1

Diocese de Assis

 

Elogio é, sempre, uma coisa muito delicada e, por vezes, perigosa, porque pode ser semente para o orgulho e fermento para a vaidade. O elogio é necessário? Para que serve um elogio? Quem precisa de elogio? Qual é a origem do verdadeiro elogio? Essas e outras perguntas batem de frente com os diversos elogios que circulam entre nós.

Bom seria se ninguém precisasse ficar à caça de elogios e que eles fossem tão naturais quanto as obras que os inspiram a ser dados. Bom seria se os elogios não dependessem de vínculos, de interesses, de afetos, de sentimentos e de nada que pudesse comprometer a sua veracidade. Melhor, ainda, se esses elogios tivessem como pressuposto o Bem que respalda e está por detrás das palavras, das obras, das iniciativas, das ações e das vidas de quem os recebe. Porque, de outra forma, como diz o Eclesiastes 7,5: “É melhor ouvir a repreensão do sábio do que o elogio dos insensatos”

O livro do Eclesiastes nos chama à recordação da história para identificar onde, realmente, estão as pessoas ilustres e os elogios que lhes são devidos, por causa de suas vidas unidas ao altíssimo.

Eclesiastes 44,1-15

“Vamos fazer o elogio dos homens ilustres, nossos antepassados através das gerações. O Senhor neles criou imensa fama, pois mostrou sua grandeza desde os tempos antigos.

Alguns exerceram autoridade de rei e ganharam fama por seus feitos. Outros, por sua inteligência, se tornaram conselheiros, e fizeram revelações proféticas. Uns guiaram o povo com suas decisões, compreendendo os costumes de sua gente e tendo palavras sábias para instruí-la. Outros compuseram cânticos melodiosos e escreveram narrativas poéticas. Outros ainda foram ricos e cheios de poder, vivendo na paz em suas casas. Todos, porém, foram honrados por seus contemporâneos e glorificados enquanto viviam. Alguns deixaram o nome, que ainda é lembrado com elogios. Outros não deixaram nenhuma lembrança e desapareceram como se não tivessem existido. Foram-se embora como se nunca tivessem estado aqui, tanto eles como os filhos que tiveram. Mas aqueles que vamos lembrar foram homens de bem, cujos atos de justiça não foram esquecidos. Na sua descendência, eles têm uma rica herança, que é a sua posteridade. Seus descendentes permanecem fiéis às alianças, e graças a eles também seus netos.

A descendência deles permanecerá para sempre, e sua fama jamais se apagará. Seus corpos foram sepultados em paz, e o nome deles viverá através das gerações. Os povos proclamarão a sabedoria deles, e a assembléia celebrará o seu louvor.

Ora, se às pessoas ilustres cabem os elogios, por uma vida exemplar, unida a Deus, de modo semelhante, Deus deve entrar na lista do nosso reconhecimento, mas, ao invés de elogios, Deus merece o louvor.”

No mesmo livro do Eclesiastes 50,22-24, o escritor sagrado faz, a todos, o convite ao louvor a Deus: “E agora, bendigam o Deus do universo, que realiza por toda parte coisas grandiosas. Ele exaltou os nossos dias desde o seio materno e age conosco segundo a sua misericórdia. Que ele nos dê um coração alegre e conceda a paz aos nossos dias em Israel, para todo o sempre. Que a sua misericórdia permaneça fielmente conosco, e nos resgate enquanto vivermos.”

Finalmente, em Eclesiastes 51,1 o autor sagrado, do louvor convida ao agradecimento: “Eu te agradeço, Senhor Rei, e te louvo, meu Deus Salvador, glorificando o teu nome, porque foste para mim um protetor e socorro, e libertaste meu corpo da perdição, do laço da língua caluniadora e dos lábios que produzem a mentira. Na presença dos meus adversários, tu foste meu apoio e me libertaste, conforme a grandeza da tua misericórdia e do teu Nome, das mordidas daqueles que estavam prestes a me devorar. Tu me livraste das mãos dos que procuravam tirar-me a vida e das numerosas provas que sofri. Tu me livraste do fogo que me rodeava, de um fogo que não acendi, das profundas entranhas do mundo dos mortos, da língua impura, da palavra mentirosa.”

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




Diocese de Assis

 

Já imaginou se seu trabalho e sua vida cotidiana não tivessem um dia sequer de merecido repouso, um período de férias ao menos anual? Você não estaria vivendo, mas vegetando. Poderia até se autodefinir como um escravo qualquer. Ao invés de dar graças pelo trabalho ou mesmo pelos afazeres diários para sobreviver, seria capaz de imprecações malditas contra a própria vida, a razão de seus dias. Estaria cometendo um erro, pois a vida não é e não pode ser somente trabalho, trabalho, trabalho…

Também na vida missionária. Não podemos (e não devemos) incorrer nesse erro, comum a muitos que se deixam impregnar pelo entusiasmo de uma ideia ou proposta transformadora na vida do povo. Lançam-se numa ação impetuosa, tresloucada, estressante, como se o mundo dependesse única e exclusivamente de seu trabalho, sua pregação. Há um quê de prepotência nesse tipo de evangelização sem limites, sem espaço para renovação de forças. Por isso é preciso cautela, critérios e até um pouco de humildade quando nos é confiada uma tarefa desse porte. Não vamos colocar nosso burrinho à frente. A carroça só se movimenta ao passo das forças e capacidades do animal que a traciona. No caso, nós mesmos!

A advertência e o exemplo estão bem evidentes no evangelho de Marcos (6,30-34), quando nos conta o surpreendente convite que Jesus fez a seus apóstolos cansados: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Imagino o suspiro de alívio daqueles companheiros do Mestre, que contemplavam assustados a multidão de famintos, agoniados, desesperançados, doentes e marginalizados que acorriam até eles, “tanta gente chegando e saindo, que não tinham tempo nem para comer”. Percebendo o desgaste a que estavam sujeitos, Jesus muda o cenário, dá-lhes uma oportunidade de respirar um pouco e reabastecer seus ânimos. “Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado”.

Nem por isso a missão foi interrompida, vejam bem! O hiato de tempo dado aos apóstolos que auxiliavam Jesus apenas fez aumentar a multidão, que fechou o cerco do outro lado. Aquelas pessoas continuaram na expectativa da graça, aquela que a compaixão cristã não deixa morrer na praia… Verdade! Mal retomaram o trabalho, refeitos e reanimados em suas energias físicas e espirituais, nova disposição tomou conta de seus discípulos e missionários. Aquele povo aparentemente sem pastor, voltou a cercá-lo com esperança renovada. E a doutrina do mestre voltou a ser ouvida com mais clareza!

A missão nunca pode ser algo extenuante para o missionário. Deve ser aceita e praticada com alegria e renovado ardor. Se o cansaço e o desânimo tomam conta, e preciso, urgentemente, uma parada estratégica. Porque, afinal, ninguém é de ferro. A força da missão vem do repouso no colo do Senhor.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




Diocese de Assis

 

Um grande desafio da vida missionária é não se deixar contaminar pelas coisas do mundo. O cristão está inserido numa realidade cheia de contradições com sua fé. Essa é a questão: transformar ou se deixar transformar? Exigir mudanças ou mudar suas atitudes e convicções conforme as exigências do mundo? A atitude de coerência é o caminho único que trilha aquele que escolhe viver na verdade. Quem assim age, sacode a poeira das falsas ilusões. E segue seu caminho de fé.

O envio que Jesus faz a seus discípulos se dá após meticuloso ensinamento e consequente aprendizado. Primeiro a teoria. Depois a prática. Nessa estão inseridas as exigências de uma ação vitoriosa sobre o espírito mundano, as tentações e ilusões da vida sem critérios. Nada deveriam carregar como apêndice contra possíveis fracassos ou necessidades banais. O cajado de apoio seria seus ensinamentos e suas promessas. Os penduricalhos da sobrevivência viriam da Providência e do zelo amoroso do Senhor da Messe, aquele que agiria e falaria por eles. Sequer suas palavras seriam suas, mas teriam o timbre sempre inspirador e consolador do Espírito que os enviava. Dessa forma, não se preocupassem e não se deixassem contaminar pela poeira do fracasso dos que se fizessem surdos ou indiferentes à mensagem. O apelo à conversão estaria dado. Ser aceito ou não já não era problema dos que o faziam, mas daqueles que o recebiam…

Dois a dois partiram, naquela primeira expedição da Igreja rumo à vida dissoluta do mundo. Dois a dois voltaram, eufóricos, jubilosos, radiantes com os resultados daquela maravilhosa experiência de agir como outros cristos no mundo. “Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo” (Mc 6, 13). Foi a primeira ação e animação missionária da Igreja.

O anúncio da conversão foi, é e continuará sendo o primeiro objetivo e razão de ser da Igreja no mundo. Seu modelo em nada se alterou, desde então. As circunstâncias e necessidades seguem o padrão estabelecido por Jesus, seu mentor e fomentador único. O missionário que age em dissonância com esses ensinamentos não representa o colegiado apostólico, não fala em nome da fé que a tradição cristã herdou das promessas de seu Mestre. Fora desse testemunho, do colegiado estabelecido, da experiência comunitária (dois a dois é o mínimo) e do abandono na proteção divina, não existe missão. Pelo menos essa que nos delegou Jesus com seu poder e autoridade.

Fora disso, demos o nome que bem entender às delegações que roubam a doutrina, distorcem seus ensinamentos, simulam seus ritos, ridicularizam sua hierarquia, confundem seus seguidores com facilitações à prática doutrinaria, mas nada possuem de autenticidade missionária. Agem como simulacros da verdade. Adaptam à tradição doutrinária dos apóstolos uma inversão de valores, nunca uma conversão… A esses a alegria de uma experiência missionária autêntica nunca será concedida. Missão impossível!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

Todo conselho tem o desafio de aconselhar. Mas, o que é aconselhar!?

Aconselhar, segundo o dicionário, é dar opinião, opinar, orientar, indicar, sugerir, recomendar…

Quem dá conselhos deve vigiar-se para não se impor ou determinar o que se deve fazer. Por outro lado, quem pede conselhos, não deve ir como quem busca uma fórmula mágica e, nem deve tomar o que foi dado como se fosse uma luva na mão.

Todo conselho, antes de pacificar, deve mexer com a pessoa, chocar, desinstalar, provocar, fazer ferver, colocar em crise. Por que assim? Porque temos uma tendência infeliz de pôr panos quentes nas coisas ou abafar o caso, fazendo parecer que tudo está bem ou resolvido. Mas não é bem assim! A falta de enfrentamento das situações é que deixa a vida mal resolvida, num faz de conta e numa fake existência.

Sobre conselhos é bom reparar o que diz o livro do eclesiástico, 37,7-31:

Cuidado com os Conselheiros

Todo conselheiro dá conselhos, mas há quem dá conselho em seu próprio interesse. Seja cauteloso com o conselheiro, e procure saber quais são as necessidades dele. Pois ele pode aconselhar em benefício próprio e não lançar a sorte em favor de você, dizendo: “Você está num bom caminho”. Depois, ele fica de longe, vendo o que vai acontecer a você.

Não peça conselhos a quem olha você com desconfiança, e esconda a sua intenção de todos os que têm inveja de você. Nunca peça conselhos a uma mulher sobre a rival dela; nem a um covarde sobre a guerra; nem a um negociante sobre o comércio; nem a um comprador sobre a venda; nem a um invejoso sobre a gratidão; nem a um egoísta sobre a bondade; nem a um preguiçoso sobre o trabalho; nem a um empreiteiro sobre o fim da tarefa; nem a um empregado preguiçoso sobre um grande trabalho. Não procure nenhuma dessas pessoas para receber delas algum conselho. Ao contrário, freqüente sempre o homem fiel, a quem você conhece como praticante dos mandamentos, que tenha a mesma disposição sua e que, se você tropeçar, sofrerá com você. Siga o conselho do seu próprio coração, porque mais do que este ninguém será fiel a você. A alma do homem freqüentemente o avisa melhor do que sete sentinelas colocadas em lugar alto. Além disso tudo, peça ao Altíssimo que dirija seu comportamento conforme a verdade.

O verdadeiro sábio

A palavra é o princípio de qualquer obra, e antes de agir, é preciso refletir.  A raiz dos pensamentos é a mente, e ela produz quatro ramos: bem e mal, vida e morte. Mas os quatro são dominados pela língua. Existe quem é capaz de instruir muitas pessoas, mas é inútil para si mesmo. Existe quem ostenta sabedoria em palavras, mas é detestado e acaba morrendo de fome. Porque o Senhor não lhe concede sua graça, ele fica desprovido de qualquer sabedoria. Existe quem é sábio só para si, e os frutos seguros de sua inteligência estão em sua própria boca. O homem sábio instrui o seu povo. Todos podem confiar nos frutos de sua inteligência. O homem sábio é cumulado de bênçãos, e é proclamado feliz por todos os que o vêem. A vida do homem tem os dias contados, porém os dias de Israel são incontáveis. O sábio gozará de confiança no meio do seu povo, e seu nome viverá para sempre.

Autocontrole

Meu filho, prove a si mesmo durante a sua vida. Veja o que é prejudicial, e não o conceda a si próprio. Nem tudo convém a todos, nem todos gostam de tudo. Não seja insaciável de prazeres, nem se precipite sobre os pratos de comida. Porque o abuso na comida provoca doenças, e a gula produz cólicas. Muitos morreram por causa da gula, e quem sabe se controlar vive muito tempo.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Nenhum profeta é bem visto em sua própria terra. Nenhum santo é reconhecido por sua família. Ou, como bem dizemos: santo da casa não faz milagres. Em suma, esta é a mensagem que Marcos registrou em seu evangelho (Mc 6, 1-6) para nos dizer da rejeição que as ações milagrosas de Jesus receberam de seus conterrâneos e familiares. “Não é este o filho do carpinteiro”?

A cena nos remete a situações bem conhecidas no nosso meio. De fato, é difícil para nós mortais a compreensão de que Deus continua a agir em nosso meio. E o faz, muitas vezes, através de alguém bem próximo de nós, um irmão, um parente, amigo ou amiga de nossa convivência diária. Às vezes uma graça alcançada vem das mãos de alguém que sequer imaginamos como instrumento de uma ação milagrosa. Às vezes somos nós mesmos esses instrumentos, despretensiosos, incapazes, imperfeitos, mas eficientes quando postos a serviço da graça divina. Já ouvimos muitas vezes: não somos nós que nos tornamos capazes, é Ele que nos capacita! Nada temos de perfeição, mas a Perfeição age em nós, quando nos deixamos conduzir e agir conforme sua Vontade.

Ora, é de onde menos se espera que surge um milagre em nossas vidas. Às vezes, sorrateiramente. Outras, ostensivamente. Na surdina ou no alvoroço, no corre-corre da vida diária, o fato é que Deus nunca desampara aqueles que Nele buscam sua misericórdia e seu amor. Mesmo que aparentemente essa ação tenha um rótulo derrotista ou com ares de um fracasso momentâneo, dia mais, dia menos, compreenderemos que aquele momento de angústia, sofrimento ou morte foi apenas circunstancial. “E ali Ele não pôde fazer milagre algum”, mas não os abandonou pela simples rejeição momentânea. Jesus continuou presente com sua ação solidária, realizando curas, “impondo-lhes as mãos”. Derramava-lhes o Espírito de sua missão purificadora, transformadora. Um dia, quem sabe, iriam compreender.

Essa é a graça que a presença cristã realiza no mundo! Mesmo com toda rejeição, intolerância ou ironia contra nossa fé, o milagre continua como  sua marca registrada. O cristão que se deixa guiar pela força da fé que o congrega, quer queira ou não, torna-se membro da família de Cristo, toma parte do ministério de transformação, a fonte dos milagres que Deus realiza dentre os seus. Porque Jesus age por aqueles que Deus lhe deu, porque somos Dele. “Tudo o que é meu é teu. E tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado” (Jo 17, 10). Somos, pois, membros da família trinitária, fonte do milagre da vida.

Quem, portanto, é este que faz milagres entre nós? As respostas aí estão. Quando nos rejeitarem pelo simples fato de traçarmos em nosso peito o sinal da cruz cristã ou proferirmos nossa crença em milagres, ou aceitarmos com amor nossas cruzes cotidianas, não desanimemos. Isso tudo Ele já sofreu por nós! Agora é nossa vez

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




Diocese de Assis

 

Nós temos muita coisa a aprender com o coração. Muitos, já escreveram e falaram coisas muito profundas sobre o “fazer do coração” que vale a pena retomar:

Antoine de Saint-Exupéry, no livro ‘O Pequeno Príncipe’ dizia: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

Blaise Pascal, dizia:“O coração tem razões que a própria razão desconhece e por isso a ciência e a técnica sempre ficarão aquém”.

A Bíblia, ao falar do coração, o vê como o centro do pensamento, dos projetos e do amor. Jesus dizia: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8); “De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6,21); “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45).

Sob este ponto de vista, para avaliar as razões do coração, só aprendendo, também, a amar. E, sobre isso, o Apóstolo Paulo tem muito a nos ensinar: “É acreditando de coração que se obtém a justiça, e é confessando com a boca que se chega à salvação” (Rm 10,10); “Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7); “Que a paz de Cristo reine no coração de vocês. Para essa paz vocês foram chamados” (Cl 3,15).

São João Crisóstomo, bispo, século IV, numa de suas homilias sobre a segunda carta aos Coríntios, olha para este tema do amor em Paulo. Vale a pena ler.

“Nosso coração se dilatou!

Aquilo que produz calor costuma dilatar. Assim, é próprio da caridade dilatar, pois é uma virtude cálida e fervente. Ela abria também a boca de Paulo e lhe dilatava o coração. ‘Não amo só de boca, diz ele; meu coração, em verdade, harmoniza-se com o amor; por isso falo confiante, com toda a voz e toda a mente’.

Nada de mais amplo do que o coração de Paulo que, à semelhança de um enamorado, abraçava a todos os fiéis com intenso amor, sem dividir e enfraquecer a amizade, mas conservando-a indivisa. Que há de admirar se era assim em relação aos homens piedosos, se até aos infiéis da terra inteira seu coração os abraçava? Por isto não diz apenas ‘Amo-vos’, mas, o faz com maior ênfase: ‘Nossa boca se abre, nosso coração se dilata’.

Guardamos a todos dentro de nós e não de qualquer jeito, mas com imensa amplidão. Pois aquele que é amado, sem temor passeia no íntimo do coração do que ama. Assim diz: ‘Não estais apertados em nós, mas sim em vossos corações’. Vê a censura temperada com não pequena indulgência. Isto é bem de quem ama. Não disse: ‘Vós não me amais’, e sim: ‘Não do mesmo modo’. De fato, não queria atormentá-los com maior severidade.

Em várias passagens, extraindo textos de cada epístola sua, pode-se ver de que amor incrível ardia para com os fiéis. Aos romanos escreve: ‘Desejo ver-vos’; e: ‘Muitas vezes fiz o propósito de ir até vós’; e também: ‘Se de qualquer modo puder ir fazer-vos boa visita’. Aos gálatas escreve: ‘Meus filhinhos, aos quais gero de novo’; e aos efésios: ‘Por esta razão dobro meus joelhos por vós’. E aos tessalonicenses: ‘Qual a minha esperança ou gáudio, ou coroa de glória? não sois vós?’ Dizia, também, carregá-los em suas cadeias e em seu coração.

Igualmente aos colossenses escreve: ‘Desejo que vejais, vós e aqueles que ainda não viram meu rosto, a grande luta que sustento por vós, para que vossos corações se fortaleçam’. Aos tessalonicenses: ‘À semelhança de uma mãe que acalenta seus filhos, assim amando-vos, desejávamos vos dar não só o Evangelho, mas nossas vidas. Não estais apertados em nós’. Não diz apenas que os ama, mas que é amado por eles, para deste modo atraí-los melhor.  Pois assim escreve: ‘Tito chegou e contou-nos vosso desejo, vossas lágrimas, vosso zelo’.”

E o seu coração, o que tem a dizer? O que tem a quer? O que tem desejar? O que tem a amar?

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Está aí a pergunta que não quer calar: Quem dizeis que é Jesus Cristo? Personagem histórico, ficção ou mera invencionice do misticismo humano? Ou um louco varrido disposto a mudar o mundo? Ou mais um dos muitos profetas a denunciar a exploração dos ricos sobre a fragilidade dos pobres? Quem foi ou é Jesus para você?

Aposto que muitos dos meus leitores preferem o silêncio, a dar uma resposta  coerente com suas convicções pessoais. Isso porque a incerteza paira em meio às divergências que os pensadores humanos mantêm vivas. Entre teorias, práticas e crenças que abafam a espiritualidade e religiosidade nata das carências que temos, permanece a dúvida. Quem é o Filho do Homem?  Quem é, afinal, esse filho de Deus que também se diz Filho do Homem? Deus ou um pobre humano, um filho qualquer, mais um entre tantos que a aventura da vida colocou no seio da terra? Como vemos, a questão vai além da simples constatação de uma afirmativa pessoal e se compraz na pureza de uma resposta repleta de mistérios e verdade suprema: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). Respeitem-se as devidas pontuações, a tonalidade, a revelação pausada e bem urdida de uma resposta inspiradora: o Filho de Deus vivo! Quem lhe revelou tamanho mistério, ó velho Pedro, ó rude pescador, filho de Jonas, ó feliz tradutor dos mistérios do “Pai que está no céu”!

Vivo! O Filho de Deus (e do homem também) está vivo, vive entre nós. Querem revelação mais alvissareira para um povo que esperou tanto, que orou tanto, que nunca perdeu as esperanças em meio ao deserto de uma vida sem sentido? Pois Ele vive, está em nosso meio. É sobre o fundamento da Revelação, a base do reconhecimento de Pedro, que sua Igreja (não igrejas) é construída, edificada entre nós. Aqui está a chave: Tu és Pedro, Eu sou a Pedra em ti, em tua vida, em tua ação. A pedra, a base que muitos construtores rejeitaram. E ainda rejeitam. É sobre essa capacidade de discernimento e de reconhecimento que estaremos aptos a unir céus e terra, realidade humana e realidade divina, os filhos dos homens e o Filho de Deus! Esse é o grande mistério e ministério da Igreja que hoje somos. Igreja de Cristo, não dos homens. Unida ao Cristo, santificada por Ele, inserida na realidade de um mundo limitado, porém universal – esse é o significado do termo católico – e que segue a tradição apostólica. Sem essas chaves, esses detalhes da revelação feita a Pedro, nunca, jamais, entenderemos o valor e a importância de sermos membros de uma verdadeira vida eclesial, inserida no corpo místico de Jesus, unida a Ele.

“Eu te darei as chaves”, disse Jesus. Mas igualmente, alertou: “Sem mim, nada podeis fazer”. Essa é a missão da Igreja no mundo, o ministério que nos cabe como igreja que somos! Una, santa, mas também frágil e pecadora se considerarmos nossas incertezas e infidelidades. Porém esqueçamos o quão pequeninos somos, quando Cristo nos diz o contrário: tudo o que ligarmos ou desligarmos na terra ou no céu terá efeito em nossas vidas.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

A vida dos santos ilumina a vida da Igreja, em sua trajetória rumo ao Reino definitivo. E, é o dia da morte e, não o do nascimento, que conta para o memorial da vida dos santos. A morte do santo confirma aquela identificação com o Cristo morto e ressuscitado, conforme as palavras de São Paulo aos Romanos “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai, assim também nós possamos caminhar numa vida nova. Se permanecermos completamente unidos a Cristo com morte semelhante à dele, também permaneceremos com ressurreição semelhante à dele” (Rm 6,3-5).

Pedro e Paulo são colunas da Igreja. A morte deles, não somente, ilumina a Igreja, em sua trajetória rumo ao Reino Definitivo, mas, a estabelece e a confirma.

Desde o século III que a Igreja une na mesma solenidade os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, as duas grandes colunas da Igreja.

Pedro, pescador da Galileia, irmão de André, foi escolhido por Jesus Cristo como chefe dos Doze Apóstolos, constituído por Ele como pedra fundamental da Sua Igreja e Cabeça do Corpo Místico. Foi o primeiro representante de Jesus sobre a terra.

Paulo, nascido em Tarso, na Cilícia, duma família judaica, não pertenceu ao número daqueles que, desde o princípio, conviveram com Jesus. Perseguidor dos cristãos, converte-se, pelo ano 36, a caminho de Damasco, tornando-se, desde então, Apóstolo apaixonado de Cristo. Ao longo de 30 anos, anunciará o Senhor Jesus, fundando numerosas Igrejas e consolidando na fé, com as suas Cartas, as jovens cristandades. Foi o promotor da expansão missionária, abrindo a Igreja às dimensões do mundo.

Figuras muito diferentes pelo temperamento e pela cultura, viveram, contudo, sempre irmanados pela mesma fé e pelo mesmo amor a Cristo.

  1. Pedro, na sua maravilhosa profissão de fé, exclamava: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. E, no seu amor pelo Mestre, dizia: “Senhor, Tu sabes que eu Te amo”.
  2. Paulo, por seu lado, afirmava: “Eu sei em quem creio”, ao mesmo tempo que exprimia assim o seu amor: “A minha vida é Cristo!”

Depois de ambos terem suportado toda a espécie de perseguições, foram martirizados em Roma, durante a perseguição de Nero. Regando, com o seu sangue, no mesmo terreno, ‘plantaram’ a Igreja de Deus.

Após 2000 anos, continuam a ser ‘nossos pais na fé’. Honrando a sua memória, celebremos o mistério da Igreja fundada sobre os Apóstolos.

Na festa de São Pedro e São Paulo, a Igreja Católica comemora o “dia do Papa” e convida as suas comunidades, em todo o mundo, a fazerem oração pelo Sucessor de Pedro.

Dois momentos da vida de Pedro e Paulo sinalizam particularidades do seu seguimento ao Mestre.

Em Atos 12,1-11: Pedro é envolvido no mesmo destino de Jesus, primeiramente porque foi preso na festa dos pães sem fermento (a Páscoa). Além disso, o texto começa com a decisão do rei Herodes de tentar destruir a Igreja, prendendo e matando seus líderes. O rei deseja remover os pilares da casa para fazer a construção inteira ruir. A prisão de Pedro não é um fato isolado – na mesma época, Tiago (filho de Zebedeu) foi martirizado.

Em 2Tm 4,6-8.17-18: Paulo, também, estava preso e pensava que seria condenado à morte. Suas palavras não revelam nenhuma amargura, mas a serenidade de quem se abandonou nas mãos de Deus. O apóstolo estava pronto para ser imolado, isto é, estava à disposição para ser morto por causa do evangelho. Além disso, considera que a morte por causa do evangelho é aceita por Deus como verdadeira oferta ou sacrifício.

Diante de Pedro e Paulo, somos desafiados ao profetismo do seguimento!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Basta uma olhadela no caos da corrupção e corrosão moral, social e ou comportamental pela qual passa a humanidade, para concluir: estamos afundando num mar de lamas!  O pior é constatar que nesse naufrágio nem sequer a possibilidade de salvação seja algo viável, posto que todos os recursos possíveis e imagináveis Deus já nos ofereceu e agora “Jesus está dormindo” na retaguarda do barco. Descansa no sono dos justos! Sua parte nessa história Ele já cumpriu. Merece descanso.
Em suma, essa é a história que Marcos nos conta (4, 35-41), para nos dizer que a salvação agora nos pertence. Depende de nós. Está em nossas mãos o destino que traçamos ou queremos atingir. Se o outro lado dessa história possui um porto seguro, se a preservação de nossa integridade depende da confiança que ainda temos na misericórdia divina, se é forte a ventania e a borrasca das tentações ainda constituem ameaças, se a barca de Cristo – sua Igreja – sente a força das ondas a penetrar em seus átrios, acordem Jesus! Orem, orem, clamem a Deus por sua misericórdia! Eis a força que nos resta…
“Mestre, estamos perecendo e tu não de importas?” O apelo crucial daqueles que tomam consciência das ameaças a seu redor é a maior expressão de fé duma alma sedenta por salvação. É impossível que o Senhor não ouça esse grito de misericórdia. A força dessa oração é capaz de ferir os tímpanos de Jesus, que se levanta de imediato  e se opõe às ameaças contra nossa integridade, sejam estas físicas ou espirituais. O aparente sono do Senhor é apenas um hiato para provar nossa fé, nossas dúvidas e inseguranças. “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”
Essa é a pergunta que hoje nos questiona. Quem acredita na presença de Cristo no barco de nossa existência, nada teme. Não há força alguma capaz de destruir nossa integridade quando temos Jesus no mesmo barco de nossa existência. Aparentemente, Ele dorme às vezes, mas seu Espírito jamais. Apenas nos prova, momentaneamente, pondo em xeque nossa fé. Dá-nos a consciência da fragilidade de nossas vidas, do medo que nos domina quando nossa fé se deixa abalar pelas circunstâncias e ameaças que circundam nossa existência. Essa tomada de consciência, ao mesmo tempo em que nos mostra o quão pequenos somos diante dos desafios da travessia da vida, também nos mostra o quão grande é o poder da fé que tem em sua retaguarda a proteção divina. Não há o que temer quando Cristo caminha, viaja conosco. Mesmo que aparentemente esteja dormindo, sua presença é a força que nos sustenta.
Eis porque o selo da fé é o escudo cristão. “Não temas, pequenino rebanho!” Mesmo que o mundo se levante contra todos seus princípios e convicções de fé, nada temas! Mesmo que ironizem suas posições contrárias ao comportamento da grande maioria, que questionem suas regras de conduta moral e social, que ridicularizem sua defesa aos princípios éticos e basilares da preservação da vida, em especial os contrários ao aborto, eutanásia ou qualquer outro modismo que se venha a inventar sob os argumentos da liberdade do indivíduo, mesmo que tudo se volte contra sua fé, não temas! Jesus navegou neste mesmo barco. E ainda navega, apesar de seu aparente sono… Basta uma atitude nossa: orar! Pois quem dorme somos nós.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]



Diocese de Assis

A perseverança é fundamental e necessária na vida! Sem perseverança não há caminho: nem começo e nem fim; não há esperança: nem sentido e nem motivos; não há projeto: nem objetivo e nem meta; não há sonho: nem horizontes e nem utopia. Sem perseverança não há vida, porque a vida se faz de caminho, de esperança e de projeto e de sonho.

Ora, viver não pode ser uma mera sucessão de dias e de acontecimentos; viver não pode ser um malfadado cumprimento do destino – uma vida de cartas marcadas; viver não pode ser uma sombra de uma luz que já nem existe mais; viver não pode ser um acaso; viver não pode ser um nascer, um crescer, um desenvolver e um morrer.

Viver tem que ser um recomeçar permanente, um redescobrir cada dia, um renovar sempre, um renunciar constante, um retomar persistente, é reconciliação diária. Viver é assumir-se obra inacabada que precisa ser aperfeiçoada cada dia, até chegar à plenitude, em Deus.

Santo Agostinho, bispo, século V., num de seus sermões chama-nos a atenção, exatamente, sobre esta questão da perseverança.

É ler e gostar!

“Qualquer angústia ou tribulação que sofremos é para nós aviso e também correção. As Sagradas Escrituras não nos prometem paz, segurança e repouso; o Evangelho não esconde as adversidades, os apertos, os escândalos; mas ‘quem perseverar até o fim, esse será salva’ (Mt 10,22).

O que de bom teve esta vida desde o primeiro homem, desde que mereceu a morte e recebeu a maldição, maldição de que Cristo Senhor nos libertou?

Não há então, irmãos, por que murmurar , como alguns deles murmuraram, como disse o Apóstolo, e pereceram pelas serpentes (l Cor 10,10).

Que tormento novo sofre hoje o gênero humano que os antepassados já não tenham sofrido? Ou quando saberemos nós que sofremos o mesmo que eles já sofreram? No entanto, encontras homens a murmurar contra seu tempo como se o tempo de nossos pais tivesse sido bom.

Se pudessem retroceder até os tempos de seus avós, será que não murmurariam? Julgas bons os tempos passados porque já não são os teus, por isto são bons.

Se já foste liberto da maldição, se já crês no Filho de Deus, se já estás impregnado ou instruído das Sagradas Escrituras, admiro-me de que consideres bons os tempos de Adão.

Esqueces que teus pais traziam consigo o mesmo Adão? Aquele Adão a quem foi dito: ‘No suor de teu rosto comerás teu pão e lavrarás a terra donde foste tirado; germinarão para ti espinhos e abrolhos’ (cf. Gn 3,19 e 18). Mereceu isto, aceitou-o, como vindo do justo juízo de Deus. Por que então pensas que os tempos antigos foram melhores que os teus? Desde aquele Adão até o Adão de hoje, trabalho e suor, espinhos e cardos. Caiu sobre nós o dilúvio? Vieram os difíceis tempos de fome e de guerra, que foram escritos para não murmurarmos agora contra Deus?

Que tempos aqueles! Só de ouvir, só de ler, não nos horrorizamos todos? Mais razões temos para nos felicitar que para murmurar contra o nosso tempo.”

Agora, diga a verdade: não é por precipitação que jogamos fora a maior parte (pra não dizer tudo) das melhores coisas, das melhores experiências, das melhores oportunidades, das melhores ocasiões? Diz a sabedoria popular que, “o apressado como cru e quente” e nunca consegue saborear, com bom paladar aquilo que vai para a mesa; porque o tempo da mesa nunca chega a ser permitido, por pura precipitação.

Controlemos, pois, os nossos impulsos para não desperdiçarmos a hora da graça, no tempo de Deus.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS