1

Diocese de Assis

A vida não pode correr solta, sem caminho e direção. A vida precisa de projeto!

Aliás, você tem projetos ou leva a vida solta, como der e vier?

Deus tem projeto! E o projeto dele inclui toda a obra criada porque é projeto de amor e salvação. Deus quer salvar e sua graça não tem limites. Salvar, na linguagem bíblica, é realização plena agora, neste mundo e depois, na eternidade. Salvar é escolher, santificar, abençoar, libertar, redimir.

Paulo, numa grande intuição de fé assim escreve aos efésios: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo. Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeito diante dele, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme a benevolência de sua vontade, para o louvor da sua glória e da graça que ele derramou abundantemente sobre nós por meio de seu Filho querido. Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça. Deus derramou sobre nós essa graça, abrindo-nos para toda sabedoria e inteligência. Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, a livre decisão que havia tomado outrora de levar a história à sua plenitude, reunindo o universo inteiro, tanto as coisas celestes como as terrestres, sob uma só Cabeça, Cristo. Em Cristo recebemos nossa parte na herança, conforme o projeto daquele que tudo conduz segundo a sua vontade: fomos predestinados a ser o louvor da sua glória, nós, que já antes esperávamos em Cristo” (Ef 1,3-14)

O projeto de amor-salvação de Deus é um permanente despertar para o novo da vida em Cristo que é a garantia deste projeto de Deus. Sendo assim, para usufruir das promessas pertencentes a este projeto é preciso permanecer em Cristo, crescendo com ele, cada dia, em amor e santidade.

Deus tem compaixão e não leva em conta os pecados dos homens (Sb 12,23-25). “Tu tens compaixão de todos, porque podes tudo, e não levas em conta os pecados dos homens, para que eles se arrependam. Tu amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que criaste. Se odiasses alguma coisa, não a terias criado. De que modo poderia alguma coisa subsistir, se tu não a quisesses? Como se poderia conservar alguma coisa se tu não a tivesses chamado à existência? Tu, porém, poupas todas as coisas, porque todas pertencem a ti, Senhor, o amigo da vida”

Minha casa está firme junto a Deus, sua aliança comigo é para sempre (2Sm 23,5-6). “Minha casa está firme junto a Deus, pois sua aliança comigo é para sempre, em tudo ordenada e bem segura. Ele fará prosperar meus desejos de salvação. Os maus porém serão como espinheiros, que se jogam fora e ninguém recolhe.

O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido (Lc 19,1-10). “Jesus tinha entrado em Jericó, e estava atravessando a cidade. Havia aí um homem chamado Zaqueu: era chefe dos cobradores de impostos, e muito rico. Zaqueu desejava ver quem era Jesus, mas não o conseguia, por causa da multidão, pois ele era muito baixo. Então correu na frente, e subiu numa figueira para ver, pois Jesus devia passar por aí. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima, e disse: ‘Desça depressa, Zaqueu, porque hoje preciso ficar em sua casa.’  Ele desceu rapidamente, e recebeu Jesus com alegria.  Vendo isso, todos começaram a criticar, dizendo: ‘Ele foi se hospedar na casa de um pecador!’  Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: ‘A metade dos meus bens, Senhor, eu dou aos pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais.’  Jesus lhe disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. De fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido’.”

Não se deixem perturbar tão facilmente! Nem se assustem, como se o Dia do Senhor (2Ts 2,1-2).  “Agora, irmãos, quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e ao nosso encontro com ele, pedimos a vocês o seguinte: não se deixem perturbar tão facilmente! Nem se assustem, como se o Dia do Senhor estivesse para chegar logo, mesmo que isso esteja sendo veiculado por alguma suposta inspiração, palavra, ou carta atribuída a nós”.

 

PE.EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

          Um dos maiores entraves do seguimento cristão chama-se prepotência. A complexidade desse problema comportamental atinge a todos, mesmo aqueles que se julgam íntimos do mestre nazareno, a ponto de se sentirem detentores de privilégios pessoais. Quem nunca se sentiu assim, diante das graças recebidas e das atenções merecidas dos reservatórios dos céus? Quem nunca olhou para o comportamento dispersivo e anticristão do mundo e não se sentiu privilegiado diante de Deus? Senhor, eu não sou como estes, é a afirmativa quase inconsciente que bem define nosso padrão comportamental.

Nesta via dos que se dizem maiores e melhores está o perigo da prepotência. O mal maior de muitos cristãos é julgar-se salvo antes da hora. É exigir privilégios diante do trono. É aproximar-se da mesa eucarística sem a humildade necessária para reconhecer a indignidade desse privilégio. Dizer-se seguidor de leis e princípios que não lhe servem como leis e princípios. Dizer-se digno de proferir a palavra, dela subtraindo pontos, vírgulas, interrogações e exigências mais. Olhar o próximo com suas fraquezas, mas ignorar as próprias. “Senhor, eu não sou digno!” – diria o centurião romano, mesmo diante dos muitos poderes de mando e desmando que sua autoridade lhe concedia. A este foi concedido o privilégio da presença e ação de Deus. Soube reconhecer sua pequenez e mereceu a graça.

Os poderes terrenos ofuscam a grandiosidade da misericórdia divina. Ocupar privilégios no Reino de Deus não é para qualquer um. “É para aqueles a quem foi reservado”. Eis porque nossas definições de direitos e deveres ainda vagueiam no errôneo conceito de mando e desmando, poderes circunstanciais e transitórios, que nenhuma instituição humana sobrepõe à autoridade concedida do alto. “Nenhum poder lhe seria dado se não viesse de Deus”. Nenhum. Nem mesmo aquele que ilusoriamente pensamos possuir. “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas entre vós não deve ser assim” … (Mc 10, 42-43).

Como seria, então? Servidão e submissão é a condição mínima para se obter bênçãos e graças diante de Deus. Não é ostentando nossa fé diante do povo, mas por primeiro nossa disponibilidade para servir esse povo com o verdadeiro espírito de servidão e humildade. Humildade capaz de reconhecer a própria indignidade. Ao contrário daqueles que se arvoram num sentimento de poder e prepotência e se tornam cegos diante do ridículo comportamento farisaico. A estes, somente a estes, se impede a visão da própria impotência. Pensam que agradam, mas ofendem. Sentem-se donos da verdade montados na mentira que vivem. Cuidado! Não seja você o palhaço num picadeiro das próprias ilusões. O palco da vida também possui artistas de primeira hora, que merecem muito mais os aplausos dos anjos do que o sorriso dos homens. Ocupar a direita ou a esquerda é indiferente aos olhos de Jesus, pois que seu trono dispensa privilégios, ilusões que nossa prepotência constrói.

Quando a vida lhe der oportunidades de escolhas, vá com calma. Use sempre o critério da indignidade, pois, aos olhos da graça, os últimos serão os primeiros, pequenos, os maiorais. Uma só palavra basta, para bom entendedor.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

De todos os defeitos, quem sabe, o que tem maior peso é a ingratidão. De todas as dores, quem sabe, a que mais dói é a dor da ingratidão.

Não é difícil identificar a ingratidão e o ingrato!

A Ingratidão é a perda de referência do Bem em nós e constitui doença da alma que poucos de nós pode considerar-se imune. Por isso, o ingrato não reconhece os benefícios ou favores que recebeu; é mal-agradecido; não corresponde aos esforços alheios; não é capaz de multiplicar o bem que lhe acompanha; é infecundo, estéril e improdutivo

A ingratidão é desvio inegável do comportamento humano; isso é fato! Mas, o que é próprio do ser humano é a gratidão. Nada agrada mais Deus do que a gratidão! Porque, em Deus, tudo é Graça! E somos participantes do Ser de Deus que nos fez à sua imagem e semelhança.

A gratidão é um dom que nos permite ver e reconhecer os benefícios a nós concedidos e aqueles que no-los concedeu. E, por causa disso, nos leva a agradecer; a ser gratos.

A gratidão não é uma variante da subserviência, da dependência ou do aprisionamento do beneficiado ao seu benfeitor. A gratidão é, antes de tudo, a atitude de reconhecimento do bem (seja ele de onde ele vier) que nos transporta para o Bem Maior (Deus), levando-nos a ser bons no Bem. Assim, já não somos mais movidos, apenas, pelo benefício circunstancial, recebido de alguém, numa relação de troca. Pelo contrário, seremos movidos pelo Bem que permanece em nós, mesmo diante de múltiplas ingratidões, frustrações e decepções. Porque, quando olhamos para trás, mesmo não nos lembrando dos inúmeros benefícios realizados em nosso favor, mesmo precisando de mais, decepcionado com alguém…: reconhecemos que, acima de tudo, a marca do Bem ficou em nós e o tempo não pode apagar. Portanto, gratidão não é uma mera relação de troca; não é retribuição; não é devolução. Gratidão é reconhecimento do Bem em nós!

“Caminhando para Jerusalém, aconteceu que Jesus passava entre a Samaria e a Galiléia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele. Pararam de longe, e gritaram: ‘Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!’ Ao vê-los, Jesus disse: ‘Vão apresentar-se aos sacerdotes.’ Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Ao perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: ‘Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?’  E disse a ele: ‘Levante-se e vá. Sua fé o salvou’” (Lc 17,11-19).

É nosso dever e salvação darmos graças a Deus, como o samaritano que foi curado da lepra. Ele, percebendo que estava curado, voltou atrás, dando glória a Deus, em alta voz porque reconheceu a origem e a fonte da graça. Só um voltou para agradecer porque são poucos os que conseguem perceber o Bem nos benefícios. A cura é insuficiente para quem não enxerga a graça. Quantas curas serão necessárias para enxergarmos a graça da salvação?

Para não sermos ingratos como os nove, citados no Evangelho é preciso fazer o que Paulo testemunha a Timóteo: “Lembre-se de que Jesus Cristo, descendente de Davi, ressuscitou dos mortos. Esse é o meu Evangelho, e por causa do qual eu sofro, a ponto de estar acorrentado como um malfeitor. Mas a palavra de Deus não está algemada. É por isso que tudo suporto por causa dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Jesus Cristo, com a glória eterna. Estas palavras são certas: Se com ele morremos, com ele viveremos; se com ele sofremos, com ele reinaremos. Se nós o renegamos, também ele nos renegará. Se lhe formos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode renegar a si mesmo” (2Tm 2,8-13).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Quando o mundo questiona a fé cristã com evidências materiais e provas contextuais, colocando a materialidade acima dos mistérios e da realidade espiritual que cerca a existência humana, é chegada a hora de proclamar com ânimos maiores a beleza e verdade dessa fé. Para isso, a instituição de um mês missionário reforça nossa ação. Chegou a hora. Neste ano de tribulações e provações endêmicas, mais do que nunca, chegou essa hora. E o tema não deixa dúvidas: “Jesus Cristo é missão”.

O presidente da comissão de Animação Missionária da CNBB, D. Odelir, bispo de Chapecó – SC, reforça essa necessidade com uma frase bem suscinta: “Ou a Igreja é missionária, ou não é Igreja de Jesus Cristo”. Não há meio termo. Se quisermos realmente imprimir no coração humano o grande sinal de pertença ao Salvador único e verdadeiro dessa humanidade sofredora, especialmente nos dias de hoje, é preciso realçar nossas convicções cristãs. E, para tanto, a própria C.M. 2021 aponta nossa inspiração bíblica: “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos” (At 4,20). As raízes de nossa fé se baseiam em fatos comprovados e testemunhados, que ainda perduram entre nós. Não nasceram do nada, mas de experiências concretas. Essa, pois, é a missão da Igreja no mundo: continuar testemunhando aquilo que viu e ouviu, que vê e ouve, que continuará vendo e ouvindo até a consumação dos tempos.

Segundo D. Odelir, a atual campanha tem grandes méritos nesse tempo de provações e desafios pandêmicos, pois a fé cristã oferece aos homens um forte testemunho “de esperança em realidades que exigem compaixão”. Dentro de um contexto de dor e desespero, a fé é o mais eficaz lenitivo de renovação de forças, pois que se sobrepõe à realidade da finitude humana para realçar a plenitude da vida em dimensões mais amplas. Esse é o cerne da fé cristã. Essa é nossa certeza, nossa esperança, nossa razão de ser. Portanto, não há como fugir da missão quando esta contempla o mundo com o olhar compassivo e apaixonado do Cristo, conhecedor de todas as nossas incertezas e limitações.

Realizada desde 1972, a campanha missionária reforça nossa consciência de evangelizadores comprometidos com a Verdade que nos foi revelada. Omitir-se desse compromisso é negar a própria fé. Santa Terezinha do Menino Jesus, padroeira das missões sem nunca ter saído de sua terra, de seu mundinho, já dizia em seus escritos: “Não tenhais medo. Com Jesus tudo é possível e com Ele se chega a todos os corações e a todos os lugares”. Tanto que o Papa Leão XIII assim definiu o espírito missionário: “A missão é feita com os pés dos que partem, com os joelhos dos que rezam e com as mãos dos que ajudam”. Terezinha compreendeu bem qual seria sua missão neste mundo. Muito mais que exercer uma ação de proselitismo puro e simples, para ela missão era amar. Amar a Cristo e aos irmãos. Amar incondicionalmente. Buscar a perfeição através da prática, do amor puro e simples. “Compreendi que na perfeição havia muitos graus e que cada alma era livre no responder as solicitações do Senhor, no fazer muito ou pouco por Ele, numa palavra, no escolher entre os sacrifícios que exige”. Seria esta sua cruz, sua missão: não percorreu estradas, mas ajoelhou-se submissa e orou pela Igreja Missionária com seu renovado ardor e amor. Sobre as provações que também testemunhou em sua época pode um dia escrever: “Acho que nesses momentos de grandes tristezas tem-se a necessidade de olhar para o céu em lugar de chorar”. O que vemos e ouvimos hoje nos faz olhar para o alto ou cravar nossos olhos no chão árido da triste realidade que nos cerca? Lembre-se: “Jesus Cristo é missão”. Ontem, hoje e sempre.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

É uma constatação e ponto pacífico que, todo mundo quer viver! Todo mundo gosta de viver. Porque viver é muito bom; viver é muito gostoso. Mas, viver não é uma tarefa fácil! Viver é difícil e comprometedor e, nem todo mundo aprendeu ou sabe viver! Então, cada um tenta viver como pode.

Alguns encaram a vida como uma questão de sorte ou azar; outros, não: encaram-na como luta e dedicação. Alguns a vivem na lógica da vantagem e do privilégio; outros, não: vivem-na com trabalho e renúncia. Alguns a pintam com de mil chances e oportunidades; outros, não: emolduram-na com escolha e determinação. Alguns vivem por si mesmos, auto-suficientes; outros, não: escolhem a via da fé, no Temor a Deus.

Para quem a fé não conta, a vida corre livre, leve e solta; sem compromissos e exigências; sem demoras ou impedimentos; sem controle ou prestação de contas. Tudo é permitido. Tudo é ilimitado. Vale tudo! Ainda mais, para quem não vive pela fé, a vida não tem fronteiras e não tem freios; tudo é mais livre, mais prazeroso e possível. Isso, porém, não significa vida autêntica! Como diz a Escritura: “Tudo é permitido. Mas, nem tudo convém. Tudo é permitido. Mas, nem tudo edifica” (1Cor 10,23)

Para quem vive pela fé, a vida é bela e revela-se como um Mistério Insondável que combina Dom de Deus e tarefa humana. Não é uma combinação qualquer. É uma combinação de Justiça, na base do Amor, da Compaixão e da Misericórdia, esboçado por outro Mistério: a Paixão, morte e Ressurreição de Cristo. “De fato, no evangelho a justiça se revela única e exclusivamente através da fé, conforme diz a escritura: ‘o justo vive pela fé’.” (Rm 1,17).

Para quem vive pela fé a vida tem exigências e chama à responsabilidade em qualquer gesto, palavra ou ação.  A vida, na fé, pressupõe escolha, decisão e determinação. “Desde o princípio, Deus criou o homem e o entregou ao poder de suas próprias decisões. Se você quiser, observará os mandamentos, e sua fidelidade vai depender da boa vontade que você mesmo tiver. Ele pôs você diante do fogo e da água, e você poderá estender a mão para aquilo que quiser. A vida e a morte estão diante dos homens, e a cada um será dado o que cada um escolher. De fato, a sabedoria do Senhor é grande, pois ele é Todo-poderoso e tudo vê. Seus olhos estão sobre aqueles que o temem, e ele conhece cada ação que o homem realiza. Ele não mandou ninguém se tornar injusto e a ninguém deu permissão para pecar” ( Eclo 15,14-20).

A vida, na fé, não precisa da sorte nem do azar, não depende das vantagens nem dos privilégios, não se sustentam nas chances nem das oportunidades. A vida, na fé, é de permanente entrega, confiança e abandono nas mãos de Deus porque, viver é risco constante, sofrimento, tribulação e morte. Nesse sentido, não dá para querer viver contando, apenas, com as próprias forças.

Para quem deseja afirmar e conduzir sua vida pela fé, vale a pena considerar a iluminação da Palavra de Deus:

Dt 30,19-20: “Eu lhe propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver, amando a Javé seu Deus, obedecendo-lhe e apegando-se a ele, porque ele é a sua vida e o prolongamento de seus dias.”

Lc 17,5-10: “Os apóstolos disseram ao Senhor: ‘Aumenta a nossa !’ O Senhor respondeu: ‘Se vocês tivessem do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta amoreira: Arranque-se daí, e plante-se no mar. E ela obedeceria a vocês.”

2Tm 1,6-8.13-14:  “Por esse motivo, o convido a reavivar o dom de Deus que está em você pela imposição de minhas mãos.”

No fim das contas, ou se vive pela fé ou não se vive! Porque, somente pela fé é possível dar à vida um sentido, direção e meta.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Nem tudo o que sonhamos alcançamos. Mas tudo o que sonhamos nos dá ânimo e coragem para ao menos lutar e tentar alcança-lo. Fernando Pessoa um dia escreveu: “Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também”. A verdade é que a vida é feita de sonhos e quem pensa não os ter, ilude-se a si próprio. Pois, no fundo, no fundo, há de encontra-los adormecidos, mas carentes de atenção.

A verdade é que muitos sonhos são como fogo de palha, que envolvem nossa existência de forma abrasadora, mas logo se extinguem. Faltam-lhes a paciência da maturação, da espera consciente e determinada a buscar com tenacidade aquilo que preenche seu ideal de vida. A fé é a mais ferrenha das companheiras daqueles que sonham. Desde que esses sonhos não interfiram naquilo que já é posse do outro. Isso tem outro nome: cobiça. Entre esta e um objetivo de vida promissor, mais adequado à sua realização pessoal e à admiração alheia, existe o limite do respeito, da ética, da moral e da fé. Sem estas, qualquer sonho é mero pesadelo. Pode tornar-se um desastre.

Mas sonhar, muitas vezes, também é sofrer. Faz parte das aspirações humanas, cujas conquistas exigem esforço e sacrifício. Há aqueles que traçam uma meta na vida, mas depositam suas capacidades na sábia benevolência divina, pois só Ele conhece nossos corações, desejos e necessidades para conceder-nos ou não aquilo que pensamos merecer. Eclesiástico nos fala dessa situação e aconselha: “Sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça” (2,3). Aqui é que são elas: que riqueza desejas? Na maioria de nossos sonhos, apenas as que se podem tanger e acumular neste mundo. Este é o fogo ardente que contemplamos com os olhos, mas que nos queima todos os sentidos. “Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação” (Ecle 2,5).

Falta-nos a purificação de nossos sonhos. Na maioria das vezes, estes estão além de nossas capacidades, mas também e principalmente, além dos nossos merecimentos. Aqui nasce a ambição desmedida. Aqui se gera a corrupção, a usurpação, os meios oportunistas e as sabotagens que criamos para realiza-los. Às vezes até os realizamos e nos acastelamos numa ilusão de sucesso e poder, que nos queima a consciência, mas ensoberba e envaidece nosso coração de carne. Só este, pois o coração da alma estará fétido e pútrido como qualquer carne entumecida pelo fogo das ilusões. Ah, triste sina! Um dia cairá das nuvens, terá pela frente uma nova realidade, contrária aos sonhos que imaginou perenes. Um dia verá que suas ilusões se realizaram apenas momentaneamente e se apagaram como um monte de palhas ardentes, brilhantes, belas em seu apogeu de luz, mas que rapidamente se postaram ao chão da realidade, quais brasas incandescentes. Delas restou apenas cinzas. Nem carvão se tornaram, nada de útil para a posteridade!

Quem sonha alto corre o risco de um tombo maior. Quem faz de seus projetos uma paixão capaz de superar a tudo e a todos, desrespeitar as regras do jogo da vida, verá adiante os limites desse jogo. Sobretudo, a regra maior, aquela que faz de nossos sonhos, realidade… Amar, respeitar, conciliar nossos sonhos com o sonho do Pai, Senhor que nos deu a vida e tudo o que temos. Ele guia nossos passos em direção a tudo que almejamos de bom em nossas existências. “Bem sei, Senhor, que não é o homem dono de seu destino, e que ao caminhante não lhe assiste o poder de dirigir seus passos. Castigai-nos, Senhor, mas com equidade, e não com o furor, para que não sejamos reduzidos ao nada” (Jer 10, 23-24). Como palhas ao vento…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

Não há dúvida de que, razões de fé movem as pessoas, cria esperanças e dirige seus passos. Por razões de fé, toma-se iniciativa, faz-se renúncias e desenvolve-se convicções. Por razões de fé morre-se, mata-se ou justifica-se a guerra. A fé move tudo e a todos. A fé tem poder de vida ou morte. Depende do sujeito que crê.

Em sentido lato, “a fé é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que se deposita neste algo ou alguém. Por extensão, ter fé é nutrir um sentimento de afeição, ou até mesmo de amor, pelo que se acredita, confia e aposta. É possível nutrir um sentimento de fé em relação a uma pessoa, um objeto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, uma crença popular, uma base de propostas ou dogmas de determinada religião. A fé não é baseada em evidências. É, geralmente, associada a experiências pessoais e pode ser compartilhada com outros através de relatos, principalmente no contexto religioso”

Do ponto de vista cristão, a fé está baseada no Projeto de Salvação do Deus de Abraão, Isaac e Jacó, cuja revelação alcança seu ponto máximo, em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, Nosso Senhor.  “Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. No período final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas e, por meio dele, também criou os mundos. O Filho é a irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo. O Filho, por sua palavra poderosa, é aquele que mantém o universo. Depois de realizar a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade de Deus nas alturas. Ele está acima dos anjos, da mesma forma que herdou um nome muito superior ao deles” (Hb 1,1-4).

A Salvação é a meta da fé (1Pd 1,9). Por isso, o homem de fé deve refazer o seu caminho a Cristo, cada dia, para conhecer e buscar a salvação que ele nos propõe no hoje da fé e não somente para depois da morte. Ora, é preciso tudo empenhar para conseguir esta salvação na mesma proporção e medida da Cruz de Cristo. Quer dizer, da mesma forma que o Cristo, na cruz, se despojou e se entregou, no extremo da morte, também nós, na busca da salvação, devemos nos entregar por inteiro! Tudo! Sem reservas. Acreditando! Na medida do amor. Porque Deus acrescenta, àquele que busca, em primeiro lugar, o Reino de Deus, tudo o que lhe é necessário, hoje, para a sua salvação. Nada Deus dá ou permite que não seja para a salvação. Deus não é eterno para ver a nossa destruição, mas a nossa salvação.

A busca da salvação, por conseguinte, deve nos ajudar a refazer o caminho da fé, na medida do amor, da confiança e da entrega. Porque qualquer conquista, mesmo a mais alta e valiosa, neste mundo, não tem comparação ao que Deus nos dá salvando-nos em Cristo. Mesmo que, para isso, seja necessário perdemos.

Na Sagrada Escritura, aparecem algumas dicas e direções, nesse sentido.

1Cor 15,1-3: “É pelo Evangelho que vocês serão salvos, contanto que o guardem do modo como eu lhes anunciei; do contrário, vocês terão acreditado em vão. Por primeiro, eu lhes transmiti aquilo que eu mesmo recebi, isto é: Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras.”

1Cor 15,12-14.19: “Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou;  e se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm. Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens.”

1Tm 2,1-6: Ele (Jesus) quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou para resgatar a todos.”

Hb 5,7-9: “Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E, depois de perfeito, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos aqueles que lhe obedecem.”

A fé nos ensina um outro caminho, possível, da felicidade: a busca da salvação no Mistério da Cruz.

PE. EDVALDO P. SANTOS




Diocese de Assis

“Todo reino dividido em grupos que lutam entre si, será arruinado. E toda cidade ou família dividida em grupos que lutam entre si, não poderá durar.” (Mt 12,25). Essa citação bíblica, proferida por Jesus em seu famoso discurso sobre o mistério do Reino que propunha como ideal, não poderia ser mais alentadora e alertadora no momento que atravessamos. Aliás, foi dessa mesma citação que Abraham Lincoln, presidente dos EUA, se utilizou para iniciar sua vitoriosa campanha de liderança política em seu país. Foi derrotado num primeiro momento. Perdeu sua indicação para a disputa ao Senado.

Todavia, seu discurso tornou-se símbolo do perigo de desunião a que incorre um povo dividido entre escravocratas e libertários. Uma imagem quase poética das divisões que nos afetam. Liberdade ou escravidão? “Ou ficar a Pátria livre, ou….”  Todo e qualquer povo que se preze e possui uma visão ampla dos ideais que aspira, não ignora o perigo da subserviência escravocrata. Ninguém é simpático aos regimes ditatoriais, sejam estes bem definidos ou disfarçados em ideais libertários que iludam apenas.

Tanto que o famoso discurso de Lincoln, inspirado nas palavras de Jesus, deixou-nos um trecho assaz oportuno. Dizia: “Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer. Eu acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não espero a divisão da União. Eu não espero ver a casa dividida – mas espero que ela deixe de ser dividida. Ela terá que se tornar toda uma coisa ou outra”. Lincoln perdeu sua indicação momentânea, mas ganhou a simpatia popular unindo seu povo e conquistando posteriormente o título de grande estadista, tornando-se o mais popular dos presidentes norte-americanos.

Não nos iludamos. O que está em jogo neste momento é uma disputa muito mais pragmática do que escolhas pessoais sobre esta ou aquela corrente político-partidária. Esquerda ou direita? Ou meia-volta, volver. A cegueira toma conta e os ânimos se alternam sem que possamos visualizar muitos dos perigos que rondam nossa soberania. O fato de este ou aquele grupo partidário ocupar ostensivamente nossas ruas e praças é apenas uma manifestação democrática, enquanto parte do jogo político, mas o será muito mais nocivo ao país se estender suas ações para a violência ou truculência de suas ações inconstitucionais ou antissociais. Neste jogo, a vitória de uma das partes só será legítima se respeitadas suas regras previamente estabelecidas.

Fica difícil opinar em meio ao fanatismo de alguns. Todos fazem suas leituras tentando adivinhar seu lado, seu ganho, seus truques, suas estratégias, seus interesses… Fica difícil. Mas, observando a pregação cristã, constatamos que Ele sempre se dirigia a todos, “aos cegos e surdos”, aos que se faziam de desentendidos ou negligenciavam suas convicções, a todos que ouviam sua mensagem reconciliadora, mas preferiam a tese dos interesses próprios, da defesa empobrecida de opiniões pessoais, apequenadas em seus guetos de ambições ou poderes. Jesus não fazia acepção de pessoas ou grupos ou movimentos. Procurava um ponto comum para edificar e proclamar a vida e a liberdade de todos. Eis o que nos falta no momento. Uma visão maior do bem comum. Uma compreensão de que os ideais que nos unem são infinitamente maiores do que as arestas que nos dividem. Nada mais justo, no momento, do que abandonar esse sectarismo apaixonado por questões meramente transitórias e buscar a unidade na diversidade dos nossos ideais. Por isso, cinco minutos de oração, como nos pede a Igreja do Brasil nesta Semana da Pátria, talvez nos ajude muito mais. Não custa tentar.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




Diocese de Assis

A maneira como nos relacionamos com as coisas, com os bens, com os acontecimentos, com as pessoas, com Deus… enfim, com tudo… revela, de certa maneira, o universo simbólico, o sentido de vida e a hierarquia de valores dentro do qual vivemos, nos movemos e somos. Quer dizer, nossa maneira de viver e agir, mostra quais sãos as nossas convicções e esperanças e revelam quem somos nós.

A vida não pode ser vivida de qualquer jeito: precisa ser vivida intensamente; verdadeiramente; plenamente!

Para o escrupuloso, tudo é pecado, imoral e impuro. Imagina e acredita que as pessoas só têm malícia e segundas intenções. Por isso, sua avaliação de tudo é detalhista, moralista e puritana. A vida se torna uma carga insuportável, uma obrigação. A vida do escrupuloso é um peso enfadonho.

O medroso sente-se ameaçado, sempre. Não tem confiança; vive inseguro e travado. Tudo é difícil e perigoso. Os meios e recursos lhe parecem, sempre, insuficientes e precários. Nada parece dar certo. Tudo é visto como perseguição e maldade. Há um inimigo à solta. Uma armadilha está preste a nos apanhar. A vida do medroso é um abismo fantasmagórico.

Quem tem a mente mágica vê tudo supersticiosamente porque acredita que existe, sempre, uma relação de causa-e-efeito entre um objeto e um acontecimento; entre um animal e uma doença; entre uma palavra e uma situação. Imagina e crê, por exemplo, que o sapo costurado é a causa da doença ou da morte; que passar debaixo da escada determinou seu azar em tal coisa; que sofreu tal infortúnio porque passou debaixo da escada… Vive à espera de uma varinha mágica, de uma bola de cristal, de uma fada madrinha, de um gênio da lâmpada, de uma poção mágica, de um abracadabra. A vida do supersticioso é uma lástima.

Somente pela fé, conseguimos viver bem a vida! Porque a fé garante, não apenas a verdade sobre a vida, mas, principalmente, o seu valor e sentido! Sendo assim, a visão de fé sobre a vida permite enxergar valor e sentido em todas as coisas da vida, mesmo aquelas que parecem desprezíveis e, até mesmo, caso perdido.

Quem pensa, segundo a fé, não se entrega à obsessão do medo porque acredita que dias melhores virão, que uma perda não é frustração, que um problema não esgota as possibilidades do novo, que uma queda impulsiona um reerguimento, que cada dia é um desafio ao amor e à caridade; que a vida é bela.

Quem se comporta, segundo a fé, acredita na força do perdão, do amor e da misericórdia; não se entrega às ilusões do poder, do ter ou do prazer; não procura resolver a as coisas pela força bruta, pela violência, pelo ódio nem pela vingança; não procura ter vantagem em tudo; aprende a se contentar; não corrompe; não engana; não perde a moral e nem o caráter.

Quem age, segundo a fé, não barbariza os recursos e os meios; não banaliza o valor e a importância das coisas; não subestima as pessoas em sua força ou fraqueza; não desqualifica os acontecimentos e os fatos; não debocha da desgraça alheia; não absolutiza nenhuma idéia; não supervaloriza a aparência; não desmerece os pobres; não renuncia a verdade.

Quem vive, segundo a fé, aprende a ver, na própria vida, os sinais de Deus e a interpretá-los segundo o Espírito Santo; descobre a beleza da vida nas peques coisas; valoriza todas as coisas, fatos, situações e acontecimentos, também, como Palavra de Deus; espera contra toda esperança; acolhe e experimenta o Mistério de Cristo como Paixão, Morte e Ressurreição diárias; não foge da cruz; aceita o desafio diário da conversão pessoal.

Quem assume a fé como alicerce da vida dá, à própria vida, a qualidade que sempre teve ao ser criada por Deus: Dom e Tarefa.

Deus nunca deixa de cuidar do que ele fez e que viu que era bom. Para Deus, nada é desprezível e ninguém é caso perdido. Tudo está destinado para a Salvação, em Jesus Cristo, nosso Senhor. Por isso, viver é mergulhar em Deus e, por ele, com ele e nele encontrar, todos os dias, o valor e o sentido da vida que ele criou e cuida.

Nossa vida está nas mãos de Deus! Por isso estamos seguros!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

NÃO FIQUEM INQUIETOS

A inquietude humana foi sempre causadora de grandes desastres. Levou povos e nações a precipícios históricos, quando a pressa de acelerar processos de conquistas não lhes permitiram a visão das pequenas atitudes, dos pequenos gestos, das pequenas vitórias diárias… Causou grandes guerras e decepções. A inquietude humana impediu e continua impedindo a lenta e gradual contemplação do milagre da vida, que nos permite a compreensão de Deus. Deixamos de lado a simplicidade do cotidiano, do dia a dia entregue aos planos divinos, para acelerar nossos sonhos de poder e glória, de ambições sem medidas, de prazeres sem os critérios do bom senso.

Não fiquem inquietos! É Jesus quem nos adverte, em seu mais belo discurso sobre o que seria a busca fundamental da vida humana. Lucas, em sua sensibilidade evangélica, bem detalhou essas palavras (Lc 12,22-34), deixando-nos uma das mais belas páginas dos muitos aconselhamentos cristãos sobre nossos ideais. A sensatez vem por primeiro, mas a confiança na proteção divina está acima de tudo. O Pai conhece nossas necessidades. Antes, nossa busca é a construção do seu Reino entre nós, não a discórdia, não as ambições pessoais, não a descrença, não o ceticismo, a dúvida, a insatisfação… O hedonismo, o egoísmo… Nada disso! Quem quiser dar sentido à vida precisa se aquietar no coração de Deus.

“Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino” (Lc 12,32). Essa é a Promessa. Essa é a certeza dos que um dia se deixaram seduzir pelas palavras de uma revelação divina, não humana. Essa a diferença. Na inquietude dos tempos modernos, muitas são as promessas vazias de fundamentação e inspiração divinas. Dizer o que muitos estão dizendo, prometer o que o mundo promete, fazer o que muitos fazem apenas impelidos por promessa vazias de um mundo cão, principalmente no jogo político, foi, é e sempre será uma ilusão passageira. Esquecemos a simplicidade da vida e a trocamos pela complexidade do jogo de poderes que nos asfixia. E assim destruímos o Reino, a tranquilidade de uma vida sob as bênçãos divinas.

Se hoje a vida nos assusta e nos põe inquietos, é porque estamos perdendo o referencial da fé, principalmente aquela que nos ensina a contemplar a ação de Deus em nossas vidas. Ele não nos abandonou. Os passos contrários foram os nossos. O desastre maior é que preferimos ambicionar as glórias dos nossos reinados terrenos (a opulência de Salomão – e quantos destes reis nos iludem!) à beleza que veste uma simples flor, o perfume de um lírio selvagem. Perdemos o referencial da simplicidade. É esta a veste da fé pura, mansa e humilde, simples como uma pomba.

Conquanto o mundo se levante contra a fé cristã, o fundamentalismo de certas crenças ameaça a soberania de muitas nações, ideologias e modismos vão de encontro aos princípios básicos da nossa doutrina e o que era inimaginável no seio de uma estrutura familiar torna-se corriqueiro, normal, termômetro de uma vida moderna, caminhamos para o caos. Um simples olhar sobre os fatos que nos rodeiam aponta essa realidade.  Ao pequenino rebanho, aqueles que ainda teimam na fé de seus pais, foi lhes dito: “Não fiquem preocupados” … pois valemos muito mais. Estamos um grau acima das inquietudes de um mundo sem Deus. “Porque são os pagãos desse mundo que procuram (e provocam) tudo isso”. Coragem! Nossa fé deve ser inquieta. E provocar a Paz, nunca a discórdia.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]