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Diocese de Assis

 

          Nada existiria humanamente falando, sem a presença feminina. Desde a origem, essa presença encheu de alegria a solidão do homem. Sem esta, nada seríamos. Não é uma afirmativa poética, nem simplista, que aqui faço para enaltecer a mulher, companheira graciosa, porém essencial a todo e qualquer projeto de vida. Porém, sem sua fecundidade, do corpo e do espírito, nem a solidão no Paraíso seria possível. Tudo se extinguiria ali mesmo.

Falar da mulher, necessariamente, é falar da maternidade. Vocação primeira deste ser que se divide, se multiplica, se doa por completo como fonte profícua de vida e instrumento primeiro das realizações que a história humana tem conseguido alcançar. Então, sem elas, a odisseia da vida sequer teria início. É dessa fonte que hoje me abasteço, para levar adiante uma reflexão centrada no milagre da vida. Isso mesmo: a maternidade é um braço da Criação, instrumento divino que nos permitiu chegar aonde chegamos, conquistar tudo que conquistamos, louvar e agradecer por sermos nós mesmos, por obra e graça da mulher que nos fez filhos seus. Obrigado, mãe.

Em contrapartida, mulheres existem que rejeitam tão sublime dom. Não há justificativas plausíveis para amenizar (ou mesmo perdoar) qualquer atitude abortiva aceita e consentida por uma mulher. É o mais vil dos procedimentos, a mais torpe das ações contrárias ao santo privilégio da maternidade. Mesmo quando suas razões apresentam questões de foro íntimo (estrupo, doenças genéticas ou hereditárias, incapacidade moral, financeira ou psicológica), nada, nada mesmo é capaz de apagar uma violência abortiva. A maternidade está acima das sequelas e contradições que só o amor de mãe tem forças para superar. Tudo mais são paliativos dos limitados conceitos humanos, esses que não conseguem avaliar a incondicional fortaleza da mulher em processo de gestação. Encontra forças onde vemos apenas fragilidade, inconsequência de atos impensados, submissão. Só a graça do amor materno justifica a força que vem da mulher, dona sim do próprio corpo, não da vida que gera dentro de si. As companhas abortivas que por ai proliferam nascem de interesses escusos, saneadores que são de uma espécie de “purificação” social. Já as mães convencidas a abortar (contribuir com o saneamento genético e social), rapidamente são excluídas, esquecidas frente a frente com seus dilemas de consciência, seus conflitos existenciais. Estas que se resolvam diante de Deus.

Por outro lado, há sempre uma referência consoladora. Exemplo de maternidade e determinação frente à missão que lhe foi dada, Maria continua como mãe dos aflitos, consoladora, aquela da qual emanam todas as forças, graças, exemplos e atitudes decisivas frente ao privilégio da maternidade. Aquela que intercede pelo primeiro milagre do Filho Amado, que clama pelos filhos e filhas enfraquecidos na caminhada, pelas injustiçadas social e culturalmente, pelas aquebrantadas de esperança às quais providencia remédios mais eficazes que os da medicina e da ciência humana. A ela recorremos. Dela exaurimos forças para superar qualquer ação contra a plenitude da vida. Dessa vida que herdamos de mães tão e tanto quanto seu amor maternal, seu companheirismo angelical, seu coração amoroso transpassado pela dor de um Calvário que a insensibilidade humana preparou para seu Filho. “Mãe, eis agora seus filhos”, diria aquele abortado do amor humano, que do alto de sua cruz ainda teve forças para nos dar sua Mãe.

Filha, nunca sentencie um filho seu. Mãe, queira ou não, a vida procede de suas entranhas. Seu coração possui poderes de vida ou morte.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Num mês de Maio nublado pela dor e sofrimento de milhares de famílias no mundo, onde o isolamento social e a morte fazem suas vítimas indiscriminadamente, sem olhar raça, religião ou posição econômica, a figura materna se levanta como ícone de consolo e proteção. Em especial Maria, mulher forte e altaneira, mãe dadivosa de todos os cristãos. Símbolo da ternura e da característica serenidade comum a todas as mães diante das provações, a ela recorrem os “degredados filhos de Eva”, aqueles que nela enxergam o colo do consolo ou o simples olhar da solidariedade.

Mãe-menina e imaculada – tinha aproximadamente 15 anos ao conceber por obra e graça divina – a história dessa mulher (simplesmente Maria) tornou-se maior e mais bela que qualquer outro conto ou lenda da débil literatura humana. Joaquim e Ana, seus pais biológicos, sequer revelaram ao mundo o sobrenome familiar, mas não existe na história outra mulher com tantos e tão belos codinomes, dentre eles o maior: Maria, mãe de Deus e dos homens!   A nenhuma outra figura humana se atribui esse privilégio sem igual: gerar para os homens um Deus vivo, imagem e semelhança humanas e divinas… Como dizemos em canção: rosto humano de Deus, rosto divino do homem! Foi ela o instrumento desse milagre!

Quando seu filho divino, aos doze anos, olhou a longa estrada que os conduzia ao grande templo, enxergou nela o caminho que iria trilhar em breve. Seu coração adolescente encheu-se de expectativas, a ponto de demorar-se mais que o devido numa discussão apaixonada com os doutores da Lei. Aflitos, seus pais o procuraram por dias seguidos. O reencontro, três dias depois, deu a nota do que viria em breve, a separação familiar: “Não sabíeis que devo cuidar das coisas do meu Pai”. Maria calou-se e seu coração entendeu que aquele filho tinha uma missão a cumprir. Como mãe, restava-lhe, mais uma vez, a submissão aos planos de Deus.

Até aqui, essa história familiar é comum a qualquer filho de Deus. Toda e qualquer mãe sabe que os filhos não lhe pertencem, pois nascem e crescem para a vida, para o mundo. Um dia trilharão seu caminho. A renúncia materna, neste aspecto, é qualidade inerente a todas elas. Mas ser mãe de um Deus não aconteceu para nenhuma outra e Maria sabia em seu coração que haveria ainda muita dor e sofrimento nesta história. Iria perde-lo novamente e só o reencontraria glorioso no terceiro dia, depois do horrendo sacrifício que testemunharia de pé, diante dele. Mesmo assim, será dela a iniciativa do primeiro milagre. Acabou o vinho? Que tinha Jesus com isso? “Mulher, isso não nos compete… Minha hora ainda não chegou”. Então a mãe ordena aos servos: “Façam tudo o que ele vos disser”. Estava iniciada a vida pública daquele filho dileto. Dali em diante Ele não mais lhe pertencia.

É dessa mulher forte e mãe sempre dócil, cuja ternura no olhar encanta o mundo – não há nenhuma imagem de Maria cujo olhar não seja terno, dócil – que o mês de Maio nos fala sempre. Tradicionalmente, é no catolicismo que encontramos maiores manifestações dessa devoção mariana. Mas o mundo está carente de um olhar maternal, como o de Maria, mãe de Deus e nossa. Ela que foi a maior devota de seu Filho, que sempre acompanhou seus passos, que o incentivou a exercer seu ministério, que subiu com ele até seu calvário, que contemplou sua agonia e morte de cruz, que o recebeu inerte em seus braços e o entregou para a sepultura,  mas que testemunhou com os discípulos sua ressurreição e ascensão, essa mesma mãe e mulher foi elevada aos céus e caminha conosco. Na dor e sofrimento Jesus a contemplou e disse: “Filho, eis aí tua Mãe!”. Então, por que não acreditar?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 

 




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Nossa vida não pode ficar refém de nenhuma chantagem; seja ela psicológica, emocional, afetiva, moral, política, econômica; vindo de longe ou de perto, dos amigos ou dos inimigos, dos parentes ou dos desconhecidos, dos outros ou de si mesmo.

Você não pode se deixar chantagear. Por nada nesse mundo, não se deixe chantagear.

A chantagem, antes de atingir nossas culpas, atinge nossos medos, nossas fraquezas, nossas vulnerabilidades. Ela não é forte, mas, ganha força porque nos arrebata, nos desmobiliza, nos desqualifica.

É possível vencer qualquer tipo de chantagem, mas é preciso tomar a direção certa. Se a consciência não condena você, em nada, não se deixe intimidar. Primeiro enfrente seus medos e descubra suas vulnerabilidades. Conheça-se! Aceite-se! Vigie-se! Controle-se! Procure, também, conhecer seu chantagista, suas intenções, suas estratégias, seus esquemas. A gente luta melhor, quando sabe com quem está lutando.

Agora, se a consciência condena você, reconheça e assuma o seu erro ou pecado diante de si mesmo, de Deus e de quem você tem compromisso. Seja verdadeiro. Não oculte nada. Não esconda nada. A tentação do erro é querer consertar com um outro. E, a mentira é, sempre, uma estratégia infame e maldita. A culpa “no cartório” faz de você uma pessoa defensiva e, portanto, irracional e inconsequente. A pior estratégia de luta é a defesa. Quem fica na defensiva perde a noção de tempo, de espaço, de objetivo… de tudo. É um perdedor em potencial.

Não subestime o chantagista, ele não tem escrúpulos e não se contenta com nada que você lhe dê. Seu medo, principalmente o de ser julgado, é a melhor mercadoria para ele, é uma ótima moeda de troca. Ele vai negociar você com os outros; com a sua família, com o seu patrão, com os seus inimigos. Ele vai transformar sua vida num inferno. Qualquer brecha que você der, ele vai invadir sua vida.

Não procure se defender do chantagista para não ficar pior do que ele. Para não usar a mesma arma. Use o que você tem de melhor, sua consciência, contra ela nada pode. Ninguém pode nada contra sua consciência, mesmo quando ferida pelo pecado.

Você tem fé?

Faça como diz São Paulo: “Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vocês ou por qualquer tribunal humano. Nem eu julgo a mim mesmo. É verdade que a minha consciência de nada me acusa, mas isso não significa que eu seja inocente: quem me julga é o Senhor. Por isso, não julguem nada antes do tempo; esperem que chegue o Senhor. Ele porá às claras tudo o que se esconde nas trevas, e manifestará as intenções dos corações. Então, cada um vai receber de Deus o louvor que lhe corresponde” (1Cor 4,3-5).

Faça como diz São João: “Deus é maior do que a nossa consciência, e ele conhece todas as coisas. Amados, quando a consciência não nos condena, sentimos confiança para nos dirigirmos a Deus, e recebemos tudo o que lhe pedimos, porque cumprimos os seus mandamentos e fazemos o que agrada a ele” (1Jo 3,20-22).

Façam como diz São Pedro: “E quem lhes fará mal, se vocês se empenham em fazer o bem? Se sofrem por causa da justiça, felizes de vocês! Não tenham medo deles, nem fiquem assustados. Ao contrário, reconheçam de coração o Cristo como Senhor, estando sempre prontos a dar a razão de sua esperança a todo aquele que a pede a vocês, mas com bons modos, com respeito e mantendo a consciência limpa. Assim, quando vocês forem difamados em alguma coisa, aqueles que criticam o bom comportamento que vocês têm em Cristo ficarão confundidos” (1Pd 3,13-16).

Não se deixe chantagear!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Um dos episódios mais espetaculares da História da Salvação foi a travessia do Mar Vermelho. Perseguido pelos egípcios cujo faraó arrependeu-se de haver dado sua liberdade, o povo de Deus se viu encurralado frente a um novo e intransponível desafio: o mar. De um lado o exército do faraó, do outro o mar. “Não havia porventura, túmulos no Egito, para que nos conduzisses a morrer no deserto?”, reclamavam a Moisés. A predileção divina sempre se manifesta no milagre. O Senhor agiu pelas mãos do seu profeta, Moisés. O mar se pôs a seco e seu povo alcançou a outra margem “a pé enxuto”. Não, porém, seus algozes, cobertos pelas águas em seu nível normal.

Relembro esse fato em tempo de pandemia global. E o associo a um episódio recente, quando da tragédia do navio Al Salan Boccaccio, que naufragou em 2006 nas proximidades da famosa travessia bíblica. Mil mortos, quatrocentos sobreviventes. Fez lembrar a triste sina do Titanic, o navio do qual se dizia: “Esse nem Deus afunda!”.

Sua rota, no entanto, era inversa ao da travessia libertadora dos israelitas. Vinham da Arábia Saudita para o Egito. Detalhes apenas, que em nada altera ou justifica a tragédia daqueles viajantes. A não ser que elevemos essa reflexão ao plano filosófico, deixando de lado razões históricas ou religiosas.

Por outro lado, efetivamos muitas travessias similares em nossas vidas. Algumas com o amparo de um sonho de liberdade. Outras em sentido inverso, quando a luta pela sobrevivência nos transforma em máquinas, robôs a serviço da louca competitividade entre nós, esse vai e vem constante em busca do pão, do chão. Uns vãos, outros vêm. Você que vai para o lado de lá, porque é lá que residem seus sonhos. Você que vem para cá, porque aqui estão suas raízes, as motivações de sua existência.

Isso é o existir. Exige desprendimento, locomoção, metas a serem cumpridas, encontros a somarem forças, motivos que nos motivem… Eu pra lá, você pra cá. Você que chega e o irmão que parte. A travessia do mar da vida (vermelho no Atlas e na anatomia), essa sim, todos a fazemos querendo ou não. Alguns em fuga, outros antevendo a Terra Prometida. Alguns desencantados, desiludidos, outros alimentando esperanças.

Eis que a fatalidade um dia surpreende a todos, A embarcação afunda em plena travessia. O desencanto emerge na mesma proporção e intensidade. A quem recorrer nessas horas? Em tempos de tragédia globalizada não temos a quem recorrer, senão a Deus. Comandos humanos estão abaixo das ameaças de uma tragédia, pois que também estes poderão sucumbir. Nem sempre merecemos ou entendemos o conforto de uma sobrevida ou a tragédia da morte em certas circunstâncias. Há muitos que sobreviverão para repensar suas próprias omissões. Ou repensar seus conceitos de vida.

Essa é a passagem da vida. “Os cavalos do faraó, com efeito, entraram no mar com seus carros e cavaleiros, e o Senhor os envolveu nas águas, enquanto os israelitas passaram a pé enxuto o leito do mar” (Ex 15,22). Quem agora faz parte desse povo vitorioso? Entre os soldados do faraó, com certeza, havia muitos homens de boa índole, cônscios de seus deveres e fidelidade ao rei. Entre as vítimas da tragédia atual, cristãos, muçulmanos, tementes a Deus…. A fidelidade ao Rei independe de sua religião ou crença. Porque, mesmo com o navio em chamas, o naufrágio iminente, nosso Deus é o único que poderá nos levar ao “outro lado” com os pés enxutos.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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A noção que temos sobre as coisas está circunstanciada pela nossa experiência pessoal em relação a elas. Por conseguinte, a noção que temos de amor, justiça, paz, esperança, bondade, bem… e misericórdia sofre desta mesma limitação. A nossa verdade é relativa à nossa experiência pessoal. Portanto, não podemos pretender que o que experimentamos seja a verdade total e absoluta sobre nada.

Não temos a verdade total! Isso equivale a dizer que não podemos limitar a grandeza das coisas à nossa limitada compreensão e experiência.

Precisamos reconsiderar nossa prática e relacionamento com Deus, com os outros e com a gente mesmo, dando maior largueza de sentido àquilo que, só por nossa experiência não é esgotado em seu valor e grandeza.

Tomemos como caso particular a misericórdia divina.

Olhando para a Sagrada Escritura vemos a maravilhosa obra da Misericórdia de Deus em todas as suas ações; pequenas ou grandes. É pela misericórdia de Deus que nós vivemos, nos movemos e somos. A Misericórdia de Deus é infinita porque é a expressão do Ser Total de Deus! A misericórdia de Deus é a justiça do Reino.

Todas as ações de Deus são reveladoras de sua misericórdia. O que Deus quer é que nós sejamos salvos, por isso, por meio de numerosos sinais e prodígios vai estabelecendo no mundo e, particularmente, no coração das pessoas, uma nova maneira de ver, de sentir, de crer, de querer, de amar, de perdoar… Deus é Misericórdia!

Vamos recolher alguns elementos Bíblicos desta verdade:

“Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu” (Mt 5,17-18.20).

Postura de misericórdia quanto à ofensa e a reconciliação: “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: ‘Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, lhes digo: todo aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal. Quem diz ao seu irmão: ‘imbecil’, se torna réu perante o Sinédrio; quem chama o irmão de ‘idiota’, merece o fogo do inferno” (Mt 5,21-22).

Postura de misericórdia quanto ao adultério e a fidelidade: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não cometa adultério’.  28 Eu, porém, lhes digo: todo aquele que olha para uma mulher e deseja possuí-la, já cometeu adultério com ela no coração” (Mt 5,27-28).

Postura de misericórdia quanto ao juramento e à verdade: “Vocês ouviram também o que foi dito aos antigos: ‘Não jure falso’, mas ‘cumpra os seus juramentos para com o Senhor’. Eu, porém, lhes digo: não jurem de modo algum: nem pelo Céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o suporte onde ele apóia os pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. Não jure nem mesmo pela sua própria cabeça, porque você não pode fazer um só fio de cabelo ficar branco ou preto. Diga apenas ‘sim’, quando é ‘sim’; e ‘não’, quando é ‘não’. O que você disser além disso, vem do Maligno” (Mt 5,33-37).

Postura de misericórdia quanto à violência e a resistência: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês. Pelo contrário: se alguém lhe dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda!” (Mt 5,38-39).

Postura de misericórdia quanto ao amor: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!’ Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês!” (Mt 5,43-44).

Novo critério de fé: “Prestem atenção! Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu” (Mt 6,1).

A experiência da misericórdia de Deus é algo que transforma a vida porque, modifica os hábitos, refaz os critérios, alimenta os sonhos e renova a fé.

É por isso e, por muito mais, eu creio na misericórdia de Deus!

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Nada há de mais significativo do que a origem da palavra misericórdia: a miséria humana passando pelo coração de Deus. Por isso, os vinte anos da instituição do Domingo da Divina Misericórdia, instituído por São João Paulo II, e que celebramos no segundo domingo depois da Páscoa, deve sim ser mais valorizado e testemunhado como um dia de maiores louvores e gratidão. Especialmente hoje. Especialmente em tempos de pandemia e total miséria humana diante de suas fraquezas biológicas. O mundo grita: misericórdia, Senhor!

Misericórdia! Esse grito de socorro ilustra bem a grande insegurança humana nos momentos de privações ou provações. Foi assim desde sempre. Centenas de passagens bíblicas, do antigo e novo testamento, provam que a miséria humana foi sempre seu maior clamor e a intervenção divina uma resposta eficiente. A história está eivada desses acontecimentos. O povo de Deus sofreu escravidões e perseguições desde seus primórdios. Amassou barro no Egito. Viveu um lento e maravilhoso processo de purificação durante quarenta anos no deserto. Assim cresceu e amadureceu no sonhado direito de liberdade e soberania. Ganhou sua terra prometida e viveu tempos de bonança e alegria.

Como sempre, decaiu. A pandemia virulenta da prepotência o levou a um novo processo de escravidão. Esse vai e vem, essa situação de efervescente respeito ao que é sagrado, em especial seu temor a Deus, constituiu a maior e mais significativa característica humana diante dos mistérios da própria vida. Reconhecer e valorizar sua essência, razão dos seus dias, prova de sua origem divina, é um precioso momento que a espiritualidade humana vivencia a partir de suas fraquezas. Então, em uníssono, nos lembramos do Pai e recorremos a Ele. A fé salta aos olhos da sociedade fragilizada e carente e o mundo cristão pede socorro.

Tal qual aquele cego nas ruas da pequena Jericó: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” Ou o leproso no seu apelo quase inseguro: “Senhor, se queres, podes curar-me”. Ou mesmo aquele centurião romano intercedendo por seu servo: “Eu não sou digno que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e meu servo será curado”. Uma só palavra divina e obterei a cura desejada! Ainda há dúvidas? Pois a sogra de Pedro ardia em febre e pediram por sua cura: “Inclinando-se sobre ela, ordenou ele à febre, e a febre deixou-a”. Ordenou Cristo e a cura se fez! Então o detalhe: “Ela levantou-se imediatamente, e se pôs a servir”…  Esse detalhe da graça não nos pode fugir. Porque o processo de cura exige não só uma disposição renovada de serviço ao irmão, como também a renovação espiritual como na cura do paralítico, onde a primeira graça foi o perdão dos pecados. “Quem é esse homem que profere blasfêmias? Quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus?” Essa é a grande questão do mundo diante da fé cristã.

Eis porque a imagem da divina misericórdia está relacionada com o momento em que Jesus ressuscitado aparece a seus discípulos, em especial a Tomé, aquele que duvidou, e lhe apresenta suas chagas (Jo 20, 19-31). Restabelece e evoca em parte o grito dos dez leprosos aos clamar: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. A cura se processa, mas só um, um samaritano, alguém fora do rebanho, é capaz de reconhecer a graça e voltar para agradecer. Só Tomé, o incrédulo, foi capaz de se humilhar diante do milagre da vida restabelecida em Cristo e por Cristo e exclamar diante de sua misericórdia: “Meu Senhor e meu Deus!” O momento é esse, o mundo precisa reconhecer e clamar: “Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro”. Repita. Seu grito não é único, mas precioso.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Páscoa significa passagem. Recorda, em sua origem, a passagem libertadora do povo de Deus pelo Mar Vermelho, quando de sua fuga do Egito. Passagem da escravidão para a liberdade, da morte para a vida… Essa memória histórica de um tempo de dor e sofrimento, transformado pela ação miraculosa de Deus, é que faz da data um acontecimento especial para o povo judeu.

Para nós, cristãos, a data ganhou um novo rosto. Da dor e sofrimento de um homem, cuspido, escarrado, zombado e coroado por espinhos por ter dito “Eu sou aquele que é”, ou seja “Javé”, Deus e Senhor, a quem seus inimigos, ironicamente, diziam ser o rei dos judeus; dos lábios entumecidos de um prisioneiro do sistema político e religioso que disse ser “a ressurreição e a vida”, do rosto esbofeteado de um homem comum é que nasce a nova esperança pela “vida nova” sonhada e desejada pelo homem novo, ressuscitado com Ele. Essa é nossa passagem, mudança de conceito, novo olhar que o túmulo vazio da Madalena arrependida trouxe ao mundo: Cristo ressuscitou!

Compreender essa mudança da morte para a vida, essa misteriosa passagem da escravidão do pecado para a graça da vida plena é o grande desafio que a Páscoa cristã proporciona aos seguidores do Mestre de Nazaré. Pode vir algo de bom desse povoado pobre e insignificante? Pois não é que veio? Não é que a improvisada carpintaria de um vilarejo distante tornou-se o epicentro do maior construtor de uma nova esperança humana, o artesão da madeira bruta tornou-se o modulador de corações renovados pela vida nova que brotou de um túmulo novo, sem contaminações anteriores, sem manchas putrefatas comuns aos cadáveres humanos, porém pleno de vida! Tomé, toque essas chagas, olhe o lado perfurado! No deserto, da rocha perfurada por Moisés jorrou água. No calvário, daquela rocha humana de um novo Moisés brotou sangue e água. Tomé viu, tocou, acreditou. Felizes os que não viram, mas acreditaram! Felizes somos nós!

Pedro, um dos que viram e creram, o mesmo que negara sua fé por três vezes, escreveu um dia: “Na sua grande misericórdia ele nos fez renascer pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos para uma viva esperança” (I Ped 1,3)  e Paulo, que não viu, mas trombou com Ele na estrada de Damasco, confessou: “Se Cristo não ressuscitasse, nossa fé seria vã” (I Cor 15,17). Como vemos, crer na ressurreição não é um simples dogma de fé, mas essência desta. É o primeiro grande passo para a conversão cristã, sem o qual não se entende cristianismo como profissão de fé. “Eu sou Aquele que É” não se revela em separado da outra afirmativa “Eu sou a ressurreição e a vida” e conduz-nos à mais consoladora das palavras do nosso mestre: “Quem crê em mim, ainda que esteja morto, ressuscitará para a vida eterna”. Esse é um grande mistério da nossa fé. Tão grandioso quanto o mistério eucarístico!

Disso tudo, o que nos sobra é a vergonha de duvidarmos de quando em vez. As incertezas são aliadas de nossas inseguranças pessoais, das dúvidas corriqueiras que temos por viver uma vida atrelada à realidade da matéria, da lógica e do ponderável que nos ronda diuturnamente, mas a fé extrapola tudo para tão somente encher nossos corações de uma esperança maior, ressuscitada com Cristo. Nisso reside e consiste a fé verdadeira. Acreditar não basta. É preciso abandonar nossas lógicas e ciências limitadas, asfixiantes muitas vezes, que tudo explica, mas se perde em teorias e conceitos quando o assunto é questão de fé. Não explica a teoria do tudo. O ponderável vem da lógica, mas a lógica é imponderável diante dos mistérios da vida. Só um de nós disse ser ressurreição e vida. E também “Javé”, aquele que É.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

A cena do Papa Francisco galgando as escadarias de uma praça São Pedro completamente vazia, no último 27 de março, possui mais que um emblemático significado… É sintomática, aterradora. É bela, esperançosa. O quadro compõe todos os elementos para um aprofundamento da realidade que a pandemia mundial de um vírus pode representar. Um ancião numa praça vazia, perfazendo o caminho de uma escada bela, porém imensa – como aquela de Jacó – tendo por meta um altar, uma mesa e ícones da fé cristã, mas por objetivo abençoar o mundo e seus habitantes! Poesia apenas ou sério alerta às ações humanas que negligenciam o poder de Deus nessa história toda?

Não sei mais o que dizer. Estamos vivendo dias de provações nunca dantes provados e testemunhados pela totalidade do gênero humano. Alguns dizem que o dia apocalíptico das dores finais bate à porta. Outros que a volta gloriosa do Mestre já faz ouvir os sons das trombetas e clarins angelicais, quais batedores alvissareiros de um novo tempo. Por outro lado, a dor e o medo provocam a latente espiritualidade humana. Muitos voltam a acreditar e apelam a misericórdia do Pai de todas as coisas. A fé até então recrudescida pelos prazeres do bem viver aflora como aquela água que brotou da rocha no deserto. Ainda bem! Constata-se a velha máxima das forças contidas na realidade da dor e do amor. Quem não se aproxima pelo amor, vem pela dor. Deus-Pai, de uma forma ou de outra, sempre se faz presente na história humana.

Todavia, o essencial não foi dito ainda. Constata-se na mídia brasileira um silêncio e uma indiferença questionadora quanto ao sermão proferido naquela praça vazia. Nenhum órgão da grande mídia se preocupou em comentar ou ao menos reproduzir o que foi dito pelo solitário ancião da cátedra de Pedro. Suas palavras de esperança ecoaram no vazio da mídia fatalista e extremamente imediatista. Para esta o que vale é a palavra da ciência, desta triste e falida ciência humana capaz de disseminar um vírus, mas incapaz de frear sua ação. Palavras, no caso, apenas soltam seus perdigotos contaminadores. Mas no caso da esperança adoecida, eis que a Palavra cura. “Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?”

Nesse momento de dor e angustia que assola a grande nave humana e muitos de seus tripulantes zombam da “sonolência” divina, eis que Papa Francisco renova nosso espírito com a profundidade da Palavra de Deus. A citação e os comentários sobre o texto de Marcos (4, 35-41) era tudo o que o mundo precisava ouvir nesse tempo de tempestades e trovoadas. Não se compreende a indiferença midiática sobre palavras de alento e conforto providencial. Fica aqui minha indignação.

Mas também, ecos dessas palavras. Quais as razões de nosso pânico? Simples falta de fé. “O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos, precisamos do Senhor como os antigos navegadores das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida”, lembrou o papa com seu discurso alentador. Igualmente recordou nossa necessidade de abraçar as cruzes cotidianas, não fugir da sua realidade. “Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de onipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade, de solidariedade”.

Eis que, de repente, o mundo se descobre fraterno e solidário. Aprende a amar, apesar das suas dores. “Mas Tu, Senhor, não nos deixe à mercê da tempestade”, foi o brado de Roma para o Mundo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

Nada incomoda tanto quanto o silêncio porque, questiona, provoca, desmonta…  Nada é tão necessário quanto o silêncio porque, amadurece, implica, ensina…  Perdemos a familiaridade com o silêncio.   Mas, uma coisa é certa: é preciso que algo se cale para que algo seja ouvido.

Silêncio Proibido. Pedestres apressados, esquinas tumultuadas, agência de correio, ecos de guerra… onde está o silêncio? Campainha do telefone, torrente de informações, rumor das máquinas, música de todos os lados, trepidação da vida… onde está o silêncio? Uma criança que chora, a mãe que grita, o vizinho que bate… onde está o silêncio? Calor excessivo, luz em demasia, densa fumaça, exagero de comida… onde está o silêncio? Diante de mim, rumor; atrás de mim rumor; em volta de mim, rumor ainda maior… onde está o silêncio? Mundo gasto; homem fatigado; criança prisioneira… silêncio proibido?

NÃO BASTA fazer parar a carroceria, é preciso que também o motor de dentro, cesse de girar a toda velocidade.  Talvez, o fato de vivermos sempre em fuga, nos leve à constante agitação e ruído. Somos uma geração de fugidios.  E o mais grave é que fugimos de nós mesmos…

O deserto e as escadas. No deserto o vento soprava e nada o detinha.  As colinas rochosas que se projetavam no horizonte, erguiam-se muito unidas como pregas de um manto, formando cumes de granito sem prumo.  E o sol se escondia… Nos degraus destas escadarias as pessoas subiam e desciam.  Pelas portas mecânicas, muita gente entrava, se acotovelava, passava.  E, a multidão anônima se cruzava.  O vento soprava, mas o deserto era o mesmo.  Já era tarde quando o sol se escondia…

De pé sobre as colinas, ou caminhando no chão duro das escadas, a mesma pergunta, como um raio de sol, como um raio de neon: “Quem somos nós? Que estamos fazendo aqui? Quem são esses homens, voluntariamente destituídos de tudo? Por que eles vivem? Por que eles rezam? O que buscam e para que servem?  Onde encontram forças para sorrir? E essas multidões compactas que circulam rapidamente, no que pensam? Como têm o ar ausente essas pessoas que deslizam no vai e vem das escadas… e eu? Por quem sou habitado?”

Assim, no deserto e no ruído, o silêncio surge.  Inesperadamente tu te perguntas: “quem és, que fazes, aonde vais?”

NOSSAS CORRERIAS nos tornam surdos aos apelos mais profundos de nós mesmos.  E, enquanto achamos que estamos fazendo o que queremos, somos deveras prisioneiros do nosso indiferentismo. Quem é mau para si mesmo, com quem será bom? Não há ninguém pior  do que aquele que maltrata a si mesmo.  Somente no silêncio a verdade de cada um se entrelaça e cria raízes.

Silêncio Absoluto. Passaram-se as horas, o sol fechou seus olhos e o volume de estrelas apontava para uma noite pontilhada de luz.  Estirei-me sobre a relva do prado e deixei que meus olhos vagabundeassem pela Via Láctea, perdessem-se nessa imensidão, nessa planície às avessas.  E, na minha cabeça as palavras caíram, uma a uma.  Nada mais havia a dizer, nada mais… frase alguma.

As fórmulas eram demais, os sentimentos também.  E tudo era excessivo, exceto esse silêncio que me arrastava para a intimidade do seu mistério.  Ao acolher esse companheiro, compreendi uma linguagem desconhecida, e não era capaz de dizer quando, onde, como, então, por quê.

Via-me superado.  E, por um instante, por um instante apenas, pude pressentir o infinito nas coisas incompletas.  Eu era esse ser inacabado, feliz por ser superado por um tão grande infinito, por um silêncio que não é vazio, por uma intensa comunicação sem palavras.

NO BARULHO me procurei, mas foi no silêncio que me encontrei.

Se quiser fazer a fecunda experiência do silêncio, não se intimide, busque, você encontrará a si mesmo e a Deus.  Leia Primeiro Livro dos Reis 19,1-13

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS – DIA 26/03/2020 – QUINTA




Diocese de Assis

IA

Nunca um tema religioso foi tão apropriado para um tempo de agonia e medo quanto o que a Igreja Católica oferece ao povo nesta quaresma negra que estamos vivendo. O tema da CF deste ano veio como prova da unção divina nos momentos críticos da história humana: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.  Seu lema também é revelador: “Fraternidade e vida, dom e compaixão”. O Brasil – bem como o mundo todo- já chora suas perdas, mas sua Igreja nos lembra o dever da solidariedade, pois que “a vida é essencialmente samaritana”, nos recorda o texto-base dessa campanha.

A citação de Lucas (10, 33-34), quando da narrativa da parábola do bom samaritano, é o mais perfeito exemplo para as situações endêmicas que a estrada da vida nos oferece cotidianamente. O que se dirá em tempos de pandemia, como o que hora vivemos? Alguém tem que encontrar forças para enfrentar o caos. Aqui temos o exemplo vivo e contumaz dos profissionais de saúde que se desdobram com louvor, profissionalismo e muita garra no afã de conter ou ao menos amenizar as dores do povo. Verdadeiros samaritanos. Esses nos ensinam que a compaixão não tem religião, que “as coisas ruins acontecem para a gente aprender”, que a essência da vida é maior e mais imune às ameaças do vírus do egoísmo do que qualquer tentativa contra a vacina da solidariedade. Essa sim, preserva a imunidade do coração humano, aquela que desenvolve sua capacidade de amar. “Senhor, reconstrua nossas vidas”, estava escrito num oratório cristão.

Da minha parte, estou aqui, recluso, longe dos filhos e netos, longe do trabalho que tanto prezo, acompanhado de minha esposa e dos muitos anjos que nos protegem, apenas por questões de ordem sanitária. Gostaria de estar lá, no meio desse povo sofrido, carente mais de amor do que de compaixão. No entanto, amor e compaixão são sinônimos e só agora me dou conta disso. Minha quarentena forçada me ensina a viver uma quaresma diferente, voltada à oração e aos sinais catastróficos que abarrotam os noticiários cotidianos. Será nosso medo maior que nosso instinto de sobrevivência? Seria covardia esse isolamento forçado que nos impuseram e que de bom grado aceitamos? Todos, de certa forma, temos medo de morrer, simplesmente porque nosso amor pela vida é maior. Talvez estejamos à porta de uma revelação grandiosa e da compreensão do que seja a vida em plenitude prometida pelo mestre nazareno: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Essa coragem nos falta. Compreender que aqui estamos de passagem e que aqui exercitamos uma tarefa de aprimoramento, de construção, de busca da perfeição… é entender que a vida, o mundo, toda nossa essência não se resume a um ciclo biológico, mas ultrapassa tudo isso em função de algo maior, mais perfeito, perene, livre de pandemia e endemias circunstanciais. Pudéssemos penetrar nesse mistério! Pudéssemos agora entender o outro lado da nossa razão existencial! Compreenderíamos ser a compaixão algo maior que as dores que hora sentimos, uns pelos outros, pois que compaixão maior do que aquela vinda do Pai que nos criou… Essa nenhum bom samaritano é capaz de entender ou demonstrar em plenitude.

Enquanto isso, tenhamos um mínimo de sensatez. Ou mesmo leveza na alma, no coração. Sem ironias, mas com alegria de uma esperança maior. Para desanuviar, eis que Fonseca, meu guru dos momentos difíceis, me faz mais uma das suas piadinhas… Não foi e nem será nenhuma gripe H1n1 ou Covid 19 que nos destruirá. A destruição já aconteceu com o H2O no dilúvio… Depois dessa, Deus fez Nova Aliança com a Humanidade. Um gesto de compaixão sem limites.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]