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SER e ESTAR são muito mais do que dois verbos com terminações e significados diferentes. Ser e estar comportam a vida em sua complexidade. O verbo ser define existência (ontológica e inequívoca). O verbo estar define estado (circunstancial e transitório). Enquanto o verbo ser trata de questões relacionadas à existência: identidade, verdade, unicidade, verdade e personalidade de um determinado indivíduo, o verbo estar trata de questões relacionadas à sua condição no tempo e no espaço: estar doente, indisposto, triste, nervoso, vestido, longe…

Quando falamos que isto ou aquilo é; que este ou aquele é estamos fazendo afirmações que dizem respeito a tudo aquilo que ultrapassa o tempo e os momentos, o espaço, e as circunstâncias. Diferentemente, quando dizemos que isto ou aquilo está, este ou aquele está estamos fazendo afirmações sobre uma situação ou circunstância na qual se encontra; como algo transitório; como algo passível do tempo. Não demora muito e a circunstância muda.

Trazendo para bem perto de nosso dia-a-dia, ser e estar abrangem um universo de compreensão bastante largo que traduz as relações interpessoais, motivações interiores, ações, necessidades, poder, desejos, vontades, realizações conosco mesmo, com os outros, com Deus e com o mundo.

No mundo, nada e nenhum de nós é o que é por um tempo apenas ou por um momento. O ser de qualquer pessoa ou coisa diz respeito à sua própria vida e existência; diz respeito à sua essência e à sua verdade mais profunda, sempre, acima das circunstâncias. Isso é uma questão de autenticidade. É verdade que tudo o que existe está voltado para algo ou alguém; é marcado e deixa sua marca; influencia e deixa-se influenciar. O ser das pessoas ou coisas está ligado à sua origem; é uma condição inata; pertence à sua gênese. Entretanto, não dá para falar do que algo ou alguém é sem nos referirmos a como, quando, onde, quem, porque, para que e com quem está e faz.  Só o que é pode estar e fazer. O estar-fazer acompanha o ser! O ser ‘pede’ o estar e o fazer, para se tornar visível aos outros. Ora o que nós somos é demonstrado, necessariamente, em nosso estar e fazer, como um transbordamento. As pessoas nos ‘tocam’, nos conhecem pelo modo como estamos e agimos. Assim nós somos ‘visíveis’ aos outros. O nosso ser, de certa forma, está ‘escondido’ em nosso estado e em nossa ação, muito embora o que somos ultrapasse essa dimensão fenomênica de estar e fazer.

Na Bíblia, a expressão DEUS-CONOSCO, como profecia de Isaías (Is 7,14) e anúncio de Mateus (1,23) traduz em termos bem concretos o ser de Deus em sua presença e obras no mundo e nas pessoas. O que sabemos de Deus e dele podemos entender nos é dado por sua presença e obras. Tudo de Deus se reflete em nós, como num espelho. Assim, Deus é conosco e nós somos com Deus.

Ao estar presente e ao realizar sua obra em nós e no mundo, Deus comunica o seu ser. Assim, marcados por Deus, tudo e todos, expande a sua própria existência, revelando o ser de Deus em seu ser. Nem as coisas e, nem tão pouco, nós nos revelamos como deuses, mas, sim como divinos: humanos e divinos.

Da mesma forma como na fé, estamos marcados pelos nossos genitores. Somos um pouco de nossos pais, sem nos confundirmos com eles. Somos a genética dos nossos pais, mas, estamos revestidos do nosso próprio ser. Nós só nos relacionamos como família porque há uma comunicação silenciosa de parentesco que nos aproxima, nos liga e nos faz ser pais, filhos, irmãos, primos, tios, avós… Por que somos pessoas, mesmo não sendo parentes, nos comunicamos como amigos, namorados, associados, companheiros… O que há de humano em nós ‘toca’ o que há de humano no outro e nos aproxima e nos interliga.

A verdade do Natal de Jesus, como presença e ação de Deus no mundo, encontra um forte eco em nossa vida quando questiona a autenticidade de nossa existência na busca de superação de qualquer contradição que possa existir em nosso ser-estar-fazer. Que nenhum de nós precise do recurso do camaleão que se disfarça, mudando sempre de cores. Na natureza, o mimetismo é uma questão de sobrevivência. Nós não precisamos de disfarces: ou somos, ou não somos.

Pe. Edvaldo Pereira dos Santos




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ALEGRIA NO AR

Nada a ver com as ilusões globalizantes e ou globalizadas que bem sabem manipular o humor do povo, mas realmente a alegria está no ar nesta semana. Principalmente para aqueles que seguem um mínimo dos tempos festivos do calendário cristão. Nem tudo é sofrimento e morte, perseguição e injustiça, incompreensão e calúnias, quando somos convidados a celebrar, ao menos uma vez ao ano, um domingo cor de rosa, festivo, liturgicamente senhor da alegria e da esperança renovadas aos pés do altar de tantos e tantos sacrifícios históricos e reais. De repente, a mesa do sacrifício se presta à celebração única da euforia proporcionada por uma notícia alvissareira.

O milagre dessa alegria toda está no objeto de seu anúncio. Algo de grandioso e ansiosamente esperado por todos está prestes a acontecer. A expectativa supera a ansiedade, pois que enche de alegria os corações contritos. “Que devemos fazer?”. Quem não se questiona diante de uma expectativa de mudanças, de realização de sonhos, de uma promessa que se cumpre, uma história que muda suas vidas? Era essa a grande questão. Então, como ficamos?

A cara de tacho dos incrédulos demonstra uma euforia que supera a própria indignidade. Como crianças surpreendidas com um presente maior e mais precioso que suas expectativas, o povo reage com uma demonstração de arrependimento e uma inusitada alegria pelo perdão de sua falta de fé. Afinal, a promessa se cumpre.

João, aquele que anunciou e apontou as luzes de um novo tempo, que diminuiu a importância de seu batismo purificador para salientar a grandiosidade e importância do Batismo de Fogo de alguém “mais forte”, curvou-se e se calou. O cordeiro de Deus, o messias libertador que todos desejavam, já estava a caminho, já dobrava a curva da estrada que a sinuosidade dos tempos e o sofrimento da escravidão, do pecado, das falsas expectativas haviam marcado no semblante daquele povo. Eis que Ele chega. Traz consigo uma esperança nova. Tem nas mãos o poder do perdão, da reconciliação. Sua presença é motivo único da alegria, da euforia contagiante que uma conversão possa provocar. “Eis o cordeiro de Deus”.

Compreender e aceitar esse anúncio é o segredo primeiro da felicidade plena. Aceitar Jesus como Senhor e Redentor, emissário único a “religar” céus e terra, criatura e Criador, é o grande trunfo da fé cristã, a “única religião” cujos fundamentos estão na origem de sua prática e não no histórico das muitas lendas e fantasias criadas pelo ser humano. O Verbo se fez Carne. O Criador se fez criatura. Deus se mostrou humano, conquanto nossa humanidade se tenha tornado divina. Aqui o segredo da grande alegria que a encarnação de Cristo provoca naqueles que aceitam e veneram esse mistério grandioso. Nossa indignidade aflora diante dos fatos, mas o coração contrito e agraciado pela aceitação desse mistério, transborda de alegria pela revelação inusitada. Deus se tornou um igual, habita entre nós e em nós!

Por isso é que dizemos que o nascimento de Jesus foi maior que o milagre da vida. Nossa insegurança um dia nos expulsou do Paraíso, nos proporcionou o afastamento das graças. Agora somos reconduzidos à Graça, reconciliados à verdadeira vida, através da “vinda” do Filho do Homem. Esse é o grande segredo, a razão da nossa alegria, essa euforia que o mundo não compreende, mas pode também sentir. Pois a alegria do povo cristão está no ar. Alegrai-vos, povo de Deus!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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É preciso endireitar as veredas, arrumar a estrada. O asfalto solidifica nossos caminhos, garante o ir e vir mais tranquilo, seguro e rápido. Mas também faz vítimas, constrói armadilhas, ceifa vidas. É preciso sinalizar os perigos, aplainar, aterrar, construir pontes, limitar velocidades ou mesmo acelerar. Isso todos nós conhecemos nos dias atuais, o valor, a importância, a segurança de uma estrada bem planejada!

Mas quando essa estrada tem como destino a Cidade de Deus, aquela mesma que nos liga à realidade espiritual humana, como agimos? A proposta é exatamente essa: arrumar os caminhos que nos levam a Deus. Isaías, o profeta, foi suscinto nesse desafio: “A voz que clama no deserto nos diz: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas de Deus”. Essa é a única função que dignifica e justifica o existir cristão. Temos que fazer nossa parte nessa história, se quisermos um mundo melhor para todos.

O que vemos, no entanto, é contrário ao desafio acima. Há um desencantamento generalizado, capaz de esfriar os ânimos do mais ferrenho “homem de boa-vontade” dos dias atuais. Esse descrédito passa por muitas decepções entre iguais, que cruzam seus braços no cansaço das frustrações acumuladas. O mais assustador é toparmos com esses “apóstolos cansados” na fila que ocupamos, como se de repente todos lavássemos as mãos numa única praia, onde o cansaço de um era o mesmo de todos. Esse período de inercia não pode continuar. Temos que chacoalhar o arvoredo, soprar a poeira, selecionar os frutos, semear novamente. É isso o que a Igreja espera de cada um de nós. Afastar de suas fileiras esse desânimo generalizado que só corrói e destrói

Por isso é que o Tempo do Advento é o princípio de um novo tempo. Não só liturgicamente, mas também na vida daqueles que se predispõem a renovar a estrada da própria fé. Quem disse que isso seria fácil? Nem Cristo escondeu as dificuldades desse trabalho. Mas nos ensinou sua eficácia, o resultado compensador dos esforços baseados na confiança de suas promessas. Esse é o segredo do sucesso. Essa é a visão que nos falta quando avaliamos negativamente os frutos do trabalho da Igreja no mundo. Não estamos nos desgastando em vão. Não pavimentamos uma estrada de utopias e sonhos. Não vivemos numa ilha de ilusões, num deserto infértil… pois que a Igreja é a única construtora de pontes entre os céus e a terra, o homem e Deus.

Se há pontos de desilusões, momentos de cansaço, é compreensível. A condição humana não esconde nossas limitações. Por outro lado, a consciência cristã nos fortalece e nos leva a acreditar numa força transformadora capaz de superar qualquer desafio. Medito isso tudo num hiato de descanso que Deus me permitiu experimentar hoje, numa praia badalada desse nosso país, Camburiú- SC. O mar e a especulação imobiliária haviam estreitados o caminho de areia dessa maravilhosa praia. Mas a inteligência e a capacidade humana foram capazes de “endireitar suas veredas, aplainar as montanhas” e hoje descanso numa faixa litorânea três a quatro vezes maior do que a original. Milhões de metros cúbicos de areia removidos do fundo do mar, há quinze quilômetros da praia, e assentados numa nova praia. Isso é acreditar no quão capazes somos. Não só no aspecto de realizar obras suntuosas e inimagináveis, como as que aqui contemplo, mas também obras miraculosas que transformem nosso espírito. Endireite em sua vida os caminhos de Deus, aplaine as montanhas de suas desilusões, acredite em sua força interior…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Com tantos acontecimentos negativos no mundo; com tanta violência; com tanta desumanidade, principalmente as que podemos constatar à nossa volta, corremos o sério risco de desacreditar nas pessoas, na gente mesmo, em Deus, na comunidade, no bem, na verdade, no amor, na fé… na justiça. Parece que não vale mais a pena! Se isso começou a ser sugerido em seu coração, fique atento. Você é um forte candidato ao posto de crítico-omisso-derrotista, que permite a multiplicação de acontecimentos nocivos pelo mundo, a banalização da violência, e o crescimento da desumanidade, principalmente, à sua volta.

É verdade que muita coisa não está bem. Pior, ainda, algumas estão indo de mal a pior, fazendo a vida perder a graça. Mas, e daí? O que vai resolver cruzar os braços e dizer: ‘já fiz minha parte!’ ou ‘tô nem ai!’ ou ‘tem jeito não!’ ou ‘…’

Precisamos voltar a acreditar! O grande mal do mundo é que, pouco-a-pouco, tem-se deixado de acreditar nas pessoas, em si mesmo, em Deus, na comunidade, no bem, na verdade, no amor, na fé… na justiça.

E, por falar em justiça que tal reinventarmos a sua força como de um broto? Quando, por ocasião de uma semeadura ou até mesmo de uma raiz se permite à semente ou à planta o tempo do broto, certamente, não faltarão frutos.

Todos os dias externamos nossa insatisfação com a justiça humana, muitas vezes, criticada como cega, impotente, cúmplice, corruptível… Se a nossa decepção com a justiça humana está relacionada à impunidade, à morosidade e parcialidade da lei, ao invés do desencanto com a lei, deveríamos refazer o ideal de justiça como broto, nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nas escolhas, nas decisões, nos compromissos e nas posturas que assumimos dia-a-dia.

Um broto é explosão de vida e pura expressão de desenvolvimento que contrasta com sua enorme fragilidade e delicadeza. Broto é esperança, é oportunidade. O Broto faz justiça à semente e os frutos fazem justiça ao broto.

A intuição bíblica do broto, como primeira imagem do que se espera da semente, em vista dos frutos, nos coloca, imediatamente, diante da cotidiana responsabilidade do ser, do crer, do querer e do fazer. “Amor e Fidelidade se encontram, Justiça e Paz se abraçam. A Fidelidade brotará da terra, e a Justiça se inclinará do céu. Javé nos dará a chuva, e nossa terra dará o seu fruto. A Justiça caminhará à frente dele, a salvação seguirá os seus Passos” (Sl 85,11-14).

Na verdade, direta ou indiretamente, todos os dias, estamos colhendo frutos indesejáveis de uma justiça que não cultivamos, nem como semente, nem como broto. O problema da justiça não está nos tribunais, está em cada um de nós. Nos tribunais, quem sabe, temos de forma maiúscula aquilo que não percebemos ou não admitimos em nós. Como diz o ditado: “Vamos colhendo o que plantamos!” O que temos plantado?

O Salmo 72,2-17, traz as seguintes considerações: “Que o Senhor governe seu povo com justiça, e seus pobres conforme o direito. Que em seus dias floresça a justiça e muita paz até o fim das luas. Porque ele liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor. Ele tem compaixão do fraco e do indigente, e salva a vida dos indigentes.”

A profecia sobre o rei justo e a emergência da justiça tem, em Davi, seu grande anúncio e, em Cristo, sua plena realização. “Do tronco de Jessé sairá um ramo, um broto nascerá de suas raízes. Sobre ele pousará o espírito de Javé: espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e temor de Javé. A sua inspiração estará no temor de Javé. Ele não julgará pelas aparências, nem dará a sentença só por ouvir. Ele julgará os fracos com justiça, dará sentenças retas aos pobres da terra. Ele ferirá o violento com o cetro de sua boca, e matará o ímpio com o sopro de seus lábios. A justiça é a correia de sua cintura, é a fidelidade que lhe aperta os rins…” (Is 11,1-10).

Eis o tempo de se abrir à justiça divina para poder sair do embaraço da justiça humana! Os dias para a justiça florir são todos os dias de nossa vida e de nossa história, a começar de agora! “O Justo vive pela fé” porque “a justiça se revela única e exclusivamente através da fé” (Rm 1,17).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Dizemos que nada acontece sem um princípio. Lei da Natureza. Também da lógica.             Princípio que aqui poderíamos denominar de Advento, tempo de esperança, de sonhos, de expectativa. Enfim, tempo de preparação para algo de grandioso em nossas vidas. Assim também deveríamos entender as semanas litúrgicas que antecedem o Natal, o dia mais festejado do mundo cristão. “Naquele dia se dirá: Este é o nosso Deus, nele esperamos, e ele nos salvará. Este é o Senhor em quem esperamos” (Is 25,9).

Dizemos também que a esperança cristã surge na simplicidade de um curral, uma estrebaria de animais, envolto na pele de uma criança frágil, inocente, desprotegida… Mas um provérbio chinês (por que todo provérbio tem que ser chinês?) ainda nos lembra: “O grande homem é aquele que não perdeu a candura da criança”. A verdade é que ambas as citações só reafirmam a grandiosidade do maior milagre que se tem notícia na história da humanidade: Deus se fez criança para salvar sua criação maior. Este é o Senhor…

Tentar compreender os mistérios e a lógica da ação de Deus em nossas vidas é inverter o processo princípio-e-fim da melhor definição que possamos fazer de Deus. Alfa e Omega, ou seja, extremidades infinitas, sob cujos mistérios a sabedoria humana não consegue penetrar. Mas sentí-lo, tocá-lo, viver com Ele uma experiência concreta de amor, sabedoria, entendimento ou qualquer outra experiência de reciprocidade, sim, isto sim é possível no agora de qualquer um de nós. Basta nos tornarmos criança diante de sua inquestionável paternidade criadora. Basta-nos a compreensão de quão insignificantes somos diante da grandiosidade de sua obra. Basta-nos deixarmos de lado os pedestais de nossa arrogância e prepotência.

A mais bela das poesias paulinas já nos ensinava: existe tempo para tudo. Para colher, para plantar, para sorrir, para amar, ficar triste, se alegrar… No processo do crescimento humano, a infância é o tempo das descobertas, da percepção das dores e alegrias, da compreensão de que o coração que bate num peito humano também é sede de seus mais autênticos sentimentos, os impulsos de sua alma. A espiritualidade é inerente ao ser humano, apesar de muitos a negarem ao longo de suas vidas. Mas que ela esteve em nossos berços, acompanhou-nos nos primeiros passos, sentou-se ao nosso lado nas primeiras leituras, não tem como negar. Sim, toda e qualquer criança compreende e melhor irradia sua própria espiritualidade.

Nosso problema é que nos tornamos adultos. Daí que a soberba de nossas aspirações e a lógica de nossas “lógicas” realizam verdadeiras varreduras na maneira com que cada indivíduo define seu existir. A ideia do divino, do transcendente, do sobrenatural só prevalece quando bem acentuada e orientada na infância. Portanto, o advento cristão necessita que nos tornemos crianças, que reconheçamos sempre nossa pequenez e dependência diante de tudo que é divino, grandioso como nosso “Pai que está no céu”. Que nossa humanidade não se perca nas amarras da vaidade, do existencialismo puro e simples, nas teias da prepotência de se sentir deus, senhor do universo e das criaturas, mentor e manipulador de todas as ciências…. Ah, pobre animal racional, mas irracional na sua ignorância da própria origem.

A humanidade do Deus-menino, que só o presépio cristão apresenta ao mundo, além de seu aspecto místico e poético, é a maior das provas de que o tempo é senhor da verdade – no caso, da Verdade- pois só ele para amadurecer no coração irredutível da humanidade a ideia de um Deus Uno, porém Trino, que se faz um conosco tão somente para nos convidar a sermos um com Ele, a darmos novo sentido à nossa história, com princípio, meio e fim. Portanto, Advento é Tempo da alegria; alegria de novas descobertas e compreensões dos mistérios que rondam nossa espiritualidade, nossa fé.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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Quanto mais o tempo passa, mais eu vejo os cristãos (nas diversas denominações, sem exceção) professando e vivendo a fé, bem distante daquilo que, originalmente, a fé cristã tem de melhor, mais bonito e mais profundo: o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Jesus não é mais um profeta que aparece na história de Israel, ele é o Messias, o Ungido, o Enviado, o Filho do Deus vivo. Ele não veio ao mundo, simplesmente para sacramentar o Judaismo com toda a sua estrutura: leis, ideologia, status, esperança e poder. Jesus não é uma mera continuidade. Pelo contrário, ele significa a ruptura com o poder religioso, político e econômico. A missão de Jesus está para além da esperança messiânica dos judeus, para quem, até hoje, o Messias ainda está por vir; está para além da imagem de um Deus distante, de quem, nem sequer se pode falar o nome; está para além de uma religião de ritos, sacrifícios, dízimos, retribuições e leis.  A missão de Jesus é bem determinada: revelar o rosto do Pai e anunciar o Reino de Deus.

A missão de Jesus questiona, sacode, desestabiliza e estremece o status quo (o estado em que estão as coisas, o que está estabelecido como verdade suprema) da sociedade da época e, porque oferece perigo é perseguido até a morte.

De que maneira a missão de Jesus representa um perigo para a sociedade, a ponto de ser perseguido e morto?

Falar de Deus como seu Pai é uma Blasfêmia. A imagem de Deus sempre sugeriu distância (intocável, indizível…), não só no imaginário, mas, também, na prática religiosa do povo eleito. Deus é, sempre, Senhor, Todo-poderoso, Senhor dos Exércitos, Onipotente, Altíssimo, Rei da Glória, Santo. Quando Jesus fala de Deus como Pai, joga por terra o edifício teológico dos judeus, além de pôr em descrédito os direitos religiosos, o poder da casta sacerdotal e seus privilégios no templo, no culto, na lei, no dízimo e na sociedade. Uma verdadeira bomba para a “paz” da religião que justificava toda perseguição a Jesus chamado de blasfemador (cf. Jo 5,17-18).

Falar de um reino ou rei que não seja de Cesar é Anarquia. Os reinos e os reis sempre se justificaram, pela unção recebida do sacerdote e pela ligação com o templo, como absolutos, intocáveis e sagrados. Qualquer palavra, iniciativa ou atitude contra os reinos e os reis era palavra, iniciativa e atitude contra Deus. A teologia e, por conseguinte, a ideologia nascida destas justificativas, reforçam e mantinham intactos o poder, a política, a economia e a cultura de opressão sobre um povo, sempre submisso e conformista. Quando Jesus anuncia um reino-rei que não é deste mundo, põe em perigo toda a estrutura de poder dos reinos e dos reis “O meu reino não é deste mundo…” (Jo 18,36).

Jesus não se intimida, em sua missão e, vai até ao extremo da Cruz revelando o máximo do amor de Deus e a emergência do seu Reino.

Em que sentido os cristãos estão professando e vivendo uma fé distante da originalidade da fé cristã?

O distanciamento da fé original (Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus) está na instrumentalização da fé em função de qualquer pretensão humana, ainda que provenha de uma necessidade legítima. Por exemplo, usar a fé-religião, simplesmente, para sucesso financeiro e material, para ascensão política, para satisfação imediatista dos desejos e prazeres.

A fé tem que ser experimentada como algo que só Deus pode dar: a Conversão, a Redenção e a Salvação. De fato, o Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14,16-19.22.23b). Jesus é Rei, o seu Trono é a Cruz; seu cajado é a justiça e sua vitória é a ressurreição (Lc 23,35-43). Dêem graças ao Pai, que permitiu a vocês participarem da herança dos cristãos, na luz (Cl 1,12-20).

No Alto da cruz, ao lado de Jesus, o ladrão arrependido, compreendeu a verdade sobre o Reino de Deus e o Rei Jesus: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino.” Jesus respondeu: “Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará comigo no Paraíso.” (Lc 23,42b.43)

Pe. Edvaldo Pereira dos Santos




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          A pobreza sempre existiu, sempre existirá. Nem por isso vamos ignorá-la ou dar-lhe as costas como se problema nosso não fosse. “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14,7), constatou o próprio Cristo, sem com isso desistir de seus ensinamentos centrados na relação de fraternidade que os pobres nos possibilitam praticar. Sem eles, a escola de Cristo se perderia no mais edificante de seus ensinamentos, o amor ao próximo.

Aprofundando essa questão, Papa Francisco estabeleceu o Dia Mundial dos Pobres (celebrado neste 14 de novembro pela quinta vez) com o objetivo de chamar a atenção dos povos para a riqueza presente na escola dos pobres, estes cujo sentido de comunhão, partilha e solidariedade torna-se o mais contundente princípio da fraternidade universal. Em sua mensagem para esse Dia, Francisco deixou escapar, mais uma vez, sua sensibilidade franciscana. Não posso privar meu leitor dessa sensibilidade. Abre sua reflexão com a passagem da mulher que gasta seu vaso de alabastro, perfume caríssimo, sobre a cabeça de Jesus: “Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?”. Essa é a pergunta clássica dos oportunistas que usam da pobreza para seus ilícitos enriquecimentos. Mas Francisco tem sua segunda visão, pois a cena evangélica realça a pobreza do Mestre. “Jesus recorda-lhes que Ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres”. E sintetiza: “Esta forte <empatia> entre Jesus e a mulher e o modo como Ele interpreta a sua unção, em contraste com a visão escandalizada de Judas e doutros, inauguram um caminho de reflexão sobre o laço indivisível que existe entre Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho”.

“Os pobres são sacramento de Cristo”, diz mais adiante, para reiterar o valor da caridade para com eles: “Trata-se, portanto, de abrir-se decididamente à graça de Cristo, que pode tornar-nos testemunhas da sua caridade sem limites e restituir credibilidade à nossa presença no mundo”. Cita os dias atuais: “Alguns países estão a sofrer gravíssimas consequências devido à pandemia”, que aumenta assustadoramente as condições de pobreza. “É verdade que são pessoas a quem falta algo e por vezes até muito, se não mesmo o necessário; mas não lhes falta tudo, porque conservam a dignidade de filhos de Deus que nada e ninguém lhes pode tirar”.

A pobreza torna-se a maior ameaça à estabilidade social que todos desejam. É hoje uma questão de prioridade humanitária, pois que atinge, direta e indiretamente, a todos. Escreve Francisco: “O pobre só tem uma defesa: a sua pobreza e a condição de necessidade em que se encontra. Não lhe peças mais nada; mesmo que fosse o homem mais malvado do mundo, se lhe vier a faltar o alimento necessário, libertemo-lo da fome. (…) O homem misericordioso é um porto para quem está em necessidade: o porto acolhe e liberta do perigo todos os náufragos, sejam eles malfeitores, bons ou como forem. Aos que se encontram em perigo, o porto acolhe-os em segurança dentro da sua enseada.” Então Francisco conclui recordando seu discurso sobre o pobre Lázaro, II,5: “Também tu, portanto, quando vês por terra um homem que sofreu o naufrágio da pobreza, não o julgues, nem lhe peças conta do seu comportamento, mas liberta-o da desventura”. E cita uma frase do Pe. Primo Mazzolari, publicada em uma revista italiana em 1949: “Os pobres, eu nunca os contei, porque não se podem contar: os pobres abraçam-se, não se contam”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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A doutrina cristã é perfeita em seus princípios. Porém, contraditória. Isso mesmo, não se assuste! Contraditória com a realidade de vida da grande maioria dos que se dizem cristãos. E do cristão se exige ser sinal de contradição!… Já que lhe chamei a atenção para o assunto, continue comigo.

Grande pensador e, na sua juventude, réu confesso das ilusões humanas, Santo Agostinho um dia declarou: “Não me inquieto demasiado com as seduções do perfume. Quando está afastado, não o procuro. Quando o tenho presente, não me esquivo, mas também estou preparado para dele me abster”.

Quais seduções, que perfume? É lógico: odor, olfato, emulações da realidade física. Essa competitiva atração que o mundo faz à criatura mais perfeita do universo, para os ascetas chama-se tentação. Seduções de um perfume efêmero! Entre a tênue linha dos prazeres terrenos e das perenes riquezas espirituais situam-se as grandes religiões, dentre as quais o cristianismo. Todas pregam uma comunhão humana com as riquezas do lado de lá – ocultas e maravilhosas – cuja efemeridade inexiste, se contrapondo à volátil sedução dos perfumes humanos. Diante deles, Agostinho demonstrava indiferentismo, não se deixava iludir, sem, no entanto, repudiá-los. Havia um meio termo, uma relação de simbiose, respeito mútuo entre sua realidade física e espiritual. Uma perfeita comunhão corpo e alma. “Não me esquivo, mas também estou preparado para dele me abster”.

Esse é o foco da atenção que lhe roubo. Seria contraditória a doutrina que nos chama à comunhão universal? Ou contraditórios os que se declaram cristãos, sem nunca prescindirem dos odores da realidade terrena? A fé cristã nos ensina a respeitar e aprimorar esses dois aspectos da vida: o material e o espiritual. Essa é a comunhão que buscamos. Conquanto, o cristão autêntico nunca será um extraterrestre em seu meio, alguém longe da realidade em que vive, alheio às carências, misérias e decepções humanas… Ao contrário, quanto mais afeito às manifestações do Espírito, quanto maior sua comunhão com as “coisas do alto”, as revelações criteriosas que sua fé proporciona, à medida de seu amadurecimento espiritual, tanto maior será sua comunhão com a realidade que o cerca.

Nesse aspecto, a vida sacramental do católico, em especial sua participação eucarística, torna-se o elemento moderador do equilíbrio que necessitamos. Cristão sem comunhão, sem vida eucarística, é um belo pássaro que ainda não aprendeu a cantar, nem voar. Um filhote fora do ninho. Que pena! Está sujeito às aves de rapina, às intempéries de uma realidade física cruel e sanguinolenta.

A comunhão é manancial das virtudes que aspiramos, tanto no aspecto físico quanto espiritual. Seu ápice está nas espécies eucarísticas, o mistério de fé dos católicos. No entanto, não há ápice sem princípio e meio. A comunhão tem início na compreensão das misérias e limitações humanas. Somos pó, a ele voltaremos. Ponto final? Pior que não. O meio dessa história é nosso compromisso, ou seja, a comunhão fraterna que nossa fé nos desafia a vivenciar. Eis a comunhão que nos falta.

Diante das misérias dessa realidade, o mesmo Agostinho um dia clamou pela piedade divina. Salve, ó Pai, o pequeno pássaro fora do ninho! “Tende compaixão dele para que os que passam pelo caminho não calquem aos pés esse passarinho implume. Enviai o vosso anjo. Ele o torne a colocar no ninho, para que assim a avezinha possa viver enquanto não souber voar”. Enquanto não comungar plenamente com o mundo que a cerca.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Desde muito pequenos somos incentivados e, quem sabe, desafiados a ser grandes; a crescer; a ser livres; a ter uma profissão; a ganhar muito dinheiro; a ter uma casa; a ser alguém na vida. E não faltam dicas e receitas sobre o que é bom.

Crescer passa a ser sinônimo de se dar bem na vida; de ter o que quer; de aproveitar bem a vida; de ser senhor de algo ou de alguém; de ser independente.

De fato, quem sonha cresce e amadurece. Mas, não é qualquer sonho que faz crescer.

O sonho que faz crescer é aquele que destaca o que seremos e não apenas o que teremos; o que realiza e não simplesmente o que dá prazer; o que humaniza e não o que endeusa; o que converte e não o que fanatiza…

É bem provável que uma boa parte dos sonhos que os outros tentam inculcar em nós provém da frustração de nunca terem sido realizados.

Se pensarmos bem, há sonhos melhores para se sonhar.

Qual é, afinal de contas, o seu sonho? O que tem ocupado a sua cabeça e o seu coração? Já parou para pensar que o seu sonho pode ser a tentativa dos outros de se realizarem, tardiamente, em você?

Se você quer sonhar bem, sonhe o sonho de Deus. Deus tem um sonho! Quer saber qual é o sonho de Deus? Nós somos o sonho de Deus! Sim! Nós somos o sonho de Deus e, tudo o que ele fez e faz está voltado para o nosso bem e salvação.

Deus quer que nós participemos deste seu sonho e façamos disso a nossa vida. Ele nos chama e nos diz: “sejam santos, porque eu sou santo!”

Este é um sonho que vale a pena porque nos faz voltar ao nosso estado original: fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Mas, este que é um sonho que vale a pena custa a nossa vida porque exige a nossa entrega. Ser santo não é um desejo impostado pela nossa vontade. Ser santo é um chamado; é uma vocação.

A vocação universal à santidade é um desafio muito grande a todos nós porque vivemos na contradição do pecado e na contramão da fé. Não é impossível ser santo porque, como diz o Senhor: “Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça. O Pai dará a vocês qualquer coisa que vocês pedirem em meu nome. O que eu mando é isto: amem-se uns aos outros” (Jo 15,16-17).

Para que a santidade se tornou um sonho, a vida se transforma em Dom e Conquista e Graça e Tarefa. Quem aprende a sonhar o sonho de Deus, permite que Deus tome conta de toda a sua vida e aceita que ele realize a sua vontade.

Algumas indicações bíblicas nos ajudam a ver a santidade como um caminho possível e necessário:

1Jo 3,1-3: “Vejam que prova de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus. E nós de fato o somos! Se o mundo não nos reconhece, é porque também não reconheceu a Deus. Amados, desde agora já somos filhos de Deus, embora ainda não se tenha tornado claro o que vamos ser. Sabemos que quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque nós o veremos como ele é.”

Ez 36,24-27: “Vou pegar vocês do meio das nações, vou reuni-los de todos os países e levá-los para a sua própria terra. Derramarei sobre vocês uma água pura, e vocês ficarão purificados. Vou purificar vocês de todas as suas imundícies e de todos os seus ídolos. Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne. Colocarei dentro de vocês o meu espírito.”

Ef 1,3-5: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual,no céu, em Cristo. Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeito diante dele, no amor.”

Sejamos santos, porque nosso Deus é Santo. Este deve ser o nosso sonho!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Uma nova palavra e suas variações ocupa o vocabulário do mundo católico: sínodo. Trata-se de uma consulta pública sobre as diretrizes da Igreja, que ocupará a pauta de vários encontros eclesiais durante um ano, seguindo as atividades das comunidades católicas em suas várias instâncias no mundo. Todo e qualquer fiel batizado terá oportunidade de dizer o que pensa. Mas será ouvido? Então, aqui é que são elas… as questões que afligem a muitos!

A democracia cristã, diferentemente do mundo político, não interfere na tradição doutrinária, que segue os imutáveis ensinamentos de Cristo. Ouvir muitos dos anseios populares é também uma forma de corrigir distorções e apontar a solidez da doutrina. Não pensem os mais “avançados” que agora sim, agora o Papa vai ouvir “a voz do povo” e acatar muitas das “mudanças necessárias” em questões como aborto, eutanásia, indissolubilidade sacramental, matrimonial, casamentos homo, etc., etc… Não é por aí. Esse processo de escuta é muito mais uma oportunidade de questionamentos do que proposta de mudanças. Francisco quer ouvir, mas também reiterar.

Para o Papa, o sínodo é uma oportunidade de ouvir a voz de Deus, não um simples processo de consulta democrática à grande maioria que pede mudanças. Antes, há uma constituição imutável a se seguir e esta pede maiores ações e cuidados dos que se colocam “sub judice” de suas diretrizes. A constituição da fé cristã é infalível, imutável e, com isso, infalível seu ensinamento e imutável o caminho da Igreja no mundo. Aqui nos salta aos olhos uma questão reveladora: aqueles que praticam a autenticidade dessa fé são infalíveis em seu seguimento. Esse privilégio não é apenas do Papa, mas de todo e qualquer cristão leigo que possua clareza em sua fé e prática.

Portanto, o movimento sinodal que hora nos motiva, vem de encontro a uma necessidade cristalina de reforçar nossa fé. Esse processo dará chances a todo e qualquer batizado de proferir sua voz, mas também confrontar suas verdades com as falsas “verdades” dum mundo polarizado pelas divergências das muitas doutrinas paganizadas e ou desviadas de seu contexto histórico. Essa é a luta da Igreja no mundo.  “De fato, as armas da nossa luta não são humanas; o seu poder vem de Deus e são capazes de destruir fortalezas. Nós destruímos os raciocínios presunçosos e qualquer poder altivo que se levante contra o conhecimento de Deus”, já nos lembrava Paulo em carta aos coríntios (2Cor. 10, 4-5).

Chegou, pois, o momento de confrontar a fé cristã com as ideologias do mundo. Quem se adequará a quem? Não pensem os que torcem pelas flexibilizações doutrinárias de que finalmente chegou a hora das mudanças dentro da Igreja. Chegou, sim, a hora do reforço. O Papa radicaliza sua autoridade doutrinária, buscando na prática das comunidades o reforço necessário para aviltar o testemunho da nossa fé, não a adequação desta aos caminhos largos do mundo. A consulta pública será uma oportunidade de realçar os ensinamentos da Igreja a partir da coerência de seus seguidores, não do inconformismo dos que buscam mudanças. Não se iludam os que trilham os caminhos pavimentados e ilusoriamente mais rápidos e confortáveis do progresso que nos ilude. Os caminhos da fé continuarão estreitos, mas eficientes em suas metas transcendentais. Será isto o que o Povo de Deus irá dizer ao mundo, ao final do mais amplo sínodo de sua história.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]