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Diocese de Assis

Se fossemos colocados diante da seguinte interrogação: ‘Como é a nossa relação conosco mesmos, com os outros, com as coisas, com o mundo e com Deus?’ Quais serão os princípios, medidas e valores que referenciam nossas relações? Que peso damos para isso, em nossa existência? Que lugar elegemos para essa preocupação? Como é que estamos vivendo, concretamente, este chamado?

A primeira vista estamos diante de um abismo colossal, em termos de relação interpessoal e planetária. Será que chegamos ao grande abismo? Que nome esse abismo tem: Apego desmedido? Exacerbação materialista? Compensação imediatista? Hedonismo? Individualismo crônico? Inversão de valores?

Temos que assumir uma dura e cruel realidade: nossas relações estão desplanetizada e desplanetizante; desumana e desumanizante. Chegamos ao ponto limite da insensatez total. Assim desabafa o salmista: “O insensato diz no seu coração: ‘Deus não existe!’ Corromperam-se praticando abominações; não há quem pratique o bem. Do céu Javé se inclina sobre os filhos de Adão para ver se restou alguém sensato, alguém que busque a Deus. Estão todos desviados e obstinados também: não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Sl 14,1b-3).

O que fazer? Vamos eleger o pessimismo derrotista como explicação e método? Vamos cruzar os braços? Vamos, cada um, sair como arautos apocalíptico do fim do mundo? Não! Devemos ser portadores da Boa Nova de Cristo que, começa em cada um, e alcança o mundo. Comecemos com a mudança do eixo/paradigma que nos move.

Diz o Senhor: “Atenção: tenham cuidado com qualquer tipo de ganância!” (Lc 12,15). Estaria Jesus contra a possibilidade de alguém crescer e prosperar? Não. Crescer e prosperar pode, mas, não sob a força da ganância.

Afinal, quem não tem vontade de crescer, de melhorar de vida, de ganhar dinheiro, de ampliar o seu padrão, de comprar isso, fazer aquilo e alcançar aquilo outro?

Todos nós somos dotados de uma ambição natural. Queremos crescer, subir, avançar, conquistar… E não há nada de mal nisso! Aliás, mesmo sem a determinação de nossa vontade, do nascimento até a morte, nosso corpo experimenta graus e estágios de crescimento e amadurecimentos fantásticos. A vida é para o crescimento; para a expansão; para o algo mais; para o mais profundo; para o mais além. Nesse sentido, somos chamados a nos decidir por um crescimento que a natureza não alcança e não toma o lugar de nossa autodeterminação.

O caso, porém, é que não podemos nos decidir a crescer de qualquer maneira; de qualquer jeito; sem qualquer princípio. É preciso crescer, sim, mas com dignidade. Não há nada que justifique crescer sem o mínimo de respeito a si e aos outros. Aliás, justificativa é o que não nos falta! Temos uma para cada situação. Tudo para isentar culpa, diminuir o impacto da responsabilidade e o peso na consciência.

É legítimo crescer e prosperar mas, nenhum crescimento ou prosperidade deve estar desconectada do amor ao próximo. Se crescemos ou prosperamos, individualmente, e as pessoas (as coisas e o mundo) ao redor de nós vivem oprimidas e sufocadas pelas injustiças, pecados e omissões de todos (direta ou indiretamente), como poderemos viver em paz? Não podemos permitir a socialização da miséria ou a proliferação do sentimento de culpa; somos chamados à justiça social cristã.

Aqui, vale, portanto, a indicação Paulina sobre o Corpo-Místico-de-Cristo, que é a Igreja: “Todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo (…). Os membros do corpo que parecem os mais fracos são os mais necessários. Se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros participam de sua alegria” (1Cor 12,13.22.26)

A nossa resposta à questão da mudança do eixo/paradigma não estaria completa se o amor ao próximo não indicasse uma verdadeira conversão social e pessoal. Por isso, além das mudanças fundamentais em relação a ‘todos os outros’ à nossa volta, precisamos de mudanças profundas em relação a nós mesmos.

Não podemos sustentar nenhum tipo de crescimento humano na plataforma de qualquer tipo de ganância porque ganância, de qualquer tipo, é cega e nos torna cegos.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Óforos vivia na Grécia, por volta de 250 DC. Não contente com as brigas em que se envolvia, para defender seus príncipes e reis, que acabavam por decepcioná-lo sempre, passou a estudar as virtudes e integridade de seus eleitos, antes de tomar para si o mérito de suas defesas.

O primeiro rei, apesar de simpático e audacioso em seus projetos, mostrou-se temeroso ao simples pronunciar de um nome: Diabo! Concluiu que esse rei não era tão valente quanto imaginava! Resolveu então servir àquele que fazia curvar a reluzente coroa de um soberano. Um dia, caminhando por uma estrada, viu o Diabo se desviar de uma cruz, demonstrando respeito e medo. Óforos resolveu, então, servir ao Senhor da cruz, do qual até o Diabo desviava o seu caminho e para o qual se curvava respeitoso.

Disposto a servir àquele Senhor, seguiu o conselho de um sábio: “Para servir ao Cristo era preciso, por primeiro, servir aos irmãos!”. Passou a transportar pessoas entre as margens de um caudaloso rio sem pontes. Então um alegre menino se utilizou daquele serviço. O peso daquela criança parecia aumentar a cada passo. Chegou à outra margem ofegante, como se tivesse carregado o mundo. Interrogado, o menino respondeu: “Carregastes nas costas não só o mundo, como também Aquele que o criou”.

Desde então, tornou-se “Cristóforos”, em grego “o que carrega Cristo”. Essa é a lenda que deu origem à devoção a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas e navegantes, que uma revisão ritual da Igreja, em 1969, excluiu de suas festas litúrgicas. Porém não da devoção popular, para o qual o santo continua a transportar os viajantes deste mundo.

Lenda ou não, a vida de São Cristóvão merece nosso respeito e veneração. Vivemos um momento de caça aos “santos”, porém com um verbo mais objetivo. Cassar apenas não basta; precisamos mesmo é caçar. Para tal, necessário se faz uma revisão das virtudes e méritos de nossos eleitos, “antes de tomar para si o mérito de suas defesas”. A caçada já resulta em alguns cassados. A aparente santidade de alguns nos remete aos contos e fábulas do passado, em especial ao clássico do lobo em pele de cordeiro. Infelizmente, uma alcateia deles anda solta, caminha livre por nossas estradas, desviando-se Daquele que é o soberano de todas as verdades. Só Cristo nos dá forças para suportar o peso desse mundo de incoerências!

A realidade não é lenda. Quando uma escandalosa ventania faz agitar as águas de um outrora tranquilo e maravilhoso lago de esperanças, não podemos simplesmente virar-lhes as costas e nos abrigarmos em nossas redomas. É esse o momento de acreditar na força interior da fé que nos move e somar-se às dificuldades do povo, se quisermos vencer o lago em reboliço, se ainda desejarmos alcançar a outra margem, a praia de nossos sonhos. Aos que se desiludem com os mandos e desmandos de seus “soberanos”, aos que se desesperam na busca de virtudes entre humanos, aos que enxergam mais qualidades entre os senhores das trevas do que na simplicidade da fé cristã, um desafio lhes sobra: deixar de lado o peso da própria mesquinhez. Há um fardo muito mais precioso do que o das aparentes ilusões: a cruz da fé. Ela nos ensina a carregar Cristo em nossos corações.

Todo cristão, por extensão de seu ministério, é também um cristóforo, carrega consigo o Cristo. Com o peso dessa responsabilidade haveremos de alcançar a outra margem, sem medo de perder nossas esperanças. Para bom entendedor… Ou melhor, usando as palavras de Cristo: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça!”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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   Que neste mundo encontramos tempo para tudo, até para o descanso e lazer, todos bem o sabemos. Afinal, não somos de ferro. Acontece que muitos preferem somente a última alternativa e fazem de suas existências uma contínua pachorra de nada fazer fora do seu bel prazer. Vivem às turras com a própria vida, sugando dela o máximo possível do bem-estar e benesses que esta lhes possa oferecer. Que se danem os outros! Um semelhante nunca lhes parecerá um igual, um companheiro, mas alguém do qual se servem para tirar proveito ou algo assim. Se bastam a si mesmo.

Enquanto isso, aqueles que seguem o Senhor, que descobriram haver outro tipo de vida fora dos padrões do individualismo e do comodismo, estão tão ocupados na tarefa de propagar essa descoberta, esse novo estilo de vida, que “não têm tempo nem para comer”. Esses ocupam a barca de Cristo, onde o extenuante trabalho da verdadeira pesca, da travessia sob tempestades, das profundezas das águas, da busca da “outra margem”, do porto seguro…, ah!, esse trabalho toma-lhes o tempo todo! E o cansaço vale a pena. E a recompensa vem da alegria do serviço… da honra de ser útil ao Senhor, de estar a seu lado num mesmo ideal: partilhar com Ele tudo o que fazem e ensinam ao povo.

Com certeza, o extenuante trabalho da verdadeira evangelização tem as cores desse quadro tão bem ilustrado por Marcos (6,30-34), ao narrar a compaixão de Cristo pela multidão de “famintos” que seguiam seus passos. Jesus percebeu o cansaço dos apóstolos e lhes propôs um momento único, com o qual muitos sonham diante das tribulações e dos afazeres desta vida: “Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco”. Quem nos dera ouvir um dia essa proposta em nossas vidas missionárias. “Descansem um pouco”! O próprio Cristo nos dizendo isso… Mas, para tanto, é preciso fazer por merecer.

E esse aparente descanso foi um hiato do tempo, um refúgio da alma na amorosidade do coração divino, pois, tão logo alcançaram a praia que supunham deserta, eis que uma nova multidão se rompe à frente deles, “famintos” do pão da palavra, da verdade que traziam. “Sabendo que eram eles, saíram de todas as cidades, correram na frente, a pé, e chegaram lá antes deles”. Na solidão de muitas praias desertas, de muitas vidas vazias e ansiosas pelo encontro com a verdade, eis que encontramos multidões. Tais quais aqueles que fazem de suas existências uma contínua busca de satisfação pessoal, de regalias e prazeres que não saciam, nem acalentam seus espíritos e suas almas sedentas de paz. Nem sequer seus corpos em contínua evolução para a morte apenas. Desses Jesus tem compaixão. E deseja resgatá-los com a ajuda de seus discípulos!

O descanso proposto pelo Mestre não é um período de férias coletiva, definido por um tempo proporcional aos nossos direitos trabalhistas. Enquanto aqui estivermos, navegando com Ele em sua Igreja terrena, nosso tempo de descanso será escasso, um hiato apenas, pois as ondas rugem lá fora, no mundo conturbado dos nossos dias. Nosso descanso vem da paz interior que só o trabalho evangelizante pode oferecer, que só o operário da obra é capaz de valorizar, agradecer, bendizer. Nada, nada supera o dom, a graça desse serviço. “Que o meu cansaço a outros descanse”, diz a alma insaciável e o coração incansável. Que a compaixão de Cristo pelas multidões das “ovelhas sem pastor” ganhe também um mínimo do olhar compassivo que devemos devotar a esse mundo “pandemoniacamente” em crise nos nossos dias. Não é hora de descansar!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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O instinto, presente da natureza, é uma das maiores forças existentes nos animais, inclusive no homem. Instinto é impulso, inclinação, tendência natural ou inata; é pulsão de vida para a preservação da espécie e para a autoconservação. Ações ou reações instintivas diante das situações mais complexas ou corriqueiras da vida humana, estão presentes nas atitudes de qualquer indivíduo. Diante da fome, comemos; diante da tristeza, choramos; diante da agressão, nos defendemos; diante do ataque, revidamos; diante do medo, trememos; diante da guerra, lutamos.

O jogador não vai ao campo para perder a partida. O atleta não vai à pista para perder a corrida. O político não vai ao pleito para perder a eleição. O candidato não vai ao concurso para não passar na prova. O aluno não entra na escola para não formar-se. A seleção não vai à Copa para não trazer o título.

Não digerimos perdas com muita facilidade. Perder, em ultima análise, significa morte, frustração, decepção, fracasso, ruína, destruição, tragédia e aniquilamento.  Por isso, a natureza instintiva do ser humano pode joga-lo, cada vez mais, no caldeirão fervente da presunção, do orgulho indomável, do altaneirismo, das obsessões desmedidas, das ilusões e do triunfalismo.

De fato, o instinto é pulsão de vida, para a vida, porém, misturado com certas emoções adoecidas, pode gerar, em qualquer indivíduo pulsão de morte, que sobrevive nalgumas manias, fobias e doenças. Nesse sentido podemos nos tornar reféns de nós mesmos.

O instinto é ‘fera’ que precisa ser domada! Entretanto, a busca, não só do controle e da domesticação dos instintos, mas da aceitação, da compreensão, do entendimento, da autocrítica e da autoconsciência é que faz a diferença e confere sentido à vida, apesar dos instintos. Ora, a fé cristã fala de perdas, de renúncias, de sofrimentos, de sacrifícios, de pobreza, de martírio… identificando-os como valores e virtudes. Mas, que história é essa? Que conversa é essa? Que valores são esses? Que virtudes são essas? Como aceitar isso como verdade?

Ninguém, em sã consciência, deseja perder, sofrer ou morrer! Então, como falar de valor e virtude sobre situações que, imediatamente, remetem ao indesejável?

Para dar razões de fé à vida, é preciso voltar à Sagrada Escritura: voltar ao Evangelho, voltar ao Cristo.

Na Sagrada Escritura a vida é, reconhecidamente: um dom, um presente, um chamado de Deus e, ao mesmo tempo, uma tarefa humana. Em outras palavras a vida é dom e conquista; vocação e missão!

Preciosa, a vida só encontra seu verdadeiro sentido, razão e finalidade no seu autor e criador: Deus! Nesse sentido, a verdade e o bem da vida humana no pensar ou no agir, no querer ou no sentir, no fazer ou no esperar dependem da estreiteza da relação de fé com o pensar e o agir, o querer e o sentir, o fazer e o esperar de Deus, como a grande medida. Trata-se, não apenas de viver, mas de saber viver em Deus, por Deus e com Deus.

Viver deve ser, sempre, uma escolha, uma convicção, uma decisão atual, de cada indivíduo, em vista do Bem Supremo. Mesmo que isso traga renúncias, perdas, sofrimentos, sacrifícios, entregas. É exatamente aqui que se encontra o grande nó, das questões de fé: nem sempre, o contraditório é desprezível; nem sempre o negativo é ruim; nem sempre a perda é frustração; nem sempre a morte é destruição. Nem sempre!

A vida não é só prazer, bem estar ou sentir-se bem. A vida é muito maior e mais bonita! Principalmente quando olhamos para cruz e nos damos conta de que a ressurreição (vida nova) é um broto profético de uma vida entregue ao sacrifício de amor.

Será que não vale a pena fazer uma revisão pessoal da própria vida, para encabeçar algumas mudanças pessoais na forma de viver? O que estamos dispostos a perder para viver de verdade? Porque na fé é preciso perder para ganhar!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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De olho no futuro procuramos, sempre, arranjar bem a vida! Fazemos projeto para tudo: construir, reformar, estudar, viajar, passear, comprar, vender… Traçamos planos e metas: esquadrinhamos, medimos, referendamos, balizamos, parcelamos, financiamos. Colocamos o futuro ao alcance de nossas mãos. Tudo se tornou possível, agora; imediatamente. Não é preciso mais esperar amanhã. Importa é o já. Não há tempo a perder. Não há mais obstáculo ao prazer. Não há mais censura. Não há mais medo. Não há mais temor. A qualidade de vida chegou! Foi potencializada, de uma vez por todas, a liberdade, a vontade e o desejo pela conjunção do saber-prever-poder.

Mas, que futuro é esse do já, do agora mesmo e do imediato?

É a cultura do simulacro. É a banalização da vida. É a porta do desespero. É a ‘in-esperança’ do efêmero, do passageiro, do insaciável, do ilusório, da simulação, do irreal, do engano, do engodo e do hedonismo (ou prazer pelo prazer). É por isso que a sensação de vazio, presente no mundo, não é somente uma sensação… é vazio real e de fato; é abismo colossal; é o sem-sentido da vida.

E você? Onde estão plantados seus sonhos e projetos, seus planos e metas? Qual é o futuro que inspira e rega seus projetos? Que tamanho ele tem? Está fundamentado em que?

A qualidade, o tamanho e o fundamento do futuro que deveria regar e inspirar nossos sonhos e projetos é da Esperança em Cristo porque, tal como o Cristo, “a esperança não engana!” (Rm 5,5).

A Esperança em Cristo é dialogal e nos lança no desafio de ‘esperançar’.

“Quem espera sempre alcança” quando esperançar já é a esperança!

“A esperança é a última que morre” quando a vida é a ponta-de-lança.

A Esperança em Cristo é tudo e, essa, deve ser, também, a sua!

Tudo deve estar calcado sobre a Esperança em Cristo porque, sem essa esperança, nada vale a pena. A esperança em Cristo cria aberturas, dá motivos, derruba muros, ultrapassa barreiras, lança para frente, impulsiona para o alto, alavanca projetos, planos e iniciativas.

A Esperança em Cristo não separa a vida em dois mundos divididos pelo túmulo, pela morte. A Esperança em Cristo integra presente, passado e futuro; derruba a contradição entre vida e morte, alegria e tristeza, consolação e sofrimento; cruz e ressurreição; une a vida presente, na carne com a vida futura, no Espírito. A Esperança em Cristo radicaliza as expressões do amor no dar-se e no entregar-se.

A Esperança em Cristo supera toda e qualquer divisão e dicotomia.

A Esperança em Cristo é a Vida Eterna. Por isso, ninguém precisará mais, fazer projeto para garantir o futuro longínquo, depois da morte pois, nas perspectiva da Esperança o futuro está garantido hoje. Não agora, hoje!

Não mais será necessário fazer projeto para a vida porque, a vida mesma será projeto e, todos os projetos serão projetos-de-vida.

Neste sentido, a vida não estará mais fechada ou limitada a qualquer projeto que em pouco tempo se acaba; nem estará restrito a um corpo que, por mais, longevidade, é passível de morte. A vida será, portanto, maior, melhor, mais bonita e mais durável… a vida será eterna.

E o que é a vida eterna? Muito mais do que um lugar onde se está é um estado de vida. A vida eterna é ser em Deus! “A vida eterna é esta: que eles conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).

O que é preciso fazer para herdar a vida eterna?

A Sagrada Escritura responde com algumas afirmações lapidares: “Não se amoldem às estruturas deste mundo” (Rm 12,1-2); “Trabalhem pelo alimento que dura para a vida eterna” (Jo 6,22-27); “Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam” (Mt 6,19-24); “Em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas” (Mt 6,25-34).

A vida eterna não está longe de nenhum de nós. Mas, é preciso querer e buscar!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Uma curiosa cena, digna das telas cinematográficas, foi registrada nesta semana numa das salas de audiências do Vaticano: uma pessoa vestida como o personagem dos filmes e quadrinhos do Homem-Aranha, com grandes olhos brancos e traje vermelho justo, foi apresentado ao Papa Francisco. Levou como presente ao sumo pontífice um protótipo de sua curiosa máscara. Sorridente, Francisco cumprimentou o personagem e aceitou seu presente. Mas o que está por trás dessa pitoresca audiência? Tratava-se do jovem italiano Mattia Villardita, 27 anos, que no ano passado recebeu um prêmio do presidente italiano Sergio Mattarela, pelo trabalho que fazia com crianças hospitalizadas e doentes. Mattia, travestido de super-herói, era uma espécie de “médico da alegria”, num incansável trabalho de resgatar a auto estima de crianças adoecidas. Daí o mérito da audiência e da bênção papal.

Também por trás da história desse super-herói existia um jovem órfão – Peter – que vivia com seus tios. Estudioso e disciplinado, um dia descobriu, acidentalmente, seus super poderes (lúdicos e fantasiosos, mas que alimentaram o sucesso do personagem fictício). A adaptação do enredo de Stam Lee e Steve Dikito para o cinema e outras mídias deu a seus produtores os dividendos extraordinários de uma história com muitos filmes de sucesso e milhões de revistas em quadrinhos editadas no mundo todo. Na esteira desse sucesso, alimentou sonhos e fantasias de muitas crianças e adolescentes, cuja imaginação cria asas e sobrepõe-se à realidade na maioria das vezes de forma positiva. Têm em seus super-heróis a resposta que precisam para superar seus limites.

Dessa forma, a não rejeição do Papa para com aquele personagem de ficção lúdica mostra, publicamente, a face maternal e carinhosa com que a Igreja lida com muitas das fantasias humanas. Ela não é uma instituição do pragmatismo apenas. Nem do extremismo existencialista, dogmático, espiritualista puro e simples. Está encarnada na realidade do mundo e dessa não podemos subtrair nossas fantasias, nossos sonhos infantis, nossa realidade criativa, imaginativa, dos super-heróis que povoam mentes e corações. Afinal, quem nunca vestiu uma fantasia de invencibilidade, de super poderes, de atos de bravura em seus egos? Quem não sonhou em ser um super-herói entre amigos ou pessoas que ama? Essa fantasia não tem maldade alguma.

Em contraponto, muitos dos vilões que povoam não só o imaginário, mas também a realidade que nos cerca, estão aí, destruindo sonhos e maculando a inocência de muitas das nossas crianças. Heróis e super-heróis conseguem devolver-lhes ao menos um pouco de esperança num mundo melhor. Diria o Homem-Aranha em um dos seus filmes: “Aquele que ajuda os outros simplesmente porque isso deve ou precisa ser feito, é porque é a coisa certa a fazer, é sem dúvida, um verdadeiro super-herói”. Ou Jesus em sua realidade humana: “Amai-vos como eu”. O heroísmo da fé cristã está justamente na capacidade de seus seguidores em desvencilhar as teias das relações humanas, separando o joio do trigo, o que é bom do que é mal, as crenças e fantasias que tecemos socialmente ou mesmo afetivamente. Nossos heróis, em sua maioria, sucumbiram sob o fio de espadas, prisões injustas e cruzes idiotas. Nem por isso renegaram sua fé, aquela que lhes ensinava “a ajudar os outros, simplesmente porque isso deve ou precisa ser feito”. Para tanto não precisamos de máscaras.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

 

Era um homem bom. Assim todos se referiam à vida de Maurilio Dias, mais uma vítima dessa voraz pandemia que assusta o mundo. Foi a óbito no último 29 de maio, em Assis, onde construiu sua história de sucesso e conquistou a admiração de muitos. Todavia, sucesso e admiração nunca foram a única bandeira desse empresário de 62 anos, cuja história foi regada de muita luta e perdas irreparáveis, mas também de muita fé. Esse é o outro lado que pretendo contar aqui, pois se esse seu lado místico era desconhecido de muitos, agora não mais o será.

Homem de fé inigualável. Tanto que, desde o início de sua vida conjugal, quando nos conhecemos, caminhou comigo num desafio missionário sem precedentes na história do catolicismo diocesano. Juntos, sua esposa Maria, minha esposa Célia, eu, Mazola, (in memoriam), Sergio (um dos seus sócios), Carlos, dona Dulce (mãe do Sergio), Marcília, Manoel, Valdir, Valter e uma dezena de outros nomes que agora me fogem, fundamos em Assis o primeiro grupo de leigos missionários da nossa diocese. Reuníamo-nos semanalmente (às terças-feiras) numa das salas laterais no segundo pavimento da nossa catedral. Ali refletíamos sobre os Evangelhos e distribuíamos tarefas entre nós, para exercermos nossa missionariedade. Maurílio chegou a ser presidente do grupo LAM (Leigos para animação missionária) e desenvolvia suas ações sempre com muita alegria e responsabilidade.

Dessas atividades e reflexões nasceu o livro Os Evangelhos Passo a Passo (4 volumes, Editora O Recado – SP), um jornal diocesano intitulado Integração Comunitária e um programa radiofônico semanal intitulado Difusora Mensagem. Maurílio caprichava na edição do programa, quando este ficava sobre sua incumbência. Tanto que, durante seu velório, passados tantos anos desses trabalhos missionários, alguém ainda se lembrou desse programa de sucesso e do fato de Maurílio ter sido ministro da Eucaristia na nossa catedral. Foi, sim.   Atendia capelas rurais, onde fazia a celebração da palavra e levava a eucaristia ao povo. Numa dessas ocasiões, foi surpreendido pela inocência de seu filho Lucas, que o acompanhava, levando consigo as ambulas sagradas. Chegando à comunidade, Maurílio não encontrou as espécies eucarísticas… Sorrindo, Lucas lhe apontou o próprio coração e disse: Jesus está aqui, papai! Durante o trajeto, o menino havia consumido todas as hóstias consagradas!

Esse menino, Jesus quis para si. Morreu inesperadamente, colocando o casal num estágio de provação que ninguém deseja. Mas a fé venceu, mais uma vez e puderam então adotar, de uma forma quase milagrosa, um segundo filho. Neste período, Maurílio se viu desempregado, juntamente com alguns colegas. Juntaram forças e com o pequeno capital que lhes restou das indenizações recebidas, fundaram nova empresa, dentro do seguimento que bem conheciam. Rapidamente, o investimento daqueles jovens ganhou o mercado, solidificou-se e tornou-se o que hoje bem conhecemos em Assis, a maior e mais conceituada empresa do seguimento de materiais elétricos e serviços na região. Mas o sucesso empresarial nada significaria sem seu testemunho de vida.

Tanto que, no primeiro dia de reabertura da empresa depois de sua morte, uma cerimonia chamou a atenção de todos os que por ali passavam. Era uma homenagem pública que lhe faziam sócios, parentes e funcionários. Um desses transeuntes, sem ter convivido com o homenageado, sentiu-se atraído pela sua história e publicou nas redes sociais: “Fui pesquisar e fiquei surpreso com o legado desse homem, que todos diziam, unanimemente: era uma pessoa boa, era uma pessoa boa… Deixou-nos um testemunho, um legado de bondade que dinheiro não compra. Quem viveu ou conviveu com esse homem, orgulhe-se por ter conhecido alguém que soube viver… e morrer”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

  Imaginar os limites celestiais como fronteira final de um universo infinito é medir nossa fé com os olhos e o raciocínio da carne. “Nem o céu é o limite quando os sonhos são maiores que o próprio universo”, já escreveu alguém sem a preocupação de assinar ou reivindicar a autoria inspirada dessa verdade. Pois para nossa fé, o céu não tem limites.

Ao contrário, os jogadores da liga de basquete americano fizeram parte de um mesquinho enredo para o filme de nome pomposo e inspirador, O céu é o limite. Os atletas da liga dos seguidores do Senhor não enxergaram esses limites. Boquiabertos, sim, mas estupefatos e jubilosos, presenciaram aquela ascensão aos céus como a mais espetacular das jogadas de um Mestre perfeito em tudo. Só a ressurreição, a vitória sobre a aparente derrota naquele jogo do tudo ou nada, não seria suficiente se não houvesse a ascensão, a miraculosa subida até a infinitude celeste. “Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia” (At 1,10).

Aqui se dá a revelação maior: não basta vencer a morte; é preciso alcançar o céu. Não basta superar nossos sepulcros, caiados em sua maioria, de fachada aos olhos dos vivos, vistosos apenas por fora, mas galgar nova vida na esperança de um novo céu e uma nova terra, uma nova realidade de vida submissa à vontade de Deus, de um espírito liberto das amarras terrenas e que aprenda a pairar sobre as águas que nos submergem no plano existencial; é preciso aprender a voar ao lado dos anjos e santos que nos emprestam suas asas para contemplar ou ao menos imaginar quão belos são os alvores da vida plena nos campos celestiais. Se Jesus não ressuscitasse nossa fé seria vã, nos disse o apóstolo, mas se Jesus não ascendesse aos céus, exatamente como testemunhou a tradição apostólica, inútil, terrivelmente inútil, seria nossa esperança de contemplação divina. Vencer a morte é reconfortante, mas contemplar o rosto divino é o auge de um sonho que qualquer boa alma possa acalentar. Nossos sonhos são maiores que a realidade, o universo, a plenitude celestial. Porém o olho no olho, o face a face com a realidade das promessas celestiais é muito mais que um simples sonho humano, é o ápice da própria existência.

A ascensão de Jesus deixou-nos um legado comprometedor. Não podemos guardar segredo da motivação maior da missão apostólica, privilegiada que foi ao contemplar mais essa miraculosa ação divina através de seu Filho “bem amado”. Restou-nos o mandato: “Ide por todo o mundo”, pois que uma notícia alvissareira não pode ficar no desconhecimento, no anonimato de uma fé pequena, incapaz de expulsar os demônios de suas lógicas terrenas, de falar a língua do coração, desdenhar o veneno das muitas serpentes que ameaçam nossa integridade física e espiritual ou curar a enfermidade do corpo e da alma dos que dizemos amar.

Todos esses lances coroaram a missão de Cristo no mundo. Então Ele ocupou a lugar que lhe esteve reservado, desde sempre, ao lado do Pai, sentado à sua direita “para julgar os vivos e os mortos”. Agora a jogada é nossa, os pontos dos novos lances, da vitória que desejamos, dependem única e exclusivamente do nosso suor e sacrifício, dos nossos esforços em conjunto para que a missão que nos foi dada seja registrada com louvores nos feitos dessa nova Liga dos Campeões, os missionários dos novos tempos. Porque entre o céu e a terra a distância será maior ou menor de acordo com os milagres que acompanharem nossos passes nesse jogo da vida, nossa vida missionária.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

Dizer que, na vida, tudo é muito custoso; que as coisas não são fáceis; que é preciso muito sangue, suor e lágrima… não significa dizer que não adianta lutar; que não vale a pena; que não vai dar certo; que é impossível…

Para os derrotistas, quem sabe, seja mesmo assim: vida difícil, não é vida!

E você, como pensa essa questão? Como você encara isso?

Para a fé a vida é sempre vida: na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, no nascimento ou na morte, na pobreza ou na riqueza, no medo ou na coragem, na dor ou no consolo… sempre. Porque a fé não lida com os revezes da vida como se fossem castigo ou maldição. Pelo contrário, a fé lida com os revezes da vida, na linguagem da cruz: amor-doação-entrega-sacrifício.

O que parece contradição, na verdade, é fonte de crescimento, de vida nova e salvação.

A fé nos faz enxergar a vida não como azar ou sorte, desvantagem ou vantagem. A fé nos faz enxergar a vida como dom e conquista. Os grandes problemas da vida estão ligados a questões vitais como o da liberdade, dos ideais, das convicções, da fé, dos sonhos, do amor, do perdão… E são essas questões que nos põem diante de interrogações e desafios dos quais não podemos fugir.

Reclamamos, murmuramos de tudo e de todos, nos fazemos de vítimas ou de coitadinhos porque a nossa visão da vida é distorcida, mal elaborada e mal vivida.

Jesus não está sentado à direita do Pai, simplesmente, porque é o Filho; porque é Deus. Não! Mas, porque venceu; aceitou a vida ao extremo da cruz. Veja como se expressa São Paulo em Fl 2,1-11: “Portanto, se há um conforto em Cristo, uma consolação no amor, se existe uma comunhão de espírito, se existe ternura e compaixão, completem a minha alegria: tenham uma só aspiração, um só amor, uma só alma e um só pensamento. Não façam nada por competição e por desejo de receber elogios, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo. Que cada um procure, não o próprio interesse, mas o interesse dos outros.

Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo: Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens.

Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.”

Ora, nós vivemos a vida como se precisássemos de algumas facilitações, vantagens ou sorte para dar conta de tudo o que vem pelo caminho. Não é isso o que devemos querer. Na vida, precisamos muito mais do que sorte ou vantagens. Na vida precisamos de atitudes de fé em Deus, em vista da conversão. Caso contrário não valerá a pena viver num mundo onde, toda hora, nos encontramos diante de perseguições, traições e derrotas. Porque “A vida dos justos, ao contrário, está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá” (Sb 3,1-6).

O testemunho de Cristo é que fala mais alto sobre como devemos viver e morrer: “E Jesus continuou: Assim está escrito: ‘O Messias sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia, e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém’. E vocês são testemunhas disso. Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, fiquem esperando na cidade, até que vocês sejam revestidos da força do alto. Então Jesus levou os discípulos para fora da cidade, até Betânia. Aí, ergueu as mãos e os abençoou. Enquanto os abençoava, afastou-se deles, e foi levado para o céu. Eles o adoraram, e depois voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus” (Lc 24,46-53).




Diocese de Assis

 

Quanto vale uma palavra? De onde vem sua importância, peso, crédito e influência? Por que falar? Por que ouvir? Como ouvir sem ficar mudo? Como falar sem ficar tagarela?

Se partirmos do princípio de que a palavra é Algo Sagrado, facilmente chegaremos à conclusão de que nosso tempo vive uma grande crise de palavra. A palavra já não tem mais o mesmo peso do que antes. A velha história do ‘dar a palavra’; do ‘honrar a palavra’, do ‘fio de bigode’… não tem a mesma força.

O que está ocorrendo? O fato é que a palavra foi sendo desgastada, usada de qualquer jeito, para qualquer coisa. A palavra foi sendo desmoralizada: falar e não fazer; discursar bonito e não corresponder; criticar; fofocar; futricar; levantar falso testemunho; fazer calúnias; mentir; iludir; passar para trás; enganar; debochar; xingar; ridicularizar; fazer piadas; difamar; dedurar; dissimular… Tudo isso vai fazendo a palavra perder o valor, o peso, a eficácia, o crédito e a importância.

A tendência geral, mediante a banalização, é lidar com a palavra e com o interlocutor na base da desconfiança, da dúvida, do medo…

Como recuperar a palavra na sua inteireza?

Embora a banalização da palavra seja um fato, não devemos relacionar tal banalização à palavra em si mesma. A palavra em si mesma não é banal, é valiosa. Banal é o que guardamos do efeito da palavra em nós, seja quando dizemos; seja quando ouvimos. O que guardamos da palavra dita ou ouvida é que banaliza, desgasta e desmerece. Ora, se recebemos uma ofensa e guardamos a ofensa é bem provável que as próximas palavras ouvida ou ditas poderão estar carregas com o sentido de ofensa para nós. Assim, também, se guardamos uma mentira, uma crítica, uma piada, uma difamação, uma calúnia, um falso testemunho, uma fofoca… Nós acabamos nos alimentando daquilo que guardamos.

E por falar nisso, que palavras você tem guardado dentro de você? Por que você guarda tais palavras? O que pretende fazer com elas? Em que tais palavras te transformaram? Convém manter em você estas palavras? Já não está na hora de deixar de ser depósito dos terrores das inúmeras vozes e palavras?  O que você tem, ainda, de ligação com desafetos antigos, intrigas, rivalidades, competições e dissabores que já sugaram grande parte de sua energia? Não seria a hora de se tornar depositária de coisas novas capazes de fazer crescer renovando?

Guardar a palavra é um ato sublime de amor que pressupõe respeito e filtro. Respeito para com a palavra, com quem a pronuncia e como com a gente mesmo e filtro para os sentimentos, as ênfases, os floreios, os enfeites, as impressões, as emoções, os detalhes que vêm junto com a palavra. Porque é isso que pode deturpar e banalizar. O essencial da palavra, geralmente, acaba escapando de nós quando falta respeito e filtro porque acabamos ficando com aquilo que deveria ficar no filtro.

Diz o Senhor: “Se alguém me ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que vocês ouvem não é minha, mas é a palavra do Pai que me enviou. Essas são as coisas que eu tinha para dizer estando com vocês. Mas o Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse” (Jo 14,23-26).

“É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade. Por isso, abandonem a mentira: cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. (…) Que nenhuma palavra inconveniente saia da boca de vocês; ao contrário, se for necessário, digam boa palavra, que seja capaz de edificar e fazer o bem aos que ouvem”(Ef 4,23-29).

Vale a pena corrigir o que a gente fala e o que a gente ouve porque pode ser que estejamos sendo depósito de inutilidades e propagadores de banalidades.

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS