, a figura do Batista se nos assemelha à de um demente, um louco qualquer que grita em público seus sonhos e demências da alma, que foge das razões da lógica para apregoar uma verdade não tão cristalina. Eis que chega o Messias! Eis que o machado da devastação, a ira divina, já está a postos sobre as raízes das semeaduras humanas, essas árvores da insanidade que dominam muitos dos nossos campos! Chega a hora da Verdade. Chega o momento das mudanças necessárias, da conversão radical que dará espaço ao batismo de fogo que nos traz a fé cristalina do Cristo que passa. João apela ao bom senso da purificação, mas reconhece ser este o mínimo. É preciso também deixar-se consumir na radicalidade do fogo, na imersão de um Espírito novo que só Cristo pode oferecer. “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3, 11). Só Ele tem o segredo da verdadeira fé, o “fogo que não se apaga”.

          Como vemos, o profetismo daquela voz a gritar no deserto ainda ecoa entre nós. Sua radicalidade ainda afeta nossos ouvidos e nos atrai com a mesma intensidade daquela época, pois que o mundo ainda não se deixou purificar na realidade de uma fé cristalina. Aqui reside o segredo do batismo de conversão. Nada superficial, porém estritamente transformador, radical. “Eu batizo com água, porém Ele batizará com fogo”. Equivale a dizer: “Eu purifico apenas o que nos contamina superficialmente, porém Ele abrasará nossos corações com a ardência de uma transformação interior, total, corpo e alma” …Penetrar nesse mistério é aceitar a verdadeira purificação que a fé cristã oferece ao mundo. É nessa atitude que reside a força de transformação derivada da fé cristã. Somos agentes de transformação do mundo. Somos, sim, vermes na insignificância de nossas fragilidades e pequenez, mas infinitamente mais poderosos no combate aos inimigos dessa fé.

          O comedor de gafanhotos encontrou forças na simplicidade de uma vida de contemplação e, com certeza, muita oração. Desde seu batismo no ventre materno, quando “pulou de alegria” ao sentir a presença de Jesus e Maria em sua “casa”, João Batista deixou-se conduzir pela vontade e planos divinos. Tornou-se o precursor, o preparador oficial da vinda do Messias. Reconheceu e apresentou ao povo o Cordeiro de Deus, aquele que “está com a pá na mão” para “limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro”. Sinta você também essa presença em sua vida. Pode pular de alegria, também!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]  

 




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As pessoas vivem procurando uma solução mágica para os seus problemas enquanto deveriam buscar uma direção para a própria vida. A questão é muito simples: é preciso tirar os olhos dos problemas e olhar para a vida. Não são os problemas ou as circunstâncias que precisam de “solução”, mas, é a vida que precisa de um sentido. Quando se vive à “caça” de “soluções”, um imediatismo absurdo toma conta do indivíduo levando-o a aceitar qualquer coisa que vem como “resposta”. Desse modo, perde-se tempo, gasta-se o coração, desgasta-se a esperança, compromete-se uma vida a troco de nada. É preciso fazer um caminho de conversão.

“Por que gastar dinheiro com coisa que não alimenta, e o salário com aquilo que não traz fartura? Ouçam-me com atenção, e comerão bem e saborearão pratos suculentos. Dêem ouvidos a mim, venham para mim, me escutem, que vocês viverão. Farei com vocês uma aliança definitiva, serei fiel à minha amizade com Davi. Fiz dele uma testemunha para os povos, um chefe que dá ordem aos povos. Procurem Javé enquanto ele se deixa encontrar; chamem por ele enquanto está perto. Que o ímpio deixe o seu caminho e o homem maldoso mude os seus projetos. Cada um volte para Javé e ele terá compaixão; volte para o nosso Deus, pois ele perdoa com generosidade” (Isaías 55,2-7).

ADVENTO E LITURGIA

Não raras vezes, modificamos o sentido das coisas, criando significados que não lhes correspondem. O Advento, por exemplo, na sua teologia e espiritualidade, não se reduz a uma comemoração da Encarnação como fato histórico; muito menos a uma preparação comercializada e consumista às festividades natalinas. O Advento não é apenas um tempo litúrgico, mas um modo de vida cristã que se caracteriza pela permanente conversão e constante vigilância. Por isso, é preciso saber o que se quer na vida para se ter a coragem de corrigir os desvios; converter-se.

SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO

O grande apelo de fé, para todos nós, no primeiro domingo do advento é a CONVERSÃO. A Palavra chave da Liturgia é: “Convertam-se, o Reino de Deus está próximo”. Mas, afinal de contas, o que é conversão?

Conversão não é a mesma coisa que mudança de religião. Existem pessoas que já mudaram de religião uma dúzia de vezes mas não mudaram de vida. Mudaram por fora, mas, não mudam por dentro.  Trocaram de casca como cobra, mas continuam com o mesmo veneno mortal. A Conversão está sempre acompanhada da fé.   Onde há fé, há sempre conversão e, onde há conversão frutifica a fé. Conversão é uma atitude de mudança, mas, não qualquer mudança.   É mudança de CRITÉRIOS; entenda-se por isso tudo aquilo que dirige e orienta a nossa vida.  É mudança de COSTUMES; entenda-se por isso todo hábito, atitude e procedimento que temos na vida.

A leituras bíblicas que serão usadas na meditação são as seguintes:

Isaías 11,1-10: “Nesse dia, a raiz de Jessé se erguerá como bandeira para os povos; para ela correrão as nações, e a sua moradia será gloriosa”

Salmo 71(72): “Que em seus dias floresça a justiça e muita paz até o fim das luas.”

Romanos 15,4-9: “O Deus da perseverança e da consolação conceda que vocês tenham os mesmos sentimentos uns com os outros, a exemplo de Jesus Cristo.”

Mateus 3,1-12: “Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia: “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.”

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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ESTEJAM PREPARADOS

          Desde que a humanidade tomou consciência de sua fragilidade física e vida transitória, uma nova perspectiva assomou-se em seus projetos: estender ao máximo sua passagem por esse mundo! Assim, viver tornou-se uma constante batalha contra a morte. Não mais restando possibilidades de perpetuar-se em vida, eis que surge a possibilidade de perpetuar-se ao menos espiritualmente. Essa foi sua grande descoberta: a eternidade do espírito!

          Diante dessa tomada de consciência espiritual nasce a esperança de vida nova, condicionada às promessas e mandamentos divinos, que ao longo dos séculos foram reveladas por profetas e patriarcas do povo. O sofrimento, a escravidão e os abusos contra a integridade física dos mais fracos reforçaram a fé num Deus-libertador, o messias que esperaram durante séculos, aquele que derrotaria os pecados e as maledicências humanas, conduzindo seu povo para uma nova nação, um reino de paz, justiça e bonança até então sem igual neste mundo.

          No entanto, Aquele que veio adiou ainda mais esse momento: “Meu Reino não é desse mundo”. O discurso escatológico de Jesus foi como um balde de água fria sobre o sonho de muitos. Quando se dará esse dia, Senhor? Até quando suportaremos tanta dor, tanto sofrimento, tanta injustiça, desamor, ódio, desavenças? Quando virá salvar o seu povo? “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé”, foi sua enigmática resposta. Ou seja, antes, deverá vir um novo dilúvio, uma derrocada geral sobre aqueles que ainda zombam de Deus e ignoram seus mandamentos, seus ensinamentos. Será preciso sufocar a arrogância e o ceticismo de grande maioria, para só então emergir das desgraças humanas a bandeira branca de nova vida sobre a face da terra. O ramo novo da vida renovada, trazida pela pomba branca da paz, será o selo definitivo do novo pacto de aliança entre Deus e os homens, cujo depositário fiel ainda é a nova arca da Aliança, sua Igreja, sua nova barca a navegar sobre as águas do dilúvio de imoralidades que afoga a fé de muitos.

          Não percam as esperanças. O aparente naufrágio que se abate sobre a espiritualidade humana, nos dias atuais, não foi diferente dos dias em que o Senhor “habitou entre nós” através do Cristo que se fez homem. Continua igual. Talvez por isso o tempo de Advento que nos propõe a Igreja seja esse momento santo de se renovar as esperanças por um mundo melhor. Um novo tempo! Ouçamos os clarins desse tempo, que ecoa nos corações contritos: “Dias melhores virão”!

          “Por isso, também vós ficai preparados!” (Mt 24,44). Ou seja: estejam atentos! Compreendam os sinais. Vigiem como sentinelas responsáveis, guardiões incansáveis, soldados em alerta… Orem, clamem aos céus pela misericórdia do Pai, sustentem os braços dos novos profetas que hoje bradam aos céus e gritam ao povo por mais rigor e coerência, mais virtudes e sensatez na vida de fé que dizem seguir. Não perca a esperança, povo de Deus! “Porque, na hora que menos pensais, o Filho do Homem virá”. Então, será Natal novamente. Então gritaremos “Hosanas”. Hosanas nas alturas, bendito é Aquele que vem! Hosanas ao Senhor!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Nosso Senhor, o Verbo de Deus, que primeiro atraiu os homens para serem servos de Deus, libertou em seguida os que lhe estavam submissos, como ele próprio disse a seus discípulos: Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15,15). A amizade de Deus concede a imortalidade aos que a obtêm.

No princípio, Deus formou Adão, não porque tivesse necessidade do homem, mas para ter alguém que pudesse receber os seus benefícios. De fato, não só antes de Adão, mas antes da criação, o Verbo glorificava seu Pai, permanecendo nele, e era também glorificado pelo Pai, como ele mesmo declara: ‘Pai, glorifica-me com a glória que eu tinha junto de ti antes que o mundo existisse’ (Jo 17,5).

Não foi também por necessitar do nosso serviço que Deus nos mandou segui-lo, mas para dar-nos a salvação. Pois seguir o Salvador é participar da salvação; e seguir a luz é receber a luz.

Quando os homens estão na luz, não são eles que a iluminam, mas são iluminados e tornam-se resplandecentes por ela. Nada.lhe proporcionam, mas dela recebem o benefício e a iluminação.

Do mesmo modo, o serviço que prestamos a Deus nada acrescenta a Deus, porque ele não precisa do serviço dos homens. Mas aos que o seguem e servem, Deus concede a vida, a incorruptibilidade e a glória eterna. Ele dá seus benefícios aos que o servem precisamente porque o servem e aos que o seguem precisamente porque o seguem; mas não recebe deles nenhum benefício, porque é rico, perfeito e de nada precisa.

Se Deus requer o serviço dos homens é porque, sendo bom e misericordioso, deseja conceder os seus dons aos que perseveram no seu serviço. Com efeito, Deus de nada precisa, mas o homem é que precisa da comunhão com Deus.

É esta, pois, a glória do homem: perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por esse motivo dizia o Senhor a seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16), dando assim a entender que não eram eles que o glorificavam seguindo-o, mas, por terem seguido o Filho de Deus, eram por ele glorificados. E disse ainda: “Quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória” (Jo 17,24).

A realização humana não acontece senão por relação próxima com o Senhor que se próximo de todos. Por isso, São Tiago tem uma trecho de sua carta que nos coloca frente a frente com essa determinação, seja para o sucesso, seja para o fracasso: depende de nós. Diz São Tiago em 4,1-10 de sua carta:

De onde surgem os conflitos e competições que existem entre vocês? Não vêm exatamente dos prazeres que guerreiam nos seus membros? Vocês cobiçam, e não possuem; então matam. Vocês têm inveja, e não conseguem nada; então lutam e fazem guerra. Vocês não recebem, porque não pedem; e vocês pedem, mas não recebem, porque pedem mal, com intenção de gastarem em seus prazeres. Idólatras! Vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo é inimigo de Deus. Ou vocês acham que é à toa que a Escritura diz: “Deus reclama com ciúme o espírito que ele fez habitar em nós”? Mas ele dá uma graça maior. É por isso que a Escritura diz: “Deus resiste aos soberbos, e aos humildes dá a sua graça.” Portanto, sejam submissos a Deus; resistam ao diabo, e este fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês. Pecadores, purifiquem as mãos! Indecisos, purifiquem o coração! Reconheçam a própria miséria, cubram-se de luto e chorem! Que o riso de vocês se transforme em luto, e a alegria em tristeza! Humilhem-se diante do Senhor, e ele os elevará.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS