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DIOCESE DE ASSIS

A preguiça mental, associada à vida fácil, justifica todo tipo de “escora”.

Tem gente que se encosta em tudo e em todos.

Há os que se encostam no médico, no prefeito, no padre, no pai, na mãe, no amigo, na política, no emprego, nas entidades, nas associações; nas cestas… “de graça, até injeção na testa!”, dizem alguns.

Há também os que se encostam em Deus, na bênção, no passe, no despacho, na magia, no tarô, no horóscopo, nos búzios, nas cartas, nas runas, nas previsões, na sorte…

Pessoas dessa índole querem que o mundo acabe em barranco para viverem encostadas. Acrescente-se a este comodismo a passividade: gente assim nunca toma iniciativa. Ora, para que “esquentar a cabeça”? Recebem tudo de graça; basta fazer “ar de choro” ou ter uma criança como escudo e tudo está arranjado; fica “mole pro gato”.

A realidade presente é uma denúncia incisiva: existem muitos aproveitadores. Mas, há os que precisam de fato. E, estes acabam sempre mal, pois a única coisa que acabam ganhando é o descrédito e a desconfiança dos que passaram primeiro. Não é à toa que existe o jargão popular: “papagaio como o milho e periquito leva a fama”.

Não podemos ser ingênuos. Existe desonestidade até mesmo entre os que não tem nada e vivem do que é dos outros. Também pudera, o mal exemplo vem de cima. É sempre assim: na vida, “quando os que governam perdem a vergonha os que são governados perdem o respeito”. E, tudo acaba em nada porque, como é que “o sujo vai falar do mal lavado?”

Infelizmente, existe entre nós uma cultura assistencialista, que mais sugere desencargo de consciência, permitindo um acelerado, contínuo e vicioso processo de “mendicância” que, nas mãos de muitos, virou um dos “negócios” mais rentáveis do que o trabalho de sol a sol.

As pessoas precisam deixar de “maquinar” esquemas pra viver bem e começar a pensar a própria existência para viver com autenticidade.

Parece muito bom ter sempre alguém resolvendo os meus problemas e bancando as minhas contas, mas a vida de sanguessuga é muito curta e infeliz.

Não vale a pena explorar os outros, usando como álibi necessidades sagradas de subsistência que amolecem, até mesmo, o coração dos mais duros dos homens.

Pense bem antes de qualquer atitude ou comportamento injusto. “O que adianta ganhar o mundo e perder a vida?”

Pensar não dói e faz bem à vida!

Vejamos o que diz o livro do Eclesiástico sobre isso:

“O homem de bom senso não deixa de refletir, enquanto o estrangeiro e o orgulhoso não conhecem o temor. Não faça nada sem refletir, e não mude de idéia enquanto está agindo” (Eclesiástico 32,18-19).

“A palavra é o princípio de qualquer obra, e antes de agir, é preciso refletir. A raiz dos pensamentos é a mente, e ela produz quatro ramos: bem e mal, vida e morte. Mas os quatro são dominados pela língua. Existe quem é capaz de instruir muitas pessoas, mas é inútil para si mesmo. Existe quem ostenta sabedoria em palavras, mas é detestado e acaba morrendo de fome” (Eclesiástico 37,16-20).

“Muitos pecam por amor ao lucro, e quem busca enriquecer-se age sem escrúpulos. Entre as junturas das pedras finca-se a estaca, e entre a compra e a venda o pecado se infiltra. Se a pessoa não se agarra com firmeza ao temor do Senhor, sua casa logo será destruída” (Eclesiástico 27,1-3).

Podemos fazer a diferença, fazendo diferente.

Somos todos responsáveis e capazes de mudanças que começam em nós e por nós porque. Usemos a fé e a razão para darmos conta da vida e das situações que estão diante de nós, cada dia.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

A rodovia da vida humana foi sempre bem sinalizada. Setas, luminosos, faixas, placas de todas as cores e tamanhos foram plantadas na orla da história, ao longo de seus domínios. Desvios, pontes e aterros o homem então construiu. Encurtou o percurso, mas aumentou os riscos de acidentes.

“Não matar” (1) é a premissa de todos os mandamentos, pois que todos os demais se complementam, dentro de uma leitura concêntrica do decálogo do Sinai. Ao volante nos lembramos: não corra, não mate, não morra!

Então a Igreja nos ensina que “a estrada deve ser um instrumento de comunhão, não de danos mortais” (2). Esses já perfazem, com cifras assustadoras, a realidade cotidiana do mundo sem respeito às leis divinas. Um veículo não pode ser mais uma arma em mãos de irresponsáveis.

A educação para o trânsito passa pela disciplina do bom relacionamento entre as pessoas. “Cortesia, correção e prudência” (3) ajudam, e muito. Podem amenizar um problema imprevisto ou mesmo serenar os ânimos do estressado habitual, que cruza nosso caminho e até das eventuais estafas que o dia a dia moderno nos proporciona.

Aqui entra a caridade, princípio básico do relacionamento cristão dentro de uma sociedade tristemente individualizada. Paradoxo que contradiz o sentido da sociabilidade, mas que deve ser lembrado pela prática cristã: “Sê caridoso e ajuda o próximo em necessidade”(4), especialmente quando vítima de acidentes.

Mas as normas de um tráfego mais humano vão além. Mais do que nunca, é preciso nos lembrar de que “o automóvel não é uma expressão de poder”(5). Eis um grande mal que divide e provoca grandes estigmas na sociedade do mando e poder, do ter e prazer. Dominação é fonte de muitos pecados.

Todavia, a Igreja também nos convoca a sanar o mal pela raiz, ou seja: “Convence os jovens a não conduzirem quando não estão em condições de o fazer”(6). Desafio para os pais, mas igualmente para os formadores da conduta social, cuja meta não pode continuar como facilitadora da liberdade sem responsabilidades.

Do sinistro vêm conseqüências. Muitas delas irreversíveis, marcando para sempre a vida e frustrando os sonhos de muitas famílias. “Ajudar as famílias dos acidentados”(7) é o mínimo que se pode esperar de um povo cristão. Não é o que vemos nos entraves burocráticos de nossas leis. Processos se arrastam por anos infindos, sem que muitas famílias sejam reparadas pelos eventuais danos. Isso sem falar da indiferença e falta de solidariedade de muitos que pelas nossas estradas transitam.

Afloram, no entanto, as agressividades dos que se envolvem num acidente. Aqui o conselho é apaziguador: “Procura conciliar a vítima e o automobilista agressor, para que possam viver a experiência libertadora do perdão”(8). Ah, o perdão, a conciliação! Quando veremos essa prática em nosso trânsito?

Vale acreditar. Então nada mais natural que nos policiarmos mutuamente, sem necessidade de tantas regras e punições. “Na estrada, tutela a parte mais fraca”(9). Isto é, você também pode proteger, resguardar o direito e a integridade dos que experimentam vulnerabilidade diante do caos de um trânsito voraz.

Chega-se assim ao último mandamento: “Sinta-se responsável pelos outros”. Nada do cada um pra si, pois que nas estradas da vida a lei do trânsito está em perfeita sintonia com as leis de Deus. “O que observa a disciplina está no caminho da vida, anda errado o que esquece a repressão” (Prov 10,17). Boa viagem!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

A afirmação básica do Evangelho é a valorização incondicional da pessoa! Por isso, as opções de Jesus estão, sempre, em conflito com os interesses sociais, políticos, econômicos e religiosos de sua época e da nossa.

Vivemos no tempo do materialismo, da rotulação e da indiferença. Um tempo em que as pessoas são avaliadas, lembradas, medidas ou reverenciadas mais pelo que têm do que pelo que são; mais pelo que falam do que pelo que fazem; mais pelo que vestem do que pelo que valem; mais pela aparência do que pelo coração; mais pelo status do que pela presença; mais pelo poder do que pelo serviço; mais pelo dinheiro do que pelos valores…

Apesar de viver neste mundo e neste tempo, precisamos aprender a romper com as obviedades deste nosso mundo e deste nosso tempo. Se queremos dar o “corte” temos que avançar para águas mais profundas, conforme a dica do Evangelho.

“Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: ‘Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.’ Simão respondeu: ‘Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.’ Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se arrebentavam” (Lc 5,1-11).

É preciso se abrir à oportunidade de mudança; acolher os motivos de alegria; dar razão à esperança; permitir a hora da parada e entender o tempo do silêncio. Isso significa, conforme o Evangelho: dar atenção à Palavra; tomar decisão pessoal; fugir do consenso; sair da obviedade; renunciar o rótulo. O evangelho é construção de fé a partir do Mistério, por isso é, ainda, tarefa de cada um de nós, hoje.

Quando a oportunidade da mudança se abre e não mudamos, a vida se torna alvo da mais dura descrença e imobilismo, roubando a coragem de um coração que fica relegado à sombra da desconfiança e do medo. Mudar é sadio porque significa crescimento, desinstalação, descoberta e avanço.

Quando o motivo de alegria acontece e não nos alegramos a vida se converte em abismo intransponível ou, quem sabe, em poço da ingratidão escavado pelo racionalismo mórbido, pela insensibilidade e pela indiferença. A alegria do coração é vida para o ser humano porque possibilita, a qualquer pessoa, manter-se de cabeça erguida e contente, mesmo em meio às contradições, incertezas e males.

Quando a razão da esperança ilumina e não ‘esperançamos’, a vida, facilmente ou fatalmente perde o brilho, fica apagada, perde o sentido e se desespera. A esperança é o carro chefe da liberdade. É ela quem permite aos que põem os pés no caminho, olhar para frente, recuperar o entusiasmo, desabrochar para a confiança e perseverar na fé. Ter esperança é aprender o diálogo na tensão passado-presente-futuro.

Quando a hora de parar desperta e não paramos, a vida se torna um cansaço permanente, roubando a energia de um corpo que realiza cada vez menos, interage cada vez menos e é empurrado, cada vez mais, para compensações de momento para aliviar o estresse, o cansaço e os pesos. Compensação não vale a pena; não é nada bom; não interessa; desumaniza. Bom mesmo é aceitar o limite do corpo e permitir-se parar.

Quando o tempo do silêncio e não silenciamos, a vida fica ruidosa e incomunicável, desgastando qualquer palavra e tirando a força dos ouvidos. Silêncio não é emudecimento; não é deixar de falar. Silêncio é, antes de tudo, saber falar, saber calar, saber escutar. Tal atitude requer o encontro com a Palavra (de Deus) na sua pureza. Porque, aliás, a voz de Deus é o Silêncio.

Coloque sua vida num novo tempo: avance para águas mais profundas!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Enfim, um domingo para se celebrar a Palavra…. Como se os demais não o fossem? Sim, domingo já nos diz: Dominus, Senhor, Dia do Senhor. Mas então, porque só agora o Papa resolve estabelecer um domingo, o terceiro do Tempo Comum, para se celebrar oficialmente a Palavra de Deus? Porque o mundo necessita de maiores ênfases para valorizar o que Deus já nos diz diariamente: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus”.

Ora, se essa é a mensagem central da Palavra, um apelo quase constante à conversão e à mudança de vida proposta pelos Evangelhos, em especial, porque só agora a Igreja estabelece um único domingo para se refletir, celebrar e divulgar a Palavra?  Já não temos o Dia da Bíblia, o mês? Não sejamos tão simplistas assim. O mundo está carente da Palavra e, mais do que nunca, é preciso dar-lhe uma conotação de esperança renovada, para que mais e mais pessoas encontrem nas páginas bíblicas a essência do que buscam. “Hoje, como então, Deus deseja visitar aqueles lugares onde se pensa que Ele não está. Jesus, como dizem os Evangelhos, começou a percorrer toda aquela região multiforme e complexa, a Galileia dos excluídos” – disse o Papa Francisco em sua homilia do Primeiro Domingo da Palavra – lembrando-nos que a Boa Nova da Salvação começou a ser anunciada onde menos se esperava.

Enfatizando essa necessidade, Francisco realça o carisma missionário da Igreja e seu pioneirismo desbravador: ir onde o povo está, buscar discípulos, semear, disseminar, fazer ao largo, lançar suas redes, confiar mais nas promessas advindas da Palavra. Lembra-nos que para tanto não podemos reter a Palavra, como se esta fosse propriedade nossa, se restringisse às paredes de nossos templos, do templo divino que pensamos ser.

“Não era certo o lugar onde se encontrava o povo eleito na sua pureza religiosa melhor. E, no entanto, Jesus começou de lá, não do átrio do templo de Jerusalém, mas do lado oposto do país, da Galileia dos gentios, de um local de fronteira, de uma periferia. Disso mesmo podemos tirar uma lição: a Palavra que salva não procura lugares refinados, esterilizados, seguros. Vem à complicação de nossos dias, as nossas obscuridades. Hoje, como antes, Deus deseja visitar aqueles lugares onde se pensa que lá Ele não vai” – disse o Papa.

O Domingo da Palavra, portanto, é um momento litúrgico voltado para o próprio povo de Deus, para recarregar suas energias, renovar seus propósitos e compromissos com Deus, e, quiçá, retomar sua caminhada missionária em direção ao mundo, as periferias existenciais que nos pressionam e tolhem nossos ânimos evangelizadores. Diria ser um dia de nova imposição das mãos sobre as promessas que jorram da Palavra de Deus. Um dia de refazer nosso juramento batismal, nosso compromisso missionário. Por que não? Afinal, quem conhece a Palavra dela toma posse, com ela se compromete bem ou mal. Porque não haveria desobediência se não houvessem ordens, infrações sem leis, violações sem restrições, pecado sem o conhecimento destes. Isso tudo provem da Palavra Revelada, a ciência humana que mais nos aproxima de Deus.

Notemos que para tanto é necessário divulgar a verdade estampada em suas páginas. Sem o conhecimento desta a vida perde o eixo da racionalidade, do belo, da plenitude que tanto buscamos. A Palavra de Deus desperta-nos para o sentido da vida, o amor verdadeiro. “Fomos atraídos pelo Amor para seguir a Jesus. Só Ele, que nos conhece e ama profundamente, leva-nos a fazer ao largo da vida, como o fez com seus discípulos. Só Ele para nos ensinar, nos enviar, confiantes em sua palavra. A única palavra que não nos fala de coisas, mas de vida” – concluiu o Papa.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Quando olhamos as Sagradas escrituras bem de perto, nos deparamos com várias atitudes e métodos de Deus que parecer estranhos e completamente às avessas e pouco convencionais.

Na verdade, Deus não poupa ninguém das consequências de seus ato e, nem tão pouco os protege de situações que poderão trazer conversão e mudança. E por que isso? Porque de outra maneira a gente não entende; não para; não ouve; não obedece; não volta atrás; não se converte.

Nós sim, costumamos poupar as pessoas dos seus problemas ou das consequências de seus atos e atitudes. Com isso sustentamos um estilo de vida não condizente com a verdade e nem com a chance de mudança e conversão.

O texto de Isaias 8,23b-9,3 traz, em seu conteúdo as primeiras provocações sobre o que estamos dizendo desde o começo:

“No tempo passado o Senhor humilhou a terra de Zabulon e a terra de Neftali; mas recentemente cobriu de glória o caminho do mar, do além-Jordão e da Galiléia das nações. O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença como alegres ceifeiros na colheita, ou como exaltados guerreiros ao dividirem os despojos. Pois o jugo que oprimia o povo, – a carga sobre os ombros, o orgulho dos fiscais – tu os abateste como na jornada de Madiã”

Notemos bem que: o texto diz que “o Senhor humilhou a terra de Zabulon e a terra e Neftali”. O próprio texto, logo em seguida, mostra a consequência pedagógica da humilhação de Deus para com o seu povo: “recentemente cobriu de glória o caminho do mar…” e “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz”.

No Evangelho de Mateus 4,12-23, vemos o eco deste texto de Isaías e a consequência vocacional desta pedagogia divina: tanto para o ministério público de Jesus, como para o chamado e o seguimento dos discípulos: Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galiléia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galiléia, no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: ‘Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galiléia dos pagãos! O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz.

Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo: ‘Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo. Quando Jesus andava à beira do mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse a eles: ‘Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens.’ Eles, imediatamente deixaram as redes e o seguiram. Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu consertando as redes. Jesus os chamou. Eles, imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram. Jesus andava por toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo”

Entender a pedagogia divina, tanto na Bíblia, como em nossas vidas e comunidades é fundamental para nos lançarmos com confiança nos braços do Pai e, no mundo; no campo mais desafiador.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

Dentre os poucos valores que a humanidade cultiva sem distinção de credos, raça ou cor da pele está a amizade. Só por isso, ainda a considero como forte sinal de esperança e atributo importantíssimo para a construção do mundo novo que desejamos.

Mesmo assim, essa qualidade entre os seres humanos já dá sinais de cansaço, descrença. Torna-se coisa rara numa sociedade atropelada pelos interesses individuais e não coletivos. Truman, ex-presidente norte americano, já em sua época constatou a degradação desse valor social ao afirmar: “Se você quer ter um amigo em Washington, compre um cachorro”. A que ponto chegou a humanidade! Amigo leal já não se encontra gratuitamente, nem entre aqueles da própria raça! Amigo fiel só um cão!

Num passado mais remoto, mais precisamente nos anos 330 DC, encontramos um perfeito exemplo de amizade verdadeira. Dois amigos, dois santos homens enfrentaram os preconceitos que distorciam o espírito de amizade e a fé que os uniram sempre. Leais e fraternos desde a juventude apoiavam-se mutuamente na amizade que devotavam, a ponto de tudo fazerem para a alegria um do outro. “Ambos lutávamos não para ver quem tirava o primeiro lugar, mas para cedê-lo ao outro. Cada um considerava como própria a glória do outro” (Orátio 130 – S. Basílio e S. Gregório). A única competição entre eles era para fazer a felicidade do outro. Não lhes importavam os louros da vitória, a glória pessoal, a vaidade de uma conquista, desde que tudo isso fosse mérito pessoal de um deles. Tornaram-se os protetores da verdadeira amizade.

Já em nossos dias, um conterrâneo famoso deixou registrado um dos mais belos textos sobre o tema. Vinícius de Moraes, nosso poeta, assim definiu suas amizades: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Se um deles morrer, ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo”!

Exageros à parte, a verdade é que não vivemos sem esse relacionamento interpessoal, com o qual nos identificamos ou sobre o qual nos espelhamos. O princípio de uma amizade leal, verdadeira, é o encontro de uma alma gêmea, que se une à nossa, que faz seus os sentimentos da pessoa à qual devotamos nossa vida, confiamos nossas fraquezas ou com quem comungamos nossos sonhos e realizações. É a outra face de nós mesmos.

Amizade assim está isenta de segundas intenções. Quando ela acontece, deixa de ser um sentimento de interesses pessoais para dar lugar à mais autêntica expressão da verdade, sem subterfúgios. Por isso, não se confunde amizade com relacionamento casual, dotado de segundas intenções, atração física ou oportunismo para se conquistar posições, sucesso profissional ou qualquer outra razão que não perfaz o bem comum.  Nesta perspectiva, torna-se rara nos dias de hoje a verdadeira amizade, pois quase todas estão contaminadas com o vírus do oportunismo. Quase todas possuem uma carta marcada no jogo de interesses em que se afundam as relações humanas.

Um referencial de peso é a definição mais que perfeita sobre esse sentimento: um tesouro! O mestre de Nazaré gostava de repetir: “Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro”. Na véspera de sua paixão, incluiu o tema em seu discurso de despedida, dizendo: “Vós sois meus amigos… Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi do meu Pai” (Jo 15, 14-15). Em outras palavras, a amizade sincera é a revelação de Deus entre nós. No entanto, uma única declaração de Jesus reforça a santidade e nos prova a lealdade desse sentimento humano, quando casto e sincero aos planos do Pai: “Ninguém (repito: ninguém) tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Interessados ainda podem se inscrever em curso gratuito de lubrificação

 

O Fundo Social de Solidariedade informou nesta data (15) que as inscrições para o curso gratuito de técnicas em lubrificação foram prorrogadas e podem ser feitas até o dia 20.

As aulas serão ministradas na Escola Municipal Profissionalizante em dois horários, das 13 às 17h e das 18 às 22 horas, em parceria com o Senai.

São exigências, idade mínima de 16 anos, ter concluído o ensino fundamental, e apresentar cópias do RG, CPF e comprovante de residência.

As são recebidas inscrições na sede do Fundo Social, instalado na rua Dr. Geraldo Nogueira Leite, 1.735, Vila Cambuí.

Mais informações pelo telefone 3323-2423.

 




Diocese de Assis

Todo ponto de vista é, sempre, visto de um ponto e isso é determinado pelo lugar onde estamos. O nosso olhar, também determina a nossa visão. O que isso significa? Significa que, nossa visão tende a melhorar quando mudamos o nosso olhar! Visão aqui, tem o sentido de compreensão, de entendimento, de universo simbólico. Isso vale para tudo o que a gente olha, com a possibilidade de ser uma verdadeira revolução ou um verdadeiro desastre.

Vamos aos exemplos práticos: quem olha com malícia cria um universo simbólico de segundas intenções; o que olha com compaixão criará um universo de misericórdia. Quem olha com ódio cria o universo simbólico da violência; para quem olha com carinho o universo será o do amor…

Se o olhar determina a visão, os dois juntos determinam as convicções e a opção.

O que é o olhar?

O olhar é a porta de entrada; é o ponto de acesso. O olhar é o princípio de construção da visão, da mentalidade, da interioridade, da espiritualidade… Segundo o evangelho de Mateus 6,22-23: “A lâmpada do corpo é o olho. Se o olho é sadio, o corpo inteiro fica iluminado. Se o olho está doente, o corpo inteiro fica na escuridão. Assim, se a luz que existe em você é escuridão, como será grande a escuridão!” Aqui temos a noção basilar sobre as consequências do olhar para a saúde e integridade pessoal e, portanto, religiosa, social, política, econômica, moral, cultural etc.

Nesse ponto podemos nos voltar para o título desse artigo. O olhar de João Batista para Jesus é tremendamente revolucionário. Enquanto o Messias é esperado como um revolucionário político que vai “restaurar” o Reino de Israel, João Batista o apresenta como o “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo1,29-34). Mais do que um revolucionário político, Jesus é o anunciador do Reino de Deus e o próprio Reino de Deus. A nota de rodapé para este texto diz o seguinte: “No idioma dos judeus, a mesma palavra pode significar servo e cordeiro. Jesus é o Servo de Deus, anunciado pelos profetas, aquele que devia sacrificar-se pelos seus irmãos. Também é o verdadeiro Cordeiro, que substitui o cordeiro pascal. João Batista, chamando Jesus de Cordeiro, mostra que ele é o Messias que vem tirar a humanidade da escravidão em que se encontra e conduzi-la a uma vida na liberdade”

Para chamar Jesus de ‘Cordeiro de Deus’, precisamos entender que o olhar de João Batista é do profeta, daquele que tem a intimidade com a Palavra de Deus; de quem clama no deserto: “preparai os caminhos do Senhor”. O olhar de João é para o autor da vida e não para si mesmo e nem para os imperativos sócio-econômicos-religiosos da sociedade.

Eis o texto de João 1,29-34: “João viu Jesus aproximar-se dele e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim. Também eu não o conhecia, mas se eu vim batizar com água, foi para que ele fosse manifestado a Israel’. E João deu testemunho, dizendo: ‘Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o Espírito Santo’. Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!’” Atenção para o verbo “ver”, na narração do evangelho: João “viu”

João nos ensina a olhar e ver Jesus de uma maneira nova e radicada na verdade sobre ele mesmo, desvestindo-nos dos pré-conceitos e das elaborações de interesse meramente individual-egoístico. Jesus não é o que nós pintamos de acordo com o que mais nos convém; ele é a síntese do que é o Reino de Deus: a justiça-amor do Pai no mundo.

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

De repente, parece que o mundo se acabará em fogo e água. De um lado da esfera global milhares e milhares de animais silvestres morrem entre labaredas a queimar a vegetação de seus habitats ressequidos por uma seca impiedosa. Já aqui em nosso hemisfério, em especial mais ao sul, o volume das águas celestiais que jorram caudalosamente sobre nossas cabeças, aterroriza e desaloja a população do morro ou ribeirinha a muitos dos nossos rios e lagos até então paradisíacos. É mesmo janeiro. Seca e chuva, tempestades e trovoadas.

Como lidar com a fúria da natureza, quando seu ciclo bem estabelecido e providencial, faz parte do calendário, seja este augustiniano, gregoriano ou chinês? Não há como alterar as estações, nem o curso natural do tempo. Primavera ali, verão aqui, outono acolá e inverno mais acima. É assim e ponto.

Mas medir sua intensidade, prevenir suas catástrofes, zerar seus prejuízos ou evitar seus malefícios é obrigação humana. Não existe fúria da natureza, pois esta sempre foi previsível, normal, disciplinada em suas manifestações cíclicas. Tempo chuvoso faz parte. Tempo de seca também. Enchentes, deslizes, queimadas ou aridez só são catastróficas com a intervenção humana no ambiente mal ocupado, na represa má construída, no assoreamento provocado, no desmatamento desordenado, enfim, no uso abusivo que fazemos de nossos espaços e do ciclo natural e perfeito da rotação e translação dessa nossa casa comum.

Então, eis que chuvas e trovoadas também são bênçãos divinas. Tanto quanto a seca e até as queimadas em regiões áridas. Sem a ação do fogo numa vegetação de cerrado, por exemplo, muitas espécies não sobreviveriam, não renovariam suas folhas, estariam extintas de seus biomas… Sem o fogo a erva daninha dominaria… as sementes enclausuradas não germinariam, não venceriam a dureza de seus invólucros. Sem a água, pior.

Como vemos, não é a intensidade dos trovões ou das tempestades um sinal de perigo ou maldições. Quando ouvirmos tais sons em nossas vidas, demos graças, pois novos tempos virão. Assim na terra como nos céus. Assim na vida como na morte. Vida nova que floresce e alma nova que se purifica nas correntes da revitalização dos propósitos de um novo tempo. Ah! Pudéssemos trazer para nossas vidas o sentido disso tudo… Pudéssemos ouvir os sons de muitas trovoadas em nossos corações e bendizer a Deus pelo despertar de nossas consciências, pelos propósitos de renovação de nosso espírito sedento de vida nova, pelos clamores e pedidos de socorro que nossos propósitos formulam a cada dia, em cada circunstância da vida que pulsa em nós. Pudéssemos aclamar os trovões que nos despertam e repelir a aridez do deserto interior que assola nossa vida espiritual!

Porque chuvas e trovoadas sempre existiram, fazem parte do equilíbrio climático e da harmonia ecológica que prezamos para nosso mundinho. Deveriam também povoar o equilíbrio de qualquer alma sedenta de paz e harmonia com a vida espiritual humana. Porque as torrentes das graças celestiais tornam fecundos os corações dispostos a produzir setenta vezes sete mais do que habitualmente produzem. Eventuais trovoadas da consciência hão de dissipar as energias contrárias a qualquer negligência nossa com a obra que Deus nos confiou, o mundo novo que devemos construir. Quando ouvir “a voz do tempo”, lembre-se: As águas batismais não bastam; é preciso renascer no fogo do Espírito. Não temas. Porque “sua voz no trovão reboando, no seu templo os fiéis bradam: “Glória!” É o Senhor que domina os dilúvios…” (Sl 29).

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

No evangelho de Mateus 3,13-17, lê-se: “Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça.’ E João concordou. Depois de ser batizado, Jesus logo saiu da água. Então o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e pousando sobre ele. E do céu veio uma voz, dizendo: ‘Este é o meu Filho amado, que muito me agrada’.”

A nota de rodapé deste texto diz o seguinte: Neste Evangelho, as primeiras palavras de Jesus apresentam o programa de toda a sua vida e ação: cumprir toda a justiça, isto é, realizar plenamente a vontade de Deus e seu projeto salvador.

No evangelho de Marcos, 1,9-11, a nota de rodapé diz o seguinte: “O céu se rasgou: Na pessoa de Jesus, a separação que havia entre Deus e os homens se rompeu. A voz apresenta o mistério do homem de Nazaré: ele é o Filho de Deus, o Messias-Rei (Sl 2,7) que vai estabelecer o Reino de Deus através do serviço, como o Servo de Javé (Is 42,1-2).”

Jesus é a Justiça de Deus no mundo! Nele todas as coisas ganham uma nova verdade, na base do querer de Deus e no projeto de salvação que ele preparou desde antes da criação do mundo, porque a graça de Deus não tem limites.

São Paulo faz uma linda síntese deste projeto de Deus, na carta aos Efésios 1,3-14, que vale a pena conferir:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo. Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeito diante dele, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme a benevolência de sua vontade, para o louvor da sua glória e da graça que ele derramou abundantemente sobre nós por meio de seu Filho querido. Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça. Deus derramou sobre nós essa graça, abrindo-nos para toda sabedoria e inteligência. Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, a livre decisão que havia tomado outrora de levar a história à sua plenitude, reunindo o universo inteiro, tanto as coisas celestes como as terrestres, sob uma só Cabeça, Cristo. Em Cristo recebemos nossa parte na herança, conforme o projeto daquele que tudo conduz segundo a sua vontade: fomos predestinados a ser o louvor da sua glória, nós, que já antes esperávamos em Cristo. Em Cristo, também vocês ouviram a Palavra da verdade, o Evangelho que os salva. Em Cristo, ainda, vocês creram, e foram marcados com o selo do Espírito prometido, o Espírito Santo, que é a garantia da nossa herança, enquanto esperamos a completa libertação do povo que Deus adquiriu para o louvor da sua glória.”

O batismo de Jesus nos enche de provocações e chama à conversão.

Por que a Igreja Batiza? Por que as pessoas pedem o batismo?

Qual é a justiça que se está cumprindo com os diversos batismos que acontecem todos os dias, pelo mundo afora? É a justiça do Reino, da Instituição, da tradição, da cultura, do costume…?

Se queremos responder aos apelos de Cristo quanto à justiça do Reino, o batismo que celebramos e pedimos precisa sofre uma grande mudança. Porque, por enquanto, os nossos batismos, timidamente, refletem o cumprimento de “toda a justiça”, como quer o Senhor. É tempo de revisão de nossas práticas e pedidos.

Batismo: por que fazê-lo e por que não fazê-lo?

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS