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Diocese de Assis

A afirmação básica do Evangelho é a valorização incondicional da pessoa! Por isso, as opções de Jesus estão, sempre, em conflito com os interesses sociais, políticos, econômicos e religiosos de sua época e da nossa.

Vivemos num tempo marcado por alguns traços de desumanidade, não obstante as dores e sofrimentos presente no mundo todo: materialismo, indiferença, insensibilidade, violência, perversão moral, agressões múltiplas, rotulações, mentiras

do materialismo, da rotulação e da indiferença, da insensibilidade.

Apesar de viver neste mundo e neste tempo, precisamos aprender a romper com as obviedades deste nosso mundo e deste nosso tempo. Se queremos dar o “corte” temos que avançar para águas mais profundas, conforme a dica do Evangelho.

“Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: ‘Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.’ Simão respondeu: ‘Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.’ Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se arrebentavam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem” (Lc 5,1-11).

É preciso se abrir à oportunidade de mudança; acolher os motivos de alegria; dar razão à esperança; permitir a hora da parada e entender o tempo do silêncio. Isso significa, conforme o Evangelho: dar atenção à Palavra; tomar decisão pessoal; fugir do consenso; sair da obviedade; renunciar o rótulo. O evangelho é construção de fé a partir do Mistério, por isso é, ainda, tarefa de cada um de nós, hoje.

Quando a oportunidade da mudança se abre e não mudamos, a vida se torna alvo da mais dura descrença e imobilismo, roubando a coragem de um coração que fica relegado à sombra da desconfiança e do medo. Mudar é sadio porque significa crescimento, desinstalação, descoberta e avanço.

Quando o motivo de alegria acontece e não nos alegramos a vida se converte em abismo intransponível ou, quem sabe, em poço da ingratidão escavado pelo racionalismo mórbido, pela insensibilidade e pela indiferença. A alegria do coração é vida para o ser humano porque possibilita, a qualquer pessoa, manter-se de cabeça erguida e contente, mesmo em meio às contradições, incertezas e males.

Quando a razão da esperança ilumina e não ‘esperançamos’, a vida, facilmente ou fatalmente perde o brilho, fica apagada, perde o sentido e se desespera. A esperança é o carro chefe da liberdade. É ela quem permite aos que põem os pés no caminho, olhar para frente, recuperar o entusiasmo, desabrochar para a confiança e perseverar na fé. Ter esperança é aprender o diálogo na tensão passado-presente-futuro.

Quando a hora de parar desperta e não paramos, a vida se torna um cansaço permanente, roubando a energia de um corpo que realiza cada vez menos, interage cada vez menos e é empurrado, cada vez mais, para compensações de momento para aliviar o estresse, o cansaço e os pesos. Compensação não vale a pena; não é nada bom; não interessa; desumaniza. Bom mesmo é aceitar o limite do corpo e permitir-se parar.

Quando o tempo do silêncio e não silenciamos, a vida fica ruidosa e incomunicável, desgastando qualquer palavra e tirando a força dos ouvidos. Silêncio não é emudecimento; não é deixar de falar. Silêncio é, antes de tudo, saber falar, saber calar, saber escutar. Tal atitude requer o encontro com a Palavra (de Deus) na sua pureza. Porque, aliás, a voz de Deus é o Silêncio.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Aquele pobre coitado, endemoniado e assustado com o confronto da presença de Deus, ali, naquele Templo de Cafarnaum, representa, e bem, nossa humanidade hoje. O confronto com a verdade afasta as legiões demoníacas que sempre buscaram nossa posse, nossas almas. “Que queres de mim, ó Filho de Deus”? Ou, como muitos hoje se perguntam: Onde estás, Senhor, que nos permite tanta dor, tanto sofrimento? Essas são as questões de vida ou morte dos que buscam novos caminhos, novos rumos para suas vidas, mas ainda se sentem presos diante da realidade dos males que nos afligem, da possessão demoníaca que nos afasta das graças e bênçãos celestes.

De que nos adiantou tanto progresso, ciência, tecnologia, se deles não podemos usufruir com segurança, satisfação, prazer? Por que tantas contradições diante de perspectivas materialistas capazes de oferecer ao ser humano tudo do bom e do melhor que essa vida nos oferece? Progresso em retrocesso?  Ou contundente prova de que nosso sucesso material nada significa sem a paz espiritual, sem a vitória da vida sobre a morte?

Meu parceiro e companheiro nesta tarefa introspectiva, nessas reflexões além das fronteiras materiais, o Fonseca, nos oferece algumas pistas. Diz em um e-mail bem oportuno: “A causa da morte do capitalismo é o seu irrefreável sucesso”. Como assim, meu amigo? Se há sucesso não pode existir fracasso, diz nossa lógica terrena. Mas aqui está nosso engano materialista. Ele mesmo vai adiante, citando alguns exemplos. “Quando uma única empresa como a Apple tem capital maior que o PIB do Brasil, alguma coisa irrefreada está acontecendo”. Quando não podemos usufruir das riquezas e bens que produzimos, de fato, algo de podre cheira mal no reinado de Narizinho. Ou seja, plantamos, mas não podemos colher. “Que queres de mim, Senhor”, ousamos ainda questionar.

Então Fonseca mostra a cobra: “O vírus não brinca em serviço… ele mata impiedosamente mil pessoas por dia (média atual no Brasil). Quase vinte ônibus com 50 pessoas caindo nas ribanceiras de nossas estradas, todos os dias… É assustador”. Mas é real. Diante do caos e das vidas que se vão alienatoriamente, sem privilégios ou escolhas de classes sociais, sem separações religiosas ou políticas, muitos se refugiam e se negam a compreender o que está bem evidente: neste mundo nada somos.  Dele só levaremos nosso progresso espiritual, nosso aprendizado constante e consolador da preciosidade que temos para Deus, da vida plena que Ele nos oferece através de seu Filho. Precisamos exorcizar nossas almas, purificar-nos das contaminações materialistas, que nos prendem à realidade meramente transitória. Precisamos nos libertar das possessões do progresso individual e olhar um pouco mais para o progresso coletivo, a responsabilidade social, o cuidado com o outro, a fraternidade mesmo em dias de isolamento.

Talvez seja esse o momento mais apropriado para expulsarmos de nossas vidas o demônio da prepotência, aquele mal maior que nos isola num individualismo sem futuro. A humanidade sofre. O isolamento nos divide. A segregação social evidencia nossa fraqueza, o nada que somos diante do tudo que aqui temos. O vírus não brinca… Mas o Demônio também. Ele quer nossa derrota. Então, numa inusitada ação de profilaxia e purificação total, eis que surge a figura de Jesus Cristo, a promover sua libertação plena, sua cura total que muitos ainda rejeitam. “Que queres de mim”? Essa é a pergunta crucial que devemos nos fazer hoje. Sua resposta vai depender de nossa disponibilidade para vencer os desafios que hoje se apossam de nossas existências. Libertar-nos dessas amarras, expulsar de nossas vidas os demônios da incerteza, da falta de fé… eis o primeiro passo para a imunidade que buscamos. Imunidade do corpo e da alma.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Todos nós somos, sempre, movidos por alguma coisa que atua, direta ou indiretamente sobre nós. Este ‘alguma coisa’ pode ser uma força, uma energia, um sonho, um ideal, uma ideologia, uma idéia, uma teoria, um desejo, uma vontade, um pensamento, um objetivo, uma palavra, uma convicção, uma obsessão, uma esperança, uma luta, uma descoberta, uma alegria, uma tristeza, um motivo, uma meta, uma influência, uma crença, uma fé…

Nem sempre nos damos conta de que algo nos move. Nem sempre nos perguntamos sobre aquilo que nos move. O fato é que todos nós somos movidos por alguma coisa e, nem sempre é por alguma coisa boa, capaz de edificar, realizar, fazer crescer e tornar mais gente.

Permita-se fazer essas perguntas: o que me move? Que força me arrasta? Sob que inspiração eu vivo? Qual é a minha maior energia? Que apelos ganharam meu coração? Com que espírito eu faço as coisas? Quando não nos perguntamos sobre o que nos move, nos deixamos arrastar, quem sabe, para longe de um processo humano consciente e maduro. O maior espaço de florescimento para a vida é o nosso interior mas, não nos damos conta disso e vivemos na superficialidade de tudo, aprisionados fora de nós mesmos. E essa é, certamente, a maior tragédia do ser humano.

A redescoberta do interior significa, também, um novo olhar e discernimento para aquilo que vai nos mover porque, afinal de contas, trata-se da nossa própria integridade e dinamismo humano. A Sagrada escritura fala, insistentemente, desse dinamismo humano, como movimento interior incessante.

Uma primeira fonte para o dinamismo interior é o amor próprio: “Quem se priva para acumular, ajunta para os outros. Serão outros que desfrutarão seus bens. Quem é mau para si mesmo, com quem será bom? Não aproveita nem mesmo os seus próprios bens. Ninguém é pior do que aquele que maltrata a si mesmo. Essa é a recompensa de sua própria maldade. Não se prive de um dia feliz, nem deixe escapar um desejo legítimo. Por acaso você não vai deixar para outros o fruto de suas fadigas, e não vai ficar para os herdeiros o fruto de seus sacrifícios? Dê e receba, e divirta-se, porque no mundo dos mortos não existe alegria” (Eclo 14,4-6.14-16).

Uma segunda fonte para o dinamismo interior é a vida comunitária: “De fato, o corpo é um só, mas tem muitos membros; e no entanto, apesar de serem muitos, todos os membros do corpo formam um só corpo. Assim acontece também com Cristo. Pois todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou gregos, quer escravos ou livres. E todos bebemos de um só Espírito. Deus é quem dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade.” (1Cor 12,12-21.27-30).

Uma terceira fonte para o dinamismo interior é a Palavra de Deus: “Na praça diante da porta das Águas, desde o amanhecer até o meio-dia, Esdras leu o livro para todos os homens e mulheres e para todos os que tinham o uso da razão. Todo o povo seguia com atenção a leitura do livro da Lei. Liam o livro da Lei de Deus, traduzindo-o e dando explicações, para que o povo entendesse a leitura. Vendo que as pessoas choravam ao escutar a leitura da Lei, disseram: ‘Hoje é dia consagrado a Javé, Deus de vocês! Não fiquem tristes e parem de chorar!’ Em seguida, Esdras falou: ‘Ninguém fique triste, pois a alegria de Javé é a força de vocês’” (Ne 8,2-3.5-6.8-10).

Uma quarta fonte para o dinamismo interior é a vida segundo o Espírito: “Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito(…). Conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor’” (Lc 1,1-4; 4,14-21).

Escolha o que, de verdade, deve mover a sua vida! Comece pela afirmação de Jesus: ‘o Espírito do Senhor está sobre mim…’

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Não é preciso dizer que estamos vivendo dias de pânico. A cada dia, em cada esquina, a cada passo dado, recebo e vejo notícias negativas. De repente, a normalidade serena de uma vida de progresso e bem estar afundou num caos profundo. Já não vejo o outro com os olhos da alegria de um encontro, mas com a cautela necessária do distanciamento e mesmo da desconfiança. O ombro amigo não mais existe ou, se existe, não posso usá-lo. O abraço, o afago, o carinho… Casais enamorados criam novos gestuais e etiquetas mais apropriadas para declarações de amor. As máscaras dificultam o “eu te amo”. O beijo desperta preocupações posteriores; perdeu-se a naturalidade de um sentimento puro, autêntico, santificador. De repente, já não mais nos conhecemos!

Seria isso, realmente? Ou estamos apenas vivendo um momento de purificação, de alerta, de redescobrimento dos valores que sepultamos com nossa prepotência, nossa indiferença espiritual? Eis que não mais nos parecemos como criaturas divinas, mas filhos da sabedoria estritamente humana. A lógica terrena parece maior do que os mistérios celestes. Então Jesus, Ele mesmo, faz-nos a pergunta e dá-nos uma resposta: “Com quem eu vou comparar os homens desta geração? Com quem se parecem eles? São como crianças que se sentam nas praças e se dirigem aos colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta e vocês não dançaram; cantamos música, e vocês não choraram’ (Lc 7,31-32)”. É ou não um retrato perfeito do comportamento infantil que estamos presenciando nesses dias pandêmicos?

Estamos nos comportando como crianças. Algumas, indiferentes ao sofrimento, caos e perigos de contágios ou às muitas mortes que rondam suas vidas, ainda cantam e dançam em suas praças, bares e clubes da vida, como se nada disso estivesse acontecendo. Enquanto outros choram perdas e danos irreversíveis, a ironia e indiferença persiste entre grande maioria. Isso não é lá comigo! Não pertenço ao grupo de risco! Não mesmo?… Nesse barco, afundaremos juntos, se prevenções e precauções não forem melhor repensadas, reprogramadas. Uma geração levada a provar seus limites e testar sua força de vontade ou mesmo sua imunidade espiritual – no caso a graça da fé e do amor ao próximo – não pode se comportar de forma tão negligente. A fé é nosso maior tesouro, mesmo quando ainda latente em nossa infantilidade espiritual, pois que dela provêm toda força necessária para transpormos qualquer montanha. Mesmo que a realidade nos mostre o contrário. Ter fé, neste momento, é agarrar-se com força e coragem ao salva-vidas lançado pelo Senhor de tudo, aquele que nos vê como sua imagem e semelhança.

Neste momento, não sejamos uma geração café com leite, que se contenta com pouco, com seu sincretismo, com sua mistura de sentimentos e religiosidade barata, sem raízes de autenticidade. A fé pura e genuína remove barreiras, vence montanhas! A fé infantil não vai além da dança e da música; enquanto o barco afunda, a orquestra toca. A história se repete: “Nem Deus afunda esse navio”! Não mesmo? É bom não pagar pra ver.

Vigiai e orai, nos diz o Mestre. Porque, assim como as autoridades religiosas do tempo de Jesus se comportaram de maneira infantil, indiferentes ao momento que viviam, assim também muitos dos que se dizem cristãos, nos dias de hoje, se comportam. Nossa infantilidade não está apenas na indiferença, mas na negligência de ações. Ações que nos conduzem, obrigatoriamente, à oração, a vigília constante. Não é momento de silêncio, de omissão. Conclamemos nosso povo a vigiar mais, orar mais…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

Deus criou o homem e a mulher à sua imagem: “Vós os fizestes pouco menores do que os anjos” (Sl 8,6; Hb 2,7).  Deu-lhes a imortalidade, a verdade, a justiça…

O Concílio Vaticano II nos ensina:

“A razão principal da dignidade humana consiste na vocação do homem para a comunhão com Deus.  Já desde a sua origem, o homem é convidado para o diálogo com Deus. Pois o homem, se existe, é somente porque Deus o criou, e isto por amor. Por amor é sempre conservado. E não vive plenamente segundo a verdade, a não ser que reconheça livremente aquele amor e se entregue ao seu Criador”  (GS 19).

Mas o homem, em sua liberdade, pode refutar a grandeza que lhe foi conferida pelo desígnio de Deus; pode tentar realizar-se de acordo com um desígnio próprio, diferente do futuro que lhe é prometido por Deus; pode procurar garantir seu próprio futuro, como o fazem as nações pagãs, mediante a busca da riqueza, o apoio nas pessoas, a aliança com as potências estrangeiras, a posse das coisas sagradas. Deste modo ele cai em suas misérias. Não espera mais em Deus, mas segue as falsas esperanças

Deus, especialmente por meio dos profetas, não cessa de chamar todos à verdadeira esperança, que é Jesus, o único Salvador.

Em Jesus foi-nos dada a luz da verdade, a remissão dos pecados, a restauração da liberdade diante das forças do mal, uma nova capacidade de amar, a participação na natureza divina, a vitória sobre a morte por meio da ressurreição da carne, a vida eterna.

Jesus vem ao encontro da miséria humana!

Salvando-nos, fez de seu evangelho e de sua graça o princípio renovador do mundo e, sobretudo, do homem, em todos os âmbitos da vida deste: público,cultural, social, político e econômico.

Instaurar todas as coisas em Cristo para se obter a vida plena. Eis a chave e o desafio que corresponde ao homem que procura uma vida nova em Cristo.

Diante do Cristo, nosso Deus e nosso tudo, vale a pena investir empenhos e iniciativas para ser, junto com ele, fonte de esperança no jardim do mundo como escreve o poeta francês Charles Péguy:

“É de se perguntar: como é possível que esta fonte de esperança jorre eternamente; eternamente jovem, fresca, viva… Deus disse: brava gente, isto não é, pois, tão difícil… Se fosse com água pura, que ela tivesse desejado criar fontes puras, não teria nunca encontrado o suficiente em toda a minha criação. Mas, é justamente com as águas ruins que se cria suas fontes de água pura. E é por isso que nunca lhe faltam. Mas, é também por isso que ela é a Esperança… E é o mais belo segredo que existe no jardim do mundo.”

Deus é amor! Por isso, nós acreditamos no amor!

O amor autêntico não é racional, não mede, não ergue barreiras, não calcula, não recorda as ofensas recebidas e não impõe condições.

Jesus age sempre por amor.  Da convivência da Trindade, ele nos trouxe uma mor imenso, infinito, divino, um amor que chega, como afirmam os santos padres da Igreja, até à loucura e coloca em crise os nosso padrões humanos.

Ao meditar sobre o amor. Especificamente sobre este amor de Cristo, o nosso coração se enche de felicidade e de paz. Quem dera, no fim de nossas vidas, Jesus nos receber como os menores dos trabalhadores de sua vinha. Cantaríamos, então, a sua misericórdia por toda a eternidade, perenemente admirados com as maravilhas que ele reserva para os seus eleitos.

Nada há de mais importante neste mundo que possa obscurecer a força de presença de Deus e, cuja força, se mostra não pela ostentação, mas, pela oblação.  Isto é, de fato, o poder maior, a beleza do serviço redentor e a limpidez da fonte das graças.

Derrama sobre nós o teu Espírito e renova a face da terra!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey e Pateta; quem não os conhece? Talvez não exista no mundo uma trupe de personagens imaginários mais conhecida que aqueles gestados na mente fértil de Walt Disney, tão primorosamente concebidos e ardilosamente gerados que é impossível alterar, acrescentar ou subtrair qualquer das suas características individuais. Diria serem eles personalidades imutáveis, porém espantosamente fictícios.

Mas a ficção é sombra da realidade. Sempre foi. Tio Patinhas continua se achando dono do mundo, mesmo quando travestido ou fantasiado com o pijama ridículo e de mau agouro que esconde a nudez do Tio Sam. Pato Donald e seu interminável quá-quá-quá, ainda zomba de ingenuidade da maioria que o cerca, sem se dar conta da própria e ridícula ingenuidade. Diria que nunca se deu bem em suas artimanhas de trapaças e oportunismo aguçado, que usa para manter seu status quo. Mickey, oh Mickey, ratazana com práticas detetivescas, – que pensa ser vice – sempre às turras com um universo em conflito, mas que não encontra coragem sequer para despojar sua eterna namorada, seu amor de fachada, a bela e frágil Minie. Ah, quantas destas fazem parte do nosso universo, sonhadoras, encantadas com promessas fúteis, iludidas… Mas, e o Pateta e sua incansável busca de soluções às avessas, que terminam sempre em decepção? Pobre espelho do homem simples, do povo iludido, dos que o sistema faz questão de usar e sugar ao máximo, mas quando seu uso se torna prejudicial, atrapalha ou ameaça o império do poderoso Patinhas, melhor mesmo é apagá-lo dessa história, jogá-lo às feras do mundo cão.

Ah, meu outrora adorável Pato Donald! Quantas aventuras vivemos juntos. Quantos sonhos, planos perfeitos, projetos meticulosamente engendrados, muitos dos quais com avais provisórios e fundos de investimentos momentâneos que, com muita lábia, surrupiamos do caixa forte de nosso Tio. Enquanto lhe dávamos sustentação ou mantínhamos o lastro do seu poder – mesmo com eventuais prejuízos – éramos úteis à sua engrenagem de interesses. Bastou sentir-se solidificado em sua cátedra, pronto! Lá se iam os recursos (migalhas na verdade) com os quais nos acenou durante tantas e tantas campanhas, delongas fúteis, promessas irrealizáveis. Isso tudo só nos dividia em categorias distintas: os patos e os patetas! Patos aqueles que zombaram dos patetas e que hoje recorrem aos ratos (os Mickeys e suas investigações intermináveis, que detectam muitos desvios oportunistas, mas que não avançam para não porem em risco seus amores passados, suas juras de fidelidade eterna) única e simplesmente para não alterarem suas zonas de conforto.

Então Tio Sam, digo Tio Patinhas esbraveja, bate o pé, atira a cartola e sorri para seu inimigo maior, o também poderoso Patacôncio. O velho tio ainda conserva ares de cautela com seu tesouro, conquanto seu arquirrival não tem preconceito algum, mesmo que o adjetivem como perdulário, inconsequente. Enquanto o velho teima em suas posições antagônicas, sua ranhetice de menino mimado, que não se desfaz de velhos brinquedos da infância abarrotada de privilégios, o rival estrategista é capaz de abrir seus portões e convocar novos patos e patetas para seu exército de arrivistas. Enquanto um repele, afasta, reprime, o outro acolhe, cura feridas, faz promessas.

O que me preocupa é que essa guerra de macacos doidos termine onde não começou, bem longe da Disneylândia ou no Parque da Vitória, em Moscou.(Talvez em nosso quintal). Em tempo: neste memorial de guerra não existem montanhas russas. Nem trupe de palhaços, só sequazes.

PS: Publicado originalmente em fevereiro de 2017. Um mandato depois, recupero esse texto para simples e eventual conferência… (Rss)

WAGNER PEDRO MENEZES




Diocese de Assis

Cada vez mais estamos nos distanciando do fundamental.

O risco é de uma vida sem sentido, sem rumo e sem direção!

Não faltam caminhos e mestres para satisfazer a busca frenética, de uma multidão de gente, que tenta satisfazer, a qualquer custo, o prazer religioso e espiritual. Esta busca de prazer é do tipo insaciável porque, tem a ver com a satisfação imediata de certas vontades, desejos e aspirações, nem sempre iluminadas, pelo desejo de conversão e seguimento que, é a base da busca de quem se deixa conduzir por aquele a quem se busca.

Quem busca, tão somente, o prazer religioso e espiritual, torna-se um consumidor inveterado de ‘produtos sobrenaturais’, a pronta entrega, provenientes de gurus, conselheiros, guias, consultores, influenciadores etc. Algumas vezes acontece com o dispêndio financeiro, mas, o tempo todo com o custo da alienação da consciência, do desejo e da vontade.

Com a facilidade de acesso ao acervo planetário de informações, conteúdos, ideias, doutrinas, jargões, novidades, criações, verdades e, inclusive, fake news, através da internet e dos seus diversos meios e recursos para fazer chegar em qualquer lugar, as pessoas estão se enchendo, à exaustão. Mas, na verdade, a satisfação permanece momentânea, sustentando um viciante sistema de busca circular que, não impulsiona para frente; que não apresenta horizonte; que não liberta e nem faz crescer, mas faz girar em torno de si mesmo e das coisas conseguidas para obter o prazer.

Não é sem razão que os fanáticos religiosos expandiram a forma de expressão do seu fanatismo – com propensão à insanidade – também, para dentro da política, da economia, da arte, da cultura, da educação… criando polarizações macabras, sustentadas pelo ódio, pelo terrorismo digital, pela violência, pela execração do diferente, pela sofisticação da barbárie…

O essencial humano é ser humano, mas com a desumana tendência das novas vertentes de afirmação e autoafirmação, que se servem da manipulação do divino e da religião, além da maliciosa desconstrução do edifício simbólico histórico, que serve de material para a arquitetura do sentido da vida, se não dermos um passo atrás, de volta ao começo, corremos o risco de uma “guerra de todos contra todos”. Porque um assombroso vozerio está tomando conta dos nossos espaços de convivência, com um flagrante ataque ao diálogo, ao respeito e à dignidade.

A volta ao começo significa relançar a vida para um ponto de partida que seja, para cada indivíduo, em particular, e, para todos, em geral, a busca de sentido que inspira, motiva, orienta, mas, também, faz viver e conviver.

Para empreender a volta deve-se fazer a pergunta fundamental: “o que é que vocês estão procurando?” Esta pergunta está no bojo de uma das buscas mais importantes, dos discípulos de João Batista, no encontro com Jesus, o Mestre, e serve de referência para quem quer ver a vida iluminada com um sentido.

“No dia seguinte, João aí estava de novo, com dois discípulos. Vendo Jesus que ia passando, apontou: “Eis aí o Cordeiro de Deus.” Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram a Jesus. Jesus virou-se para trás, e vendo que o seguiam, perguntou: “O que é que vocês estão procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?” Jesus respondeu: “Venham, e vocês verão.” Então eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com ele naquele mesmo dia. Eram mais ou menos quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram a Jesus. Ele encontrou primeiro o seu próprio irmão Simão, e lhe disse: “Nós encontramos o Messias (que quer dizer Cristo).” Então André apresentou Simão a Jesus. Jesus olhou bem para Simão e disse: “Você é Simão, o filho de João. Você vai se chamar Cefas (que quer dizer Pedra)” (Jo 1,35-42).

O sentido da vida está não alegria do encontro com Jesus e na conversão que sustenta o seguimento de suas pegadas.

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

            Máscaras existem de todas as formas, cores e para todo gosto. Máscaras usamos, às vezes até inconscientemente. Difícil mesmo é encontrar alguém de cara limpa, cabeça erguida e sorriso meigo, sem as marcas do dia a dia, dos desafios que enfrenta para se manter vivo, sobreviver a tudo e a todos. As rugas são marcas das rusgas que a vida nos apresenta cotidianamente. Dessas ninguém escapa.

Nem por isso vamos entregar os pontos e vestir a carapuça que nos cabe, sem ao menos ampliar nossa visão para as razões desse embate cotidiano, esse encontro constante com as arestas da nossa própria fragilidade. Ou seja: aqui estamos para provar nossa capacidade de ação, buscando aprimorar nossos conhecimentos, ampliar nossas conquistas e valorizar nossas relações pessoais. A religião diz ser esta a luta do homem consigo mesmo, para melhor compreensão de sua verdade e maior distinção entre o bem e o mal, o que é certo ou errado, o que lhe oferece paz de espírito e o que contraria sua harmonia espiritual ou dificulta suas relações interpessoais. Cara limpa, rosto sem máscaras, espírito sereno só é possível quando confrontamos nossos falsetes com a força interior que se debate dentro de nós, nossa alma.

Essa não usa máscaras. Nem subterfúgios, pois sua única e maior aspiração é se libertar um dia, gloriosa, vencedora, purificada, para tão somente contemplar, ao vivo, o rosto sereno e glorioso do seu Criador. Acontece que, fazendo uso crescente e habitual de nossas máscaras, acabamos por atrofiar e tornar quase impossível esse desejo de purificação que todo e qualquer ser humano tem dentro de si. Perdemos a possibilidade de nos assentarmos ao lado de Cristo na Ceia da Redenção, o banquete da glorificação do qual nos fala a fé cristã.

Nesta ceia cairão por terra nossas máscaras e apresentaremos a Deus nossa face verdadeira, real, sem subterfúgios. Será o confronto da nossa verdade com a Verdade de Deus. Único momento em que o Bem e o Mal medirão realmente forças para um veredicto final sobre o quadro que pintamos em vida. Pois toda vida é uma obra de arte; nós os artistas.

Construo essa ponte metafórica baseado na história que circunda um famoso quadro da arte humana: A Última Ceia, de Da Vinci. Dizem os historiadores que, ao pintar o rosto de Cristo, o artista buscou seu modelo nas faces dos transeuntes que cruzavam seu caminho. Foi longa sua busca, pois teria que ser um rosto sereno, sem máscaras, idealista, sonhador, intrépido, respeitoso, alegre e possuidor de tantas outras qualidades que emanam do rosto de Jesus. A jovialidade e autenticidade de um jovem altruísta e respeitado por todos, foi o que mais se aproximou do modelo que buscava. Serviu de inspiração para pintar o rosto do Mestre, síntese perfeita de todo Bem.

Mas o artista não conseguia concluir sua obra. Faltava-lhe agora um modelo para personificar o rosto de Judas, símbolo de todo Mal. Teria que ser alguém bem falso, medíocre, cujas rugas denunciassem de imediato a maldade alojada em seu coração. Três anos se passaram e, quando quase desistia de sua obra, eis que encontra o modelo: um andarilho torpe, dado aos vícios, aos furtos e à embriaguez, jogado nos becos como farrapo humano, rejeitado e odiado por todos. Por trocados, aceitou ser o modelo.

Diante do quadro, o andarilho se reconheceu no rosto de Cristo. Há três anos passados havia sido ele o modelo para o artista… Provou que o Bem e o Mal têm a mesma face. Essa é a lição: às vezes pensamos personificar a imagem de Cristo – e realmente a irradiamos – quando lançamos fora nossas máscaras. Mas isso não nos impede de traí-lo logo a seguir. O que nos consola é que podemos reverter esse processo sempre que um olhar mais atento para nossas fragilidades refletir em nós o rosto sereno de Cristo. Cuide-se e sorria, pois a misericórdia do Pai é maior.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Para quem faz a vida depender dos sonhos desse mundo, das esperanças desse mundo, das garantias desse mundo, da felicidade desse mundo, das riquezas desse mundo… de tudo desse mundo, um aviso: Cuidado! O mundo engana com suas promessas e seduções porque não abre, fecha; não dá, tira; não ensina, emburrece; não acrescenta, diminui; não liberta, aliena; não sacia, esgota.

Com isso não estou querendo dizer que nada presta no mundo ou que devêssemos criar um mundo à parte, dos bons e dos puros ou, quem sabe, viver numa bolha! Não! Não se trata disso. Nem tão pouco estou sustentando um discurso moralista, do certo e do errado ou maniqueísta, do bem e do mal. Não! Eu estou falando daquilo que sustenta e impulsiona a nossa vida. E isso é muito grave!

Afinal de contas, que convicções sustentam a sua vida? Que esperanças dirigem os seus passos? Que valores alimentam os seus sonhos? Que promessas estão lhe mantendo no caminho? Que alegria tem habitado seu coração?

No fundo, essas questões todas nos remetem à pergunta sobre o sentido da vida! Ora, você vive para que?

O fato é que não nos perguntamos sobre o sentido da vida! Por isso, qualquer coisa serve; qualquer lugar está bom; qualquer caminho está valendo; qualquer alegria basta… Somos cara sem rosto; cabeça sem miolo e corpo sem expressão. Carregamos sonhos que não são nossos; agitamos bandeiras que não são das nossas lutas; tomamos rumos que não são para os nossos passos.

Parece que somos as pessoas mais livres e realizadas porque fazemos o que queremos, quando queremos, como queremos, o quanto queremos e com quem queremos. Gabamo-nos de conquistas que não poderemos deixar para os nossos filhos, porque não são conquistas e não são nossas. Nós somos usados e só valemos quando usuais; se mantemos a estrutura do mundo em nossas costas.

Você já parou para pensar, seriamente, sobre o que, realmente, terá importância para você e que vai fazer parte de imediata seleção e prioridade? Você tem coragem de fazer rupturas, renúncias e escolhas ousadas? Você é feliz ou está conformado? Sabe o que quer ou está na onda? É livre ou apenas um cúmplice? Dá passos ou é, apenas, empurrado? Tem compromissos ou só algumas obrigações? Faz por convicção ou é marionete dos outros?

O que você quer da vida? A vida tem muito para quem quer viver: é desafio, ousadia, extravagância, inquietação e risco. A vida é densa de aberturas e não cabe nos fechamentos do mundo. Por isso, o sentido definitivo da vida, no mundo, é o céu se abrindo! Volte-se para a cena do Batismo de Jesus em Lc 3,15-16.21-22 “O povo estava esperando o Messias. E todos perguntavam a si mesmos se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: ‘Eu batizo vocês com água. Mas vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno nem sequer de desamarrar a correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo.’ Todo o povo foi batizado. Jesus, depois de batizado, estava rezando. Então o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado! Em ti encontro o meu agrado’.”

Ora, você é cristão, batizado, tem religião, tem fé, gosta das coisas da fé… por acaso você consegue ver a vida como quem tem diante de si o céu aberto, para o Espírito Santo? E, ainda mais, está disposto a viver como quem recebe da voz de Deus a declaração: “este é o meu Filho amado!”?

A ‘nova esperança’ do céu aberto e da voz de Deus já lhe pertence desde o batismo. Resgate-a para que sua vida tenha um verdadeiro sentido, apesar do mundo. “Não amem o mundo e nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo – os apetites baixos, os olhos insaciáveis, a arrogância do dinheiro – são coisas que não vêm do Pai, mas do mundo. E o mundo passa com seus desejos insaciáveis. Mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2,15-17).

Pense nisso! Faça novas escolhas! Seja feliz!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Quando muitas recordações se acumulam no decorrer de nossas existências, já é longa a estrada percorrida. Ano após ano, a experiência do passado parece-nos um baú de reminiscências, boas ou ruins, que se abre em nossas mentes com o peso da saudade ou a alegria de um momento bem vivido. Lembranças, quem não as têm?

Ano novo sempre nos proporciona a magia dessas recordações. Quando criança, juntava-me ao grupo de crianças alegres e esperançosas, para a coleta do simbólico “ano bom”, que poderia ser um doce, uma bala ou mirradas moedas. Contentávamos com pouco. Meu pai, dono de uma pequena fábrica de refrigerantes, abria as portas de sua indústria e distribuía guaraná às levas de crianças que se enfileiravam ordeiramente à espera de sua vez. Um pipoqueiro abarrotava seu carrinho com vistosas pipocas coloridas e as distribuía feliz da vida. Assim também agia um sorveteiro, cujos picolés de groselha, anis e abacaxi eram a festa da garotada. Depois, com sagrado respeito e sem excessos, retribuíamos aos adultos desejando prosperidade naquele ano e agradecendo com um “Deus lhe pague” sem muita percepção do que dizíamos.

Tempos felizes, aqueles! Sem traçar qualquer paralelo, olho para as crianças que hoje repetem essa tradição. Os sonhos, a inocência, o desejo de seus corações ingênuos continuam os mesmos. “Feliz Ano Novo, tio”! Quase não se percebe o desejo final: “Deus lhe pague”! Essa constatação é o que mais me preocupa e assusta. Será que nossas crianças perderam o referencial divino, a mística da gratidão?

Creio que não. A infância pura e despretensiosa é a mais inviolável guardiã do sagrado, do misterioso dom da vida que procede de Deus. Não a demonstram verbalmente, não por propósito, mas por falta de exemplos da parte dos adultos. A sociedade já não demonstra com clareza esse respeito místico, esse desejo simples e belo de gratidão Àquele que nos possibilitou vencer mais um ano. Se o desejo de hoje é apenas de prosperidade material, com esforço e mérito próprios, é fatal que se exclua Deus dessa história. A cada ano, o que vemos acontecer prepotentemente em nossa sociedade é o distanciamento humano da providência divina.

O pensamento típico do materialismo em excesso trilha uma diretriz perigosa: “Se eu não lutar, ninguém lutará por mim; se não o fizer, ninguém o fará; se não correr atrás, outros chegarão primeiro”. E assim por diante… Nem aquela máxima do “cada um pra si e Deus pra todos” vale mais. Por que então incluir Deus no mérito de nossas conquistas, quando o que conta é o mérito pessoal?

Lembro-me de fabula bem a propósito. Um pobre viajante atravessava um deserto. Em meio à travessia, encontrou-se com a caravana de um rico príncipe, dono de vasta fortuna, que naquela viajem se encontrava desprovido de alimentos. O príncipe, humildemente, pediu ao viajante um pedaço do seu pão. Mais por piedade, do que caridade, o pobre tirou pequena lasca do seu mirrado alimento e a estendeu ao príncipe.

Mais adiante, à sombra de um oásis, o viajante parou para se alimentar. Ao retirar o pão de sua sacola, com ele encontrou uma pequena pedra de ouro. Ouro puro! Percebeu então que aquela jóia tinha o exato tamanho da lasca de pão dada ao príncipe. Então se lamentou por não lhe ter oferecido o pão inteiro.

Eis nossa história. Ano vai, ano vem e muitos de nós, viajantes nessa terra, não nos damos conta de que Deus cruza nosso caminho a todo instante. Não só nos acompanha nessa travessia, como também nos pede um gesto de gratidão, um sinal de confiança em sua providência e amor. Ele que nos dá todas as riquezas da vida, que não nos deixa faltar o essencial e nos colocou nessa terra para merecermos a paga de sua generosidade. Porque “uma geração passa, outra vem; mas a terra subsiste” (Ecle 1,4). E Deus continua nos abençoando em proporção de nossos méritos e boas ações.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]