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Diocese de Assis

Sabe aqueles momentos em que a gente se sente injustiçado por alguém, não vêm à cabeça uma vontade louca de fazer justiça com as próprias mãos? … de resolver tudo na força bruta? … de pagar com a mesma moeda? … de se vingar?

Se a gente não se cuida, perde a cabeça! Porque o peso maior da injustiça é a impunidade! Quando a gente vê que o injusto foi poupado, não foi responsabilizado, não pagou pelo mal que fez e, que está imune a qualquer sanção, uma mistura perigosa de ódio e revolta contamina nosso coração, a ponto de fazer-nos violentos e inconsequentes.

Não se apresse, na tentativa de resolver as coisas porque, como diz o ditado: “a pressa é inimiga da perfeição” ou “o apressado come cru”. É natural que um sentimento negativo crie um turbilhão dentro de nós e uma sede de justiça se desenvolva dentro de nós. Mas, se fazemos como fazem os injustos, que diferença teríamos deles? Seríamos tão censuráveis quanto eles.

Qual é, portanto, o caminho diante da injustiça? O que fazer?

O caminho diante da injustiça, aliás, diante de qualquer injustiça é: não fazer como faz o injusto; não querer agir pelo sentimento ou pelo impulso para não fazer justiça com as próprias mãos; fazer silêncio para enxergar caminhos, buscar ajudas, descobrir os meios e agir na hora certa; perguntar-se como Deus faria… Consulte a Palavra de Deus…

Cuidado com os conselheiros! “Todo conselheiro dá conselhos, mas há quem dá conselho em seu próprio interesse. Seja cauteloso com o conselheiro, e procure saber quais são as necessidades dele. Pois ele pode aconselhar em benefício próprio e não lançar a sorte em favor de você, dizendo: ‘Você está num bom caminho’. Depois, ele fica de longe, vendo o que vai acontecer a você. Não peça conselhos a quem olha você com desconfiança, e esconda a sua intenção de todos os que têm inveja de você. Nunca peça conselhos a uma mulher sobre a rival dela; nem a um covarde sobre a guerra; nem a um negociante sobre o comércio; nem a um comprador sobre a venda; nem a um invejoso sobre a gratidão; nem a um egoísta sobre a bondade; nem a um preguiçoso sobre o trabalho; nem a um empreiteiro sobre o fim da tarefa; nem a um empregado preguiçoso sobre um grande trabalho.” (Eclesiástico 37,7-13).

Tenha como princípio e disciplina o amor! “Não fiquem devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo. Pois, quem ama o próximo cumpriu plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: não cometa adultério, não mate, não roube, não cobice, e todos os outros se resumem nesta sentença: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo.’ O amor não pratica o mal contra o próximo, pois o amor é o pleno cumprimento da Lei” (Rm 13,8-10).

Tome posturas de fé na vida! “Que o amor de vocês seja sem hipocrisia: detestem o mal e apeguem-se ao bem. Abençoem os que perseguem vocês; abençoem e não amaldiçoem. Alegrem-se com os que se alegram, e chorem com os que choram. Vivam em harmonia uns com os outros. Não se deixem levar pela mania de grandeza, mas se afeiçoem às coisas modestas. Não se considerem sábios. Não paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a todos os homens. Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem” (Rm 12,9.14-21)

Supere a justiça dos hipócritas! “Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu” (Mt 6,1).

Creia, a justiça de Deus é, continua sendo e sempre será: Jesus Cristo! Não tenha dúvida de que, nele, todas as coisas encontrarão a sua verdadeira solução e desenvolvimento. Busque os meios e os recursos de justiça, mas coloque-se nas mãos de Deus porque ele dá o caminho.

Entendeu? Aprendeu…?

 

PE. EDVALDO P. SANTOS




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A beatificação surpreendente de um jovem italiano, nesta semana, radicalizou pelo ineditismo: venerar como possível santo a imagem de um contemporâneo da era do terno e gravata ou do jeans e tênis. Carlo Acutis usou os dois hábitos e seu corpo incorruptível, apesar dos quinze anos passados desde sua morte, vestia em sua apresentação pública os trajes de um jovem de nossos tempos: calça jeans, blusa moleton e calçados tipo tênis. Além de fotos elevadas aos altares católicos com surpreendentes “raybans” pendurados ao pescoço como bem o fazem nossos jovens. Como imaginar a figura de um venerável ocupando nossos altares em semelhantes trajes?

Essa é a maior surpresa de sua beatificação, o primeiro passo para uma possível canonização. Surpresa também foi o mérito desse processo rápido e quase inédito, ou seja, o milagre que permitiu tão grande honraria a merecer oficialização canônica da Igreja Católica, foi uma graça concedida a uma criança brasileira. Sabemos o quão rígida é a postura católica num processo desse naipe. Muitos levaram séculos. Outros sequer saíram dos trâmites iniciais. Neste aspecto, a burocracia da causa dos santos é quase uma virtude, pois exige provas contundentes, longas apurações e até vultosos recursos jurídicos, financeiros ou mesmo argumentos da voz contrária (no caso o famoso advogado do Diabo), para se reconhecer ou atribuir santidade ou beatificação a uma alma qualquer. Quanto mais a um jovem, quase criança. Quanto mais quando esse jovem se mescla à massa de uma juventude tida como vazia, distante da espiritualidade tradicional, do mundo eclesial dos muitos beatos e santos que bem conhecemos, da vida recôndita e moderada que imaginamos como modelo de santidade. Onde está a pieguice que muitos veneram, a vida de renúncias e sacrifícios compatíveis com a biografia de um santo?

Pelo visto, Carlo Arcutti não tinha nada disso. Foi um jovem comum ao seu tempo. Amante da tecnologia, da computação, das redes sociais. Apóstolo, sim, no uso disso tudo. Fez dos recursos de sua era os instrumentos de evangelização de que necessitava. Da sua fé eucarística brotaram as forças que necessitava para apregoar sua fé. Tornou-se o apóstolo da internet, usando essa ferramenta para exercitar e expandir sua vida missionária. Levou seu amor a Cristo e sua Igreja aos milhares de seguidores de sua rede cibernética. Não olhou nos olhos de seus interlocutores, mas sentiu os anseios de seus corações. Evangelizou através da tela milagrosa de um MCS que, fascinantemente, mais aproxima o homem do próprio homem. Bendita tecnologia!

Tão bendita que a cerimonia de sua beatificação foi vista e tornou-se um acontecimento global que superou em muito a audiência dos grandes acontecimentos mundiais. Tão bendita que exibiu ao mundo a mais significativa e emblemática das ofertas humanas a um altar divino: seu coração incorruptível sendo levado como reliqua preciosa de sua vida de oferenda a Deus e às causas cristãs. Mais ainda: seus próprios pais o apresentando ao celebrante num gesto de entrega total do filho que um dia geraram. No alto do relicário podia se ler: “Eucaristia a minha autoestrada para o céu”. Era essa a sua fé.  Desconheço cerimonia similar a essa em qualquer outro processo de beatificação ou santificação dos milhares de santos e santas elevados aos altares da fé católica.

Carlo Acutis nos prova a possibilidade de vida santa em qualquer época ou lugar, com os recursos que temos ou as limitações que a vida nos impõe. Basta-nos a graça. Buscar a santidade é vocação cristã. E, para tanto, o jovem Carlo, para quem “a tristeza é o olhar voltado para si mesmo”, revelou seu segredo: “Estar sempre unido a Jesus é o meu projeto de vida”. Isso todos nós podemos fazer. E ser.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 

 

 




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  Nenhum outro mês da Bíblia foi tão substancialmente valorizado quanto o desse ano de 2020. “O afeto à Sagrada Escritura” foi o grande presente que coroou esse mês com a celebração do décimo sexto centenário da morte de São Jerónimo. Aliás, esse título da última carta apostólica do nosso Papa Francisco faz jus à memória do grande tradutor bíblico que “vulgarizou” (no bom sentido de sua Vulgata) o acesso universal à Palavra de Deus, com sua tradução mais popular dos originais gregos e hebraicos conhecidos em sua época. Por isso a importância dessa data, lembrando a morte de Jerónimo e o primeiro ano da instituição do Domingo da Palavra, quando nosso Papa promulgou o moto próprio intitulado “Abriu-lhes a mente ao entendimento (Lc 24)”.  A Vulgata é hoje base para a grande maioria das traduções bíblicas (inclusive evangélicas). Fruto de uma vida inteira de estudos e reflexões, de vida orante e submissa à vontade divina, de renúncia e subsequente vida eremita, o trabalho intelectual mas obstinado de Jerónimo foi fundamental para o crescimento do cristianismo e sua ação missionária no mundo, essa mesma que chegou até nós e nos propiciou o conhecimento do Cristo. Segundo Jerónimo, fez apenas uma obrigação. O próprio Papa resgata em sua carta uma história apócrifa que bem ilustra a vida desse abnegado servidor da vontade de Deus. “Que quereis de mim?” E Ele responde: “Ainda não Me deste tudo”. “Mas, Senhor, já Vos dei isto…isto… e isto” – “Falta uma coisa!” – “O que?” – “Dá—Me os teus pecados, para que Eu possa ter a alegria de voltar a perdoá-los”. Essa mesma história, coincidentemente, é a conclusão do meu livro Altar dos Sacrifícios, respondendo a infinita ação de Deus em nós e através de nós. Isso Jerónimo bem conhecia. Tão bem que considerava a Palavra de Deus parte do mistério Eucarístico.

Afirmou um dia: “Lemos as Sagradas Escrituras. Eu penso que o Evangelho é o Corpo de Cristo; penso que as santas Escrituras são o seu ensinamento. E quando Ele fala em “comer a minha carne e beber o meu sangue” (Jo 6,53), embora estas palavras se possam entender do Mistério (Eucarístico), todavia também a palavra da Escritura, o ensinamento de Deus, é verdadeiramente o corpo de Cristo e seu sangue” (37). Tamanha descoberta só mesmo de alguém em profunda sintonia com Deus e sua Palavra. Tanto que aqui o Papa se justifica pelo empenho desta data e importância de sua carta. “Por isso, quis instituir o Domingo da Palavra de Deus (38) para encorajar a leitura orante da Bíblia e a familiaridade com a Palavra de Deus”.  A tradução denominada Vulgata não é uma simplificação da Palavra, mas, ao contrário, um aprofundamento. Um mergulho em seus mistérios. “O tradutor é um construtor de pontes. Quantos juízos precipitados, quantas condenações e conflitos nascem do facto de ignorarmos a língua dos outros e de não nos aplicarmos, com tenaz esperança, a esta prova de amor infindável que é a tradução”, comenta o Papa. E acrescenta: “Com a celebração da morte de São Jerónimo, o olhar volta-se para a vitalidade missionária extraordinária que se manifesta na tradução da Palavra de Deus em mais de três mil línguas”. Como estaríamos hoje sem esse trabalho de amor e devoção dum homem santo?

Esse mesmo santo que nunca renegou sua Igreja, nem ocupou pedestais de glória por seu trabalho. “Eu que não sigo mais ninguém senão Cristo, uno-me em comunhão com a Cátedra de Pedro. Eu sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja”. Esse mesmo homem admirado e respeitado pelos grandes intelectuais de sua época, cuja descrição mais comum que dele faziam era: “Encontra-se todo embrenhado na leitura, todo embrenhado nos livros; não descansa de dia nem de noite; sempre está a ler ou a escrever qualquer coisa” (Postusmiano). Ao Papa faz lembrar um dos maiores problemas da atualidade, o analfabetismo cultural. Então Francisco faz um apelo, em especial aos jovens: “Quero lançar um desafio: parti à procura da vossa herança. O cristianismo torna-vos herdeiros dum patrimônio cultural insuperável, do qual deveis tomar posse. Apaixonai-vos por esta história, que é vossa. Tende a ousadia de fixar o olhar naquele jovem inquieto que foi Jerónimo; ele, como a personagem da parábola de Jesus, vendeu tudo quanto possuía para comprar a “pérola de grande valor”.  Verdadeiramente Jerónimo é a “Biblioteca de Cristo”, concluiu.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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Um muito obrigado é sempre bem vindo e coroa toda e qualquer ação com o reconhecimento. Aliás, um agradecimento vale mais do que qualquer quantia em dinheiro porque, o dinheiro pago se acaba, ao passo que a gratidão permanece.

A ingratidão é um veneno mortal na vida e na fé.

O ingrato é sempre um peso para os outros; não tem memória, é cego, surdo e mudo para a vida. Não se alegra, vê problema e tudo, cria muro, inventa mil histórias, murmura, resmunga, critica, não se interessa, é pessimista, não confia, não perdoa, não espera, não procura, não cultiva. Nada lhe diz respeito. Não consegue esboçar um sorriso na alegria e nem deixa cair uma lágrima na dor.

O ingrato é um insensível: não percebe as coisas como Graça de Deus e não entende as ações como gesto de gratuidade. Vê tudo como fruto da casualidade, da obrigação, do interesse, do mérito pessoal, da retribuição… Por isso, não diz muito obrigado, apenas: ‘não fez mais que a obrigação’; não pede por favor, apenas ordena; não diz graças a Deus mas, que foi coincidência; não pede desculpas, aponta culpados e inventa justificativas; não aceita erros, julga e condena; não está disposto a esperar, atropela; não é capaz de falar, grita… O ingrato vive a vida com amargura e amarga a vida dos outros, nada lhe deixa contente.

A vida inspirada pela fé, traduz tudo: pensamentos e palavras, gestos e ações… por agradecimento. Porque a fé é uma convocação permanente à ação de graças; ao agradecimento!

Pessoas formadas pela fé são agradecidas; veem as coisas com bons olhos… com os olhos de quem ama. “é paciente… é prestativo… não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7).

Pessoas agradecidas se relacionam com pessoas e não com coisas; acreditam em ideais e não em ideias; sonham e não divagam; exigem, nunca cobram; têm palavra e não ‘gogo’; têm fé e não superstições. Pessoas agradecidas são humanas e não anjos.

Assim diz a Sagrada Escritura:

Daniel 3,89.90: “Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia é para sempre”; “Todos os que adoram o senhor, Deus dos deuses, bendigam o Senhor: louvem e deem graças ao Senhor, porque a sua misericórdia é para sempre”.

Colossenses 1,12: “Com alegria, deem graças ao pai, que permitiu a vocês participarem da herança dos cristãos, na luz”.

Dar graças não é um simples ato religioso, reservado à hora do Templo. Dar graças, é uma atitude de vida, é uma postura de fé!

Dar graças é reconhecimento e memória, é liturgia e celebração; é festa e utopia, é esperança e comunhão; é sede do Deus vivo, é partilha e doação; é contentamento e alegria, é pulsão de vida e convicção; é a luz, sempre, acesa no final do túnel, é a energia e a satisfação; é o calor do amor verdadeiro, é a promessa divina e a iluminação; é a vida que vale a pena, é o sonho e a salvação.

No fundo, como diz São Paulo, a perspectiva de vida de quem tem fé deve ser a seguinte: “Deem graças em todas as circunstâncias, porque esta é a vontade de Deus a respeito de vocês, em Jesus Cristo” (1Ts 5,18).

“Nesse dia, você dirá: ‘Eu te agradeço, Javé, porque estavas irado contra mim, mas a tua ira se acalmou e me consolaste. Sim, Deus é a minha salvação! Eu confio e nada tenho a temer, porque minha força e meu canto é Javé: ele é a minha salvação. Com alegria vocês todos poderão beber água nas fontes da salvação’.

E nesse dia, vocês dirão: ‘Agradeçam a Javé, invoquem o seu nome, contem aos povos as façanhas que ele fez, proclamem que seu nome é sublime; cantem hinos a Javé, pois ele fez proezas; que toda a terra as reconheça. Gritem de alegria e exultem, moradores de Sião, pois o Santo de Israel é grande no meio de vocês’” (Isaías 12,1-6).

Tenha fé, viva em permanente ação de graças!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa, obediência significa: submeter-se à vontade de, cumprir ordem de, estar sujeito, submissão, sujeição. O verbo hebraico traduzido como “obedecer” é o verbo SHÈMA que literalmente quer dizer dar ouvidos à: “Ouça, Israel! Javé nosso Deus é o único Javé. Portanto, ame a Javé seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força” (Dt 6,4-5).

Ora, a obediência, por sua etimologia, pressupõe ouvidos atentos e atos de profunda humildade. Nesse sentido, descobrir e praticar a obediência é, sem sombra de dúvidas, o melhor caminho para ser feliz e conservar a vida!

Obedecer significa tudo na vida de uma pessoa!

O jargão popular consagrou o ditado: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Abrindo a Sagrada Escritura, em suas primeiras páginas, destacamos a situação conflitiva de Adão e Eva, quanto à obediência ou não a Deus. Na tensão entre o sim e o não, acabam cedendo à pressão da serpente que os convence à insubmissão a Deus, como garantia de liberdade e autonomia pessoal.

A questão é complexa e não pode ser entendida, apenas, pela simples polarização entre o direito divino e o dever humano. A questão da obediência-desobediência vai um pouco mais longe porque, levantando o problema do pecado, mais do que intenções meramente morais, toca os elementos essenciais de nossa existência: ser e não ser.

O homem é chamado à obediência, isto é, à escuta; escuta de Deus, dos outros e do mundo. Se não obedecer; se não escutar; se não estiver aberto, desde o seu interior, numa atitude de aceitação, não será capaz de se firmar no mundo.

Obedecer é submeter-se! Porém, como nossa idéia de submissão é negativa, somos avessos a qualquer submissão. De fato, a idéia de obediência que carregamos é tremendamente negativa porque passa por uma sujeição escravocrata.

A convocação Bíblica à obediência se traduz em verdadeira atitude de fé, amor, esperança, confiança, fidelidade e humildade:

Adesão à Promessa de Deus: “Pela fé, Abraão, chamado por Deus, obedeceu e partiu para um lugar que deveria receber como herança. E partiu sem saber para onde” (Hb 11,8); “Se você obedecer aos mandamentos de Javé seu Deus (…) Você viverá e se multiplicará. Javé seu Deus o abençoará” (Dt 30,16).

Reconhecimento da própria desobediência em vista da mudança de vida: “E o meu povo não escutou a minha voz, Israel não quis me obedecer” (Sl 81,12); “O tolo fica satisfeito com sua conduta, mas o sábio obedece ao conselho” (Pr 12,15); “Feliz o homem que me obedece, vigiando todos os dias em minha porta, esperando na entrada de minha casa” (Pr 8,34).

Aceitação de uma nova vida possível pela graça de Deus: “Assim como, pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, do mesmo modo, pela obediência de um só, todos se tornarão justos” (Rm 5,19); “Pela obediência à verdade vocês se purificaram, a fim de praticar um amor fraterno sem hipocrisia. Com ardor e de coração sincero amem-se uns aos outros” (1Pd 1,22).

Consciência da revolução operada por Jesus: “Embora sendo filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos” (Hb 5,8); “Humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,8);

Revisão da vida e da missão: “Então Pedro e os outros apóstolos responderam: “é preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5,29); “Tudo o que vocês fizerem façam de coração, como quem obedece ao Senhor, e não aos homens” (Cl 3,23).

Nossa relação com a obediência não pode ficar circunscrita, apenas, à esfera espiritual; mesmo que esteja aí a sua fonte e força. Estabelecida sobre aquilo que há de mais profundo em nós, a obediência deve nos mover para o que somos, cremos, amamos, sonhamos, esperamos e almejamos. Daí porque, pela obediência, vencemos a distância e resistência aos pais, às autoridades, à Igreja e a Deus.

Quem obedece nunca erra e não merece castigo!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTO




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Outubro nos bate à porta. E com ele mais um mês dedicado à reflexão da vida missionária no mundo católico. Mas bom seria se mais seguimentos da coletividade humana pudessem parar por um instante e olhar o mundo com um novo olhar, que englobasse o mistério da vida e a nossa missão neste planeta tão sofrido e angustiado pelas contradições que vive. Então a Igreja volve seu olhar maternal e lança um desafio “aos homens de boa vontade”, para que o mistério que nos envolve seja ao menos uma experiência positiva ou no mínimo construtiva. Aceitar isso é assumir uma missão existencial. Tal qual aquela que mobilizou o jovem Isaias com sua descoberta do sentido da vida.

A vocação de Isaías foi uma visão beatífica da beleza existencial, com anjos e serafins louvando e clamando a Deus pela continuidade desse sonho de vida plena.  Tudo que observava ao seu redor proclamava a grandeza da criação, conquanto a maioria do povo não enxergasse essas maravilhas.  Ao contrário, Isaías não compactuava com o comportamento rebelde do seu povo e se sentia responsável: “Ai de mim que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, habito no meio dum povo que tem os seus também impuros” (Is 6, 5) Esse é o inconformismo dos frustrados e acomodados. Sem saber como agir diante de situações contrárias à própria índole, entregam os pontos e acabam compactuando com o erro da maioria. Lavar as mãos sempre foi atitude de covardia diante do erro coletivo. É a mais vil das omissões, aquela mesma que condenou Cristo à morte.

A verdade prevalece sempre, Mesmo em forma de uma turquesa em brasa, capaz de queimar a língua dos omissos e dissipar a covardia do silêncio que tenta encobrir a voz da verdade. O destrave da língua presa é revelador: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8).  Eis-me aqui! Essa descoberta da responsabilidade profética e missionária é o grande momento da transformação que uma revelação divina faz a cada um de nós, diante do caos que nos aflige. Não só Isaías fez essa descoberta, mas todos aqueles que um dia olham para o mundo através da janela da sensatez e do compromisso com a vida, farão sua essa palavra de submissão à vontade de Deus. A defesa da vida é missão dos vivos. Crentes ou ateus, existencialistas ou criacionistas, conceituados cientistas ou simples defensores das diversas teses evolutivas ou mesmo amantes da sobrevivência pura e simples, todos, de uma forma ou outra, somos chamados a defender a vida como nossa maior riqueza.

Por essa e outras é que a Igreja nos convida a refletir sobre esses mistérios, de quando em vez. Um mês missionário, em ano endêmico e desafiador, talvez seja um momento purificador e, no mínimo, restaurador das energias que necessitamos. É realmente um olhar da janela de nosso quadrilátero, nosso mundinho pessoal fechado em nós mesmos. A arte dessa campanha missionária diz tudo isso. O Papa nos desafia a olhar da nossa janela, como ele sempre o faz contemplando os “pequeninos”, os marginalizados da nossa “periferia existencial”, emoldurada agora pela resolução profética dos que se dispõem a somar forças: “Aqui estou, envia-me!”. Que mais pessoas aceitem esse desafio. Que, independentemente do credo ou descrédito de alguns, possamos somar forças para restaurar o cenário desse mundo sem grandes perspectivas. Um olhar realista sobre os fatos que nos circundam, que nos amedrontam, que ameaçam nossa integridade, seja física, espiritual ou integral (quando ameaça a própria existência planetária) é um critério de tomada de consciência transformadora. Isso é defesa da vida. Isso é missão. Isso é olhar o mundo, a vida, com os olhos da misericórdia que um dia nos criou à sua semelhança. Sejamos, nesse outubro missionário, os agentes de transformação de que o mundo precisa. “O Senhor disse-me: Vai e dize a esse povo…” Está lá, em Isaías, seis.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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“A pandemia é uma crise e não saímos iguais de uma crise: ou saímos piores ou melhores”. Com essa quase radical constatação, Papa Francisco já acena para os dias pós pandemia, anunciando ao mundo sua mais nova encíclica, cujo nome não poderia ser outro em tempos de crise: “Fratelli Tutti”, ou seja: “Todos irmãos”, em tradução livre. Sua grande preocupação com esse momento lembra a atitude normal de um bom pastor com seu rebanho, que realça a qualidade maior dum rebanho coeso (‘Devemos cuidar uns dos outros’), mas não ignora a realidade: “A pandemia evidencia como todos somos vulneráveis e estamos interconectados”, disse o Papa.

O oportuno documento será oficialmente lançado e assinado às vésperas do dia de São Francisco de Assis, na cidade italiana que lhe empresta o nome e sobre o túmulo do santo que inspira e conduz o atual pontificado católico. Não poderia ser diferente. A solenidade se dará logo após missa celebrada pelo santo padre, cuja inspiração e filiação franciscana é conhecida do mundo todo e, de certa forma, tem inspirado, conduzido e influenciado os documentos e ações do atual pontífice. Não seria diferente agora, quando a assustadora pandemia afeta a todos e ameaça o equilíbrio necessário à vida em todos os seus aspectos, até mesmo na realidade ecológica e social.

Francisco, o papa, afasta-se publicamente dum possível pedestal que o cargo possa lhe oferecer, para inserir-se na realidade dum mundo em caos e tornar-se mais um dentre todos, como bem o fez o outro Francisco, o pobre. Estamos juntos nessa. Não há como separar o joio e o trigo, o mau e o bom, o pobre e o rico, pois a responsabilidade social é a única possível tábua de salvação capaz de nos tirar desse sufoco. Por isso o subtítulo dessa encíclica reforça e lembra dois aspectos da cura que almejamos: “Sobre a fraternidade e a amizade social”. Ou seja: sem o espírito da fraternidade universal e sem o respeito social imposto por isolamentos forçados ou necessariamente saneadores, corremos o risco de vivenciarmos as visões apocalípcas. Alguém vai pagar pra ver?

Para melhor compreensão do tema central desse precioso e oportuno documento, o papa o apresenta com três faces. A primeira aborda aspectos da unidade necessária em tempos de crise global, sob o título “A fraternidade humana universal”. Como só agora damos conta do valor da unidade em tempos de crise, a fraternidade aqui exposta deixa de ser mera virtude religiosa para se tornar gritante necessidade de uma raça tentando sobreviver. Ou seja: pela dor se descobre o amor. Mais do que nunca, a cartilha franciscana dita as regras em sua oração fraternal: onde houver desespero, que eu leve a fé.

A segunda face traça os passos da vitória: “A solidariedade necessária após a pandemia”. Alguém vai pagar o preço. Não pensem as nações ricas que ficarão isentas de sua responsabilidade social para com o mundo após o diagnóstico da cura global. Serão caras, caríssimas, as ações necessárias à reconstrução do muito que já perdemos e haveremos de perder após esse surto. É preciso correr atrás do prejuízo, do tempo perdido na educação, dos prejuízos em tantas e tantas áreas que bem conhecemos. Aqui não pode prevalecer o interesse grupal, nacionalista, racial, ou seja lá o que for. A solidariedade humana será o único caminho plausível de uma reconstrução verdadeira, se não quisermos um retrocesso histórico. Por fim, “O diálogo inter-religioso” deverá pautar toda e qualquer orientação de fé, independentemente de suas diferenças ou profissões religiosas. Mais do que nunca, a fé humana busca luzes em meio à escuridão do momento e não podemos ofuscar essa grande aliada que nos renova as esperanças. Deus está acima de tudo. Ele é Pai. Somos irmãos…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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A Igreja vive daquilo que recebeu do Cristo e, somente por isso, sobrevive ao tempo, às ideologias, às modas, aos ataques, às perseguições… a tudo: “sobre essa pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18). Fundada pelo próprio Cristo, a Igreja é de instituição divina. Tendo como princípio vital a unidade ela é chamada a fazer da unidade, sua verdadeira missão. “Para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu me enviaste. Eu mesmo dei a eles a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um” (Jo 17,21-22).

A teologia paulina, sobre a Igreja, que usa a imagem-símbolo-sinal do corpo, é uma síntese perfeita do que é a Igreja (1 Cor)

“De fato, o corpo é um só, mas tem muitos membros; e no entanto, apesar de serem muitos, todos os membros do corpo formam um só corpo. Assim acontece também com Cristo.  Pois todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou gregos, quer escravos ou livres. E todos bebemos de um só Espírito. Ora, vocês são o corpo de Cristo e são membros dele, cada um no seu lugar.  Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres… A seguir vêm os dons dos milagres, das curas, da assistência, da direção e o dom de falar em línguas. Por acaso, são todos apóstolos? Todos profetas? Todos mestres? Todos realizam milagres? Têm todos o dom de curar? Todos falam línguas? Todos as interpretam?” (1Cor 12,12-14.27-31).

Do princípio vital de unidade, decorrem todos os valores, meios, recursos e instrumentos para a vida da Igreja: a comunhão eclesial, a obediência hierárquica (ao papa, bispos e padres), a fidelidade doutrinária, a participação na vida eclesial, a missão batismal, a vida sacramental.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a Igreja é una, santa, católica, apostólica.

A Igreja é una: tem um só Senhor, confessa uma só fé, nasce de um só Batismo, forma um só Corpo, vivificado por um só Espírito, em vista de uma única esperança, no fim da qual serão superadas todas as divisões (nº 866).

A Igreja é santa: o Deus Santíssimo é seu autor; Cristo, seu esposo, se entregou por ela para santificá-la; o Espírito de santidade a vivifica. Embora congregue pecadores, ela é “imaculada (feita) de maculados” (“ex maculatis immaculata”). Nos santos brilha a santidade da Igreja; em Maria esta já é a toda santa (nº 867).

A Igreja é católica: anuncia a totalidade da fé; traz em si e administra a plenitude dos meios de salvação; é enviada a todos os povos; dirige-se a todos os homens; abarca todos os tempos; “ela é, por sua própria natureza, missionária” (nº 868).

A Igreja é apostólica: está construída sobre fundamentos duradouros: “Os doze Apóstolos do Cordeiro”; ela é indestrutível; é infalivelmente mantida na verdade: Cristo a governa por meio de Pedro e dos demais apóstolos, presentes em seus sucessores, o Papa e o colégio dos Bispos (nº 869).

A unidade da Igreja deve ser vista nos seus membros. Por isso, vale a pena observar o alerta de São Paulo: “Saiba, porém, que nos últimos dias haverá momentos difíceis. Os homens serão egoístas, gananciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus; manterão aparências de piedade, mas negarão a sua força interior. Evite essas pessoas! Quanto a você, permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo; você sabe de quem o aprendeu. Desde a infância você conhece as Sagradas Escrituras; elas têm o poder de lhe comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra” (2Tm 3,1-5.14-17; 4,2-5).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

    Que as aparências enganam não é preciso dizer. Mas que são construídas com sabedoria, sim. Comparo-as a uma obra de arte, uma embalagem de um produto, um rótulo. Quanto mais atraente, melhor. Não vejo nisso maledicência alguma, pois que esta é sua função, ou seja: chamar a atenção para a preciosidade ou qualidade do conteúdo que ostenta.

Aqui é que são elas! Será o conteúdo equivalente à beleza do rótulo, da embalagem? Pão dos anjos ou fermento dos fariseus? A fé aparente é uma embalagem sem conteúdo, mercadoria dos tolos. Essa é a que mais se expõe nas prateleiras de uma campanha política ou comércio da simpatia popular, por exemplo. Bela por fora, bolorenta na sua triste realidade. Contra ela não existe lei de proteção aos consumidores, senão aquela que vem do alto. Mas até lá, pobre de quem compra gato por lebre.

Deixemos, por enquanto, esse parecer negativo, para realçar a beleza da embalagem genuína da fé. É como um tesouro impossível de se esconder, um produto de valor inquestionável. Ora, certo homem um dia encontrou esse precioso tesouro, na forma de imensa rocha de ouro. (Se bem que ouro seja metal, mas vamos lá!). Diante dela, começou a tecer planos, dando adeus à vida de privações de até então. Começou a imaginar um futuro. Teria, enfim, seus sonhos realizados, a escola para os filhos, a mesa farta, o respeito dos vizinhos, o carro na garagem, tudo, tudo. Passou horas a imaginar a felicidade que aquele tesouro lhe proporcionaria. Já se sentia rico.

Aos poucos, foi caindo na realidade. Como transportar aquela descoberta, sem que ninguém a visse? Era muito pesada para um transporte solitário. Ademais, se saísse dali para buscar ajuda outro viajante poderia se apossar de seu tesouro. Se pedisse ajuda, teria que dividi-lo com seus auxiliares. Frente ao dilema, ficou por ali – dias seguidos – em vigília constante. Como usufruir daquela descoberta? Não tinha consigo sequer uma ferramenta que o pudesse ajudar.

Convenceu-se, afinal, de que sozinho nunca levaria para casa a enorme rocha de ouro puro. Uma ideia surgiu então: cobrir com barro sua preciosa descoberta. E assim fez, criando uma embalagem bem imprópria à beleza do tesouro descoberto. Perfeito! Assim, bem disfarçado, ninguém o descobriria, enquanto buscasse meios de transportá-lo e apossar-se em definitivo daquela riqueza.

Tão perfeitamente, porém, camuflou sua descoberta que, ao voltar dias depois, não mais a distinguiu dentre as pedras que povoavam aquele sítio. Tudo se resumiu a um sonho, transformado agora num pesadelo. Por não partilhar sua preciosa descoberta, voltou à miséria de sempre, sem eira nem beira. A avareza e o egoísmo prevaleceram como inseparáveis embalagens de um sonho belo, mas jamais saboreado, realizado.

Essa é a fé aparente. Uma experiência passageira, desconcertante, ilusória, que não leva a nada. A fé verdadeira é um tesouro visível a todos. Não se esconde tamanha preciosidade na vida. Muito menos com o barro da nossa insignificância. O brilho da fé vai além das aparências que forjamos em nossas vidas, das máscaras que vestimos, do barro que nos cobre. A fé é translúcida, contagiante, irremediavelmente solidária com todos que nos cercam, fazem parte dessa descoberta. Um produto sem embalagem artificial, mas brilhante em sua própria luminosidade. A embalagem da fé autêntica é transparente como o olhar do cristão sobre o mundo, as pessoas. Um olhar de compromisso, de solidariedade e amor. “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo teu corpo será iluminado” (Mt 6,22). Se tua fé é genuína, teu olhar há de denunciar o tesouro que possuís dentro de ti. Não tem como escondê-lo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




Diocese de Assis

DIÁRIO DE ASSISCOLUNA SEMANAL DIOCESE

 

 

DAR PREFERÊNCIA… A CRISTO!

 

Dar preferência é, antes de tudo, um exercício de liberdade que coloca uma pessoa em posição de escolha frente a tudo nesse mundo. Diversos são os elementos e critérios que levam alguém a preferir isso e não aquilo; esse e não aquele… De um modo geral, a subjetividade humana, marcada pelo ético (bom), estético (belo), religioso (moral), transcendente (divino), cultural (valores)… identifica e elege “os objetos” de sua preferência.

Dar preferência é, não só um direito, mas, uma descoberta, uma eleição, uma consagração, um poder que emerge do indivíduo, frente à possibilidade de escolha.

O comerciário, para cativar o cliente que comprou em seu estabelecimento ou usou os seus serviços, e não outro, faz questão de estampar em suas embalagens ou placas, o indispensável: “Obrigado pela preferência!”

O legislador de trânsito, para disciplinar o fluxo de veículos de uma via de pouco movimento para uma via mais densa, indica em placa: “Dê a preferência!”

No Evangelho de Lucas, o Cristo decreta: “Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).

O que, afinal, significa isso? O que o Cristo quer dizer?

Exatamente o que está expresso no versículo: dar preferência a ele em relação a tudo; concretamente em relação ao seu pai, à mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida. Só assim alguém reúne condições para ser seu discípulo!

Por que preferir Jesus?

Porque, preferir Jesus não significa excluir, mas, priorizar; pôr em destaque; pôr em primeiro lugar: “Ouça, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor! E ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força”  (Mc 22,29b-30).

Porque preferir Jesus é realizar-se, verdadeiramente, no amor. Ora, quem não experimenta o amor de Deus; quem não se deixa amar, não amará de verdade o pai, a mãe, a mulher, os filhos, os irmãos, as irmãs, e, nem mesmo a sua própria vida! “Com efeito, Moisés ordenou: ‘Honre seu pai e sua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer’. Mas vocês ensinam que é lícito a alguém dizer a seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que vocês poderiam receber de mim é Corbã, isto é, consagrado a Deus’. E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe. Assim vocês esvaziam a Palavra de Deus com a tradição que vocês transmitem” (Mc 7,10-13).

Porque preferir Jesus é a condição para ser seu discípulo. De fato, ser discípulo é “ter os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5). É assumir a cruz: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). É arriscar tudo: “Pedro começou a dizer a Jesus: ‘Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.’ Jesus respondeu: ‘Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, por causa de mim e da Boa Notícia, vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mãe, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna.’” (Mc 10,28-31).

Porque preferir Jesus é dar sentido à vida: “Veja: hoje eu estou colocando diante de você a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Se você obedecer aos mandamentos de Javé seu Deus, você viverá e se multiplicará. Todavia, se o seu coração se desviar e você não obedecer, é certo que vocês perecerão! Hoje eu tomo o céu e a terra como testemunhas contra vocês: eu lhe propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes” (Dt 30,15-19).

Porque preferir Jesus é ser salvo: “Vou salvar quem quer ser salvo” (Sl 12,6).

Você já pensou por que preferir Jesus?

Não pense em vantagens, como pensam os utilitaristas de Deus. Pense numa vida completa e realizada: “Em Cristo vocês têm tudo de modo pleno” (Cl 2,10).

Dê preferência ao Cristo!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS