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Quem nunca viu partir um parente, um amigo, um irmão de fé, camarada? Até Cristo chorou pela morte de um amigo. A dor da morte é um sentimento inexplicável, que todos um dia experimentamos, que rejeitamos sempre pois nunca estamos devidamente preparados para perdas em nossas vidas. Então é isso: rejeitamos a morte e ponto.
Mas como lidar com essa realidade, quando bem o sabemos ser inevitável esse momento? Se Cristo chorou diante da morte, o que se dirá de nós, simples mortais. A diferença está na perspectiva da nossa visão limitada, quando o mestre dos mistérios celestes falava de ressurreição; mais ainda, se dizia Ele próprio ser “a ressurreição e a vida”. Assim, só é possível compreender e justificar o choro de Cristo como uma atitude de piedade, quase frustração diante da limitada visão humana sobre a única certeza que aqui temos: dessa ninguém escapa!
Quem se acerca de Cristo e de suas Palavras, busca respostas que não existem na lógica terrena. É Ele o único mediador entre os mistérios celestes e a realidade terrena, fontes de nossa esperança e causa de nossas aflições, nosso demasiado apego ao que sentimos, vemos, tocamos… A certeza de ser ouvido é tudo em Cristo: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas (Jo 27, 41-42)”. A dúvida não está em Jesus, mas no povo que o rodeia, que necessita de milagres, de sinais fora da lógica e da realidade “que cheira mal”, que aterroriza e dilacera nossos corações. Quem assim não procede diante da morte? Mas, na perspectiva de Jesus, ela é apenas circunstancial, tão passageira quanto a vida que tanto prezamos. “Então Jesus lhes disse: ‘Desatai-o e deixai-o caminhar’. Talvez seja esta a afirmativa mais reveladora da morte de Lázaro, o amigo “que Jesus amava”… É preciso que desatemos os nós que nos impedem de uma caminhada maior, uma visão mais ampla da realidade que aqui ocupamos. A vida não pode ser um quadrante limitado por alguns anos, rápidos e fugazes, que nos permitem pensar, sonhar e morrer na praia. Não dá para entender a vida como tão simples e passageira. Isso é muito pouco.
Para se alcançar uma segunda chance de vida, mesmo diante da realidade que nos cerca, é preciso solidificar nossos laços de amor fraternal, familiar, social, ou seja, construir a sonhada fraternidade, o sentimento de solidariedade que nos identifica como raça única nesse Universo de mistérios. A vida é passageira? É, não podemos negar. Mas a morte ainda é uma ilustre desconhecida, da qual não podemos fugir. O fato é que na casa de Betânia a amizade com Cristo fez a diferença. Mesmo que o cenário de desolação, a dor da perda e a putrefação da esperança dominassem a realidade, a presença de Jesus recobraria os sinais de uma vida nova, os laços de amor e amizade que os uniam. Essa presença justifica nossa esperança.
Diante da realidade da morte e da promessa de vida nova que a fé em Cristo nos oferece, fico com a segunda possibilidade. Afinal, sua vida e extremado amor por aqueles que dele se acercaram foi prova de uma amizade sem limites. Uma amizade capaz de dar a vida, de sofrer pela perspectiva da morte, mas tudo superar na glória da ressurreição. “Coragem, eu venci o mundo”! diria Jesus.
PS. Esse artigo dedico ao sobrinho Carlos Negrão Bizzoto, que faleceu nesta semana, vencido por um câncer, mas vitorioso pela perspectiva de vida nova em Cristo.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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A quaresma é uma ótima oportunidade de mudança e conversão que redundam em crescimento humano em vários sentidos. Mas há uma coisa que, na quaresma, podemos fazer de maneira mais profunda: a busca de sentido para a vida, justamente em meio a fragmentação dos valores e a perda de sentido.

Não podemos esperar atitudes surpreendentes, comportamentos surpreendentes, decisões surpreendentes, projetos surpreendentes ou qualquer outra coisa surpreendente de quem ousa perpetuar as mesmas idéias simplistas sobre os acontecimentos, sobre os momentos, sobre os tempos e sobre a vida.

A Quaresma está ai!   Não é uma mera invenção humana e nem um artifício religioso. Pelo contrário, é uma necessidade existencial que está inscrita no coração da humanidade que é o encontro consigo mesmo.

Apesar de ser uma “instituição” da Igreja Católica, a Quaresma nasceu com o homem.  Portanto é de cada um de nós. A Igreja não é a dona, mas tem uma missão milenar de Mãe e Mestra para ler, interpretar e ritualizar este itinerário que compete à vida humana.

Temos e guardamos muitas idéias sobre tudo na vida. Contraditório ou não, quase sempre, sabemos muito pouco sobre a vida, porque sabemos muito pouco sobre nós mesmos. A questão básica é que, estamos ocupados com tudo neste mundo: trabalho, família, dívida, escola, crise…, menos conosco. Dia por dia, estamos nos desocupando cada vez mais de nós mesmos e, isso é mal.

Aonde queremos chegar? O que queremos provar?

A sombra do egoísmo nos transformou em maus altruístas. Tentamos cuidar muito bem dos outros, mas não cuidamos de nós mesmos. Isso é contraditório! Ninguém pode cuidar bem dos outros quando não cuida bem de si mesmo; ninguém respeita aos outros, quando não respeita a si mesmo; ninguém é fiel aos outros quando não é fiel a si mesmo; ninguém pode amar os outros quando não ama a si mesmo.

Precisamos nos libertar da falsa idéia de que o cuidado conosco mesmo é sintoma de egoísmo. O cuidado consigo é um dos princípios bíblicos mais genuínos do amor verdadeiro.

A busca de si mesmo! Este é o ideal perdido, numa sociedade liberal que promoveu o altruísmo, mas, não fez emergir a fraternidade; que suscitou desejos e necessidades, mas, não satisfez a fome; que criou o individualismo, mas, não fez nascer indivíduos que são sujeitos.

Será que o mundo nos conhece como gente, como pessoas, como humanos?

Fomos convertidos em número, em cifra, em estatística. Mas, nós somos gente. Precisamos fazer a volta sem revolta; precisamos de conversão sem inversão; precisamos de nós mesmos.

Devemos buscar não apenas a explicação para guardar os quarenta dias da quaresma, mas a motivação.

Quarenta anos o Povo de Deus comeu o `maná  no deserto (Ex 16,35; Nm 14,33). Moisés ficou sobre a montanha do Sinai, quarenta dias e quarenta noites (Ex 24,18; Dt 9,9). Quarenta dias e quarenta noites choveu sobre a terra, formando o dilúvio (Gn 7,4). Um aviso foi dado: “Dentro de quarenta dias, se não se converterem, Nínive será destruída” (Jn 3,4). Por quarenta dias e quarenta noites, Jesus esteve jejuando no deserto (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). E você!?

O número quarenta deixa de ser um simples número, uma seqüência numérica para ser um evento existencial necessário e indispensável. Será que vamos desprezar mais esta nova chance? Ainda dá tempo!

Vamos viver os nossos “quarenta dias”.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda bênção espiritual nos céus, em Cristo. Nele, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele, no amor” (Ef 1,3-4).

Nossa vida tem sentido mas, esse sentido que já existe, desde antes da criação do mundo (Ef 1,4), a gente só o encontra buscando dia e noite, sempre. Não porque a gente não o encontra, mas, porque a cada vez que o encontramos, o desejo de buscá-lo e anunciá-lo aos outros só aumenta, até a plenitude do encontro definitivo. É bem aí que está a verdadeira razão da nossa existência porque, esta é nossa vocação e missão.

Acertou o papa Francisco quando, iniciando o seu pontificado, disse para toda a Igreja: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (Papa Francisco – A Alegria do Evangelho, nº 1).

Somos discípulos missionários da Alegria do Evangelho que enche o nosso coração e a nossa vida inteira e nos impulsiona a ser, viver e fazer como Jesus que, enviado pelo Pai, entregou sua vida em vista do Reino Definitivo.

A indiferença, a omissão, o descompromisso, o distanciamento… não cabem na vida de quem segue a Jesus e não deveriam bagunçar a nossa forma de levar a fé e praticar a religião.

O nosso testemunho para o mundo é a busca e o encontro, o amor e o serviço em nome daquele que, desde sempre, tomou e continua tomando a iniciativa, abençoando-nos, escolhendo-nos e enviando-nos.

Para nós, a vida de São Francisco é um grande estímulo e um exemplo porque inspira a busca de Cristo. O encontro e chamado de Francisco aconteceu de maneira mais clara diante da Cruz de São Damião. Enquanto rezava, contemplando o Cristo na cruz, Francisco se viu tremendamente tocado pelo Senhor que lhe disse: “Francisco: vai e reconstrói a minha Igreja!”. Esse encontro e chamado mudou sua vida radicalmente, levando-o ao desapego dos bens, à vida simples e humilde, ao cuidado dos pobres – especialmente os leprosos – e à vida fraterna. Seu estilo de vida transformou a igreja em seu tempo e ainda hoje. Exemplo claro é o nosso papa que, adotou o nome de Francisco por causa do santo, além de chamar o mundo todo para dois cuidados: primeiro, o cuidado com a casa comum, com a encíclica Laudato Si, inspirado no cântico das Criaturas feito por São Francisco e o cuidado com os pobres, criando a Jornada Mundial dos pobres. Continuemos a aprender com São Francisco, como amar, servir e seguir Jesus.

Olhando para Maria temos, também, um grande farol iluminando nossos passos em direção ao seu filho Jesus. Ela nos ajuda a dizer e renovar o nosso sim diário com o seu: “Eis aqui a serva [o servo] do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela nos ensina a guardar todos os acontecimentos e meditar sobre eles, no coração Lc 2,19). Ela nos mostra como devemos seguir Jesus, exortando: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Ela nos inspira a perseverança, mesmo nas horas mais difíceis, permanecendo junto dele, aos pés da cruz (Jo 19,25-27). E, finalmente, ela nos faz entender que, permanecendo na comunidade, somos iluminados e impulsionados com os dons do Espírito Santo para o amor, a conversão e a missão, num Pentecostes permanente (At 2,1-11).

Ninguém nasce pronto e acabado! É no seguimento a Jesus, que nossa vida vai crescendo até atingir a maturidade. Estamos falando de uma caminhada do dia a dia que mistura alegria e tristeza, saúde e doença, vida e morte. Que não nos falte perseverança para o caminho e a caminhada!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Alimentar um povo não é só lhe oferecer o pão, o básico para sua sobrevivência. Isso é relativamente fácil, basta vontade e compaixão. Há porém uma outra forma de alimento, também essencial, que fortalece o espírito humano com a solidariedade necessária para uma convivência harmoniosa: é o alimento da verdade, aquele que nutre corpo e alma e dá à vida um novo sentido. Aqui nos deparamos com os mistérios e as necessidades vitais que todo ser humano tenta compreender e alimentar no seu dia-a-dia. Alimentar-se com o pão da terra e também o pão do céu, aquele que a graça de Deus derramou no deserto… “Os discípulos de Jesus são formados para a confiança na graça de Deus, que alimenta uma multidão mesmo quando os recursos à disposição sejam aparentemente insuficientes” (CF 142).

Eucaristia é o nome do milagre! “Não só de pão vive o homem – disse Jesus – mas de toda a palavra..” E no banquete eucarístico Ele foi enfático ao proclamar: “Isto é o meu corpo”. Não usou palavras dúbias para associar a fome humana às necessidades espirituais e ao mistério presente naquela mesa. “Jesus, assim, acresce ao compromisso de repartir e distribuir a Eucaristia a responsabilidade pela fome dos irmãos, o comprometimento sobre as necessidades mútuas” (144). Magistralmente, hoje Ele nos diz: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 5,34). Outra não é esta obra senão a construção da fraternidade universal. Alimentar esse povo é nossa responsabilidade social. Então nossos bispos enfatizam: “Hoje, a Igreja precisa relembrar às comunidades contemporâneas que a celebração da Eucaristia não nos faz uma comunidade de eleitos, separados do restante do mundo, premiados com uma realidade sublime, mas nos transforma em pessoas incumbidas da missão dada por Jesus” (146).

Sem compaixão não pode haver cristianismo. Sem essa visão que emana da mesa eucarística, nossa comunhão com Cristo é incompleta. “Na Eucaristia recebemos Cristo que tem fome no mundo” (153). Essa relação está intimamente ligada à ação da Igreja, pois dela derivam atos e atitudes que diferenciam um gesto cristão de qualquer gesto político. Bem nos disse Papa Francisco em uma de suas exortações: “é nocivo e ideológico também o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, imanentista, comunista, populista; ou então relativizam-no como se houvesse outras coisas mais importantes” (G.E.) A vida eucarística do povo de Deus é o rótulo que nos identifica como irmãos, sem as divisões toscas e oportunistas que hoje nos impingem. Só se sacia o faminto com o pão da Verdade, quando por primeiro lhe oferecemos o pão de cada dia. Não há outro caminho. “Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos famintos” (154).

Assim chegamos ao final das reflexões de mais uma oportuna Campanha da Fraternidade a coroar nosso período quaresmal. Nossos bispos foram mais uma vez zelosos guardiões de sua missão apostólica. Sobra-nos a ação “para transformar a realidade da fome”. O maná do deserto renovou as forças do povo de Deus para alcançar a Terra Prometida. Jesus se apresentou como novo maná, o pão-vivo também descido do céu. Eis o caminho da libertação, as pistas necessárias que a doutrina cristã oferece ao mundo, conclamando todos à responsabilidade social. “Dai-lhes vós mesmos de comer”. E pontifica: “O motor do nosso agir não é outro senão a mística do Seguimento de Jesus” (158). Outro nome não há. Senhor, tenha compaixão!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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          ‘’Diante do tema escolhido para a Campanha da Fraternidade de 2023, a Igreja do Brasil também se coloca a serviço do Evangelho” (114). Não é um tema político e oportunista como já ouvi por aí, como se o catolicismo brasileiro estive usando o momento histórico de uma transição de poderes para colocar lenha na fogueira (disse-me um interlocutor). Ao contrário, “é uma expressão de coragem deixar que o Evangelho nos interpele uma vez mais com o mandato tão claro e desafiador de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16). Não é fácil ouvir o chamado à responsabilidade” (113).

          Não vamos fazer vista grossa a um problema que nos diz respeito. A fome está aí e só não a sente quem tem o estômago saciado e a mesa farta. O que a Igreja faz, em sua missão profética, é apenas iluminar a realidade, mostrando a ferida aberta, a chaga que uma sociedade não solidária só faz crescer. “A retenção egoísta por parte de poucos leva ao perecimento, assim como no deserto: não o perecimento do alimento, mas daqueles que não o têm” (117). Alimento retido egoisticamente apodrece junto com aqueles que o retem. Nenhum proveito terá. Oferecer alimento é, portanto, gesto de acolhimento à pessoa de Cristo. “Não se pode deixar de perceber que o próprio Jesus utiliza da imagem do pão para referir-se ao significado da própria pessoa” (121).

          A dinâmica do acolhimento e da solidariedade é própria do cristianismo autêntico. Ser cristão é isso. “Ele se esvazia do próprio sofrimento para dar lugar, em seu próprio coração, ao sofrimento do outro” (128). O acolhimento é marca registrada do cristianismo amadurecido. “As multidões se sentam na relva e comem com fartura, porque se sentem protegidas e amparadas, encontram em Jesus o lugar onde podem depositar aquilo que trazem sobre os ombros: não bolsas e alforjes, mas as preocupações e o peso da luta diária, que mais tarde o próprio Jesus carregará sobre os próprios ombros no pesado madeiro da cruz” (129). Querem maiores razões para a razão de ser da Igreja no mundo? Para exercitar aquilo que os identifica na caminhada da fé; agir como Jesus agiu? “Mas quem age com passividade diante da fome constatada une sua voz à de Caim” (134).

          O que não se pode admitir num contexto de igreja é a divisão por questões teológicas e ou políticas. Vergonhosamente, há muitos padres e paróquias, como igualmente muitos fiéis, contrários à atual campanha. Nada se constrói com espíritos divergentes. Buscamos, por primeiro a unidade, para nela encontrarmos o bem comum, o espírito de fraternidade que desde sempre nos identificou como povo eleito. Construir caminhos opostos é voltar para a peregrinação do deserto, onde padecemos a incerteza de se alcançar a terra prometida, as graças da vida plena. “A questão é: estamos dispostos a progredir nesse deserto, alcançando um primeiro estágio de percepção das necessidades do outro, mas também nos dispondo ao segundo estágio, que é assumir nossa responsabilidade sobre as necessidades do outro?” (138). Não há aqui nenhuma questão política, mas genuinamente solidária, fraterna.

          Aos que divergem dessa linha de raciocínio, meus sentimentos. Fugir da realidade por questões meramente transitórias, que se contrapõem ao testemunho da vida cristã, que expõem diferenças e divergências dentro de uma comunidade outrora sinônimo de fraternidade, de unidade, ora, ora… isso apenas nos envergonha. “Com frequência, os profetas manifestaram sua indignação diante da injustiça. Jesus também o fez, especialmente quando essas estruturas se aliaram ao Templo, para oprimir as pessoas sob a máscara de uma observância religiosa vazia” (141). Então? Você faz parte dessa religiosidade sem ação?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Exercícios físicos são ótimos e recomendáveis para a saúde mas, é preciso observar algumas recomendações porque, em certos casos, exercícios servem para perder (por exemplo peso) e outros servem para ganhar (por exemplo massa magra). Não aconteça que, sem nenhuma noção de benefícios uma pessoa se envolva em atividade física que prejudique a si mesmo por excesso ou por falta de cuidado.

Caso semelhante acontece com a fé: muitos são os exercício que nos ajudam no crescimento espiritual e, as vezes, nem sabemos e nem nos damos conta. É muito importante que, tendo clareza sobre a realidade espiritual de nossa existência, saibamos exercitar a fé, com exercícios de piedade que, em certas ocasiões, nos ajudam a perder (com as renúncias…) ou nos façam ganhar (como a caridade…).

O jejum é um excelente exercício da piedade cristã que coopera para a nossa conversão e nos permite crescer e amadurecer. Mas é importante lembrar que o jejum como qualquer exercício de piedade está relacionado com a experiência do amor a Deus e ao próximo. O jejum é bem feito quando tem por base e referência as exigências do Reino: amor, justiça, verdade e misericórdia.

O profeta Isaías nos aponta alguns elementos de coerência para um bom Jejum:

“Grite a plenos pulmões, sem parar; solte como trombeta o som da sua voz; mostre ao meu povo os seus crimes e faça a casa de Jacó conhecer os seus pecados. Dia após dia, eles parecem me procurar, mostram desejo de conhecer os meus caminhos; parecem povo que pratica a justiça e que nunca se esquece do direito do seu Deus. Eles vêm me pedir as regras da justiça, eles querem estar perto de Deus. E dizem: ‘Por que jejuamos, e tu não viste? Por que nos humilhamos totalmente, e nem tomaste conhecimento?’

Acontece que, mesmo quando estão jejuando, vocês só cuidam dos próprios interesses e continuam explorando quem trabalha para vocês.

Vejam! Vocês jejuam entre rixas e discussões, dando socos sem piedade. Não é jejuando dessa forma que farão chegar lá em cima a voz de vocês. Vejam! O jejum que eu aprecio, o dia em que uma pessoa procura se humilhar, não deve ser desta maneira: curvar a cabeça como se fosse uma vara, deitar de luto na cinza…

É isso que vocês chamam de jejum, um dia para agradar a Javé?

O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente.

Se você fizer isso, a sua luz brilhará como a aurora, suas feridas vão sarar rapidamente, a justiça que você pratica irá à sua frente e a glória de Javé virá acompanhando você. Então você clamará, e Javé responderá; você chamará por socorro, e Javé responderá: ‘Estou aqui!’ Isso, se você tirar do seu meio o jugo, o gesto que ameaça e a linguagem injuriosa; se você der o seu pão ao faminto e matar a fome do oprimido. Então a sua luz brilhará nas trevas e a escuridão será para você como a claridade do meio-dia;

Javé será sempre o seu guia e lhe dará fartura até mesmo em terra deserta; ele fortificará seus ossos e você será como jardim irrigado, qual mina borbulhante, onde nunca falta água; as suas ruínas antigas serão reconstruídas, você levantará paredes em cima dos alicerces de tempos passados. Vão chamá-lo reparador de brechas e restaurador de ruínas, onde se possa morar” (Isaías 58,1-12).

Sem espírito de conversão, nenhum exercício de piedade tem efeito benéfico, vira brasa na cabeça de quem o pratica.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




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     O pobre é um concorrente que incomoda. Mas não admitimos essa verdade. Na realidade, preferimos ignorar a admitir. Nesse quadro de insana e extrema ignorância social, a fome é fato inadmissível. “Uma carência grave e prolongada da alimentação provoca a debilidade do organismo, a apatia, a perda do sentido social, a indiferença e, por vezes, a hostilidade em relação aos mais frágeis: em particular as crianças e os idosos“ (TB 67). É preferível, pois, fechar os olhos para essa realidade social do que enfrenta-la como parte dos muitos problemas que já temos, tais quais a violência doméstica, social e a perda do sentido da vida. E nunca admitirmos ser tudo isso uma consequência da fome.

          Como provação, a fome ainda é uma experiência desconhecida para muitos de nós, brasileiros privilegiados. “Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, depois disso, teve fome” (Mt 4,2) E você, já passou fome alguma vez? Sabe o quanto dói, o quanto revolta? É dessa experiência de dor e abandono que, voluntária ou involuntariamente, necessitamos provar para reavaliar a dignidade perdida também voluntária ou involuntariamente. Uma experiência de fome nos leva a rejeitar situações de injustiça. “Uma consequência quase ignorada é o aumento da criminalidade” (76). Não há como negar essa relação, como também a falta de vontade política e social para se encarar de frente essa questão. Já dizia Betinho, grande ativista e sociólogo brasileiro, “quando havia 32 milhões de famintos no Brasil” (anos 90), que “a alma da fome é política” (78).

          Não podemos negar que “a responsabilidade maior por enfrentar e solucionar os problemas da miséria e da fome pertence ao poder público” (83). Mas igualmente não podemos negar que “aquilo que descartamos ou desperdiçamos é, precisamente, o que falta à mesa dos famintos e miseráveis” (89). Somos responsáveis comunitariamente. “Nessa educação para vencer a fome, como se tenta vencer a doença ou a ignorância, é importante que todos sejam sensibilizados” (93). Muitos são os projetos, instituições e movimentos sociais voltados para essa área, mas a indiferença social ainda se constitui um obstáculo vergonhoso. “Sente-se, contudo, a ausência no cenário brasileiro, dos Bancos Éticos, aqueles que conectam poupadores e investidores que querem transformar o mundo (100)”. A economia solidária é um sonho bonito. Mas não sai do papel. A economia de comunhão, nascida no seio do catolicismo, ainda engatinha. A economia de Francisco e Clara, projeto recente do Papa Francisco, está em fase de gestação, buscando envolver jovens de diferentes crenças ou nacionalidades. Muitos outros grupos se somam a essa tomada de consciência de que “quem tem fome, tem pressa”; de que só se constrói uma sociedade justa e humana a partir dos nossos conceitos de justiça e humanidade. O mundo que nos rodeia tem a nossa cara, é retrato do que somos.

          Mas os ensinamentos cristãos continuam válidos. “Onde todos são irmãos não há lugar para a fome”, diz um subtítulo do texto-base dessa CF. Causa e consequência da ação de Cristo em nosso mundo. Razão de sua vida! De nosso existir como nação, como povo escolhido e abençoado por Deus. Moramos numa pátria amada. “Brasil, terra rica, bela e abundante, cheia de um povo bom e solidário, não se parece como Reino desejado por Deus, e apresentado por Jesus. Aqui, nem todos têm vida em plenitude! Ainda não somos verdadeiramente irmãos e irmãs! Nosso País não é ainda nossa Casa Comum! Não formamos uma só família, dos filhos e filhas de Deus. Se assim fosse, a ganância, o individualismo, o domínio dos interesses individuais e, sobretudo, a fome não existiriam entre nós, ceifando vidas” (112). Todavia, ainda somos um povo de fé. Como bem disse, um dia, Dom Helder em sua voz profética: “Se eu tenho fome, o problema é meu, Se meu irmão tem fome, o problema é nosso”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

         




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Para a fé, tudo é mistério porque, tudo vem de Deus e Deus é mistério. Nada, neste mundo, fica tão claro, para nós, senão quando nos deixamos iluminar por aquele que é a origem de tudo porque, foi ele que, tudo criou. Assim, entendemos que, se a luz não ilumina por dentro, nada fica claro e visível em lugar nenhum. Não é a toa que a primeira grande obra de Deus-Pai foi criar a luz que resplandece a face do próprio Deus e que ilumina o restante da obra criada.

Sob a luz da fé a vida fica toda iluminada e, pouco a pouco, pelo poder da luz de Deus, em nós, vamos mergulhando no mistério de Deus e de todas as coisas.

Deus nunca se esconde: Deus se revela! Essa é a sua pedagogia sempre!

A revelação é, portanto, uma graça de Deus dada a nós. Dado que a graça supõe a natureza, o ponto de partida da revelação de Divina é a própria realidade humana com todo universo simbólico que a compõe: linguagem, cultura, costumes, hábitos, ritos, práticas… Revelação é encontro!

A religião que, tem por missão religar: o céu e a terra, o humano e o divino… cria um diálogo ritual que facilita o acesso a Deus, aproximando-o de nós e elevando-nos a ele, num grande encontro, no caminho e na caminhada, como peregrinos que somos. A religião não se basta aos seus ritos: ela é mediação do encontro. Os fies não se bastam em sua busca individualista de Deus: todos pelejam de mãos dadas e em apoios mútuos, para se encontrarem com o Senhor que, sempre, toma a iniciativa de vir ao encontro.

A religião cristã tem como meta buscar as coisas do alto, chegar ao céu, encontrar-se com o Pai, pela via do Cristo, fazendo-se discípula dele para fazer como ele, ser como ele e viver como ele, na simplicidade e na humildade.

A liturgia da Igreja Católica procurando atualizar o sentido da fé, como busca-encontro-conversão traz, para dentro da prática religiosa, o tempo litúrgico, onde as ações de Deus e seus mistérios são atualizados na vida presente, na história real, no tempo de agora, na vida concreta das pessoas.

A cada ano a liturgia nos permite mergulhar no mistério de Deus, na história, com a ajuda de um dos evangelistas. Neste ano quem nos ajuda é o evangelista Mateus. O ano Litúrgico se inicia tempo do advento (novembro/dezembro), levando até o Natal do Senhor. Depois das festas natalinas que se prolonga até o Batismo de Jesus (janeiro), a gente chega no tempo comum que nos apresenta Deus no cotidiano da vida mais comum.

Quando chega a quarta feira de cinzas, inicia-se o tempo da quaresma com um grande convite para seguirmos os passos de Cristo, num discipulado de conversão

O caminho quaresmal é, no tempo litúrgico da Igreja, a celebração-vivência do Mistério do Deus que nos desperta e nos encaminha para o restabelecimento da consciência do pecado e o arrependimento, com a certeza do perdão e da misericórdia.

Na prática do jejum, da oração, da caridade e de outros atos de piedade, procuramos viver o chamado de Deus para todos nós como nos anuncia o profeta Joel:

“Pois agora – oráculo de Javé – voltem para mim de todo o coração, fazendo jejum, choro e lamentação. Rasguem o coração, e não as roupas! Voltem para Javé, o Deus de vocês, pois ele é piedade e compaixão, lento para a cólera e cheio de amor, e se arrepende das ameaças. Quem sabe, ele volte atrás e se arrependa, deixe para nós bênção, oferta e libação de vinho para Javé, o Deus de vocês. Toquem a trombeta em Sião, proclamem um jejum, convoquem uma assembléia. Reúnam o povo, organizem a comunidade, chamem os velhos, reúnam os jovens e crianças de peito. O jovem esposo saia do quarto, a jovem esposa deixe o seu leito. Os sacerdotes, ministros de Javé, venham chorar entre o pórtico e o altar, e digam: “Javé, tem piedade do teu povo! Não entregues a tua herança à vergonha, à caçoada das nações”. Por que se deveria dizer entre os povos: “Onde está o Deus deles?” (Jl 2,12-17).

Aproveitemos o tempo que temos e a oportunidade que Deus nos dá de receber a graça da conversão para a vida eterna.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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          “Quem inventou a fome são os que comem”. Assim a escritora Carolina Maria de Jesus um dia abordou esse tema. Assim a CNBB, pela terceira vez, recoloca o assunto em uma Campanha da Fraternidade a nível nacional, por entender que “é dever e também direito da Igreja lidar com essas questões”, que mais uma vez 58,1% da população brasileira vive em algum nível de Insegurança Alimentar e 15,5% (33 milhões) passam fome (Dados do II Inquérito  VIGISAN- 2022). “É como se todos os habitantes das sete maiores cidades do Brasil ou todos os peruanos passassem fome” (40).

          A desigualdade num país que se diz celeiro do mundo, além de contraditória, é vergonhosa, assustadora. “A progressiva crise econômica e o desmonte das políticas públicas explicam o recrudescimento da insegurança alimentar” (42), pondera o TB da CF, que dá um diagnóstico da causa: o não incentivo à agricultura familiar, que produziria mais alimentos para a mesa do brasileiro. “A presença do agronegócio, por um lado, gera receitas e aquece o mercado externo e a exportação dos produtos agrícolas… por outro lado, a presença das pequenas propriedades permite maior diversificação da produção agrícola… No Brasil, em geral, não se produz para comer. Produz-se para lucrar e exportar” (47).

          Feito o diagnóstico, vem o problema. Como inverter ou ao menos conciliar esse conceito produtivo com a necessidade dos que pouco ou nada produzem. “Exportamos o que não consumimos. Mas não consumismo porque o salário é miserável” (51). O disparate da nossa desigualdade é hoje o maior fator da divisão político-social que bem conhecemos. E amargamos como povo outrora unido. “É condenável que seres humanos sejam deixados morrendo de fome por causa da indiferença egoísta, com desperdícios alimentares e inúteis refinamentos gastronômicos; é moralmente condenável quem banqueteia enquanto o pobre espera inutilmente à porta” (58).

          Fome e sede andam juntas. A escassez dos recursos hídricos e seu mau uso pela prioridade dada à geração de energia, também condena nossos conceitos de progresso. Precisamos tratar essa questão com mais racionalidade. No Brasil não existe um dado confiável sobre a triste realidade dos moradores de rua, simplesmente porque não possuem domicílio e o censo não os contabiliza. Aqui a fome campeia livre e solta. Mas “a questão da fome e a questão da moradia andam sempre juntas” (64), porque “o processo da globalização da indiferença e a cultura do descarte se reinventam com novas formas de gerar a exclusão” (65), nos coloca o Texto-base. Aqui estão algumas pinceladas do que temos de precioso nessas reflexões. Bom mesmo seria sua leitura pessoal. Ela nos devolve o senso crítico.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

A vida baseada na busca de resultados, invariavelmente, impõe a idéia de sucesso pela força, pela eficácia, pela competição, pela rivalidade, pela ostentação, pela exibição megalomaníaca e pelo nariz empinado.

Quem vive desta mentalidade não admite perder, nem fraquejar, nem sofrer e, nem tão pouco, fazer renúncias. Não cabe no seu vocabulário limitação, pequenez, sofrimento e finitude, próprio de quem é humano. Pelo contrário, como se vivesse um grande ‘faz de conta’, não fala de outra coisa senão de grandezas e, faz disso sua mania. Não se contenta com nada, com ninguém e, nem tão pouco, consigo mesmo. Murmura o tempo todo! Reclama de tudo! Está, sempre, insatisfeito.

Quem vive a vida, atrás de resultados, está sempre com pressa e não saboreia nada!

Nós não podemos viver com a pretensão de resultados, porque vida não é resultado! A vida não é como uma fórmula matemática! Não é algo mensurável com a exatidão de 2+2=4!

A vida é inexata, sem ser ilógica; é luta, sem ser uma guerra; é fogo, sem ser um inferno; é tarefa, sem ser obrigação; tem um fim, sem ser carta marcada; é imprevisível, sem ser anarquia; é uma caixa de surpresa, sem ser mágica.

A vida é um grande mistério que a gente descobre e vive pouco a pouco; passo a passo; momento a momento; tempo a tempo… Não se perde em ‘coisinhas’ e futilidades, mas se encontra em pequenas coisas e se alimenta de pequenos gestos.

Pode o orgulho garantir alguma coisa na vida? “Javé, o que é o homem para que o conheças, o filho de um mortal, para que o leves em conta? O homem é como sopro, e seus dias como sombra que passa” (Sl 144,3-4 e Sl 8,5-6).

Por melhor que seja esta vida, nada é eterno no mundo! “Como gota no mar e grão na areia, tais são os seus poucos anos frente a um dia da eternidade” (Eclo 18,9).    

O que pode alguém sozinho: sem ninguém e sem Deus? “O mundo inteiro diante de ti é como grão de areia na balança, como gota de orvalho matutino caindo sobre a terra” (Sb 11,22).

Pode alguém viver, a vida toda, de ‘salto alto’, sem cair? “Não deixem que os outros chamem vocês líderes, pois um só é o Líder de vocês: o Messias. Pelo contrário, o maior de vocês deve ser aquele que serve a vocês. Quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (Mt 23,10-12).

Quem é que pode gabar-se de alguma coisa na vida? Quem tem algo do que se gabar? “Visto que muitos se gabam de seus títulos humanos, também eu vou me gabar. São hebreus? Eu também. São israelitas? Eu também. São descendentes de Abraão? Eu também. São ministros de Cristo? Falo como louco: eu o sou muito mais. Muito mais pelas fadigas; muito mais pelas prisões; infinitamente mais pelos açoites; freqüentemente em perigo de morte; dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um.

(..) Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de raça, perigos por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos. Mais ainda: morto de cansaço, muitas noites sem dormir, fome e sede, muitos jejuns, com frio e sem agasalho. E isso para não contar o resto: a minha preocupação cotidiana, a atenção que tenho por todas as igrejas. Quem fraqueja, sem que eu também me sinta fraco? Quem cai, sem que eu me sinta com febre? Se é preciso gabar-se, é de minha fraqueza que vou me gabar.

É preciso gabar-se? Ele, porém, me respondeu: ‘Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder.’ Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. E é por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (1Cor 11,18.22-30; 12,1.9-10).

Pequenos gestos são fundamentais para a vida em crescimento e em mudanças!