1

Diocese de Assis

 

          Num tempo em que as esperanças humanas se atrelam a qualquer perspectiva; num tempo em que a fé passa a ser um dos pilares de renovadas esperanças ou mesmo objeto de questionamento e ceticismo ainda maiores; num tempo em que epifania deixa de ser simples manifestação religiosa presente no calendário litúrgico ou mesmo nas manifestações populares a enaltecerem a coragem e disposição de três reis que tudo abandonaram para seguir uma estrela no firmamento; neste tempo, nesse mesmo tempo histórico e atual é que Deus se manifestou e se manifesta. A lembrança dos magos do oriente possui lições bem oportunas para nossos dias.

Senão, vejamos os fatos. Os poderes humanos sempre estiveram e estão ligados aos reinados e ou territórios que demarcam povos e nações. O reinado de Herodes era soberano enquanto legitimado pelos poderosos que lhe davam sustentação política. Conquanto outros povos ainda titubeavam em seus reinos de desencantos e desesperanças. Buscavam sinais que pudessem diminuir suas incertezas num mundo limitado pela força e poderio bélico. Roma dominava, mas outros povos também reivindicavam direitos, demarcavam territórios, buscavam um futuro de liberdade e paz. Era o caso dos magos do oriente, seguidores de uma estrela que lhes apontava novo horizonte. E esta vai lhes revelar Jesus, o menino da manjedoura!

Passados os primeiros momentos da revelação (a manifestação divina a todos os povos, representados por homens revestidos de autoridade governamental) eis que a história dá um salto para nos apresentar “a voz que clama no deserto”. João, o Batista, seria o precursor Daquele que daria novo sentido ao exercício de qualquer autoridade constituída diante do povo. Eis, pois, que a epifania, a grande manifestação de Deus entre nós, se compraz no gesto da água derramada, a purificação primeira que o batismo realiza naqueles que aceitam esse gesto como primeiro passo da vida sacramental da Igreja de Cristo. Eis que a partir de então “o céu se abriu”. A revelação contida na cena do Batismo de Cristo não foi um simples acontecimento poético; mais um a se purificar no vale do Jordão, mas uma verdadeira epifania, melhor dizendo, uma teofania, onde a divindade de Cristo se manifestou claramente, com a manifestação do Pai e do Espírito em forma de pomba: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu benquerer” (Lc 3,22). A Trindade estava ali.

Postas essas cenas e fatos históricos, seus efeitos ainda levantam interrogações. Os poderes constituídos daquela época não diferem dos que agora nos regem. Muitos Herodes continuam a matar inocentes, criancinhas, pequeninos. Os infanticidas ainda agem. Outros, alguns poucos vindos de terras longínquas, de realidades diferentes da nossa cultura e das nossas crenças, ainda oferecem o que está ao alcance deles. Querem contribuir com a construção de um mundo novo, um novo tempo. Ao passo que muitos dos nossos, figurinhas carimbadas como seguidores fiéis dos mandamentos e da crença num Deus Único e Verdadeiro, sequer valorizam o Batismo do Espírito que dizem ter recebido. Uma verdadeira pandemia de contradições e distorções religiosas. Um sentimento contrário a tudo que a doutrina cristã nos ensina a praticar. Enquanto perdurar esse negacionismo, essa belicosidade entre fé e razão, ciência e política, fake news e realidade, estaremos contribuindo para uma nova e maior pandemia: a negação de Deus. Dobremos nossos joelhos e nos deixemos purificar nas águas de um novo rio, que ainda corre entre nós: aquele que nos ilumina com seu Espírito e nos cura com seu Fogo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

O título não é meu. Tomo emprestado de autor que bem conhecemos pelo belo testemunho de fé e esperança com a prática do dízimo dentro do catolicismo. Tanto que suas diversas obras sobre o assunto nos ensinam a compreender e praticar esse mandamento cristão como canal extraordinário de graças e bênçãos que nos levam fatalmente à prosperidade. Porém não como o mundo entende.

Ora, falar de prosperidade em tempos de renovação de propósitos, de retomada de ânimos, de formulação generalizada de novos ideais ou metas para um ano novo, isso é quase sintomático; um assunto decorrente de um sentimento ou desejo de todos. Um novo tempo é sempre fonte inspiradora de novos sonhos. Aliada ou não à fé do indivíduo, a prosperidade torna-se desejo de todos. Principalmente daqueles que entendem essa meta como detentora de muitos bens, dinheiro fácil, carros e mansões, prazeres sem culpa…

Dessa prosperidade estou fugindo. A semente da fé cristã nos inspira novos conceitos de prosperidade, aquela que vai além da realidade temporal. Além dessa, há também a prosperidade sob as graças e bênçãos divinas. A mesma que levou Abrão, o Pai da Fé, a sair de sua terra e realizar seus sonhos de liberdade e prosperidade em terras longínquas, bem distantes de suas origens e planos pessoais. Salomão, com toda sua riqueza, viu que sua prosperidade nada significava sem a graça de Deus. José do Egito, que se tornou um quase faraó em terras estranhas, não resistiu diante do sofrimento de seu povo e a tudo renunciou em troca da liberdade dos que verdadeiramente amava. Assim, um a um, os personagens bíblicos um dia se encontraram com a verdade da prosperidade que buscavam. Essa não. Verdadeira prosperidade só aquela abençoada e justa aos olhos de Deus.

Então a prosperidade humana é maldita? Não, claro que não. Nosso problema não está no sucesso dos bens e progressos adquiridos ao longo da nossa história. Nosso problema está na partilha, ou melhor, na falta desta. Enquanto as conquistas e crescimento das riquezas humanas estiverem manietadas pelo usufruto de poucos, pelo corporativismo de classes, pelos critérios de administração voltados aos interesses grupais, políticos ou mesmo familiares, não haverá verdadeira prosperidade. A prosperidade parte do princípio da partilha, com seu efeito multiplicador que gera riquezas e conhecimentos, numa cadeia indivisível de crescimento. Toda comunidade próspera conhece e testemunha esse efeito: a partilha gera o milagre da multiplicação.

Meu amigo A. Tatto, autor acima citado, bem definiu a verdadeira prosperidade em seu livro Semente de Prosperidade. Escreveu com a naturalidade de seu testemunho: “Como o Pai me deu, dou também. Como Ele não guardou só para si a riqueza, eu também não vou guardar: vou possibilitar que ela chegue às mãos de muita gente que, por sua vez, vai plantar e colher e redistribuir. E o negócio não para: só cresce porque possui o princípio infalível da prosperidade. Ela vem de Deus, ela é de Deus, ela conduz a Deus. Se ela não conduz a Deus, não veio Dele”. É esse o segredo da prosperidade, da verdadeira e santa prosperidade que muitos almejam, mas nunca alcançam. Porque ser é melhor que ter. E o mundo precisa descobrir esse segredinho. Sobrevivemos a um ano difícil. Outros só serão melhores se a semente do amor cristão se sobrepor às nossas ambições pessoais. Próspero Ano Novo!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Não é preciso fazer nenhuma pesquisa ou estatística para saber que o tempo é, sempre, referido como a principal justificativa dos problemas e dificuldades de todos. Não é difícil ouvir alguém dizendo: não deu tempo… não tenho tempo… se der tempo… se eu tiver tempo… quando o tempo permitir… o tempo me amarrou…

O tempo… o tempo e o vento! O tempo está para o vento como o vento para o tempo. O vento passa! O Tempo passa. Os dois passam.

O tempo passa para todos mas, nunca será suficiente para quem não se determina; para quem não se organiza; para quem não faz, seu, o tempo

O tempo não espera ninguém: vai passando! Segue seu próprio ritmo, sua lei e movimento. O tempo não pára! O tempo determina as horas, os dias, os meses e os anos. O tempo não volta atrás: vai sempre a frente. Impõe-se a todos e não poupa ninguém. O tempo é companheiro, mas, pode se tornar inimigo; é boa medida, mas, pode se tornar um peso; é referência, mas, pode se tornar o caos; é graça, mas, pode se tornar um terror; é liberdade, mas, pode se tornar uma prisão; é tudo, mas, pode se tornar um nada.

Pergunta: o que fazer em relação ao tempo que passa? Resposta: não ficar assistindo o tempo passar!

O ano 2021 está passando… está no final. O que você fez com o tempo em 2021? O ano 2022 está chegando… está pra iniciar. O que você vai fazer com o tempo em 2022?

Em 2022, faça diferente. Viva! Conviva! Abra-se! Mude! Imponha-se! Tome iniciativas. Faça acontecer!

Redescubra-se!

Redescubra-se em meio ao excesso de trabalho e do ativismo insano. Usufrua o que você faz e realiza. “Observei a tarefa que Deus entregou aos homens, para com ela se ocuparem: tudo o que ele fez é apropriado para cada tempo. Também colocou o senso da eternidade no coração do homem, mas sem que o homem possa compreender a obra que Deus realiza do começo até o fim. Então compreendi que não existe para o homem nada melhor do que se alegrar e agir bem durante a vida.” (Ecle 3,9-13)

Redescubra-se em meio aos traumas, frustrações, perdas, fracassos, medos e terrores do passado. Viva o presente. “Não fiquem lembrando o passado, não pensem nas coisas antigas; vejam que estou fazendo uma coisa nova: ela está brotando agora, e vocês não percebem?” (Is 43,18-19).

Redescubra-se em meio às rivalidades, competições e disputas. Pratique a humildade. “não é o mais veloz que ganha a corrida, nem é o mais forte que vence na batalha. O pão não é para os mais sábios, nem as riquezas para os mais inteligentes…” (Ecle 9,11).

Redescubra-se em meio às indecisões, inseguranças dúvidas, fraquezas, fragilidades e impotências. Confia no Senhor! “Ele (o Senhor), porém, me respondeu: ‘Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder.’ Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. E é por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,9-10)

Redescubra-se às preocupações, ilusões, obsessões, quimeras  e ansiedades. Acredite na Providência Divina. “Portanto, não fiquem preocupados, dizendo: O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir? O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Pelo contrário, em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas” (Mt 6,31-33).

Redescubra-se no tempo que está acima do relógio e do calendário. Redescubra-se no tempo de Deus. Aprenda a discernir os tempos e os momentos. “Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa” (Ecle 3,1-8).

Em 2022 redescubra-se! Você vai se surpreender!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Por que existe o Natal? O Natal, que é o nascimento de Jesus, existe porque é fruto da PROMESSA DE SALVAÇÃO que Deus fez ao seu povo, quando ainda estava ainda no exílio da Babilônia: “Pois saibam que Javé lhes dará um sinal: a jovem concebeu e dará à luz um filho, e o chamarão pelo nome de Emanuel.  Javé há de trazer para você, para o seu povo e para toda a família do seu pai, dias de felicidade como nunca houve desde o dia em que Efraim se separou de Judá” (Is 7,14.17). Somos o povo de Deus.  Portanto, essa promessa é para cada um de nós!

No Salmo 8,5, o salmista pergunta a Deus: “Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho? Esta pergunta do salmista é a pergunta de todos nós.   As vezes, não entendemos porque Deus insiste tanto conosco; em nos querer, em nos amar… mesmo quando não o queremos e não o amamos.  Segundo 2Tim 2,13, “se lhe formos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode renegar a si mesmo”. Eis, portanto, a resposta do Senhor à pergunta do salmista e nossa: “Assim diz Javé, aquele que criou você, Jacó; aquele que formou você, Israel: não tenha medo porque eu o redimi e o chamei pelo nome; você é meu (…)  Pois eu sou Javé seu Deus, o Santo de Israel, o seu Salvador (…) porque você é precioso para mim, é digno de estima e eu o amo…” (Is 43,1.3-4).

Como o Natal vai acontecer se Jesus já nasceu? Assim como em todo aniversário, a celebração do Natal é a melhor forma de reavivar a memória sobre tudo aquilo que nos marcou um dia e continua marcando.  Ninguém nasce de novo quando comemora o aniversário, mas alimenta o gosto pela vida.  Jesus não nasce de novo, fisicamente, mas renasce como ideal; como “caminho, verdade e vida”. Sendo assim, natal é todo o dia.  Se permitirmos que o Cristo nasça, todo dia, em nós não hospedaremos mais as trevas, o pecado e nem a morte dentro de nós.

Por que Jesus teve que nascer lá no passado e não hoje? “Debaixo do céu há momento para tudo e tempo certo para cada coisa” (Ecle 1,1).  A Deus cabe julgar os tempos e os momentos.   Porque o tempo de Deus não é o nosso.  Nós temos pressa; somos de urgências.  Deus sabe o momento oportuno de todas as coisas.   “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho.  Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” Gl 4,4-5). Os acontecimentos de ontem, de hoje ou de amanhã, todos eles ficam no passado.  Alguns são esquecidos .  Somente alguns se tornam imortais, como o nascimento de nosso Senhor.   A história de Jesus ficou gravada, definitivamente, em nossas vidas.  Quando fazemos memória desta história, celebrando, descobrimo-nos participantes dela.

ILIMUNADOS PELA LUZ, NOS TORNAMOS LUZ!

Todos nós, sem exceção, gememos intimamente, por uma OBRA-PRIMA que seja nossa: idealizada, planejada e realizada por nós; ao nosso gosto, com a nossa cara, com o nosso jeito.  Identificamo-nos com o que fazemos.  Somos todos artistas! Mas, não existe nada inédito.  O começo já foi dado.  Reinventamos a natureza, recriamos a vida.  A vida é uma arte! Por isso, nossa maior obra, nossa obra-prima será FAZER-NOS, terminar a obra um dia começada por  Deus; passo-a-passo;  tempo-a-tempo; espaço-a-espaço. O Natal é o começo da grande obra que precisa ser acabada: passo-a-passo;  tempo-a-tempo; espaço-a-espaço. Somos todos Artistas!

Não fomos nós que inventamos a vida, ela precisa ser recriada, renovada e reinventada. Nossa obra-prima é… REVIVER, RENASCER: passo-a-passo;  tempo-a-tempo; espaço-a-espaço.  O criativo não é, simplesmente, o inédito, o que não existia antes.  O inédito não existe.  Criativo é não parar nunca de criar, de realizar as coisas.  Somos todos artistas!

Belém é aqui! Aqui é Natal. Onde nos encontramos. E na vida e no coração de cada um que se encontra a manjedoura de Cristo. Não vamos perder esta oportunidade de ver Jesus nascendo em nós!  É tudo o que precisamos!

Feliz natal a você e à sua família!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS

 




Diocese de Assis

 

Muitos dos nossos desejos não passam de delírios circunstanciais. Ou votos supérfluos, que a boca pronuncia, mas o coração não sente. Ponderá-los e adequá-los à nossa realidade e, no mínimo, à nossa autenticidade ao expor um desejo a outrem, talvez seja excelente ocasião de lustrar a própria personalidade, o mais perfeito visual do que realmente somos ou exibimos para os nossos semelhantes.

Desejar algo de bom é também abençoar o irmão. Por isso desdenho de muitos votos natalinos que por aí se ouvem. Proclamados em reclames comerciais ou em meio ao modismo das etiquetas e formalidades sociais, de nada valem. Para muitos, o silêncio e a reflexão sobre o significado dessa data cristã seria mais proveitoso, se o fizessem mesmo por coerência com seus comportamentos e ideais não cristãos.

Bom Natal! Que essa data toque mais profundamente os corações endurecidos pela indiferença ao mistério daquele presépio de Belém.

            Que a informalidade de nossas relações de amizade, coleguismo, cumplicidade no trabalho ou na sociedade, seja ao menos uma ação natural, forçada pelas circunstancias de tantos encontros e desencontros; nunca proposital ou construída pela defesa de interesses pessoais, escusos ao bem comum.

Que panetones e pizzas mal temperadas sejam banidas do cardápio de um povo ainda inseguro, porém nada ingênuo, cujos mandatários, vez ou outra, tentam ludibriá-lo com mimos e afagos nada ortodoxos. Prefiro ouro. Até incenso e mirra. Desde que estes venham das generosas mãos de Belchior, Gaspar e Baltazar, os três reis magos que se deixaram conduzir pela misteriosa estrela e contemplaram com os próprios olhos o milagre da reconciliação humana: o Salvador. Seus presentes não abafaram qualquer malandragem de poder, mas enriqueceram ainda mais a grandiosidade da revelação: “Vimos sua estrela e viemos para adorá-lo”.

Oh, quantos passos teríamos avançado se o Natal cristão não perdesse a mística dessa cena! O poder humano ali estava, representando não somente alguns povos, mas todas as raças daquela época. A riqueza humana, idem, no brilho do ouro. A mística também, na simbologia do incenso, perfume dos deuses! A mirra, ah, essa também, representando alívio para nossas dores e lenitivo para nossas almas… No entanto, muitos ainda preferem o incenso do poder, o bálsamo que lhes oferece a ilusão de perpetuar-se sobre as regalias do mando e desmando, à amarga incerteza das misérias humanas, a mirra dos que descem aos túmulos ainda em vida.

Que o sonho confuso de uma humanidade sem cotas, sem resquícios de discriminações raciais, de intolerância, de preconceitos, não se iluda com as variações do arco-íris – roubado em sua beleza para representar nossos desvios de conduta, nossas violações à polaridade homem-mulher – mas perceba em sua plenitude a fonte de riquezas da Nova e Eterna Aliança, o pacto de Amor sem limites, sem cores berrantes, sem ilusões, que Deus fez conosco.

            Que nossas conferências para salvar a Terra, planeta Água, não fiquem no papel de um compromisso formal e irreal na prática – como tantos papéis assinados – mas justifiquem a razão dos muitos champanhes com os quais brindamos um novo ano, novo tempo para o mundo, a própria humanidade.

Que, enfim, o Menino-Deus possa crescer entre nós sem as agulhas do indiferentismo humano, que lhe ferem o corpo e seu coração imaculado. Qualquer delírio humano, como rituais diabólicos que só os corações sem Deus são capazes de aceitar, nunca será instrumento para solução de problemas pessoais. Compreendamos, de uma vez por todas, que Deus-Pai é fonte de toda alegria e esperança renovada nas estrebarias da pobreza humana É Pai verdadeiro; nunca foi padrasto…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

SER e ESTAR são muito mais do que dois verbos com terminações e significados diferentes. Ser e estar comportam a vida em sua complexidade. O verbo ser define existência (ontológica e inequívoca). O verbo estar define estado (circunstancial e transitório). Enquanto o verbo ser trata de questões relacionadas à existência: identidade, verdade, unicidade, verdade e personalidade de um determinado indivíduo, o verbo estar trata de questões relacionadas à sua condição no tempo e no espaço: estar doente, indisposto, triste, nervoso, vestido, longe…

Quando falamos que isto ou aquilo é; que este ou aquele é estamos fazendo afirmações que dizem respeito a tudo aquilo que ultrapassa o tempo e os momentos, o espaço, e as circunstâncias. Diferentemente, quando dizemos que isto ou aquilo está, este ou aquele está estamos fazendo afirmações sobre uma situação ou circunstância na qual se encontra; como algo transitório; como algo passível do tempo. Não demora muito e a circunstância muda.

Trazendo para bem perto de nosso dia-a-dia, ser e estar abrangem um universo de compreensão bastante largo que traduz as relações interpessoais, motivações interiores, ações, necessidades, poder, desejos, vontades, realizações conosco mesmo, com os outros, com Deus e com o mundo.

No mundo, nada e nenhum de nós é o que é por um tempo apenas ou por um momento. O ser de qualquer pessoa ou coisa diz respeito à sua própria vida e existência; diz respeito à sua essência e à sua verdade mais profunda, sempre, acima das circunstâncias. Isso é uma questão de autenticidade. É verdade que tudo o que existe está voltado para algo ou alguém; é marcado e deixa sua marca; influencia e deixa-se influenciar. O ser das pessoas ou coisas está ligado à sua origem; é uma condição inata; pertence à sua gênese. Entretanto, não dá para falar do que algo ou alguém é sem nos referirmos a como, quando, onde, quem, porque, para que e com quem está e faz.  Só o que é pode estar e fazer. O estar-fazer acompanha o ser! O ser ‘pede’ o estar e o fazer, para se tornar visível aos outros. Ora o que nós somos é demonstrado, necessariamente, em nosso estar e fazer, como um transbordamento. As pessoas nos ‘tocam’, nos conhecem pelo modo como estamos e agimos. Assim nós somos ‘visíveis’ aos outros. O nosso ser, de certa forma, está ‘escondido’ em nosso estado e em nossa ação, muito embora o que somos ultrapasse essa dimensão fenomênica de estar e fazer.

Na Bíblia, a expressão DEUS-CONOSCO, como profecia de Isaías (Is 7,14) e anúncio de Mateus (1,23) traduz em termos bem concretos o ser de Deus em sua presença e obras no mundo e nas pessoas. O que sabemos de Deus e dele podemos entender nos é dado por sua presença e obras. Tudo de Deus se reflete em nós, como num espelho. Assim, Deus é conosco e nós somos com Deus.

Ao estar presente e ao realizar sua obra em nós e no mundo, Deus comunica o seu ser. Assim, marcados por Deus, tudo e todos, expande a sua própria existência, revelando o ser de Deus em seu ser. Nem as coisas e, nem tão pouco, nós nos revelamos como deuses, mas, sim como divinos: humanos e divinos.

Da mesma forma como na fé, estamos marcados pelos nossos genitores. Somos um pouco de nossos pais, sem nos confundirmos com eles. Somos a genética dos nossos pais, mas, estamos revestidos do nosso próprio ser. Nós só nos relacionamos como família porque há uma comunicação silenciosa de parentesco que nos aproxima, nos liga e nos faz ser pais, filhos, irmãos, primos, tios, avós… Por que somos pessoas, mesmo não sendo parentes, nos comunicamos como amigos, namorados, associados, companheiros… O que há de humano em nós ‘toca’ o que há de humano no outro e nos aproxima e nos interliga.

A verdade do Natal de Jesus, como presença e ação de Deus no mundo, encontra um forte eco em nossa vida quando questiona a autenticidade de nossa existência na busca de superação de qualquer contradição que possa existir em nosso ser-estar-fazer. Que nenhum de nós precise do recurso do camaleão que se disfarça, mudando sempre de cores. Na natureza, o mimetismo é uma questão de sobrevivência. Nós não precisamos de disfarces: ou somos, ou não somos.

Pe. Edvaldo Pereira dos Santos




Diocese de Assis

ALEGRIA NO AR

Nada a ver com as ilusões globalizantes e ou globalizadas que bem sabem manipular o humor do povo, mas realmente a alegria está no ar nesta semana. Principalmente para aqueles que seguem um mínimo dos tempos festivos do calendário cristão. Nem tudo é sofrimento e morte, perseguição e injustiça, incompreensão e calúnias, quando somos convidados a celebrar, ao menos uma vez ao ano, um domingo cor de rosa, festivo, liturgicamente senhor da alegria e da esperança renovadas aos pés do altar de tantos e tantos sacrifícios históricos e reais. De repente, a mesa do sacrifício se presta à celebração única da euforia proporcionada por uma notícia alvissareira.

O milagre dessa alegria toda está no objeto de seu anúncio. Algo de grandioso e ansiosamente esperado por todos está prestes a acontecer. A expectativa supera a ansiedade, pois que enche de alegria os corações contritos. “Que devemos fazer?”. Quem não se questiona diante de uma expectativa de mudanças, de realização de sonhos, de uma promessa que se cumpre, uma história que muda suas vidas? Era essa a grande questão. Então, como ficamos?

A cara de tacho dos incrédulos demonstra uma euforia que supera a própria indignidade. Como crianças surpreendidas com um presente maior e mais precioso que suas expectativas, o povo reage com uma demonstração de arrependimento e uma inusitada alegria pelo perdão de sua falta de fé. Afinal, a promessa se cumpre.

João, aquele que anunciou e apontou as luzes de um novo tempo, que diminuiu a importância de seu batismo purificador para salientar a grandiosidade e importância do Batismo de Fogo de alguém “mais forte”, curvou-se e se calou. O cordeiro de Deus, o messias libertador que todos desejavam, já estava a caminho, já dobrava a curva da estrada que a sinuosidade dos tempos e o sofrimento da escravidão, do pecado, das falsas expectativas haviam marcado no semblante daquele povo. Eis que Ele chega. Traz consigo uma esperança nova. Tem nas mãos o poder do perdão, da reconciliação. Sua presença é motivo único da alegria, da euforia contagiante que uma conversão possa provocar. “Eis o cordeiro de Deus”.

Compreender e aceitar esse anúncio é o segredo primeiro da felicidade plena. Aceitar Jesus como Senhor e Redentor, emissário único a “religar” céus e terra, criatura e Criador, é o grande trunfo da fé cristã, a “única religião” cujos fundamentos estão na origem de sua prática e não no histórico das muitas lendas e fantasias criadas pelo ser humano. O Verbo se fez Carne. O Criador se fez criatura. Deus se mostrou humano, conquanto nossa humanidade se tenha tornado divina. Aqui o segredo da grande alegria que a encarnação de Cristo provoca naqueles que aceitam e veneram esse mistério grandioso. Nossa indignidade aflora diante dos fatos, mas o coração contrito e agraciado pela aceitação desse mistério, transborda de alegria pela revelação inusitada. Deus se tornou um igual, habita entre nós e em nós!

Por isso é que dizemos que o nascimento de Jesus foi maior que o milagre da vida. Nossa insegurança um dia nos expulsou do Paraíso, nos proporcionou o afastamento das graças. Agora somos reconduzidos à Graça, reconciliados à verdadeira vida, através da “vinda” do Filho do Homem. Esse é o grande segredo, a razão da nossa alegria, essa euforia que o mundo não compreende, mas pode também sentir. Pois a alegria do povo cristão está no ar. Alegrai-vos, povo de Deus!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

É preciso endireitar as veredas, arrumar a estrada. O asfalto solidifica nossos caminhos, garante o ir e vir mais tranquilo, seguro e rápido. Mas também faz vítimas, constrói armadilhas, ceifa vidas. É preciso sinalizar os perigos, aplainar, aterrar, construir pontes, limitar velocidades ou mesmo acelerar. Isso todos nós conhecemos nos dias atuais, o valor, a importância, a segurança de uma estrada bem planejada!

Mas quando essa estrada tem como destino a Cidade de Deus, aquela mesma que nos liga à realidade espiritual humana, como agimos? A proposta é exatamente essa: arrumar os caminhos que nos levam a Deus. Isaías, o profeta, foi suscinto nesse desafio: “A voz que clama no deserto nos diz: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas de Deus”. Essa é a única função que dignifica e justifica o existir cristão. Temos que fazer nossa parte nessa história, se quisermos um mundo melhor para todos.

O que vemos, no entanto, é contrário ao desafio acima. Há um desencantamento generalizado, capaz de esfriar os ânimos do mais ferrenho “homem de boa-vontade” dos dias atuais. Esse descrédito passa por muitas decepções entre iguais, que cruzam seus braços no cansaço das frustrações acumuladas. O mais assustador é toparmos com esses “apóstolos cansados” na fila que ocupamos, como se de repente todos lavássemos as mãos numa única praia, onde o cansaço de um era o mesmo de todos. Esse período de inercia não pode continuar. Temos que chacoalhar o arvoredo, soprar a poeira, selecionar os frutos, semear novamente. É isso o que a Igreja espera de cada um de nós. Afastar de suas fileiras esse desânimo generalizado que só corrói e destrói

Por isso é que o Tempo do Advento é o princípio de um novo tempo. Não só liturgicamente, mas também na vida daqueles que se predispõem a renovar a estrada da própria fé. Quem disse que isso seria fácil? Nem Cristo escondeu as dificuldades desse trabalho. Mas nos ensinou sua eficácia, o resultado compensador dos esforços baseados na confiança de suas promessas. Esse é o segredo do sucesso. Essa é a visão que nos falta quando avaliamos negativamente os frutos do trabalho da Igreja no mundo. Não estamos nos desgastando em vão. Não pavimentamos uma estrada de utopias e sonhos. Não vivemos numa ilha de ilusões, num deserto infértil… pois que a Igreja é a única construtora de pontes entre os céus e a terra, o homem e Deus.

Se há pontos de desilusões, momentos de cansaço, é compreensível. A condição humana não esconde nossas limitações. Por outro lado, a consciência cristã nos fortalece e nos leva a acreditar numa força transformadora capaz de superar qualquer desafio. Medito isso tudo num hiato de descanso que Deus me permitiu experimentar hoje, numa praia badalada desse nosso país, Camburiú- SC. O mar e a especulação imobiliária haviam estreitados o caminho de areia dessa maravilhosa praia. Mas a inteligência e a capacidade humana foram capazes de “endireitar suas veredas, aplainar as montanhas” e hoje descanso numa faixa litorânea três a quatro vezes maior do que a original. Milhões de metros cúbicos de areia removidos do fundo do mar, há quinze quilômetros da praia, e assentados numa nova praia. Isso é acreditar no quão capazes somos. Não só no aspecto de realizar obras suntuosas e inimagináveis, como as que aqui contemplo, mas também obras miraculosas que transformem nosso espírito. Endireite em sua vida os caminhos de Deus, aplaine as montanhas de suas desilusões, acredite em sua força interior…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Com tantos acontecimentos negativos no mundo; com tanta violência; com tanta desumanidade, principalmente as que podemos constatar à nossa volta, corremos o sério risco de desacreditar nas pessoas, na gente mesmo, em Deus, na comunidade, no bem, na verdade, no amor, na fé… na justiça. Parece que não vale mais a pena! Se isso começou a ser sugerido em seu coração, fique atento. Você é um forte candidato ao posto de crítico-omisso-derrotista, que permite a multiplicação de acontecimentos nocivos pelo mundo, a banalização da violência, e o crescimento da desumanidade, principalmente, à sua volta.

É verdade que muita coisa não está bem. Pior, ainda, algumas estão indo de mal a pior, fazendo a vida perder a graça. Mas, e daí? O que vai resolver cruzar os braços e dizer: ‘já fiz minha parte!’ ou ‘tô nem ai!’ ou ‘tem jeito não!’ ou ‘…’

Precisamos voltar a acreditar! O grande mal do mundo é que, pouco-a-pouco, tem-se deixado de acreditar nas pessoas, em si mesmo, em Deus, na comunidade, no bem, na verdade, no amor, na fé… na justiça.

E, por falar em justiça que tal reinventarmos a sua força como de um broto? Quando, por ocasião de uma semeadura ou até mesmo de uma raiz se permite à semente ou à planta o tempo do broto, certamente, não faltarão frutos.

Todos os dias externamos nossa insatisfação com a justiça humana, muitas vezes, criticada como cega, impotente, cúmplice, corruptível… Se a nossa decepção com a justiça humana está relacionada à impunidade, à morosidade e parcialidade da lei, ao invés do desencanto com a lei, deveríamos refazer o ideal de justiça como broto, nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nas escolhas, nas decisões, nos compromissos e nas posturas que assumimos dia-a-dia.

Um broto é explosão de vida e pura expressão de desenvolvimento que contrasta com sua enorme fragilidade e delicadeza. Broto é esperança, é oportunidade. O Broto faz justiça à semente e os frutos fazem justiça ao broto.

A intuição bíblica do broto, como primeira imagem do que se espera da semente, em vista dos frutos, nos coloca, imediatamente, diante da cotidiana responsabilidade do ser, do crer, do querer e do fazer. “Amor e Fidelidade se encontram, Justiça e Paz se abraçam. A Fidelidade brotará da terra, e a Justiça se inclinará do céu. Javé nos dará a chuva, e nossa terra dará o seu fruto. A Justiça caminhará à frente dele, a salvação seguirá os seus Passos” (Sl 85,11-14).

Na verdade, direta ou indiretamente, todos os dias, estamos colhendo frutos indesejáveis de uma justiça que não cultivamos, nem como semente, nem como broto. O problema da justiça não está nos tribunais, está em cada um de nós. Nos tribunais, quem sabe, temos de forma maiúscula aquilo que não percebemos ou não admitimos em nós. Como diz o ditado: “Vamos colhendo o que plantamos!” O que temos plantado?

O Salmo 72,2-17, traz as seguintes considerações: “Que o Senhor governe seu povo com justiça, e seus pobres conforme o direito. Que em seus dias floresça a justiça e muita paz até o fim das luas. Porque ele liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor. Ele tem compaixão do fraco e do indigente, e salva a vida dos indigentes.”

A profecia sobre o rei justo e a emergência da justiça tem, em Davi, seu grande anúncio e, em Cristo, sua plena realização. “Do tronco de Jessé sairá um ramo, um broto nascerá de suas raízes. Sobre ele pousará o espírito de Javé: espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e temor de Javé. A sua inspiração estará no temor de Javé. Ele não julgará pelas aparências, nem dará a sentença só por ouvir. Ele julgará os fracos com justiça, dará sentenças retas aos pobres da terra. Ele ferirá o violento com o cetro de sua boca, e matará o ímpio com o sopro de seus lábios. A justiça é a correia de sua cintura, é a fidelidade que lhe aperta os rins…” (Is 11,1-10).

Eis o tempo de se abrir à justiça divina para poder sair do embaraço da justiça humana! Os dias para a justiça florir são todos os dias de nossa vida e de nossa história, a começar de agora! “O Justo vive pela fé” porque “a justiça se revela única e exclusivamente através da fé” (Rm 1,17).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Dizemos que nada acontece sem um princípio. Lei da Natureza. Também da lógica.             Princípio que aqui poderíamos denominar de Advento, tempo de esperança, de sonhos, de expectativa. Enfim, tempo de preparação para algo de grandioso em nossas vidas. Assim também deveríamos entender as semanas litúrgicas que antecedem o Natal, o dia mais festejado do mundo cristão. “Naquele dia se dirá: Este é o nosso Deus, nele esperamos, e ele nos salvará. Este é o Senhor em quem esperamos” (Is 25,9).

Dizemos também que a esperança cristã surge na simplicidade de um curral, uma estrebaria de animais, envolto na pele de uma criança frágil, inocente, desprotegida… Mas um provérbio chinês (por que todo provérbio tem que ser chinês?) ainda nos lembra: “O grande homem é aquele que não perdeu a candura da criança”. A verdade é que ambas as citações só reafirmam a grandiosidade do maior milagre que se tem notícia na história da humanidade: Deus se fez criança para salvar sua criação maior. Este é o Senhor…

Tentar compreender os mistérios e a lógica da ação de Deus em nossas vidas é inverter o processo princípio-e-fim da melhor definição que possamos fazer de Deus. Alfa e Omega, ou seja, extremidades infinitas, sob cujos mistérios a sabedoria humana não consegue penetrar. Mas sentí-lo, tocá-lo, viver com Ele uma experiência concreta de amor, sabedoria, entendimento ou qualquer outra experiência de reciprocidade, sim, isto sim é possível no agora de qualquer um de nós. Basta nos tornarmos criança diante de sua inquestionável paternidade criadora. Basta-nos a compreensão de quão insignificantes somos diante da grandiosidade de sua obra. Basta-nos deixarmos de lado os pedestais de nossa arrogância e prepotência.

A mais bela das poesias paulinas já nos ensinava: existe tempo para tudo. Para colher, para plantar, para sorrir, para amar, ficar triste, se alegrar… No processo do crescimento humano, a infância é o tempo das descobertas, da percepção das dores e alegrias, da compreensão de que o coração que bate num peito humano também é sede de seus mais autênticos sentimentos, os impulsos de sua alma. A espiritualidade é inerente ao ser humano, apesar de muitos a negarem ao longo de suas vidas. Mas que ela esteve em nossos berços, acompanhou-nos nos primeiros passos, sentou-se ao nosso lado nas primeiras leituras, não tem como negar. Sim, toda e qualquer criança compreende e melhor irradia sua própria espiritualidade.

Nosso problema é que nos tornamos adultos. Daí que a soberba de nossas aspirações e a lógica de nossas “lógicas” realizam verdadeiras varreduras na maneira com que cada indivíduo define seu existir. A ideia do divino, do transcendente, do sobrenatural só prevalece quando bem acentuada e orientada na infância. Portanto, o advento cristão necessita que nos tornemos crianças, que reconheçamos sempre nossa pequenez e dependência diante de tudo que é divino, grandioso como nosso “Pai que está no céu”. Que nossa humanidade não se perca nas amarras da vaidade, do existencialismo puro e simples, nas teias da prepotência de se sentir deus, senhor do universo e das criaturas, mentor e manipulador de todas as ciências…. Ah, pobre animal racional, mas irracional na sua ignorância da própria origem.

A humanidade do Deus-menino, que só o presépio cristão apresenta ao mundo, além de seu aspecto místico e poético, é a maior das provas de que o tempo é senhor da verdade – no caso, da Verdade- pois só ele para amadurecer no coração irredutível da humanidade a ideia de um Deus Uno, porém Trino, que se faz um conosco tão somente para nos convidar a sermos um com Ele, a darmos novo sentido à nossa história, com princípio, meio e fim. Portanto, Advento é Tempo da alegria; alegria de novas descobertas e compreensões dos mistérios que rondam nossa espiritualidade, nossa fé.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]