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Diocese de Assis

 

Uma das realizações do agricultor – senão a maior – é poder colher o que um dia semeou com alegria e esperança. “Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice”… o machado, a máquina, a colheitadeira que seja! De uma forma ou de outra, a expectativa de uma colheita farta é sempre inspiradora de uma alegria própria, um momento de júbilo, mantenedor de sonhos e vida renovada. É o momento da paga por tanto suor um dia derramado. Por que não também sangue, lágrimas? Só Deus para avaliar o quanto custou um prato cheio na mesa de um operário, um lavrador justo e honesto naquilo que faz!

Num país propício à agricultura, onde “em se plantando tudo dá”, o assunto esbarra no privilégio dos grandes latifúndios e dos muitos sem terra a sonhar com seu quinhão. Não vamos aqui limitar nossa reflexão, posto que o cerne da parábola de Cristo era a temática do Reino de Deus, não dos reinados humanos. Aqui entra um porém: se quisermos vislumbrar as riquezas do Reino de Deus entre nós é preciso espalhar a semente do bem, da justiça, do amor, da fraternidade, da solidariedade, da igualdade, e afastar tudo aquilo que nos segrega e nos diferencia no direito de bem viver! Numa sociedade de desiguais não há colheita de fartura e bonança para todos! Nada se colhe em terreno ressequido, em solo infértil… Da mesma forma em coração empedernido, em mente obcecada pela ambição desmedida, em almas congeladas pela insensibilidade, desamor…

A uns muitos, a outros nada? Esse é o diferencial do fiel na balança na colheita que Deus quer fazer, no dia do grande juízo. A menor das sementes, o grão de mostarda por Ele semeado em nossos corações, a fé e esperança em um novo Reino, aparentemente, está sufocada entre muitas cizânias e ervas daninhas que deixamos crescer em nossas vidas. Todavia, é a mostarda a maior das hortaliças “e estende ramos tão grandes  que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc 4, 32). Quem nos conta essa parábola quer nos apresentar a grandiosidade da obra criadora, seus mistérios, suas dádivas em prol daqueles que derramam o suor do trabalho em vistas do bem comum, a mesa farta, a recompensa pessoal de cada esforço por uma vida digna. Assim o Reino de Deus acontece entre nós!

Pudéssemos penetrar mais fundo na singeleza dessa história quase infantil e os doutores da comunidade humana haveriam de se corar pela vergonha de suas teses, teorias e ciências sociais! Quantas asneiras já se disse e se impôs no campo das relações humanas. Quantos “ismos” a definir relações políticas, fronteiras territoriais, limites geográficos e propriedades privadas que nada produzem! O egoísmo faz crescer cizânias, espinheiros, ervas venenosas… mas poucos, pouquíssimos frutos que alimentem ou acolham os “pequeninos”, os pássaros feridos e famintos a rodear muitos quintais, muros e cercados elétricos de nosso mundo retalhado, quadriculado, dimensionado por posses e títulos patrimoniais. Ou mesmo fronteiras reclamadas como pátria amadas! Não é esse o Reino que Deus sonhou para seus filhos. Nem a pátria “amada, idolatrada” que sonhamos… Pois bem, o tempo da colheita se repete ciclicamente, hoje e sempre, desde sempre. O que Jesus nos ensina é separar o joio do trigo, é deixar amadurecer a semente boa, o bem entre nós, para que um dia possamos sentar à mesa da reconciliação universal e brindar à vida com mais igualdade e solidariedade. Acreditem! A mostarda dará sabor a esse banquete.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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As pessoas se identificam umas com as outras. E, em maior ou em menor grau, passam a adotar para si o que é do outro: o estilo, a linguagem, os costumes, os hábitos, os modos, as amizades, os lugares, as ideias, as tendências, as referências, os comportamentos…

Não existe uma só pessoa no mundo que não se inspire em algo ou em alguém. É próprio do ser humano “identificar-se com”.

Na vida, cada um elege seus ídolos e ideologias, segundo o grau de identificação, mas, não sem riscos.

Na fé, identificação tem outro nome: “configurar-se a”.

O Cristão é chamado a se configurar-se a Cristo. Quer dizer: tornar-se um outro Cristo, não segundo uma identificação externa mas, interna, ontológica, essencial. Só na fé isso é possível. Por que só na fé? Porque trata-se algo profundo e, não um simples verniz que fica bonito, mas, para a aparência.

Tudo o que é humano, só fica bom se atingir a profundidade da pessoa, senão, é gasto e não investimento; é perda e não ganho; é ilusão e não esperança.

O texto a seguir é do Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, de São Gregório de Nissa, bispo, século IV e dá uma visão excelente sobre o configurar-se a Cristo. Leia!

“Paulo sabe quem é Cristo, mais acuradamente do que todos. Com efeito, por suas atitudes mostrou como deve ser quem recebe o nome do Senhor, porque o imitou tão exatamente que revelou em si mesmo o próprio Senhor. Por tal imitação cheia de amor, transferiu seu espírito para o Exemplo, de modo que não mais parecia ser Paulo e sim Cristo, como ele mesmo bem o diz, reconhecendo a graça em si: ‘Quereis uma prova daquele que em mim fala, o Cristo’. E mais: ‘Vivo eu, já não eu, mas é Cristo quem vive em mim’.

Manifestou, então, para nós que força possui este nome de Cristo, ao dizer que Cristo é a Virtude de Deus, a Sabedoria de Deus e deu-lhe os nomes de Paz, Luz inacessível onde Deus habita, Expiação, Redenção, máximo Sacerdote e Páscoa, Propiciação pelas almas, Esplendor da glória e Figura de sua substância, Criador dos séculos, Alimento e Bebida espirituais, Pedra e Água, Fundamento da fé e Pedra angular, Imagem do Deus invisível, grande Deus, Cabeça do Corpo da Igreja, Primogênito da nova criação, Primícias dos que adormeceram, Primogênito entre os mortos, Primogênito entre muitos irmãos, Mediador entre Deus e os homens, Filho unigênito coroado de glória e de honra, Senhor da glória, Princípio das coisas e Rei da justiça, e ainda de Rei da paz, Rei de tudo, Possuidor do domínio sobre o reino que Dão tem limites.

Com esses e outros nomes do mesmo gênero designou o Cristo, nomes tão numerosos que não se pode contá-los com facilidade. Se forem combinadas e enfeixadas as significações de cada um, eles nos mostrarão o admirável valor e majestade deste nome, Cristo, que é impossível de traduzir-se por palavras, mas pode ser demonstrado, na medida em que conseguimos entendê-lo com nosso espírito.

Por ter a bondade de nosso Senhor nos concedido primeiro, o maior e o mais divino de todos os nomes, o nome de Cristo, nós somos chamados ‘cristãos’.

É necessário, então, que se vejam expressos, em nós, todos os outros nomes que explicam o nome do Senhor, para não sermos falsamente ditos ‘cristãos’, mas o testemunhemos com nossa vida.”

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Não queria estar na pele de Jesus quando uma multidão o cercou furiosa, curiosa e até mesmo esperançosa em dele receber alguma atenção. Era tanta gente que Ele, discípulos e familiares sequer podiam entrar na casa que os abrigava. Os próprios “parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3,21). Os que o perseguiam para incriminá-lo por injúria ou blasfêmia contra a ordem e a lei, não tinham dúvidas: Ele estava possuído por um demônio! A confusão era geral. Alguns buscavam cura para seus males, outros provas para silenciar as esclarecedoras revelações daquele Mestre sem diploma algum. Através de Belzebu é que expulsava a corja satânica, diziam seus inimigos.

Pode um reino destruir-se a si próprio, satanás ir contra si mesmo? “Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se”, afirmou categoricamente o próprio Cristo. Da mesma forma uma família que se divide. Não se sustentará por muito tempo. Da mesma forma aquele que conduz sua fé e esperança no lastro indestrutível da família trinitária, fonte de todo o bem que possamos desejar ou merecer em vida. Não. Quem é de Deus nunca será vencido por Satanás. “Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo…” Oh, coitado! Esse nunca será salvo. Eis o pecado sem perdão. A falta mais grave daquele que ouve a palavra, percebe a presença divina em sua vida, recebe uma revelação de fé, um sopro do Espírito… e se nega a aceitar a verdade que se abre à sua frente, em sua vida. Aqui o homem se autodestrói, por conta e risco de sua arrogância, de se achar senhor e diretor de si próprio. Triste realidade dos tempos modernos, a negação da fé!

Mas se existe o pecado sem perdão, existe também o perdão sem limites! A misericórdia de Deus é infinita e vai além da nossa compreensão. Atribuir uma possessão demoníaca à fala e ação de Jesus, é ignorância pura, posto que a multidão que a fé cristã atrai ao redor de seu Mestre é maior e mais diversa do que imaginamos ou contabilizamos em nossos átrios de fé. “Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”, disse um dia, referindo-se à sua morte de cruz. Essa atração diversa é a seara da ação de Deus no mundo. O Evangelho aqui citado nos mostra essa diversidade de público e o detalhe de que nem a própria família e seus discípulos mais fiéis compreenderam a dimensão do Reino por Ele anunciado. Por isso o consideraram um demente, um louco varrido! Por isso Jesus os alertou contra o perigo do pecado sem perdão. E conclamou a todos a abrirem mente e coração ao grande apelo que ali lhes fazia: tomarem parte na família trinitária, a grande família de Deus que constitui seu povo eleito. “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus…” (Mc 3,34-35), faz parte da família de Jesus neste mundo.

O convite é desafiador. Se quisermos afastar de nosso caminho a sedução destrutiva do Inimigo, aquele que se julga poderoso, senhor desse mundo, é preciso fazer parte da família cristã. Reconhecer sua origem divina, seu Pai, sua Mãe, seus irmãos… Inserir-se nessa casa de Deus no mundo, sua Igreja, seu Povo escolhido! Deixar-se purificar nas águas do Batismo, no sangue do Cordeiro. Alimentar seu Espírito com a verdade de suas Palavras, lembrando sempre que o Pão não é tudo, mas “toda a Palavra que sai da boca de Deus”… E esta, quem nos fala é Jesus. Então, sim: “esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Palavra da salvação.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Dia da Santificação

Dia 07 de junho, dia do Sagrado Coração de Jesus é, também, o dia de oração pela Santificação do Clero. Em virtude disso conclamamos a todos para que rezem por nós, padres, mas, de modo particular, rezem pelo padre que lhe dá assistência em sua paróquia. A Igreja escolheu a festa do Sagrado Coração de Jesus, o Bom Pastor, como um dia especial de orações pela santificação de todos os ministros ordenados. A vocação à santidade é universal. “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3).

Mutirão de Oração

Este mutirão de oração será para confirmar a vocação e eleição de cada consagrado, realizada por Deus, no seio da comunidade de fé: “Todo sumo sacerdote, escolhido entre os homens, é constituído para o bem dos homens nas coisas que se referem a Deus. Sua função é oferecer dons e sacrifício pelos pecados. Desse modo, ele é capaz de sentir justa compaixão por aqueles que ignoram e erram, porque também ele próprio está cercado de fraqueza; e, por causa disso, ele deve oferecer sacrifícios, tanto pelos próprios pecados como pelo pecado do povo” (Hb 5,1-3).

Santidade e não perfeição

A santidade não é uma busca de alguns privilegiados e escolhidos. Todos nós somos chamados a ser santos porque esta é a vontade de Deus. A santidade é o que devemos querer todos os dias porque, a santidade é possível e nos humaniza; porque o pressuposto da santidade é a nossa condição humana (grandezas e misérias); porque a graça supõe a natureza (Lv 11,45; 19,2; 20,7.26).

A busca de perfeição, ao contrário, só leva ao derrotismo e à frustração porque, por mais que façamos, não atingimos perfeição.  Porque, na verdade, perfeito, só Deus. Quem nos torna perfeitos é Deus (Hb 13,21) em seu amor e bondade.

Santificação, um caminho longo, mas necessário

O caminho da santificação é porta apertada que exige dos consagrados, não apenas desempenho no campo moral, no fazer, mas, também, no campo existencial, no ser. Isso implica configuração com o Cristo; ou seja, “ser outro um Cristo” no mundo.

A carta aos Filipenses 2,5-8 faz a grande proclamação: “Tenham em vocês mesmos os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo”.

Compromisso de todos

Aqueles que foram escolhidos para o serviço do povo de Deus, que receberam a imposição das mãos e foram ungidos para esta missão, têm um dever especial de ser sinais da santidade. Entretanto, a santidade dos consagrados não é algo que acontece fora da comunidade; fora das relações de vida comunitária. Por isso, no que depender de cada um, que o padre não fique sem oração. Porque a santificação não é, simplesmente, ‘uma coisa’ de quem se consagrou por uma vocação específica, mas um compromisso de todos os que, pelo batismo, receberam a marca da Trindade Santa.

Diz-nos, São Pedro, em sua carta que, santificação é um processo de libertação para a vida nova: “Por isso, estejam de espírito pronto para agir, sejam sóbrios e ponham toda a esperança na graça que será trazida a vocês quando Jesus Cristo se manifestar. Como filhos obedientes, não devem mais viver como antes, quando ainda eram ignorantes e se deixavam guiar pelas paixões. Pelo contrário, assim como é santo o Deus que os chamou, também vocês tornem-se santos em todo o comportamento, porque a Escritura diz: ‘sejam santos, porque eu sou santo’. Pois vocês sabem que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata nem ouro, que vocês foram resgatados da vida inútil que herdaram dos seus antepassados. Vocês foram resgatados pelo precioso sangue de Cristo, como o de um cordeiro sem defeito e sem mancha. Por meio dele é que vocês acreditam em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus” (1Pd 1,13-21).

PE. DIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Há grande diferença entre a lei dos homens e a Lei de Deus. A legislação humana vem acrescida de detalhes e pormenores próprios que se adaptam aos costumes e modismos de cada geração. Anseia sempre pela perfeição que não temos, mas buscamos constantemente. Por isso nossas leis exigem mais do que pensamos praticar ou merecer. Buscamos, através das nossas leis mutáveis e flexíveis, a justificação de um padrão de dignidade que pensamos ter. Já a Lei de Deus que muitas vezes menosprezamos  ou desdenhamos, prima por sua simplicidade e objetividade. Dez em um: amar a Deus e ao próximo. Como deveríamos amar-nos a nós mesmos!

Bem nos lembra uma verdade cristã: “A lei foi feita para o homem e não o homem para a lei”. Essa sutil diferença entre os preceitos humanos e os mandamentos divinos é que dá a grandiosidade do amor divino por suas criaturas. O conceito do certo e errado é Ele quem dimensiona, abrindo nossos corações e consciência para o melhor caminho a seguir. A medida e a diferença entre preceito e mandamento está diretamente relacionada com nossos conceitos de fé e razão. Deixa de ser as excessivas exigências das leis humanas para submeter-se ao peso do coração, símbolo do amor sem medidas, generosidade, perdão e compreensão. Um coração que ama é nosso melhor juiz.

Não seja você o juiz do seu irmão. Ao contrário, estenda-lhe a mão, nunca o chicote. A cura de um homem com a mão seca, naquela sinagoga onde se discutia o peso das leis, não foi mera coincidência. A pergunta ficou sem as respostas dos doutores da lei: “É permitido  no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida  ou deixa-la morrer?” (Mc 3,4). Era preciso estender-lhe a mão… Mais uma vez, o alerta subliminar da doutrina de Cristo privilegia a dignidade humana, não a frieza dos letrados, a dura lei do farisaísmo mundano. “Dura lex, sed lex”, ainda gritam seus guardiões. Os mesmos que decretaram a morte daquele galileu insubmisso aos braços da lei dos homens. Dura era a lei, mas era lei, preconizavam os poderosos.

Afinal, qual a diferença entre uma e outra, entre a constituição dos poderes e a constituição do amor?  Preceitos continuam como regras do proceder humano diante de suas condutas sociais, formalidades institucionais. É a doutrina da ordem imposta. Não vamos rasgar nossas constituições por tão pouco, mas respeitá-las com o devido senso da justiça humano-cristã. Já um mandamento divino tem a bênção celestial de uma voz de comando superior a tudo, a todos. Também é preceito, uma vez que se revestiu como um decálogo sagrado, princípio básico de um povo em busca de sua liberdade e soberania. Vale lembrar que, mesmo com sua simplicidade e objetividade, de dez leis suscintas e perfeitas que eram, o decálogo do Sinai, ao longo dos séculos, foi acrescido de seiscentos e tantos novos itens pelos guardiões da lei. Por isso Jesus o resumiu drasticamente. Basta um: o amor. Amor a Deus e ao próximo! O resto… o resto virá por acréscimo. Eis nossa lei, o preceito do amor, o mandamento novo… Isso nos basta!

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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A celebração de Corpus Christi, sempre, nos põe diante do Mistério da Eucaristia. Fonte de vida para Igreja e eixo da vida litúrgica. Do Mistério Eucarístico destaca-se a prática da Adoração Eucarística.

“O culto prestado à Eucaristia fora da Missa é de um valor inestimável na vida da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico. A presença de Cristo nas hóstias consagradas que se conservam após a Missa – presença essa que perdura enquanto subsistirem as espécies do pão e do vinho – resulta da celebração da Eucaristia e destina-se à comunhão, sacramental e espiritual. Compete aos Pastores, inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também as visitas de adoração a Cristo presente sob as espécies eucarísticas” (João Paulo II, Carta Encíclica ‘Ecclesia de Eucharistia’, nº 25).

A Deus se deve adorar, ensina a Palavra e a Igreja. A Adoração é um profundo ato fé em Deus. É o reconhecimento de sua grandeza, poder e majestade. A Adoração é um mergulho nas profundezas de Deus.

Pergunta chave: Quais as características do adorador que o Pai procura?

Resposta da Palavra de Deus! Os verdadeiros adoradores, adorarão em Espírito e Verdade!

“A mulher (samaritana) então disse a Jesus: ‘Senhor, vejo que és profeta!  Os  nossos pais adoraram a Deus nesta montanha. E vocês judeus dizem que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.’ Jesus disse: ‘Mulher, acredite em mim. Está chegando a hora,  em que não adorarão o Pai, nem sobre esta montanha nem em Jerusalém.  Vocês adoram o que não conhecem, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade. Porque são estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’”  (João 4,20-24)

O significado de adorar em espírito e verdade

1 – Adorar em Espírito e Verdade é viver da Ressurreição:

No Espírito da Verdade – “Ele é o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê, nem o conhece. Vocês o conhecem, porque ele mora com vocês, e estará com vocês” (Jo 14,17).  No Espírito que dá Testemunho – “O Advogado, que eu mandarei para vocês de junto do pai, é o Espírito da Verdade que procede do pai. Quando Ele vier, dará testemunho de mim” (Jo 15,26). No Espírito que encaminha para a Verdade – “Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer” (Jo 16,13). No Espírito que é Sopro de Vida Nova – “Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: ‘recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,22).

2 – Adorar em Espírito e Verdade é ser contemplativo

Contemplar o Cristo na Escola de Maria: guardava tudo e meditava no coração (Lc 2,19). Contemplar o Cristo na Escola dos Mártires: derramaram seu sangue, deram a vida (At 22,20). Contemplar o Cristo na Escola dos Apóstolos: foram chamados como amigos (Jo 15,15).  Contemplar o Cristo na Escola dos Santos: lavaram suas vestes e alvejaram no sangue do cordeiro (Ap 7,14). Contemplar o Cristo na Escola das Crianças: possuem o Reino dos céus (Mt 19,14).

3 – Adorar em Espírito e Verdade é:

Antes de fazer-se discurso fazer-se palavra (Jo 1,14). Antes de fazer-se mestre fazer-se discípulo (Mt 23,7). Antes de fazer-se estrela fazer-se luz (Mt 5,16). Antes de fazer-se senhor fazer-se servo (Fl 2,6ss). Antes de fazer-se pão fazer-se eucaristia (Jo 13).

Antes de ser o especialista em retórica ser a testemunha ocular (Jo 1,6; L 1,1). Antes de fazer-se a si mesmo fazer-se um outro cristo (Rm 8, 29; Fl 3, 10.21; Jo 15, 5; 1 Cor 12, 12; Rm 12, 5; Fl 2, 5; Rm13, 14; Gl 3, 27).

Que a festa de Corpus Christi nos encontro verdadeiros adoradores de Deus!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS

 




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Tentar entender o mistério da Santíssima Trindade é a mais cabal prova da petulância humana diante de Deus. Sequer entendemos o mistério, a razão da nossa existência! Então mistério é mistério; se respeita até que a graça, o dom da sabedoria e do entendimento nos permitam penetrar, aceitar, venerar e, oxalá, um dia compreender. O fato que hoje temos é que o Espírito de Deus age em nós através das revelações de seu Filho, sob as bênçãos do Pai que nos ama e governa. Portanto, “toda autoridade me foi dada”… Portanto, “ide e fazei discípulos”… Portanto, “estarei convosco todos os dias”… (Mt 28,16-20).

Eis o tripé da nossa missão! Acreditar na autoridade divina, fazer novos discípulos e observar seus mandamentos, suas ordens. Sem isso, perdemos a razão do existir, tornando-nos  bestas-feras, órfãos de pai e de mãe, incapazes de dar um significado maior à razão da nossa existência e, principalmente, à missão nela embutida. O que não podemos ignorar é que a missão redentora de Cristo agora também é nossa..         Que Ele continua a agir, “está no meio de nós”, mas sua autoridade missionária emana do Pai e usa de seu Espírito santificador para também agirmos como outros Cristos no mundo, dando continuidade à obra da restauração humana. “Sem mim nada podeis fazer”, nos lembrou um dia. Mas cruzar os braços diante de tanto a se fazer é ignorar sua presença e sua ação entre nós e em nós.

Esse é o grande desafio missionário da Igreja no mundo. Confiar nas promessas de Deus, “agir como Jesus agia, amar como Jesus amava”, conforme canta Pe. Zezinho , é deixar agir a Santíssima Trindade em nós, tornando-nos partícipes da construção do mundo novo que tanto sonhamos. Para isso, a inserção nossa no mistério da redenção e reconciliação humana com seu Criador exige a observância “de tudo o que vos ordenei”, nos ensina Jesus. Ou, como bem nos lembra o apóstolo: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8, 16-17). Também participamos da comunhão trinitária, do mistério que reconcilia criatura e Criador. Louvado seja Deus. Louvado sejam seus filhos diletos! Louvado seu espírito santificador, capaz de nos fazer agentes de transformação, outros cristos, semideuses num mundo que dele se distancia.

O mistério da Santíssima Trindade deixará de ser esse mistério todo quando a criatura aceitar sua total dependência da seiva criadora, aquela cujo “Espirito dá a vida e procede do Pai e do Filho”. A unção pentecostal nos prova a necessidade de também vivenciarmos essa experiência trinitária entre nós. Corpo, alma e graça santificante. Nosso corpo, nossa realidade temporal. Nossa alma, o maior dos tesouros dos que se descobrem “filhos” diletos do Pai. E a graça santificante, a força espiritual que um dia livrará nossos corpos e almas da condenação eterna. Assim alcançaremos a plenitude da vida trinitária em Deus.  E nova vida…”a vida do mundo que há de vir”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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No calendário litúrgico da Igreja Católica, o tempo pascal vai até o domingo de Pentecostes. É um tempo onde afirmamos e celebramos o eixo da fé: a ressurreição de Jesus. No domingo depois de Pentecostes, costumamos celebrar a festa da Santíssima Trindade. Uma festa que entrou no calendário da liturgia romana em 1334.

Um belíssimo texto de Santo Atanásio, bispo, do século IV, ilustra muito bem o sentido da vida da fé trinitária.

“Não devemos perder de vista a tradição, a doutrina e a fé da Igreja Católica, tal como o Senhor ensinou, tal como os apóstolos pregaram e os Santos Padres transmitiram. De fato, a tradição constitui o alicerce da Igreja, e é impossível nega-lo, sem de alguma forma, negar a fé.

Ora, a nossa fé é esta: cremos na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; nela não há mistura alguma de elemento estranho; não se compõe de Criador e criatura; mas toda ela é potência e força operativa; uma só é a sua natureza, uma só é a sua eficiência e ação.

O Pai cria todas as coisas por meio do Verbo, no Espírito Santo; e deste modo, se afirma a unidade da Santíssima Trindade. Por isso, proclama-se na Igreja ‘um só Deus, que reina sobre tudo, age em tudo e permanece em todas as coisas’ (cf. Ef 4,6). Reina sobre tudo como Pai, princípio e origem; age em tudo, isto é, por meio do Verbo; e permanece em todas as coisas no Espírito Santo.

São Paulo, escrevendo aos Coríntios acerca dos dons espirituais, tudo refere a Deus Pai como princípio de todas as coisas, dizendo: Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. ‘Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos’ (lCor 12,4-6).

Os dons que o Espírito distribui a cada um vêm do Pai por meio do Verbo. De fato, tudo o que é do Pai é do Filho; por conseguinte, as graças concedidas pelo Filho, no Espírito Santo, são dons do Pai. Igualmente, quando o Espírito está em nós, está em nós o Verbo, de quem recebemos o Espírito; e, como o Verbo, está também o Pai. Assim se cumpre o que diz a Escritura: ‘Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos a nossa morada’ (Jo 14,23). Pois onde está a luz, aí também está o esplendor da luz; e onde está o esplendor, aí também está a sua graça eficiente e esplendorosa.

São Paulo nos ensina tudo isto na segunda Carta aos corintios, com as seguintes palavras: ‘A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós’ (2Cor 13,13). Com efeito, toda a graça que nos é dada em nome da Santíssima Trindade, vem do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.

Assim como toda a graça nos vem do Pai por meio do Filho, assim também não podemos receber nenhuma graça senão no Espírito Santo. Realmente, participantes do Espírito Santo, possuímos o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do mesmo Espírito.”

A fé Trinitária nos ajuda a sonhar a vida em comunidade, pois, Deus não é a Solidão do “um”, Todo-Poderoso e distante pela majestade e pela eternidade. Pelo Contrário, Deus é intercomunicação perfeita, na unidade das três pessoas divinas. Em Deus não há nenhuma confusão triteísta (três deuses), mas o maravilhoso Mistério que o dogma não é capaz de conter: Deus é Uno e Trino.

É por isso que, quando traçamos, sobre nós, o sinal da cruz, em cada oração, estamos reconhecendo e aceitando esse mistério, como iluminador da nossa humanidade mesmo quando não entendemos e nem explicamos tudo.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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PORTAS E CORAÇÕES ABERTOS

Basta uma simples ameaça contra o conforto ou segurança de nossas vidas para nos armarmos com instrumentos de defesa. Quando não os temos, isolamo-nos, fugimos ou nos fechamos em um canto qualquer. Fechar portas e janelas é uma dessas atitudes imediatas. Deixar de ouvir palavras de moderação ou alerta é também fechar mentes e corações para a razoabilidade de uma reação sem contendas. Se a ameaça é física, afinamos nossa agressividade. Se nos ameaçam moral, intelectual ou espiritualmente, pondo em xeque nossas crenças e convicções, então se tranca o coração, isola-se qualquer possibilidade de entendimento ou diálogo.

Isso tudo aconteceu com os discípulos de Jesus, naquele “primeiro” dia da semana após o terrível espetáculo de sua morte de cruz. Por medo dos judeus, algozes primeiros do mestre nazareno, nada mais prudente do que se esconderem, fecharem as portas com boa guarnição de trincos e ferrolhos, apagarem luzes, baixarem as vozes e orarem… Rezar mais e mais! Terrível aquela situação de medo e insegurança. O que seria de suas vidas agora?

Não mais havia paz entre eles. A esperança que lhes restava era um sopro, uma réstia de luz qual a que agora penetrava aquela sala pelas frestas das paredes mal vedadas da casa onde se escondiam. Uma casa conhecida por todos que ali estavam, onde se reuniam habitualmente, onde Jesus com eles pernoitara muitas noites, onde fizeram aquela última e maravilhosa (também misteriosa) refeição de despedida… Onde Maria os acolhia como se casa dela fosse, mas que tinha os ares de uma  Betania especial, uma sala ampla no segundo piso, local quase sagrado onde se sentia o lampejo miraculoso de uma proteção celestial… Ali Jesus ceara com eles e pedira que se recordassem sempre daquele momento diáfano: “Façam isso em minha memória”!

Eis que, sob a proteção daquele teto bendito, sob a guarnição de suas portas sólidas e  bem trancadas, Jesus surge miraculosamente, lhes desejando paz! Suas mãos chagadas e seu coração traspassado não deixam dúvidas. É Ele. Um sopro de alento novo alivia seus temores. É Ele mesmo! Seu sorriso largo e seu sereno olhar… Seus lábios portadores de tantas palavras de esperança agora lhes desejam apenas paz. Sopra sobre eles um alento de vida nova, de espírito renovado. Aquele mesmo Espírito que flui de suas palavras de ordem e tarefa a se cumprir. Não temas, pequenino rebanho. Saiam dessa masmorra, desse torpor sem ação, sem missão a se cumprir. O mundo espera por  vocês. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,22).

Basta que acreditem. Que aceitem e recebam o Espírito Santo. Então a reconciliação será universal, o perdão recíproco, sem limites, sem fronteiras… Basta perdoar e a paz será restaurada, as barreiras demolidas, as portas abertas. Tanto na terra quanto no céu.  O milagre de Pentecostes é o grande segredo da reconciliação que o mundo ainda não descobriu. “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e as portas serão abertas”. Os corações também.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

LIGANDO TERRA E CÉUS

Outra não foi a missão de Jesus senão unir terra e céus através de suas ações e ensinamentos. “Fez e ensinou desde o começo até o dia em que foi levado para o céu” (At 1, 1-2). Com sua ascensão coroou-se sua missão terrena, ocupando seu lugar  “à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde virá para julgar os vivos e os mortos”, dizemos em nossa Profissão de Fé, o juramento sagrado que fazemos através da oração do Creio.

Em suma, essa é a fé cristã. A ressurreição foi seu maior milagre, mas sua ascensão devolveu-nos a esperança do arrebatamento, o resgate definitivo de sua Igreja, “que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal” (Ef 1, 23). Ou seja: a ascensão de Cristo abriu-nos as portas do Reino dos Céus, devolveu-nos a possibilidade de salvação…

Ora, se essa é nossa fé e esperança, não há porque  hesitarmos na prática dos mandamentos que apontam esse caminho. Os mistérios da redenção humana passam, necessariamente, pelos caminhos que Cristo trilhou entre nós, pelo seu nascimento, crescimento, conquistas e derrotas transitórias, morte, mas também ressurreição e ascensão. Houve sofrimento, perseguição, derrotas, incompreensão, traição, sim! Mas houve também muita luz, proteção celestial, gratidão, amor de Mãe, proteção dos Anjos, verdadeira fraternidade humana, compreensão, respeito, gratidão!  Esse é o nosso Cristo, o redentor por excelência, cuja história de vida em nada difere da nossa, mas antecipa a glória reservada, as vitórias almejadas por todos os que buscam praticar seus ensinamentos, seus exemplos de vida.

Para isso, a prática é questão de ordem, de tudo ou nada. “Ide” e fazei o mesmo que Ele fez. “Ide” pelo mundo… pelo mundo inteiro… “Ide e anunciai”…  Condição única e essencial para seguir seus passos, que não deixa ressalvas, não faz acepções, não abre exceções, mas frisa o imperativo do verbo: anunciai o Evangelho a toda criatura!  Ou isso, ou nada disso. “Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado”. Simples assim.

Então não há o que temer. Os sinais de proteção divina àqueles que fiam seus dias no desempenho dessa missão, estão aí para atestar a consistência dessa promessa. Dois mil anos da história da Igreja, a constante perseguição contra ela, ostensiva e intensiva ao longo desses séculos, seu crescimento, o reconhecimento de ser ela a maior e mais longeva instituição humana a resistir e conquistar espaço em todos os tempos e lugares, não é mera coincidência. Cobras e lagartos se dizem a seu respeito, mas as serpentes da maledicência e o veneno das instituições político-financeiras do homem descrente sequer arranham o verniz de suas portas bimilenares. Até as garras demoníacas e suas ações ardilosas em nada modificam seus ensinamentos, sua doutrina inviolável. Então é isso. O Senhor continua no comando, “confirmando sua palavra por meio dos sinais”, que acompanham a história da sua Igreja. Por isso, demos graças.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]