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O segundo capítulo da encíclica sobre a amizade e a fraternidade social, que desafia o mundo a experimentar “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo (56)” tem por base a mais enigmática das parábolas que o Mestre nos contou. A história do Bom Samaritano “é expressa de tal maneira que qualquer um de nós pode deixar-se interpelar por ela (id)”, independentemente das suas convicções religiosas, diz o Papa.

O desafio da mensagem está na conclusão do evangelista que a pormenorizou: “Vai e faz tu também o mesmo” (Lc 10, 25-37), depois da grande pergunta comum a qualquer ser humano: “Mestre, que hei de fazer para possuir a vida eterna”. Francisco nos lembra ser esta a perspectiva de fundo dos grandes dilemas existenciais e cita o sábio Hillel, cujo preceito está bem formulado em Mateus (7,12): “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas”. A história hebraica nos fornece esse apelo de fraternidade. “Como motivo para alargar o coração a fim de não excluir o estrangeiro, invoca-se a memória que o povo judeu conserva de ter vivido como estrangeiro no Egito (61)”. As cicatrizes do passado lembram suas dores e estas reascendem com desejos de vingança.

“Foi por alguma razão que, perante  tentação das primeiras comunidades cristãs criarem grupos fechados e isolados, São Paulo exortava os seus discípulos a ter caridade uns para com os outros ‘e para com todos’ (62)”, pois a fé cristã exige a abertura para o mundo, porque “ao amor não lhe interessa se o irmão ferido vem daqui ou dacolá”. Perder tempo com o decaído, o marginalizado, o ferido na estrada não é uma tarefa que agrada. Antes, “não queremos perder tempo por culpa dos problemas alheios (65)” e aí está uma história que se repete em qualquer sociedade, independentemente de sua fé. “Hoje, há cada vez mais feridos. A inclusão ou exclusão da pessoa que sofre na margem da estrada define todos os projetos econômicos, políticos, sociais e religiosos (69)”. Aqui Francisco coloca o dedo na ferida de todos nós. E sentencia: “Nos momentos de crise, a opção torna-se premente; poderíamos dizer que, neste momento, quem não é salteador e quem não passa ao largo, ou está ferido ou carrega aos ombros algum ferido (70)”.

Mas acontece que apenas um, representante de um povo estigmatizado e também sofredor, se dispôs a ajudar. “O paradoxo é que, às vezes, quantos dizem que não acreditam podem viver melhor a vontade de Deus do que os crentes (74)”. Eis nosso dilema. “Ao engano de que ‘tudo está mal’ corresponde o dito ‘ninguém o pode consertar’ (75)”. Isso é o que chamamos de politicagem dos acomodados. “Deixemos que outros continuem a pensar na política ou na economia para os seus jogos de poder. Alimentemos o que é bom, e coloquemo-nos ao serviço do bem (77)”. Aqui Francisco desafia o mundo a construir uma corrente de Amor. “Mas que não o façamos sozinhos, individualmente, pois “nós estamos chamados a convidar outros e a encontrar-nos num ‘nós’ mais forte do que a soma de pequenas individualidades (78)”.

“Jesus propôs esta parábola para responder a uma pergunta: ‘Quem é o meu próximo?’ (Lc 10,29). A palavra ‘próximo’ na sociedade do tempo de Jesus costumava indicar a pessoa que está mais vizinha, mais próxima. Um samaritano “não estava incluído entre o próximo a quem se deveria ajudar (80)” Essa atitude de exclusão social é o mal maior das sociedades que se dizem progressistas, dinâmicas, modernas. Até a comunidade cristã já agiu assim, quando se beneficiou do sistema escravocrata e “várias formas de violência” para impor a fé. Muitos religiosos ainda passam ao largo sem um “mea culpa” para “amar e acolher a todos (86)”

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Estamos às vésperas do dia de Finados. A instituição de um dia especial no ano para lembrar espiritualmente os finados ou almas, deve-se a uma iniciativa tomada pelos monges beneditinos, por volta do ano 1000.

O abade Santo Odilão, superior do mosteiro de Cluny, na França, deu ordem para que em todos os conventos filiados a esta Ordem se celebrasse um ofício pelos defuntos, na tarde do dia 1º de Novembro. Esta comemoração foi adotada pela autoridade da Igreja, de tal modo que, aos poucos, se tornou universal a dedicação de 2 de novembro à memória dos irmãos já falecidos.

Orações de sufrágio em favor dos mortos sempre foram praticadas na Igreja, desde os primeiros séculos. Nas catacumbas (túneis funerários) romanas , onde se sepultavam os cristãos, há inúmeras inscrições alusivas a preces que os defuntos solicitavam, em vida, dos irmãos na fé.

Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, ao falecer perto de Roma, enquanto viajava para a África, assim falava aos dois filhos que a acompanhavam: “Ponham meu corpo em qualquer lugar e não se preocupem mais. Só lhes peço que no altar de Deus se lembrem de mim onde quer que estejam.”

O Sentido Cristão. A instituição do “dia de finados”, corresponde a uma iniciativa de cunho religioso e se compõe dos elementos de fé que buscam uma compreensão, cada vez mais autêntica e profunda, da realidade da morte presente na vida humana. Isso significa a consagração de um dia para pensarmos na vida a partir da morte. Não como um castigo de Deus, nem como um fracasso e muito menos como uma derrota. Pelo contrário, como o resgate da pessoa humana, operado por Jesus Cristo, quando ressuscitou dos mortos. Ai se encontra o seu verdadeiro sentido cristão.

A Secularização. Há alguns anos podemos notar uma modificação no comportamento das pessoas em relação ao dia de Finados. A data vem perdendo o seu sentido Cristão para transformar-se em um momento de lazer e passeio e não mais de vivenciar uma experiência de fé. É o que chamamos de Secularização. Ou seja, um conjunto de atitudes, comportamentos e práticas que vão depreciando o valor e essência das comemorações e dias religiosos. E, com se não bastasse, dando uma outra versão e sentido para eles.

Grande parte das pessoas aproveita o “feriadão” para viajar, enquanto outros procuram sobreviver da economia informal, vendendo desde flores e velas até pastel, hambúrguer e melancia nos portões dos cemitérios.

A Igreja celebra a realidade de finados como uma expressão profunda de que nossos mortos não ficaram no passado.

Celebrar “finados” é um momento de esperança e reencontro: é a esperança de que um dia iremos nos encontrar com os nossos entes queridos que nos deixaram, mas é, também, encontro com pessoas do nosso dia-a-dia e com algumas que há muito tempo não víamos.

Obrigação e Pecado. A Igreja não impõe uma obrigação e nem determina como pecado, o fato de não ir ao cemitério este dia. Isso deve ser uma ação livre do nosso coração que expresse o desejo de rezar pela redenção da humanidade.

Quem não pode ir ao cemitério, não fica em dívida com Deus, por que o mais importante não é o lugar onde se faz a reflexão sobre a vida. O mais importante é conservar o valor e o sentido do dia.

Velas e Flores. Quem celebra o dia de finados deve ter em mente o seu significado universal. Nesse sentido, levar velas e flores para os mortos é também vivenciar a experiência de eternidade, que acreditamos.

O sentido da vela é o sentido da vida, da ressurreição e da esperança. Quando queimo uma vela pelas almas, estou dizendo a mim mesmo: aqui não está um morto; aqui está alguém que tem a dimensão de eternidade.

As Flores são um sinal do desejo do paraíso, do jardim. As flores significam o desejo de que nossos entes queridos participem de fato do paraíso que não é saudade, mas esperança.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Nenhuma fala pontifícia provocou tanto alvoroço quanto a que se divulgou nesta semana, através de um filme lançado em Roma, que poderia conter suposta declaração do Papa em apoio aos casais homoafetivos. A imprensa deitou e rolou. Entre mentidos e desmentidos, supostas contextualizações de uma declaração, interpretações tendenciosas e ou realistas, traduções ao pé da letra, sem considerar o texto todo, etc, etc, ecoou mais forte o humilde silêncio do próprio Papa.

Afinal, homossexuais são ou não filhos de Deus, têm ou não direitos civis, merecem ou não bençãos eclesiásticas… E por aí vai… “Pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família”. Eis a frase atribuída ao santo padre, que completa: “Elas são filhas de Deus e têm o direito a uma família”. Ninguém pode negar, do ponto de vista cristão, esse direito alienável a todo e qualquer ser humano gerado por graça e amor divinos, fruto do milagre da criação. Não há como renega-lo por força do Amor que nos fez imagem e semelhança, semideuses num processo criativo. O que não aprofundamos foi a questão da referência familiar, que tendenciosamente muitos interpretaram como direito de “constituir” uma família. O Papa não usou esse verbo, não disse isso. Referia-se ao direito de apoio e compreensão dos próprios familiares.

“Elas (as pessoas homossexuais) são filhas de Deus”. Quem não o é? Fomos gerados e plasmados no coração de Deus. Para o autor da mais bela encíclica sobre humanidade e fraternidade, aquela que nos lembra a maior virtude do gênero humano (Fratelli Tutti), seria grande incoerência dizer o contrário sobre determinado grupo ou povo, ou classe ou status social. Portanto, Francisco não disse nada a favor de qualquer exclusão, nem mesmo endossou possível repudio dos familiares de origem dum homossexual. Têm, sim, o direito a inserção familiar, ao amparo, à compreensão, à tolerância, ao apoio senão moral, pelo menos afetivo das próprias famílias consanguíneas. Não disse direitos familiares, como aqueles advindos de uma união conjugal.

“O que temos de criar é uma lei de união civil”. Não há como confirmar aqui a integridade textual dessa frase. O que temos é uma preocupação típica do Papa com relação aos direitos de proteção legal de todo e qualquer cidadão. Todos iguais perante a lei dos homens é base de qualquer constituição justa e humana. Já a questão que rege a consciência e seus atributos, bem como direitos e deveres, está em consonância com nossos princípios de fé. Busca sempre sintonia com a perfeição, que não aceita desvios de conduta, sejam estes de caráter moral, ético ou comportamental. A consciência do que é certo ou errado dita normas e determina nossas escolhas. Portanto, o Papa não disse que eventual união civil tenha o mesmo valor da sacralidade da união religiosa, dispensada somente para a união entre um homem e uma mulher. Esta união abençoada continuará privilégio da constituição familiar para gerar vida… e vida em abundância!

As deturpações e o alarde sensacionalista sobre esse assunto apenas confirmam o que é capaz de provocar uma mídia oportunista e sem compromisso claro com a verdade evangélica. O silêncio do Papa diz tudo. Diante das interpretações tendenciosas contra princípios imutáveis da fé, o próprio Cristo deixou sem resposta a mais capciosa das perguntas humanas: “Afinal, o que é a Verdade?”. O silêncio de Jesus culminou com sua condenação, execração pública e morte de cruz. Nada disso adiantou. O que o Papa disse ou deixou de dizer já não importa. Ridículo e vermos e ouvirmos gente nossa, até padres e lideranças comunitárias, erguerem a bandeira da crítica e algumas poucas da solidariedade fraterna, para julgarem, apoiarem ou condenarem palavras que Francisco não disse, não diria e não dirá nunca.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Você consegue identificar qual é o maior problema de sua vida? Você já se perguntou sobre isso ou prefere colecionar uma lista de problemas (de estimação) sobre os quais se debruça, chora, lamenta, blasfema e reclama?

Seu maior problema não é ‘a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada’ (Rm 8,35), para que você não passe a vida dizendo: ‘O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir? Os pagãos é que ficam procurando essas coisas’ (Mt 6,31-32). Na verdade, como indica a fé: ‘em todas essas coisas somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou’ (Rm 8,37). Deus providencia tudo para nós, abundantemente! Nada nos falta!

‘O que nos resta dizer? Se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós? Quem acusará os escolhidos de Deus? Quem condenará? Quem nos poderá separar do amor de Cristo?’(Rm 8,31-35).

O pecado é o seu maior problema; é o nosso maior problema! Porque só o pecado nos coloca contra Deus e contra as pessoas; só o pecado nos acusa, nos condena, nos separa do amor de Cristo; só o pecado fomenta, em nós, o ódio, a violência, a vingança e a rivalidade; só o pecado traz a destruição e a morte. O pecado é fatal!

‘Por isso é que eu lhes digo: não fiquem preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir’ (Mt 6,25).

Preocupe-se como vencer o pecado, cada dia. Porque é ele, e nada mais, que está provocando a ruína de sua vida. Pense comigo! A fome chegou, você pediu a Deus e ele providenciou a satisfação desta necessidade, mas você não se preocupou em vencer os pecados que trouxeram a fome pra dentro de casa: o esbanjamento, o consumismo, o luxo, a vaidade etc. Ora, a fome vai continuar à sua porta! Ou então, você teve um desentendimento com sua família, suplicou a Deus e ele trouxe a paz, mas você não procurou lutar e vencer o pecado que trouxe a desunião familiar: a infidelidade, a traição, a desonestidade, a ausência etc. Ora, os desentendimentos vão continuar em sua casa. E assim será com todos os problemas da lista sobre a qual você se debruça, chora, lamenta, blasfema e reclama.

O seu maior problema é o pecado, tenha isso muito claro e você encontrará a saída para tudo! Lute para vencer o pecado e a sua vida se iluminará!

‘Que o pecado não reine mais no corpo mortal de vocês, submetendo-os às suas paixões. Não ofereçam os membros como instrumento de injustiça para o pecado. Pelo contrário, ofereçam-se a Deus como pessoas vivas, que voltaram dos mortos; e ofereçam os membros como instrumento da justiça para Deus. Pois o pecado não os dominará nunca mais, porque vocês já não estão debaixo da Lei, mas sob a graça.

E daí? Devemos cometer pecados, porque já não estamos debaixo da Lei, mas sob a graça? De forma nenhuma! Vocês não sabem que, oferecendo-se a alguém como escravos para obedecer, vocês se tornam escravos daquele a quem obedecem, seja do pecado que leva à morte, seja da obediência que conduz à justiça?

Damos graças a Deus, porque vocês eram escravos do pecado, mas obedeceram de coração ao ensinamento básico que lhes foi transmitido. Assim, livres do pecado, vocês se tornaram escravos da justiça.

Falo com palavras simples por causa da fraqueza de vocês. Assim como antes vocês puseram seus membros a serviço da imoralidade e da desordem que conduzem à revolta contra Deus, agora ponham seus membros a serviço da justiça para a santificação de vocês” (Rm 6,12-23).

Se você quiser ter uma vida feliz e realizada, peça a Deus somente que lhe dê força e condições para vencer o pecado, cada dia. Tudo o mais, Deus acrescenta… é milagre sobre milagre; graça sobre graça! Porque Deus ‘não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós. Como não nos dará também todas as coisas junto com o seu Filho?’ (Rm 8,32).

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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          Papa Francisco surpreende mais uma vez com a atualidade de seu pensamento. A encíclica Fratelli Tutti é uma verdadeira fonte de luz e sabedoria para um mundo fechado pelas sombras dum momento crítico e assustador. Então Francisco lança luzes sobre o “anseio mundial de fraternidade” e conclama: “Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos”.

Ouçamo-lo, então. Começa por um desafio, lembrando-nos que há muitos sonhos desfeitos em pedaços clamando por restauração. “Reascendem-se conflitos anacrônicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos (11)”. O fim da consciência histórica (subtítulo inicial) utiliza-se “de jovens que a desprezem, rejeitem a riqueza espiritual e humana que se foi transmitindo através das gerações” (13) e esse mecanismo político “nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à estratégia de ridicularizá-los, insinuar suspeita sobre eles e reprimi-los (15)”. A manipulação opinativa e sua distorção das reais necessidades comunitárias tornou-se essencial na obra de cerceamento das liberdades humanas. O bem comum tornou-se bem de alguns. O interesse da maioria só com aprovação de uma minoria. “Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos (17)”. A cultura do descarte toma conta, não só no aspecto existencial (crianças, jovens e idosos) como também alimentar e suplementar. “O descarte assume formas abjetas, que julgávamos já superadas, como o racismo que se dissimula mas não cessa de reaparecer (20)”.

Papa Francisco não mede suas palavras ao fazer denúncias. “Persistem hoje no mundo inúmeras formas de injustiças, alimentadas por visões antropológicas redutivas e por um modelo econômico fundado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e até matar o homem (22)”.

Ou: “Também hoje, atrás das muralhas da cidade antiga está o abismo, o território do desconhecido, o deserto. O que vier de lá não é fiável, porque desconhecido, não familiar, não pertence à aldeia (27)”. Sua linguagem diplomática recorre ao obscurantismo passado para nos alertar que a ameaça do “bárbaro”, “a solidão, os medos e a insegurança…fazem com que se crie um terreno fértil para as máfias (28)” atuais. “Esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade (30)” E consola, esperançoso: “Como seria bom se, enquanto descobrimos novos planetas longínquos, também descobríssemos as necessidades do irmão e da irmã que orbitam ao nosso redor (31)”.

Atualíssimo, ainda comenta: “A tribulação, a incerteza, o medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem ressoar o apelo a repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e sobretudo o sentido da nossa existência (33)”. A causa das migrações populacionais também é alvo de suas ponderações. Idem para a “ilusão da comunicação”, com seus “fakes” e disfunções eróticas ou mesmo terroristas. Observa: “Isto permitiu que as ideologias perdessem todo o respeito. Aquilo que ainda há pouco tempo uma pessoa não podia dizer sem correr o risco de perder o respeito de todos, hoje pode ser pronunciado com toda a grosseria, até por algumas autoridades políticas e ficar impune (45)”. Estamos então nas mãos de um sistema autodestrutivo, impiedoso? Não, claro que não. Este é apenas um painel dum primeiro capítulo de uma reflexão primorosa. Que nos lembra: “A recente pandemia permitiu-nos recuperar e valorizar tantos companheiros e companheiras de viagem que, no medo, reagiram dando a própria vida (54)”. Temos mais pela frente…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Sabe aqueles momentos em que a gente se sente injustiçado por alguém, não vêm à cabeça uma vontade louca de fazer justiça com as próprias mãos? … de resolver tudo na força bruta? … de pagar com a mesma moeda? … de se vingar?

Se a gente não se cuida, perde a cabeça! Porque o peso maior da injustiça é a impunidade! Quando a gente vê que o injusto foi poupado, não foi responsabilizado, não pagou pelo mal que fez e, que está imune a qualquer sanção, uma mistura perigosa de ódio e revolta contamina nosso coração, a ponto de fazer-nos violentos e inconsequentes.

Não se apresse, na tentativa de resolver as coisas porque, como diz o ditado: “a pressa é inimiga da perfeição” ou “o apressado come cru”. É natural que um sentimento negativo crie um turbilhão dentro de nós e uma sede de justiça se desenvolva dentro de nós. Mas, se fazemos como fazem os injustos, que diferença teríamos deles? Seríamos tão censuráveis quanto eles.

Qual é, portanto, o caminho diante da injustiça? O que fazer?

O caminho diante da injustiça, aliás, diante de qualquer injustiça é: não fazer como faz o injusto; não querer agir pelo sentimento ou pelo impulso para não fazer justiça com as próprias mãos; fazer silêncio para enxergar caminhos, buscar ajudas, descobrir os meios e agir na hora certa; perguntar-se como Deus faria… Consulte a Palavra de Deus…

Cuidado com os conselheiros! “Todo conselheiro dá conselhos, mas há quem dá conselho em seu próprio interesse. Seja cauteloso com o conselheiro, e procure saber quais são as necessidades dele. Pois ele pode aconselhar em benefício próprio e não lançar a sorte em favor de você, dizendo: ‘Você está num bom caminho’. Depois, ele fica de longe, vendo o que vai acontecer a você. Não peça conselhos a quem olha você com desconfiança, e esconda a sua intenção de todos os que têm inveja de você. Nunca peça conselhos a uma mulher sobre a rival dela; nem a um covarde sobre a guerra; nem a um negociante sobre o comércio; nem a um comprador sobre a venda; nem a um invejoso sobre a gratidão; nem a um egoísta sobre a bondade; nem a um preguiçoso sobre o trabalho; nem a um empreiteiro sobre o fim da tarefa; nem a um empregado preguiçoso sobre um grande trabalho.” (Eclesiástico 37,7-13).

Tenha como princípio e disciplina o amor! “Não fiquem devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo. Pois, quem ama o próximo cumpriu plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: não cometa adultério, não mate, não roube, não cobice, e todos os outros se resumem nesta sentença: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo.’ O amor não pratica o mal contra o próximo, pois o amor é o pleno cumprimento da Lei” (Rm 13,8-10).

Tome posturas de fé na vida! “Que o amor de vocês seja sem hipocrisia: detestem o mal e apeguem-se ao bem. Abençoem os que perseguem vocês; abençoem e não amaldiçoem. Alegrem-se com os que se alegram, e chorem com os que choram. Vivam em harmonia uns com os outros. Não se deixem levar pela mania de grandeza, mas se afeiçoem às coisas modestas. Não se considerem sábios. Não paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a todos os homens. Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem” (Rm 12,9.14-21)

Supere a justiça dos hipócritas! “Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu” (Mt 6,1).

Creia, a justiça de Deus é, continua sendo e sempre será: Jesus Cristo! Não tenha dúvida de que, nele, todas as coisas encontrarão a sua verdadeira solução e desenvolvimento. Busque os meios e os recursos de justiça, mas coloque-se nas mãos de Deus porque ele dá o caminho.

Entendeu? Aprendeu…?

 

PE. EDVALDO P. SANTOS




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A beatificação surpreendente de um jovem italiano, nesta semana, radicalizou pelo ineditismo: venerar como possível santo a imagem de um contemporâneo da era do terno e gravata ou do jeans e tênis. Carlo Acutis usou os dois hábitos e seu corpo incorruptível, apesar dos quinze anos passados desde sua morte, vestia em sua apresentação pública os trajes de um jovem de nossos tempos: calça jeans, blusa moleton e calçados tipo tênis. Além de fotos elevadas aos altares católicos com surpreendentes “raybans” pendurados ao pescoço como bem o fazem nossos jovens. Como imaginar a figura de um venerável ocupando nossos altares em semelhantes trajes?

Essa é a maior surpresa de sua beatificação, o primeiro passo para uma possível canonização. Surpresa também foi o mérito desse processo rápido e quase inédito, ou seja, o milagre que permitiu tão grande honraria a merecer oficialização canônica da Igreja Católica, foi uma graça concedida a uma criança brasileira. Sabemos o quão rígida é a postura católica num processo desse naipe. Muitos levaram séculos. Outros sequer saíram dos trâmites iniciais. Neste aspecto, a burocracia da causa dos santos é quase uma virtude, pois exige provas contundentes, longas apurações e até vultosos recursos jurídicos, financeiros ou mesmo argumentos da voz contrária (no caso o famoso advogado do Diabo), para se reconhecer ou atribuir santidade ou beatificação a uma alma qualquer. Quanto mais a um jovem, quase criança. Quanto mais quando esse jovem se mescla à massa de uma juventude tida como vazia, distante da espiritualidade tradicional, do mundo eclesial dos muitos beatos e santos que bem conhecemos, da vida recôndita e moderada que imaginamos como modelo de santidade. Onde está a pieguice que muitos veneram, a vida de renúncias e sacrifícios compatíveis com a biografia de um santo?

Pelo visto, Carlo Arcutti não tinha nada disso. Foi um jovem comum ao seu tempo. Amante da tecnologia, da computação, das redes sociais. Apóstolo, sim, no uso disso tudo. Fez dos recursos de sua era os instrumentos de evangelização de que necessitava. Da sua fé eucarística brotaram as forças que necessitava para apregoar sua fé. Tornou-se o apóstolo da internet, usando essa ferramenta para exercitar e expandir sua vida missionária. Levou seu amor a Cristo e sua Igreja aos milhares de seguidores de sua rede cibernética. Não olhou nos olhos de seus interlocutores, mas sentiu os anseios de seus corações. Evangelizou através da tela milagrosa de um MCS que, fascinantemente, mais aproxima o homem do próprio homem. Bendita tecnologia!

Tão bendita que a cerimonia de sua beatificação foi vista e tornou-se um acontecimento global que superou em muito a audiência dos grandes acontecimentos mundiais. Tão bendita que exibiu ao mundo a mais significativa e emblemática das ofertas humanas a um altar divino: seu coração incorruptível sendo levado como reliqua preciosa de sua vida de oferenda a Deus e às causas cristãs. Mais ainda: seus próprios pais o apresentando ao celebrante num gesto de entrega total do filho que um dia geraram. No alto do relicário podia se ler: “Eucaristia a minha autoestrada para o céu”. Era essa a sua fé.  Desconheço cerimonia similar a essa em qualquer outro processo de beatificação ou santificação dos milhares de santos e santas elevados aos altares da fé católica.

Carlo Acutis nos prova a possibilidade de vida santa em qualquer época ou lugar, com os recursos que temos ou as limitações que a vida nos impõe. Basta-nos a graça. Buscar a santidade é vocação cristã. E, para tanto, o jovem Carlo, para quem “a tristeza é o olhar voltado para si mesmo”, revelou seu segredo: “Estar sempre unido a Jesus é o meu projeto de vida”. Isso todos nós podemos fazer. E ser.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 

 

 




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  Nenhum outro mês da Bíblia foi tão substancialmente valorizado quanto o desse ano de 2020. “O afeto à Sagrada Escritura” foi o grande presente que coroou esse mês com a celebração do décimo sexto centenário da morte de São Jerónimo. Aliás, esse título da última carta apostólica do nosso Papa Francisco faz jus à memória do grande tradutor bíblico que “vulgarizou” (no bom sentido de sua Vulgata) o acesso universal à Palavra de Deus, com sua tradução mais popular dos originais gregos e hebraicos conhecidos em sua época. Por isso a importância dessa data, lembrando a morte de Jerónimo e o primeiro ano da instituição do Domingo da Palavra, quando nosso Papa promulgou o moto próprio intitulado “Abriu-lhes a mente ao entendimento (Lc 24)”.  A Vulgata é hoje base para a grande maioria das traduções bíblicas (inclusive evangélicas). Fruto de uma vida inteira de estudos e reflexões, de vida orante e submissa à vontade divina, de renúncia e subsequente vida eremita, o trabalho intelectual mas obstinado de Jerónimo foi fundamental para o crescimento do cristianismo e sua ação missionária no mundo, essa mesma que chegou até nós e nos propiciou o conhecimento do Cristo. Segundo Jerónimo, fez apenas uma obrigação. O próprio Papa resgata em sua carta uma história apócrifa que bem ilustra a vida desse abnegado servidor da vontade de Deus. “Que quereis de mim?” E Ele responde: “Ainda não Me deste tudo”. “Mas, Senhor, já Vos dei isto…isto… e isto” – “Falta uma coisa!” – “O que?” – “Dá—Me os teus pecados, para que Eu possa ter a alegria de voltar a perdoá-los”. Essa mesma história, coincidentemente, é a conclusão do meu livro Altar dos Sacrifícios, respondendo a infinita ação de Deus em nós e através de nós. Isso Jerónimo bem conhecia. Tão bem que considerava a Palavra de Deus parte do mistério Eucarístico.

Afirmou um dia: “Lemos as Sagradas Escrituras. Eu penso que o Evangelho é o Corpo de Cristo; penso que as santas Escrituras são o seu ensinamento. E quando Ele fala em “comer a minha carne e beber o meu sangue” (Jo 6,53), embora estas palavras se possam entender do Mistério (Eucarístico), todavia também a palavra da Escritura, o ensinamento de Deus, é verdadeiramente o corpo de Cristo e seu sangue” (37). Tamanha descoberta só mesmo de alguém em profunda sintonia com Deus e sua Palavra. Tanto que aqui o Papa se justifica pelo empenho desta data e importância de sua carta. “Por isso, quis instituir o Domingo da Palavra de Deus (38) para encorajar a leitura orante da Bíblia e a familiaridade com a Palavra de Deus”.  A tradução denominada Vulgata não é uma simplificação da Palavra, mas, ao contrário, um aprofundamento. Um mergulho em seus mistérios. “O tradutor é um construtor de pontes. Quantos juízos precipitados, quantas condenações e conflitos nascem do facto de ignorarmos a língua dos outros e de não nos aplicarmos, com tenaz esperança, a esta prova de amor infindável que é a tradução”, comenta o Papa. E acrescenta: “Com a celebração da morte de São Jerónimo, o olhar volta-se para a vitalidade missionária extraordinária que se manifesta na tradução da Palavra de Deus em mais de três mil línguas”. Como estaríamos hoje sem esse trabalho de amor e devoção dum homem santo?

Esse mesmo santo que nunca renegou sua Igreja, nem ocupou pedestais de glória por seu trabalho. “Eu que não sigo mais ninguém senão Cristo, uno-me em comunhão com a Cátedra de Pedro. Eu sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja”. Esse mesmo homem admirado e respeitado pelos grandes intelectuais de sua época, cuja descrição mais comum que dele faziam era: “Encontra-se todo embrenhado na leitura, todo embrenhado nos livros; não descansa de dia nem de noite; sempre está a ler ou a escrever qualquer coisa” (Postusmiano). Ao Papa faz lembrar um dos maiores problemas da atualidade, o analfabetismo cultural. Então Francisco faz um apelo, em especial aos jovens: “Quero lançar um desafio: parti à procura da vossa herança. O cristianismo torna-vos herdeiros dum patrimônio cultural insuperável, do qual deveis tomar posse. Apaixonai-vos por esta história, que é vossa. Tende a ousadia de fixar o olhar naquele jovem inquieto que foi Jerónimo; ele, como a personagem da parábola de Jesus, vendeu tudo quanto possuía para comprar a “pérola de grande valor”.  Verdadeiramente Jerónimo é a “Biblioteca de Cristo”, concluiu.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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Um muito obrigado é sempre bem vindo e coroa toda e qualquer ação com o reconhecimento. Aliás, um agradecimento vale mais do que qualquer quantia em dinheiro porque, o dinheiro pago se acaba, ao passo que a gratidão permanece.

A ingratidão é um veneno mortal na vida e na fé.

O ingrato é sempre um peso para os outros; não tem memória, é cego, surdo e mudo para a vida. Não se alegra, vê problema e tudo, cria muro, inventa mil histórias, murmura, resmunga, critica, não se interessa, é pessimista, não confia, não perdoa, não espera, não procura, não cultiva. Nada lhe diz respeito. Não consegue esboçar um sorriso na alegria e nem deixa cair uma lágrima na dor.

O ingrato é um insensível: não percebe as coisas como Graça de Deus e não entende as ações como gesto de gratuidade. Vê tudo como fruto da casualidade, da obrigação, do interesse, do mérito pessoal, da retribuição… Por isso, não diz muito obrigado, apenas: ‘não fez mais que a obrigação’; não pede por favor, apenas ordena; não diz graças a Deus mas, que foi coincidência; não pede desculpas, aponta culpados e inventa justificativas; não aceita erros, julga e condena; não está disposto a esperar, atropela; não é capaz de falar, grita… O ingrato vive a vida com amargura e amarga a vida dos outros, nada lhe deixa contente.

A vida inspirada pela fé, traduz tudo: pensamentos e palavras, gestos e ações… por agradecimento. Porque a fé é uma convocação permanente à ação de graças; ao agradecimento!

Pessoas formadas pela fé são agradecidas; veem as coisas com bons olhos… com os olhos de quem ama. “é paciente… é prestativo… não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7).

Pessoas agradecidas se relacionam com pessoas e não com coisas; acreditam em ideais e não em ideias; sonham e não divagam; exigem, nunca cobram; têm palavra e não ‘gogo’; têm fé e não superstições. Pessoas agradecidas são humanas e não anjos.

Assim diz a Sagrada Escritura:

Daniel 3,89.90: “Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia é para sempre”; “Todos os que adoram o senhor, Deus dos deuses, bendigam o Senhor: louvem e deem graças ao Senhor, porque a sua misericórdia é para sempre”.

Colossenses 1,12: “Com alegria, deem graças ao pai, que permitiu a vocês participarem da herança dos cristãos, na luz”.

Dar graças não é um simples ato religioso, reservado à hora do Templo. Dar graças, é uma atitude de vida, é uma postura de fé!

Dar graças é reconhecimento e memória, é liturgia e celebração; é festa e utopia, é esperança e comunhão; é sede do Deus vivo, é partilha e doação; é contentamento e alegria, é pulsão de vida e convicção; é a luz, sempre, acesa no final do túnel, é a energia e a satisfação; é o calor do amor verdadeiro, é a promessa divina e a iluminação; é a vida que vale a pena, é o sonho e a salvação.

No fundo, como diz São Paulo, a perspectiva de vida de quem tem fé deve ser a seguinte: “Deem graças em todas as circunstâncias, porque esta é a vontade de Deus a respeito de vocês, em Jesus Cristo” (1Ts 5,18).

“Nesse dia, você dirá: ‘Eu te agradeço, Javé, porque estavas irado contra mim, mas a tua ira se acalmou e me consolaste. Sim, Deus é a minha salvação! Eu confio e nada tenho a temer, porque minha força e meu canto é Javé: ele é a minha salvação. Com alegria vocês todos poderão beber água nas fontes da salvação’.

E nesse dia, vocês dirão: ‘Agradeçam a Javé, invoquem o seu nome, contem aos povos as façanhas que ele fez, proclamem que seu nome é sublime; cantem hinos a Javé, pois ele fez proezas; que toda a terra as reconheça. Gritem de alegria e exultem, moradores de Sião, pois o Santo de Israel é grande no meio de vocês’” (Isaías 12,1-6).

Tenha fé, viva em permanente ação de graças!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa, obediência significa: submeter-se à vontade de, cumprir ordem de, estar sujeito, submissão, sujeição. O verbo hebraico traduzido como “obedecer” é o verbo SHÈMA que literalmente quer dizer dar ouvidos à: “Ouça, Israel! Javé nosso Deus é o único Javé. Portanto, ame a Javé seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força” (Dt 6,4-5).

Ora, a obediência, por sua etimologia, pressupõe ouvidos atentos e atos de profunda humildade. Nesse sentido, descobrir e praticar a obediência é, sem sombra de dúvidas, o melhor caminho para ser feliz e conservar a vida!

Obedecer significa tudo na vida de uma pessoa!

O jargão popular consagrou o ditado: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Abrindo a Sagrada Escritura, em suas primeiras páginas, destacamos a situação conflitiva de Adão e Eva, quanto à obediência ou não a Deus. Na tensão entre o sim e o não, acabam cedendo à pressão da serpente que os convence à insubmissão a Deus, como garantia de liberdade e autonomia pessoal.

A questão é complexa e não pode ser entendida, apenas, pela simples polarização entre o direito divino e o dever humano. A questão da obediência-desobediência vai um pouco mais longe porque, levantando o problema do pecado, mais do que intenções meramente morais, toca os elementos essenciais de nossa existência: ser e não ser.

O homem é chamado à obediência, isto é, à escuta; escuta de Deus, dos outros e do mundo. Se não obedecer; se não escutar; se não estiver aberto, desde o seu interior, numa atitude de aceitação, não será capaz de se firmar no mundo.

Obedecer é submeter-se! Porém, como nossa idéia de submissão é negativa, somos avessos a qualquer submissão. De fato, a idéia de obediência que carregamos é tremendamente negativa porque passa por uma sujeição escravocrata.

A convocação Bíblica à obediência se traduz em verdadeira atitude de fé, amor, esperança, confiança, fidelidade e humildade:

Adesão à Promessa de Deus: “Pela fé, Abraão, chamado por Deus, obedeceu e partiu para um lugar que deveria receber como herança. E partiu sem saber para onde” (Hb 11,8); “Se você obedecer aos mandamentos de Javé seu Deus (…) Você viverá e se multiplicará. Javé seu Deus o abençoará” (Dt 30,16).

Reconhecimento da própria desobediência em vista da mudança de vida: “E o meu povo não escutou a minha voz, Israel não quis me obedecer” (Sl 81,12); “O tolo fica satisfeito com sua conduta, mas o sábio obedece ao conselho” (Pr 12,15); “Feliz o homem que me obedece, vigiando todos os dias em minha porta, esperando na entrada de minha casa” (Pr 8,34).

Aceitação de uma nova vida possível pela graça de Deus: “Assim como, pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, do mesmo modo, pela obediência de um só, todos se tornarão justos” (Rm 5,19); “Pela obediência à verdade vocês se purificaram, a fim de praticar um amor fraterno sem hipocrisia. Com ardor e de coração sincero amem-se uns aos outros” (1Pd 1,22).

Consciência da revolução operada por Jesus: “Embora sendo filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos” (Hb 5,8); “Humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,8);

Revisão da vida e da missão: “Então Pedro e os outros apóstolos responderam: “é preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5,29); “Tudo o que vocês fizerem façam de coração, como quem obedece ao Senhor, e não aos homens” (Cl 3,23).

Nossa relação com a obediência não pode ficar circunscrita, apenas, à esfera espiritual; mesmo que esteja aí a sua fonte e força. Estabelecida sobre aquilo que há de mais profundo em nós, a obediência deve nos mover para o que somos, cremos, amamos, sonhamos, esperamos e almejamos. Daí porque, pela obediência, vencemos a distância e resistência aos pais, às autoridades, à Igreja e a Deus.

Quem obedece nunca erra e não merece castigo!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTO