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Diocese de Assis

 

Nem tudo o que sonhamos alcançamos. Mas tudo o que sonhamos nos dá ânimo e coragem para ao menos lutar e tentar alcança-lo. Fernando Pessoa um dia escreveu: “Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também”. A verdade é que a vida é feita de sonhos e quem pensa não os ter, ilude-se a si próprio. Pois, no fundo, no fundo, há de encontra-los adormecidos, mas carentes de atenção.

A verdade é que muitos sonhos são como fogo de palha, que envolvem nossa existência de forma abrasadora, mas logo se extinguem. Faltam-lhes a paciência da maturação, da espera consciente e determinada a buscar com tenacidade aquilo que preenche seu ideal de vida. A fé é a mais ferrenha das companheiras daqueles que sonham. Desde que esses sonhos não interfiram naquilo que já é posse do outro. Isso tem outro nome: cobiça. Entre esta e um objetivo de vida promissor, mais adequado à sua realização pessoal e à admiração alheia, existe o limite do respeito, da ética, da moral e da fé. Sem estas, qualquer sonho é mero pesadelo. Pode tornar-se um desastre.

Mas sonhar, muitas vezes, também é sofrer. Faz parte das aspirações humanas, cujas conquistas exigem esforço e sacrifício. Há aqueles que traçam uma meta na vida, mas depositam suas capacidades na sábia benevolência divina, pois só Ele conhece nossos corações, desejos e necessidades para conceder-nos ou não aquilo que pensamos merecer. Eclesiástico nos fala dessa situação e aconselha: “Sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça” (2,3). Aqui é que são elas: que riqueza desejas? Na maioria de nossos sonhos, apenas as que se podem tanger e acumular neste mundo. Este é o fogo ardente que contemplamos com os olhos, mas que nos queima todos os sentidos. “Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação” (Ecle 2,5).

Falta-nos a purificação de nossos sonhos. Na maioria das vezes, estes estão além de nossas capacidades, mas também e principalmente, além dos nossos merecimentos. Aqui nasce a ambição desmedida. Aqui se gera a corrupção, a usurpação, os meios oportunistas e as sabotagens que criamos para realiza-los. Às vezes até os realizamos e nos acastelamos numa ilusão de sucesso e poder, que nos queima a consciência, mas ensoberba e envaidece nosso coração de carne. Só este, pois o coração da alma estará fétido e pútrido como qualquer carne entumecida pelo fogo das ilusões. Ah, triste sina! Um dia cairá das nuvens, terá pela frente uma nova realidade, contrária aos sonhos que imaginou perenes. Um dia verá que suas ilusões se realizaram apenas momentaneamente e se apagaram como um monte de palhas ardentes, brilhantes, belas em seu apogeu de luz, mas que rapidamente se postaram ao chão da realidade, quais brasas incandescentes. Delas restou apenas cinzas. Nem carvão se tornaram, nada de útil para a posteridade!

Quem sonha alto corre o risco de um tombo maior. Quem faz de seus projetos uma paixão capaz de superar a tudo e a todos, desrespeitar as regras do jogo da vida, verá adiante os limites desse jogo. Sobretudo, a regra maior, aquela que faz de nossos sonhos, realidade… Amar, respeitar, conciliar nossos sonhos com o sonho do Pai, Senhor que nos deu a vida e tudo o que temos. Ele guia nossos passos em direção a tudo que almejamos de bom em nossas existências. “Bem sei, Senhor, que não é o homem dono de seu destino, e que ao caminhante não lhe assiste o poder de dirigir seus passos. Castigai-nos, Senhor, mas com equidade, e não com o furor, para que não sejamos reduzidos ao nada” (Jer 10, 23-24). Como palhas ao vento…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Não há dúvida de que, razões de fé movem as pessoas, cria esperanças e dirige seus passos. Por razões de fé, toma-se iniciativa, faz-se renúncias e desenvolve-se convicções. Por razões de fé morre-se, mata-se ou justifica-se a guerra. A fé move tudo e a todos. A fé tem poder de vida ou morte. Depende do sujeito que crê.

Em sentido lato, “a fé é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que se deposita neste algo ou alguém. Por extensão, ter fé é nutrir um sentimento de afeição, ou até mesmo de amor, pelo que se acredita, confia e aposta. É possível nutrir um sentimento de fé em relação a uma pessoa, um objeto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, uma crença popular, uma base de propostas ou dogmas de determinada religião. A fé não é baseada em evidências. É, geralmente, associada a experiências pessoais e pode ser compartilhada com outros através de relatos, principalmente no contexto religioso”

Do ponto de vista cristão, a fé está baseada no Projeto de Salvação do Deus de Abraão, Isaac e Jacó, cuja revelação alcança seu ponto máximo, em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, Nosso Senhor.  “Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. No período final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas e, por meio dele, também criou os mundos. O Filho é a irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo. O Filho, por sua palavra poderosa, é aquele que mantém o universo. Depois de realizar a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade de Deus nas alturas. Ele está acima dos anjos, da mesma forma que herdou um nome muito superior ao deles” (Hb 1,1-4).

A Salvação é a meta da fé (1Pd 1,9). Por isso, o homem de fé deve refazer o seu caminho a Cristo, cada dia, para conhecer e buscar a salvação que ele nos propõe no hoje da fé e não somente para depois da morte. Ora, é preciso tudo empenhar para conseguir esta salvação na mesma proporção e medida da Cruz de Cristo. Quer dizer, da mesma forma que o Cristo, na cruz, se despojou e se entregou, no extremo da morte, também nós, na busca da salvação, devemos nos entregar por inteiro! Tudo! Sem reservas. Acreditando! Na medida do amor. Porque Deus acrescenta, àquele que busca, em primeiro lugar, o Reino de Deus, tudo o que lhe é necessário, hoje, para a sua salvação. Nada Deus dá ou permite que não seja para a salvação. Deus não é eterno para ver a nossa destruição, mas a nossa salvação.

A busca da salvação, por conseguinte, deve nos ajudar a refazer o caminho da fé, na medida do amor, da confiança e da entrega. Porque qualquer conquista, mesmo a mais alta e valiosa, neste mundo, não tem comparação ao que Deus nos dá salvando-nos em Cristo. Mesmo que, para isso, seja necessário perdemos.

Na Sagrada Escritura, aparecem algumas dicas e direções, nesse sentido.

1Cor 15,1-3: “É pelo Evangelho que vocês serão salvos, contanto que o guardem do modo como eu lhes anunciei; do contrário, vocês terão acreditado em vão. Por primeiro, eu lhes transmiti aquilo que eu mesmo recebi, isto é: Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras.”

1Cor 15,12-14.19: “Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou;  e se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm. Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens.”

1Tm 2,1-6: Ele (Jesus) quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou para resgatar a todos.”

Hb 5,7-9: “Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E, depois de perfeito, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos aqueles que lhe obedecem.”

A fé nos ensina um outro caminho, possível, da felicidade: a busca da salvação no Mistério da Cruz.

PE. EDVALDO P. SANTOS




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“Todo reino dividido em grupos que lutam entre si, será arruinado. E toda cidade ou família dividida em grupos que lutam entre si, não poderá durar.” (Mt 12,25). Essa citação bíblica, proferida por Jesus em seu famoso discurso sobre o mistério do Reino que propunha como ideal, não poderia ser mais alentadora e alertadora no momento que atravessamos. Aliás, foi dessa mesma citação que Abraham Lincoln, presidente dos EUA, se utilizou para iniciar sua vitoriosa campanha de liderança política em seu país. Foi derrotado num primeiro momento. Perdeu sua indicação para a disputa ao Senado.

Todavia, seu discurso tornou-se símbolo do perigo de desunião a que incorre um povo dividido entre escravocratas e libertários. Uma imagem quase poética das divisões que nos afetam. Liberdade ou escravidão? “Ou ficar a Pátria livre, ou….”  Todo e qualquer povo que se preze e possui uma visão ampla dos ideais que aspira, não ignora o perigo da subserviência escravocrata. Ninguém é simpático aos regimes ditatoriais, sejam estes bem definidos ou disfarçados em ideais libertários que iludam apenas.

Tanto que o famoso discurso de Lincoln, inspirado nas palavras de Jesus, deixou-nos um trecho assaz oportuno. Dizia: “Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer. Eu acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não espero a divisão da União. Eu não espero ver a casa dividida – mas espero que ela deixe de ser dividida. Ela terá que se tornar toda uma coisa ou outra”. Lincoln perdeu sua indicação momentânea, mas ganhou a simpatia popular unindo seu povo e conquistando posteriormente o título de grande estadista, tornando-se o mais popular dos presidentes norte-americanos.

Não nos iludamos. O que está em jogo neste momento é uma disputa muito mais pragmática do que escolhas pessoais sobre esta ou aquela corrente político-partidária. Esquerda ou direita? Ou meia-volta, volver. A cegueira toma conta e os ânimos se alternam sem que possamos visualizar muitos dos perigos que rondam nossa soberania. O fato de este ou aquele grupo partidário ocupar ostensivamente nossas ruas e praças é apenas uma manifestação democrática, enquanto parte do jogo político, mas o será muito mais nocivo ao país se estender suas ações para a violência ou truculência de suas ações inconstitucionais ou antissociais. Neste jogo, a vitória de uma das partes só será legítima se respeitadas suas regras previamente estabelecidas.

Fica difícil opinar em meio ao fanatismo de alguns. Todos fazem suas leituras tentando adivinhar seu lado, seu ganho, seus truques, suas estratégias, seus interesses… Fica difícil. Mas, observando a pregação cristã, constatamos que Ele sempre se dirigia a todos, “aos cegos e surdos”, aos que se faziam de desentendidos ou negligenciavam suas convicções, a todos que ouviam sua mensagem reconciliadora, mas preferiam a tese dos interesses próprios, da defesa empobrecida de opiniões pessoais, apequenadas em seus guetos de ambições ou poderes. Jesus não fazia acepção de pessoas ou grupos ou movimentos. Procurava um ponto comum para edificar e proclamar a vida e a liberdade de todos. Eis o que nos falta no momento. Uma visão maior do bem comum. Uma compreensão de que os ideais que nos unem são infinitamente maiores do que as arestas que nos dividem. Nada mais justo, no momento, do que abandonar esse sectarismo apaixonado por questões meramente transitórias e buscar a unidade na diversidade dos nossos ideais. Por isso, cinco minutos de oração, como nos pede a Igreja do Brasil nesta Semana da Pátria, talvez nos ajude muito mais. Não custa tentar.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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A maneira como nos relacionamos com as coisas, com os bens, com os acontecimentos, com as pessoas, com Deus… enfim, com tudo… revela, de certa maneira, o universo simbólico, o sentido de vida e a hierarquia de valores dentro do qual vivemos, nos movemos e somos. Quer dizer, nossa maneira de viver e agir, mostra quais sãos as nossas convicções e esperanças e revelam quem somos nós.

A vida não pode ser vivida de qualquer jeito: precisa ser vivida intensamente; verdadeiramente; plenamente!

Para o escrupuloso, tudo é pecado, imoral e impuro. Imagina e acredita que as pessoas só têm malícia e segundas intenções. Por isso, sua avaliação de tudo é detalhista, moralista e puritana. A vida se torna uma carga insuportável, uma obrigação. A vida do escrupuloso é um peso enfadonho.

O medroso sente-se ameaçado, sempre. Não tem confiança; vive inseguro e travado. Tudo é difícil e perigoso. Os meios e recursos lhe parecem, sempre, insuficientes e precários. Nada parece dar certo. Tudo é visto como perseguição e maldade. Há um inimigo à solta. Uma armadilha está preste a nos apanhar. A vida do medroso é um abismo fantasmagórico.

Quem tem a mente mágica vê tudo supersticiosamente porque acredita que existe, sempre, uma relação de causa-e-efeito entre um objeto e um acontecimento; entre um animal e uma doença; entre uma palavra e uma situação. Imagina e crê, por exemplo, que o sapo costurado é a causa da doença ou da morte; que passar debaixo da escada determinou seu azar em tal coisa; que sofreu tal infortúnio porque passou debaixo da escada… Vive à espera de uma varinha mágica, de uma bola de cristal, de uma fada madrinha, de um gênio da lâmpada, de uma poção mágica, de um abracadabra. A vida do supersticioso é uma lástima.

Somente pela fé, conseguimos viver bem a vida! Porque a fé garante, não apenas a verdade sobre a vida, mas, principalmente, o seu valor e sentido! Sendo assim, a visão de fé sobre a vida permite enxergar valor e sentido em todas as coisas da vida, mesmo aquelas que parecem desprezíveis e, até mesmo, caso perdido.

Quem pensa, segundo a fé, não se entrega à obsessão do medo porque acredita que dias melhores virão, que uma perda não é frustração, que um problema não esgota as possibilidades do novo, que uma queda impulsiona um reerguimento, que cada dia é um desafio ao amor e à caridade; que a vida é bela.

Quem se comporta, segundo a fé, acredita na força do perdão, do amor e da misericórdia; não se entrega às ilusões do poder, do ter ou do prazer; não procura resolver a as coisas pela força bruta, pela violência, pelo ódio nem pela vingança; não procura ter vantagem em tudo; aprende a se contentar; não corrompe; não engana; não perde a moral e nem o caráter.

Quem age, segundo a fé, não barbariza os recursos e os meios; não banaliza o valor e a importância das coisas; não subestima as pessoas em sua força ou fraqueza; não desqualifica os acontecimentos e os fatos; não debocha da desgraça alheia; não absolutiza nenhuma idéia; não supervaloriza a aparência; não desmerece os pobres; não renuncia a verdade.

Quem vive, segundo a fé, aprende a ver, na própria vida, os sinais de Deus e a interpretá-los segundo o Espírito Santo; descobre a beleza da vida nas peques coisas; valoriza todas as coisas, fatos, situações e acontecimentos, também, como Palavra de Deus; espera contra toda esperança; acolhe e experimenta o Mistério de Cristo como Paixão, Morte e Ressurreição diárias; não foge da cruz; aceita o desafio diário da conversão pessoal.

Quem assume a fé como alicerce da vida dá, à própria vida, a qualidade que sempre teve ao ser criada por Deus: Dom e Tarefa.

Deus nunca deixa de cuidar do que ele fez e que viu que era bom. Para Deus, nada é desprezível e ninguém é caso perdido. Tudo está destinado para a Salvação, em Jesus Cristo, nosso Senhor. Por isso, viver é mergulhar em Deus e, por ele, com ele e nele encontrar, todos os dias, o valor e o sentido da vida que ele criou e cuida.

Nossa vida está nas mãos de Deus! Por isso estamos seguros!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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NÃO FIQUEM INQUIETOS

A inquietude humana foi sempre causadora de grandes desastres. Levou povos e nações a precipícios históricos, quando a pressa de acelerar processos de conquistas não lhes permitiram a visão das pequenas atitudes, dos pequenos gestos, das pequenas vitórias diárias… Causou grandes guerras e decepções. A inquietude humana impediu e continua impedindo a lenta e gradual contemplação do milagre da vida, que nos permite a compreensão de Deus. Deixamos de lado a simplicidade do cotidiano, do dia a dia entregue aos planos divinos, para acelerar nossos sonhos de poder e glória, de ambições sem medidas, de prazeres sem os critérios do bom senso.

Não fiquem inquietos! É Jesus quem nos adverte, em seu mais belo discurso sobre o que seria a busca fundamental da vida humana. Lucas, em sua sensibilidade evangélica, bem detalhou essas palavras (Lc 12,22-34), deixando-nos uma das mais belas páginas dos muitos aconselhamentos cristãos sobre nossos ideais. A sensatez vem por primeiro, mas a confiança na proteção divina está acima de tudo. O Pai conhece nossas necessidades. Antes, nossa busca é a construção do seu Reino entre nós, não a discórdia, não as ambições pessoais, não a descrença, não o ceticismo, a dúvida, a insatisfação… O hedonismo, o egoísmo… Nada disso! Quem quiser dar sentido à vida precisa se aquietar no coração de Deus.

“Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino” (Lc 12,32). Essa é a Promessa. Essa é a certeza dos que um dia se deixaram seduzir pelas palavras de uma revelação divina, não humana. Essa a diferença. Na inquietude dos tempos modernos, muitas são as promessas vazias de fundamentação e inspiração divinas. Dizer o que muitos estão dizendo, prometer o que o mundo promete, fazer o que muitos fazem apenas impelidos por promessa vazias de um mundo cão, principalmente no jogo político, foi, é e sempre será uma ilusão passageira. Esquecemos a simplicidade da vida e a trocamos pela complexidade do jogo de poderes que nos asfixia. E assim destruímos o Reino, a tranquilidade de uma vida sob as bênçãos divinas.

Se hoje a vida nos assusta e nos põe inquietos, é porque estamos perdendo o referencial da fé, principalmente aquela que nos ensina a contemplar a ação de Deus em nossas vidas. Ele não nos abandonou. Os passos contrários foram os nossos. O desastre maior é que preferimos ambicionar as glórias dos nossos reinados terrenos (a opulência de Salomão – e quantos destes reis nos iludem!) à beleza que veste uma simples flor, o perfume de um lírio selvagem. Perdemos o referencial da simplicidade. É esta a veste da fé pura, mansa e humilde, simples como uma pomba.

Conquanto o mundo se levante contra a fé cristã, o fundamentalismo de certas crenças ameaça a soberania de muitas nações, ideologias e modismos vão de encontro aos princípios básicos da nossa doutrina e o que era inimaginável no seio de uma estrutura familiar torna-se corriqueiro, normal, termômetro de uma vida moderna, caminhamos para o caos. Um simples olhar sobre os fatos que nos rodeiam aponta essa realidade.  Ao pequenino rebanho, aqueles que ainda teimam na fé de seus pais, foi lhes dito: “Não fiquem preocupados” … pois valemos muito mais. Estamos um grau acima das inquietudes de um mundo sem Deus. “Porque são os pagãos desse mundo que procuram (e provocam) tudo isso”. Coragem! Nossa fé deve ser inquieta. E provocar a Paz, nunca a discórdia.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Numa semana contextualizada pela volta do terrorismo talibã e pela queda sem resistências de um governo mal equilibrado sobre as hastes de uma democracia ainda insegura, o povo afegão despertou no mundo o sentimento da solidariedade humana. Ver pessoas arriscarem suas vidas agarradas às asas e trens de pouso de um avião superlotado, apenas com o intuito de fuga, é, de fato, uma cena questionadora. Diz-nos, com todas as letras, que a liberdade e o direito de professar nossas crenças ainda é o bem maior do ser humano. Mas a vida não aceita voos cegos.

Tal qual a cegueira de muitos que ainda teimam em não se vacinar contra os malefícios que a cerceiam. Não é uma simples questão política, ou religiosa, ou social, mas estar imune pode significar a própria salvação da espécie. Eis onde entram pontos comuns na pauta da semana: Enquanto o mundo contempla a tresloucada invasão de um aeroporto por uma população desesperada e assustada com o próprio futuro, o Papa Francisco vem a público defender a necessidade de vacinação em massa como ato de amor. “Graças a Deus e ao trabalho de muitos, hoje temos vacinas para nos proteger da Covid 19!”

Neste contexto, as palavras do Papa soam quase que ironicamente como alheias às dores daquela nação, mas trazem em seu bojo algo mais: “Vacinar-se é um ato de amor. Ajudar a fazer que a maioria das pessoas se vacinem é um ato de amor, não só por si mesmo, mas também pelos familiares, amigos, amor por todos os povos”. Então Francisco contextualiza: “O amor também é social e político. É universal, sempre transbordando de pequenos gestos de caridade pessoal, capazes de transformar e melhorar as sociedades”. Percebeu aqui a amplitude dessa mensagem? O bem comum nasce do respeito à liberdade do outro, seja esta uma questão pessoal ou política ou religiosa, mas que atinge a todos quando não aceita de forma democrática e consciente.

O mundo necessita dessa vacina. Estar imune aos malefícios de uma doença torpe, tanto física quanto moral, é questão de vida ou morte. Conclui, então, o Papa: “Peço a Deus que cada um possa contribuir com seus pequenos grãos de areia, seu pequeno gesto de amor. Por menor que seja, o amor é sempre grande. Contribua com estes pequenos gestos, para um futuro melhor!”.

Se forcei ou não uma mensagem com destinatário bem específico – aquele que se nega a dar o braço por uma causa mundial – a sonhada imunidade de rebanho – é porque as circunstâncias dos fatos nos levam a outro aspecto dos acontecimentos que nos assombram: necessitamos mais do que nunca de uma vacina contra o vírus da indiferença e da alienação. Não podemos cruzar nossos braços e ficar alheios à volta do radicalismo e da intolerância daqueles que aspiram apenas poder e glórias pessoais. Grupos fundamentalistas são tão ou mais mortíferos quanto qualquer vírus ou doenças pandêmicas.

Leia, mais uma vez, o alerta papal, e descobrirá nas entrelinhas a atualidade de uma mensagem que vai além de um simples ato de profilaxia. A vacina é benéfica a todos. Estar imune aos malefícios de uma doença física nos garante uma sobrevida, mas estar imune ao radicalismo religioso e político também nos garante a sobrevivência da espécie. A humanidade anseia por sua imunidade sobre todos os males. Ao cristão foi dada a certeza dessa sua inviolabilidade acima da vulnerabilidade física. Pois “eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim mesmo que morra, viverá (Mt 11, 25). Ou, como ouvimos hoje: “O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada” (Jo 6, 63). Contra a insegurança sobre essa verdade é preciso vacinar nossa fé.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Presas a preocupações minúsculas e, quem sabe, insignificantes, as pessoas não se dão conta da grandiosidade da existência e profundidade da vida. Por isso não conseguem se deter em questões que exigem reflexão, conversão e compromisso. E a bem da verdade a vida merece e precisa, mais investimento e melhor empenho, de nossa parte, do que, realmente, estamos oferecendo ou dispostos a oferecer.

Estamos em dívida conosco mesmo! Não parece que estejamos ‘bem da cabeça’!

Já se espalhou, entre nós, uma verdadeira inversão de valores e isso não parece doer em nossa consciência; estamos nos fartando de migalhas como se fosse um maravilhoso banquete; estamos propagandeando a ilusão como se fosse o anúncio de um grande sonho… materialismo, hedonismo, status, poder, fama… estamos nos enchendo de um grande vazio.

Estamos nos convertendo num grande abismo (que, acaba atraindo outros abismos).  Nada é suficiente, o bastante, para matar a sede e a fome do quero mais um pouco! Por mais de um pequeno instante, nada mais consegue preencher, satisfazer, contentar ou realizar nossos desejos e vontades que se tornaram soberanos. O que se vê é que, a cada instante é preciso mais de cada coisa para se obter um resultado cada vez menor.  Alguns dizem que isso é falta de Deus! Eu digo que não! Não é falta de Deus. É idolatria. Um outro deus foi colocado no lugar de Deus: o ego abismático de cada pessoa. Para mim isso é uma doença: é a Síndrome da Humanidade Oca. No fundo estamos mortos! A vida perdeu o sentido! Estamos enterrados vivos!

Não podemos viver a vida como se fosse um faz de contas. Não é possível continuar sem se colocar questões importantes; sem refletir a vida; sem pensar profundamente a existência.

“Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam’? (Lc 12,22-23). Essa pergunta é incômoda mas, parece não incomodar muita gente. E, por que não incomoda? Porque alguns acham que salvação é assunto para depois (da morte)! Outros sustentam que é uma invenção com a finalidade, única, de controle social. Outros, que já estão condenados. Outros, ainda, que já estão salvos.

E você, sente-se incomodado ou se encaixa num desses grupos?

Quem sabe esta seja uma questão vencida porque, além de preocupados com questiúnculas (coisas miúdas), estamos ocupados em aproveitar a vida, nas medidas do tempo presente, já que não existe total esperança para além do túmulo; para depois da morte.

Mas a Sagrada Escritura assevera: “Se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vocês dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então, Cristo também não ressuscitou; e se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é a vazia a fé que vocês têm (…). Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens” (1Cor 15,12-14.19).

Ora, o assunto sobre a Salvação é assunto muito sério, profundo e pertinente à vida de cada um de nós. Aliás, deveria estar na boca, no coração e na busca diária de cada um, como princípio e fundamento de fé. Devemos nos colocar, diariamente, como candidatos à salvação e seguir a direção que a Palavra nos dá: a) A Salvação pertence ao nosso Deus e ao cordeiro (Ap 14,1-7.12-13); b) não ignorem coisa alguma a respeito dos mortos (1Ts 4,13-18); c) façam todo esforço possível para entrar pela porta estreita (Lc 13,22-30); d) estejam preparados! Fiquem vigiando! Porque vocês não sabem a que dia virá o Senhor (Mt 24,37-44); e) façam da partilha um dom capaz de destruir qualquer orgulho e apego às coisas (Mc 10,17-22).

A Salvação é Plano de Deus e, ninguém é obrigado a aceitar. Mas, quem o aceita está chamado a uma vida que tem sentido e valor, neste mundo e depois do túmulo.

Eu creio na vida eterna, escrita pelo sangue de Cristo em nosso corpo mortal.

Pe. Edvaldo P. Santos




Diocese de Assis

 

          Qualquer que seja o assunto, “nunca permita que o orgulho domine o teu espírito ou tuas palavras, porque ele é a origem de todo mal” (Tob 4,14). Eis o orgulho. Eis a fonte profícua, a raiz de toda e qualquer maldade humana.

Não vou aqui dissertar sobre um tema de moral ou ética, pura e simplesmente. Não é minha intenção arvorar-me em um doutorado que não possuo. Seria presunção da minha parte, outra forma de orgulho, que alimenta nossa vaidade. A bem da verdade, não sei sequer o que pretendo com o assunto em pauta. Mas vamos em frente.

Resolvi abordá-lo à luz dos conselhos de um pai ancião, Tobit, que no leito da própria morte orientou seu filho, Tobias (aquele do livro bíblico, cujas citações aqui presentes você encontrará no quarto capítulo, seguindo os versículos referentes). Seus conselhos estão eivados da humildade que esse momento proporciona. A morte se avizinha, está à porta! Que se danem nossas vaidades, o orgulho pessoal, as conveniências… São conselhos do pai moribundo, porém temente a Deus. Conselhos de um homem de fé.

“Ouve, meu filho, as palavras que te vou dizer”. Eis o desejo de um pai que se despoja de tudo, especialmente de sua sabedoria e espiritualidade, a melhor das heranças que um pai pode legar a um filho.

Primeiro: “Honrarás tua mãe todos os dias de tua vida”. Oh, Deus, como o mundo está distante desse princípio! Quantos filhos às margens dos padrões familiares, sem o aconchego de um lar, sem a presença materna a lhes conduzir os primeiros passos! “Conserve sempre em teu coração o pensamento e Deus” (4). Ao menos isso, pois que é cada vez maior a distância entre a fé e a vida.

Assim, quem sabe, verás as necessidades dos mais próximos. “Dá esmolas… não te desvies de nenhum pobre, pois assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti” (7). Ah, segredo sábio e santo! Só os despojos da morte para nos ensinar a razão de nos despojarmos de nós mesmos, de nossas mesquinharias e ilusões que acumulamos em vida. “Se tiveres muito, dá abundantemente; se tiveres pouco, dá desse pouco de bom coração” (9). Obrigado, pai Tobit, porque a esmola é prática dos vivos, não dos mortos.

Então molde tuas ações na prática do bem, sem olhar a quem. “Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito” (14). Queres mais? É claro o princípio da convivência fraterna, a origem da justiça divina sem revide, sem retaliações. Se é desagradável a ti, também o será a outrem. Se isso dói em ti, te fere, te magoa, certamente será da mesma forma ao semelhante. As regras da convivência humana, distantes da lei do talião, do olho por olho (pois assim estaríamos todos cegos) é o caminho mais coerente da fraternidade que sonhamos.

Conselhos básicos, primários! Conselhos de alguém que parte e leva consigo a sabedoria de uma existência. Eis, portanto, o último conselho, aquele que deveria ser o primeiro na busca dos valores que almejamos em vida: “Bendize a Deus em todo o tempo, e pede-lhe que dirija os passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a sua vontade” (20). Depois dessa, só mesmo sendo surdo para não entender a clareza desse apelo. Que nossos planos estejam em sintonia com os planos de Deus! Nunca desprezes uma voz de experiência, uma lição de casa, em especial aquela da casa paterna sabiamente governada pela sintonia com a vontade de Deus. Um conselho paterno, com esses princípios, é um conselho do próprio Deus.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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“Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino” (Lc 12,32).

O Pai tem prazer em dar-nos o Reino! Por que?

Afinal, quem somos nós para Deus? O que é o Reino para que o Pai tenha prazer em dá-lo a nós?

É algo tão bom ou melhor do que aquilo que nós esperamos, queremos, procuramos e, buscamos? O que tem a ver conosco? É de comer, de beber ou de vestir? Em que é compatível com a nossa vontade?

Todos nós estamos cercados de necessidades e vontades. Claro! São propensões humanas, legítimas e naturais. São duas forças importantes e verdadeiras. Estão na base de nossas lutas e buscas; de nossas expectativas e esperanças; de nossos desejos e anseios.

São importantes e verdadeiras, mas, em nós, são confusas e tensas, principalmente em relação à intensidade, à prioridade, ao tempo e ao momento.

Geralmente, sacrificamos as necessidades para satisfazer as nossas vontades, sem, nem sequer, medirmos a gravidade e as conseqüências das nossas escolhas e atos.

Vivemos pendurados nas urgências, por causa das ilusões. Temos pressa! Não pode ser para depois: tem que ser agora. Não dá para esperar; não dá para pensar; não dá para refletir. Tem que ser agora!

A imposição da vontade acontece por causa do império dos instintos. Se quem manda são os instintos, então, não há tempo a perder. Tem que ser agora! A vontade é impulsiva, imediatista, passageira e pouco profunda, como os instintos. Por isso as pessoas vivem frustradas, decepcionadas e descontentes? Não há nada que satisfaça as nossas vontades porque elas são insaciáveis, não têm freios e querem sempre mais. A vontade é humana; sua natureza é instintiva. E os instintos são pouco profundos.  Qualquer que seja a nossa vontade, precisa ser medida, refletida, controlada e decidia, antes de ser realizada.

Necessidade e vontade são confusas, tensas, conflitivas e um desafio para nós porque:

– Não nos conhecemos de verdade. Somos estranhos para nós mesmos! Não somos, simplesmente, animais racionais. Somos pessoas capazes de consciência, liberdade e vontade. A vontade sozinha não tem profundidade.

– Estamos em desacordo com o tempo e o momento (Ecle 3,1-8). Conhecemos o tempo, apenas, como relógio e calendário e o tempo é mais; é Kairós (momento oportuno, tempo de Deus, dom, graça…). “Há, porem, uma coisa que vocês, amados, não deveriam esquecer: para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos são como um dia” (2Pd 3,8).

– Falta visão de fé sobre a vida. Não pertencemos a este mundo, mas a Deus. Fomos criados para a vida eterna. O túmulo não é o nosso fim. Presente, passado e futuro são dimensões do tempo que apontam para a eternidade. É muito pouco os sabores deste mundo. Nossa esperança não deve ser só para este mundo (1Cor 15,19). O fato é que não sabemos o que pedir, como e quando. Precisamos do auxílio do Espírito Santo (Rm 8,26).

– Existe um hiato entre o nosso pedido e a resposta de Deus.  A impressão que dá é que ele não ouve, não entende e demora. “O Senhor não demora para cumprir o que prometeu, como alguns pensam, achando que há demora” (2Pd 3,9a.).

– Não compreendemos a vontade de Deus e não a aceitamos, porque queremos uma coisa e Deus dá outra, ou não dá. Pudera! A vontade de Deus não está baseada em nossa vontade, mas, em nossa necessidade. Ele sabe o que, de fato, precisamos. Ele não quer que ninguém se perca. “É que Deus tem paciência com vocês, porque não quer que ninguém se perca, mas que todos cheguem a se converter” (2Pd 3,9b).

O Reino de Deus é o próprio Deus. É a Trindade e tudo o que a ela se refere. É um mundo novo; uma vida nova…

Você tem prazer em receber o Reino que o Pai tem prazer em dar a você?

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Meça as palavras, pois elas são como crianças que gritam, clamam, reclamam e conclamam. Se soubéssemos medir o poder da palavra passaríamos bons anos de nossa vida em silêncio. Ou seríamos incansáveis tagarelas para defender uma ideia, um ponto de vista, uma verdade. Nada há de mais poderoso entre os humanos que a força transformadora da palavra. Tanto para o bem quanto para o mal. Isso tudo sabemos por experiência pessoal, mas nossa prática é bem outra: poucos, pouquíssimos, conseguem frear suas línguas ou usar o poder destas para edificar, alertar, instruir, proclamar seus sentimentos e convicções. Já a criança diz o que pensa, exige, protesta e publica em alto e bom som o que seus corações ainda puros necessitam dizer. Dos lábios de uma criança transborda a verdade.

Por que me valho desse tema – tão banal e desvalorizado – quando o fetiche da modernidade é hoje a língua solta? Quando a fofoca se torna o centro dos debates corriqueiros e ganha ares tecnológicos via redes sociais? As revistas que mais vendem têm como prato a fofoca. Estar bem-informado e ser centro das atenções numa rodinha de amigos é bisbilhotar e falar da vida alheia. E dela conhecer conquistas e derrotas, com quem se deita ou se levanta, como se veste e quanto gasta com supérfluos, com a estética corporal, com canalhices… É se postar diariamente para mensurar a própria vaidade, sem pudores, sem preconceitos. O importante são as “curtidas”, não o que dizem a respeito. Desde que seja você o alvo das atenções. A fofoca tornou-se uma medida de popularidade, um meio de autoafirmação social, que sacia nossa sede de realização pessoal. Então, que falem de mim!

Esse terrível conceito de vida social parece não ter limites. A fofoca moderna é instantânea, via satélite, globalizada. Para o indivíduo isolado nas massas seus instrumentos para dizer que existe está ao alcance das mãos. Basta expor-se o mais que puder, deixando de lado qualquer sentimento de recato; jogar-se na língua do povo. Quem teme o ridículo está fadado ao ostracismo (palavrão clássico para designar aqueles que são esquecidos) e dificilmente alcançará o sucesso que o mundo hoje aplaude. O sucesso dos infelizes!

Por que então medir palavras? Para inverter esse processo de degradação que hoje corrói as relações humanas. Se, ao invés de apedrejar, soubéssemos ponderar, falaríamos menos e agiríamos mais. A maior desgraça das relações humanas é a fofoca. Nada constrói e, ao contrário do que muitos pensam, não é trampolim para nossa ascensão social. Ela nos marca para sempre. Coloca em nossas testas o rótulo vermelho de um alerta público: pessoa inconfiável! Cuidado! Não se aproxime! Pode lhe ferir!

Já aos ponderados há sempre portas abertas. Suas palavras e suas ações não possuem o ranço da discórdia, o lastro da maldade, a peja da delação, da traição. Quando abrem a boca, dizem verdades. Quando aconselham, sabem o que dizer. Têm o olhar sempre atento às necessidades do outro, não apenas às próprias. Conhecem o chão ondem pisam e sabem aonde querem chegar. A eles está reservado o verdadeiro sucesso, a vitória plena de seus objetivos. Deles pouco se fala, mas muito se respeita. Simplesmente porque no silêncio encontram a sabedoria de uma vida que sabe cuidar de si mesmo, sem com isso desqualificar aqueles que estão ao lado. E mais: a saliva mais pegajosa do mundo animal não é a daquele pássaro que abre seu bico para aprisionar moscas em suas mucosas e delas se alimentar. É a saliva daqueles que mantêm a boca aberta para empanturrar seus cérebros com as muriçocas pequenas e insignificantes que rondam a vida alheia. Esquecem do vespeiro com enormes varejeiras ao redor de suas fétidas carcaças.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]