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Diocese de Assis

 

Dá voltas, também. O privilégio do menino pródigo, por sua experiência de amor e misericórdia, o tornou um menino prodígio. Só quem vive em profundidade uma experiência de retorno às graças paternais está apto a testemunhar com fidelidade a grandeza dessa experiência. Não só pelo inusitado do perdão que não espera ou acha indigno de receber, como também pela alegria do retorno, cujas graças não cabem em simples palavras, mas na amplitude de um coração remido, redimido por amor. A graça da volta é envolvente, dá voltas inesperadas para salientar o perdão num abraço apenas.

As voltas que o mundo dá, os dias, o tempo, as distâncias que separam… Nada disso importa a um pai paciente, generoso, compreensivo e compassivo, capaz de dias, meses, anos de espera a olhar a estrada vazia e sinuosa que lhe roubou um filho, uma filha… Não importa! Voltará um dia e será um momento de festa, só compreendido e ansiosamente esperado por quem sabe compreender e esperar um gesto de gratidão filial. Um pai verdadeiro sabe disso, espera por isso… Um Pai criador, mais ainda!

Mas o que esperar dos filhos triturados pela indiferença e incompreensão da cegueira e das ilusões, das feridas de batalhas incertas, das conquistas momentâneas que o tempo engoliu, das glórias e venturas que a sociedade tornou insaciável, intragável pelo mofo das noites mal dormidas, das aspirações de poder que a realidade apagou, de todas as frustrações que a vida lhes jogou na cara? Só mesmo misericórdia e perdão. Só a compaixão de um Pai Amoroso!

Essa troca não tem troco. Coloca num mesmo patamar irmãos de sangue, mais velhos ou mais novos, cautelosos ou esbanjadores, comportados ou dissimulados… todos, aos olhos do pai, são lhe caros e preciosos, tem suas diferenças, mas se igualam no meticuloso plano de Amor que seu coração lhes dispensa. E os dispersa com igual carinho e meticulosa atenção. Basta a cada um o seu quilate de amor, a sua compreensão, o incentivo de vencer os desafios que a vida – sempre ela – apresenta a qualquer vivente. Exige apenas tolerância, compreensão, apoio mútuo.

Esse é um dos grandes segredos da misericórdia divina: não faz distinção entre os filhos. Congrega a todos, ao que foge e volta humilhado e ao que reage indignado diante da fraqueza do rebelde. Não basta acolher quem negligencia as graças da casa paterna. É preciso, igualmente, colocar o coração do filho fiel em igualdade de disposição para o amor, o perdão e o acolhimento que o pai bem exemplifica. Talvez seja esta uma das maiores lições que Jesus nos ensina em sua mais generosa parábola: Para bem acolher um irmão é preciso eliminar o ciúme. De nada adiantará a misericórdia do Pai se nossa intolerância for maior que a graça. Atente para isso, povo de Deus! O perdão do Pai não basta, quando em família a incompreensão e o egoísmo barram nosso conceito de fraternidade e nosso espírito de caridade cristã.

Quando o assunto é reconciliação e perdão, Deus não age sozinho. Conta conosco. Se faz um com a comunidade de fé. É nela que se reproduz a justiça do amor de Deus. É na Igreja que a verdadeira paz, o amor vivo da misericórdia e a porta do perdão se abrem para o abraço da reconciliação entre o céu e a terra; aqui a vida conflituosa de nossas limitações e a graça generosa da bondade de Deus se encontram… e se completam.  Nesta história temos responsabilidades também.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Em muitas feiras agropecuárias, comuns no interior, é possível encontrar um stand com o curioso título acima. Nele são exibidas curiosidades coletadas como lixos em nossas cidades. Há preciosidades como livros raríssimos, fotos familiares, vestidos de noivas quase intactos, anéis, jóias, dentaduras, perucas, cristais, relógios com cuco, de bolso, de pulso, de parede, et cetera e tal. Dentre os livros, o mais predominante são exemplares quase intactos da Bíblia Sagrada, seguido pelos dicionários da língua pátria. Real e sintomático esse detalhe. Você mesmo pode conferir em qualquer usina de reciclagem ou empresa de coletas do lixo urbano.

Dentre eles – o luxo do nosso lixo – nunca soube de um recém-nascido. De fetos abortados sim, e muitos, que a razão e a ética não expõem publicamente, nem sequer os cataloga, para evitar problemas com a polícia ou coisa assim. Mas que são muitos, isto são. Porém, é sabido que se quisermos conhecer uma família em sua essência, sem invadir sua privacidade, basta analisarmos o lixo que produz. Ele diz mais que qualquer histórico formal. Ele é capaz de fornecer um raio x completo não só da realidade financeira de qualquer família, como até dos padrões morais e éticos dos que ali convivem. Incrível, mas o lixo que produzimos reflete o que somos!

O que dizer, então, de uma sociedade onde uma mãe com aparentes sintomas de depressão pós parto, sentindo-se o lixo dos lixos, é capaz de caminhar serena e decididamente até uma caçamba de entulhos urbanos e nela depositar sua filha recém-nascida? Uma sociedade saturada pela violência, pelas afrontas aos direitos patrimoniais, pela falta de confiança entre seus pares, que vê suas ruas e praças infestadas de câmeras de vigilância, que nos roubam a liberdade de ir e vir sem sermos vigiados, mas que flagram a cena da pobre mãe que condenamos de imediato? Em contrapartida – e dando continuidade ao triste roteiro da realidade não exibida nas feiras, mas no cotidiano suburbano e sob o breu das noites dos andarilhos de nossas ruas – um segundo desafortunado busca no lixo o que comer, o que possa proporcionar um pouco de esperança para sua vida também solitária e talvez deprimida e, ó susto!, ali encontra a pobre criança, o estranho entulho dessa sociedade… Por fim, fechando o drama, inseguro diante de sua própria insegurança social, o pobre andarilho não é capaz de agir por si, mas busca a ajuda de alguém de maior conceito social, um professor e depois a autoridade policial.  E a mãe, pobre mãe, da mesma forma como entrou, sai de cena, tranqüila, aliviada de um peso a mais, uma filha pra criar Deus sabe lá com que condições! Posteriormente, acaba presa e definitivamente estigmatizada pelo delito.

A Bíblia tem histórias assemelhadas. José, o menino oculto em um poço e depois vendido pelos irmãos, tornou-se rei e salvou seu povo da miséria e da fome. Moisés, o menino salvo das águas, foi de certa forma um enjeitado pela classe dominante de sua época. Para ganhar o direito à vida, sua mãe colocou sua vida sob risco. Tornou-se o libertador de seu povo. Jesus, a criança que a caça infanticida de Herodes não conseguiu alcançar, – mas que forçou José e Maria a buscarem o exílio em terras distantes da própria origem – também experimentou em sua infância a dor da rejeição e do infortúnio longe dos seus. Tornou-se o Messias, o Salvador do Mundo. Mesmo com esse histórico de provações e injustiças durante suas infâncias, nenhum deles foi atirado ao lixo. Porque a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Mas, diz a palavra: “De teus escombros não se poderá tirar pedra de ângulo, nem pedra de alicerce, porque te hás de transformar em eterna ruína” (Jer 51,26). Do lixo social em que nos metemos se erguem as muralhas de uma nova Babilônia e desta não restará pedra sobre pedra. Nada do seu luxo aparente terá valor, se a injustiça continuar maior que a solidariedade.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




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Na vida, todas as pessoas são seguidoras de alguma coisa e de alguém. Isso, nem sempre, é algo consciente, decidido. Mas, é verdade: na vida á discípulos e mestre. Qualquer estilo de vida, seja ele mais austero ou mais extravagante tem uma influência, mais ou menos explícita, de ideias, filosofias, doutrinas, teorias, crendices, tendências, comportamentos, instituições, pessoas… Somos discípulos e estamos cercados de mestres!

O discernimento a respeito do que queremos para a nossa vida é o que, decididamente, nos faz estar próximos dos melhores mestres e, não de qualquer mestre. Pois, para quem a vida não significa mais, tanta coisa ou, o que é pior, para quem a vida não tem mais sentido, obviamente, tanto faz este ou aquele mestre; esta ou aquela direção; este ou aquele fundamento… tanto faz!

O fato é que a nossa vida tem sentido e precisamos de mestres à altura de uma vida cuja beleza e plenitude precisa ser experimentada enquanto se faz o caminho. Não é possível que, ter mestre seja, para as pessoas, de um modo geral, uma questão de tão pouca preocupação e discernimento. Ter mestre não é um acaso. Antes, ter mestre é uma necessidade! Ser discípulo, também; é uma questão de necessidade.

Em sânscrito (uma das línguas mais antigas), Mestre é designado como guru que significa ‘gu’ = trevas e ‘ru’=  dissipar.  O Mestre é um dissipador de trevas. O seu papel é indicar o caminho ao discípulo. O discípulo, por sua vez, deve percorrer o caminho.

A tradição bíblica coloca o discipulado em relação à fé. Fé e seguimento. Ser discípulo é seguir o que a fé indica e viver por meio dela.

O Antigo Testamento aproxima o discípulo da Lei do Senhor. É pela fidelidade à lei que se identifica o discípulo. Por isso, a profissão de fé nos ensinamentos da Torá (Gênesis, Êxodo, Deuteronômio, Números e Levítico) faz da Torá o fundamento da relação com Deus e com as pessoas. A experiência de fé do êxodo e do exílio, aprofundam o sentido da vida marcada pela direção dada pelo Deus criador, libertador e salvador. Seja pelas palavras de Josué: “Agora, portanto, temam a Javé, servindo-o com integridade e fidelidade. Sirvam a Javé. Eu e minha família serviremos a Javé” (Js 24,14-15). Seja pelas palavras de Isaías: “Assim diz Javé, o redentor de você, o Santo de Israel: Eu sou Javé, o seu Deus, que ensino a você para o seu bem e o guio pelo caminho que você deve seguir.  Se você tivesse obedecido aos meus mandamentos, sua paz seria como rio e sua justiça como ondas do mar…” (Is 48,17-19).

O Novo Testamento aproxima o discípulo de Cristo.  É pela adesão a Cristo e configuração a Ele, no Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição que se identifica o discípulo. É Cristo quem declara: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).

A cruz é a referência do mestre e o sinal do discípulo. A ponto de Cristo, também, dizer: “O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. Para o discípulo basta ser como o seu mestre, e para o servo ser como o seu senhor” (Mt 10,24-25).

Com esta expressão de Jesus podemos falar de leis sobre ser e fazer discípulos.

A lei da limitação (o mestre é o limite). “Nenhum discípulo é maior do que o mestre; e todo discípulo bem formado será como o seu mestre” (Lc 6,40).

A lei da imitação (o mestre é o exemplo). “Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática” (Jo 13,15-17)..

A lei da participação (o mestre é a conseqüência). “Lembrem-se do que eu disse: nenhum empregado é maior do que seu patrão. Se perseguiram a mim, vão perseguir vocês também; se guardaram a minha palavra, vão guardar também a palavra de vocês” (Jo 15,20).

Quem quiser ser meu discípulo…




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QUEM SE ELEVA… QUE SE HUMILHA…

Eu não sou agricultor, mas, entendo que, aquele que planta espera uma colheita farta e abundante. A cada plantio, lá vai o agricultor preparar a terra! Ara, aduba, mata as pragas, escolhe a semente, semeia, cultiva… Espera a colheita! Afinal, a colheita é a bênção da terra!

Por sua vez, a terra, arada, corrigida, adubada (fertilizada) e cuidada, converte tudo o que recebeu em nutriente necessário (‘cama’) para acolher a semente, fazê-la germinar, crescer e dar frutos.

A colheita generosa é produto de uma terra bem preparada. Colhemos pouco quando não preparamos bem a terra.

As plantas necessitam de macronutrientes (carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo, enxofre, cálcio, magnésio e potássio) e micro nutrientes (boro, cobalto, cobre, ferro, manganês, moliddênio e zinco)

Fertilizantes ou adubos são compostos químicos que visam suprir as deficiências em substâncias vitais à sobrevivência dos vegetais. Porque são industrializados, os fertilizantes otimizam o tempo no preparo do solo, entretanto, podem causar poluição de solos e cursos d’água.

O ‘gosto’ da terra, na verdade, é receber esterco ou matéria orgânica para converter tudo isso em húmus. Contando com o tempo necessário e a ajuda de bactérias e fungos, a terra prodigaliza as condições necessárias de solo para o bem das plantas e da colheita.

A condição da terra para a uma boa colheita pode servir de parâmetro para a nossa vida em relação à fé. Para a terra, húmus significa boa colheita. Para a vida de fé, boa colheita só no terreno da humildade.

A Palavra de Deus enfatiza, sempre, a humildade como critério-condição para se produzir bons e abundantes frutos. Humildade é sinônimo de simples, pequeno, modesto, singelo… a mais sublime das virtudes. Etimologicamente, humildade vem do latim Humus, de onde também deriva Homem (Homo sapiens) e Humanidade.

Não é uma coincidência estas palavras estarem vinculadas. O sentido desta vinculação, é, certamente, uma sábia exortação para mantermos com a terra um vínculo eterno e embrionário. Se a humildade está relacionada com solo fértil e produtivo, então precisamos repensar toda a nossa relação com as pessoas e com o universo. A humildade é, por si mesma, espaço de vida e prolongamento da existência.

A ostentação, a soberba, a luxúria, o esnobismo, a autosuficiência, o orgulho… representam o oposto da humildade; é terreno infrutífero; terra seca e, portanto, lugar de produção da morte.

É o próprio Jesus quem afirma no evangelho: “quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado” (Lc 14,11). Não vale a pena qualquer tipo de ostentação e soberba. Aliás, a bem da verdade, é desumana e infrutífera qualquer tipo de vida que esteja longe da humildade.

É falsa a vida de quem não busca a humildade, porque seus frutos ficam pecos e quando vingam são amargos, tais como a ilusão, a mesquinhez, a insatisfação e fracasso.

Não é difícil o caminho da humildade. Entretanto, é preciso mudar posturas e práticas, como assevera a Sagrada Escritura: a) Se nos aproximamos de Deus não há porque continuarmos na superficialidade das coisas (Hb 12,18-19.22-24). b) Quem se orgulha, que se orgulhe no Senhor. Pois é aprovado não aquele que faz recomendação de si próprio, mas aquele que Deus recomenda (2Cor 10,17-11,2). c) O último lugar e os últimos são, na verdade, tesouros escondidos do Reino de Deus (Lc 14,1.7-14). d) O poder do Senhor é grande, mas ele é glorificado pelos humildes (Eclo 3,17-20.28-29). e) Mantenham entre vocês laços de paz, para conservar a unidade do Espírito (Ef 4,1-7.11-13a).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Vivemos dias esfumaçados e nublados. Não vamos discutir quem botou fogo em Roma, mas quem vergou o bíblico cedro do Líbano, sim. Já nos tempos do poderoso Nabucodonosor discutia-se o domínio de seu reino como uma ramagem vistosa e luxuriante a estender-se sobre todas as demais nações, qual gigantesco cedro dominando sobre as demais árvores. Então um pequenino profeta, Ezequiel, formulou e proclamou o famoso apólogo sobre o cedro, a partir de uma pergunta: “A quem te assemelhas, em tua grandeza?”. Está lá, para você conferir: Ezequiel 31, 1-18.

A analogia com nossa gigante Amazônia não se estende somente à sua grandeza territorial, mas também e principalmente ao seu valor global. O que seria do nosso planeta sem seu pulmão verde? “Eis que o Brasil, com sua gigantesca floresta, de magníficas ramagens, cujas águas fizeram-na crescer, dominando sobre todas as árvores, dando cria a todos os animais, descanso a toda espécie de gente, bela por sua grandeza, nenhum país do jardim de Deus rivaliza com ele”, diria eu adaptando parte desse apólogo bíblico.

O que, no entanto, altera nossa soberania? A consciência da grandeza ou o medo de não a dominar? A realidade das queimadas ou a impotência dos nossos descuidos? A ambição da posse ou a ganância do poder? Como vemos, são muitas as razões para nos preocuparmos com a preciosidade que temos e a responsabilidade de bem geri-la aos olhos do mundo. Sobre o cedro da Assíria o profeta já dizia: “Entreguei-o nas mãos de um poderoso das nações, que o tratará como merece a sua malignidade e o destruirá” (31,11).

Não se trata de simples gerência patrimonial de um bem que nos foi confiado. Sua abrangência sobre os demais seres vivos é bem maior que o pobre cedro abatido, cujos galhos “juncam todas as torrentes da terra; todas as gentes da terra deixaram a sua sombra e o abandonaram” (31,12), denunciava Ezequiel ao prever a queda do Faraó de plantão naquela época. Não é o nosso caso, mas poderia ser, pois muitos pseudo-faraós testam suas vozes de comando. Muitos dos nossos poderosos estão com a barba de molho. Os embates verbais, acusações e desculpas, declarações conspiratórias e embargos comerciais, estão aí, a nos provar o quão precioso é o ar que respiramos de graça e que pode nos custar desgraças…

Diria o profeta: “Tudo isso, a fim de que nenhuma árvore que cresce à borda das águas tire o orgulho de sua altura, e não eleve o cimo até às nuvens, é que nenhuma árvore bem regada pelas águas confie em sua estatura” (31-14). Prudência e cautela o mundo nos pede. Nada de entreveros da soberba sobre posses ou domínios meramente territoriais. Somos soberanos, uma nação livre, preciosa aos olhos do mundo, mas sobretudo, uma nação temente a Deus e consciente de suas fraquezas, especialmente na triste política daqueles que pensam nos governar. Quem nos governa é o Senhor, com sua justiça e misericórdia. No dia em que destruirmos nossa natureza, também destruiremos nossa alegria de viver ou, talvez, a própria vida. Como vemos, o fogo destruidor, intencional ou não, queima não só uma floresta, mas igualmente toda e qualquer aspiração de poder e glória longe dos domínios da fé.

Porque no dia em que nossa negligência com a obra de Deus for maior que ela própria, estaremos apartados de sua graça e beleza. Seremos destruídos com o mesmo fogo, aquele que arde eternamente. Nesse dia, Deus ordenará o grande luto, como já o fez no passado. “Por causa dele fechei o abismo (das águas), parei os regatos e as grandes águas foram imobilizadas…, por causa dele todas as árvores do campo murcharam e secaram… abalei as nações, quando o precipitei na região dos mortos, com aqueles que descem à fossa” (Ez 31, 15-16). Brasil, salve tua pele, ops, tua mata!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Presas a preocupações minúsculas e, quem sabe, insignificantes, as pessoas não se dão conta da grandiosidade da existência e da profundidade da vida. Por isso não conseguem deter-se em questões que exigem reflexão, conversão e compromisso.

Estamos em dívida conosco mesmo! Não parece que estejamos ‘bem da cabeça’! Aliás, já se espalhou, entre nós, uma verdadeira inversão de valores e isso não parece doer em nossa consciência; estamos nos fartando de migalhas como se fosse um maravilhoso banquete; estamos propagandeando a ilusão como se fosse o anúncio de um grande sonho… materialismo, hedonismo, status, poder, fama… estamos nos enchendo, o tempo todo, de um grande vazio.

Estamos nos convertendo num grande abismo (que, acaba atraindo outros abismos). Nada é suficiente, o bastante, para matar a sede e a fome do quero mais um pouco! Por mais de um pequeno instante, nada mais consegue preencher, satisfazer, contentar ou realizar nossos desejos e vontades que se tornaram soberanos. O que se vê é que, a cada instante é preciso mais de tudo para se obter um resultado cada vez menor. Alguns dizem que isso é falta de Deus! Eu digo que não! Não é falta de Deus. É idolatria. Um outro deus foi colocado no lugar de Deus: o ego abismático de cada pessoa. Para mim isso é uma doença: é a Síndrome da Humanidade Oca. No fundo estamos mortos! A vida perdeu o sentido! Estamos nos enterrando vivos!

Veja como se expressa Ez 28,1-10: “Assim diz o Senhor Javé: “o orgulho se apoderou do seu coração e você disse: ‘eu sou um deus, sentado em trono divino, bem no coração do mar.’ Mas você é apenas homem e não deus. Você acreditava que era igual aos deuses. Você, de fato, é mais sábio que Danel, e nenhum mistério é obscuro para você. Com sua sabedoria e inteligência você adquiriu riqueza e acumulou ouro e prata em seus tesouros. Sua esperteza no comércio é tão grande que você multiplicou a sua fortuna e se elevou com a força da riqueza.” Por isso, assim diz o Senhor Javé: “Você igualou seu coração ao coração de Deus. Pois bem! Vou trazer contra você os mais ferozes povos estrangeiros: eles desembainharão a espada contra a sua bela sabedoria e profanarão seu esplendor; farão você descer à cova e você morrerá de morte violenta, bem no coração do mar. Será que você ousará dizer diante de seus matadores: ‘sou um Deus’? Mas, você é apenas homem e não deus, entregue ao poder de quem o matará.”

Não podemos viver a vida como se fosse um faz de contas. Não é possível continuar sem se colocar questões importantes; sem refletir a vida; sem pensar profundamente a existência.

“Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam’? (Lc 12,22-23). Essa pergunta é incômoda mas, parece não incomodar muita gente. E, por que não incomoda? Porque alguns acham que salvação é assunto para depois (da morte)! Outros sustentam que é uma invenção com a finalidade, única, de controle social. Outros, que já estão condenados. Outros, ainda, que já estão salvos.

E você, sente-se incomodado ou se encaixa num desses grupos?

Ora, o assunto sobre a Salvação é assunto muito sério, profundo e pertinente à vida de cada um de nós. Aliás, deveria estar na boca, no coração e na busca diária de cada um, como princípio e fundamento de fé. Devemos nos colocar, diariamente, como candidatos à salvação e seguir a direção que a Palavra nos dá: a) A Salvação pertence ao nosso Deus e ao cordeiro (Ap 14,1-7.12-13); b) não ignorem coisa alguma a respeito dos mortos (1Ts 4,13-18); c) façam todo esforço possível para entrar pela porta estreita (Lc 13,22-30); d) estejam preparados! Fiquem vigiando! Porque vocês não sabem a que dia virá o Senhor (Mt 24,37-44); e) façam da partilha um dom capaz de destruir qualquer orgulho e apego às coisas (Mc 10,17-22).

A Salvação é Plano de Deus e, ninguém é obrigado a aceitar. Mas, quem o aceita está chamado a uma vida que tem sentido e valor, neste mundo e depois do túmulo.

Eu creio na vida eterna, escrita pelo sangue de Cristo em nosso corpo mortal.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

ÉTICA E MORAL AGONIZAM

Já não é pregação profética. É constatação lógica. O profeta do caos ficou no passado e suas previsões caíram no colo da nossa geração. Moral e ética são disciplinas agonizantes…

Uma realidade que se consuma. O comportamento antissocial de grande maioria atesta os estertores das matérias que antes davam sustento e equilíbrio à vida social. Eliminam-se tais disciplinas e o indivíduo vira fera. As duas colunas de Sansão não mais darão suporte ao palácio onde se locupleta a elite social.  Desmorona o reinado de poder e glória, senhores e escravos, guardiões políticos e religiosos que servem ao reino dos homens… Dalila volta a usar sua tesoura!

Entenda quem bom entendedor ainda é. Não há necessidade sequer de discutir o aspecto religioso do caos que se estabelece, pois que a fé é a única tábua de salvação que nos resta. O palácio dos sonhos da grandeza humana, fatalmente, irá ruir sem as colunas da ética e da moral. Sansão, o guerreiro da fé aprisionada, sabe disso. Diríamos aqui ser este o guardião maior da esperança moribunda, pois os inimigos da fé dançam e se banqueteiam acima daqueles que ainda se dizem tementes a Deus, ironizando e ridicularizando a fé que nos sustenta. Ignoram o desastre que ronda seus dias de libertinagem.

E pensar que educação moral já foi disciplina obrigatória! O que vemos agora é o surgimento de uma geração sem limites, sem referências, sem um mínimo de respeito a valores básicos na vida social. Com isso, estamos a um passo da selvageria, onde civilização e cultura deixam de existir para dar lugar a grupelhos que defendam muito mais o pessoal do que o coletivo. Facções, partidos, movimentos que se dizem libertários, clubes esportivos ou sociais e até grupos religiosos estão aí, fechados em si mesmos, contra tudo e contra todos, gritando ordens, ignorando deveres… O bem comum deixa de existir quando interesses minoritários prevalecem sobre os demais. A ética torna-se etílica. Na moral, na moral… a gíria tornou-se disco riscado; não sai disso.

Nem tudo está perdido. Os valores humanos, representados pela moral e ética, ainda borbulham no seio familiar. Alguns vêm do berço e se estendem ao meio social, onde a influência positiva é maior que a degradação do indivíduo. São valores como honestidade, cordialidade, respeito humano, humildade, hospitalidade, generosidade e, sobretudo, responsabilidade social. “Aquele que dá ensinamentos a seu filho será louvado por causa dele. E nele mesmo se gloriará entre seus amigos” (Ecles. 30,2). Pais responsáveis transmitem aos filhos não só os valores de um saldo patrimonial, mas também e principalmente os valores herdados da moral e ética da própria estrutura familiar. Família verdadeiramente constituída e solidificada pelas colunas paterno-maternais. Não há outra estrutura que substitua essa verdade. Fora disso, o que encontramos são paliativos, remendos improvisados de uma educação meia boca.

Enquanto isso, o que vemos só nos causa estupefação. Lamentamos tudo isso, mas fizemos por merecer. “Nossa herança passou a mãos estranhas e nossas casas foram entregues a desconhecidos. Órfãos, fomos privados de nossos pais e nossas mães são como viúvas” (Lam 5, 2-3). O choro do passado ainda ecoa e se torna um lamento bem atual. Mas sua oração final nos enche de esperança, renova a fé daqueles que ainda acreditam num mundo novo. “Reconduzi-nos a vós, Senhor; e voltaremos. Fazei-nos reviver os dias de outrora. A menos que nos tenhais abandonado, e que contra nós demasiadamente vos tenhais irritado” (Lam 5, 21-22).

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 

 




Diocese de Assis

Entre nós, quem são os protagonistas do bem? Sãos os mesmos que recebem os elogios, os louvores, os aplausos e a fama? E o mal? Entre nós, quem protagoniza o mal? São os mesmos imputados nos crimes como réus, condenados e penalizados? É a verdade dos fatos que relaciona ‘o que’ com ‘quem’ ou é a força do status, do poder, da fama, do dinheiro etc?

Quem, geralmente, é alijado do protagonismo histórico, para ceder o seu lugar a um mero figurante? Quem comanda o sobe-e-desce dos lugares sociais de destaque e o protagonismo na história? Que poderes são usados para reger esta orquestra? Que valores servem de base para sustentar ações e omissões? Que interesses ficam evidentes nesta cultura de simulacro?

A versão de história que temos é a que passa pela espetacularização da grande mídia através de seus noticiários, de suas novelas, de seus filmes, de suas propagandas e de suas ideologias. É a versão dada pelos que têm status, poder, fama, bens e sucesso. É a versão dada pelos que podem mandar, consumir e comprar. É a versão de quem governa, de quem administra, de quem educa, de quem prende/solta, de quem atira, de quem tem prestígio…

Quem contará a história dos anônimos no nosso planeta? Quem falará do José na roça, da Maria no tanque, do idoso no asilo, do enfermo na cama, da criança no orfanato, do feto no aborto, do indígena na colonização, do negro na escravidão, do pobre na luta… a sua história?

Quem franqueará espaço na mídia para as ações, verdadeiramente, humanitárias? Quem cederá a palavra ao analfabeto? Quem permitirá acesso ao desqualificado? Quem garantirá o direito ao que não tem senha? Quem terá um olhar para os que, socialmente, ficaram invisíveis? Quem dará eco ao clamor dos silenciados? Quem fomentará incentivo aos pequenos gestos? Quem julgará a causa dos pequenos? Quem prenderá os culpados e soltará os inocentes? Quem eliminará a lei da vantagem e do lucro a qualquer custo?

Eu creio que um mundo novo é possível! Como eu gostaria de ver a lógica do mundo sendo quebrada pelo mistério da fé! Como eu gostaria de ver o novo céu do amor-justiça e a nova terra da política para o bem comum. Com me encantaria contemplar a aproximação dos inimigos e o respeito das diferenças. Como seria bonito a se as conquistas tecnológicas andassem de mãos dadas com o índice de desenvolvimento humano. Como seria interessante se a justiça caminhasse de mãos dadas com a paz! É verdade que os direitos iguais e a igualitária distribuição dos bens são questões fundamentais da justiça social. Mas, deveria ser, também, uma questão de justiça social a verdade sobre a história, seus sujeitos e protagonistas.

Eu Creio no Reino de Deus e em seu mistério! A utopia do Reino de Deus está é sustentada pelos ideais da fé que destoam com os interesses do mundo. Mas, quem vai querer os ideais da fé se eles contradizem os interesses do mundo e suas promessas? Quem vai investir na utopia do Reino de Deus se nele não está presente a lógica do mundo.

Não são definitivas as versões sobre a história, seus sujeitos e protagonistas dados pelo mundo. A fé tem outra versão! A versão da fé para a história, seus sujeitos e protagonistas passa pela verdade sobre o Reino de Deus.

É Jesus mesmo quem diz: “o meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas, agora, o meu reino não é daqui” (Jo 18,36).

Noutra ocasião, fazendo uma oração, Jesus diz quem são os sujeitos e protagonistas da Nova História: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos.”

Ora, a Nova História não é outra, senão a do Reino. Essa história encontra nos simples, nos humildes e nos pequeninos seus sujeitos e protagonistas: “Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa” (Mt 10,42. cf. também, Mt 18,6.10.14).

Aqueles que não aparecem na versão oficial da história, são os seus verdadeiros protagonistas.

Pe. Edvaldo dos Santos




Diocese de Assis

Já vai longe o tempo em que a sociedade sabia dar valor às pequenas virtudes. Não que essas inexistam no campo pessoal dos que buscam uma vida agradável. Senão aos olhos dos homens, ao menos aos olhos de Deus elas são preciosas Para muitos, virtudes são caretices, invenção de beatos. Não combina com a voracidade dos tempos atuais. Para outros, é uma prática concernente à vida religiosa, da qual pouquíssimos comungam coerentemente. Que cada qual cuide de seu queijo, senão o outro leva!

Lembra aqui velha anedota escolar, quando um padre, um jovem político e um caboclo viajavam juntos pelo sertão. Numa casa seus moradores deram-lhes um pequeno pedaço de queijo, o pouco que podiam oferecer aos inesperados viajantes. Sem saber como dividir a pequena refeição, combinaram entre si de que o queijo seria daquele que, naquela noite, tivesse o sonho mais bonito.

Na manhã seguinte cada qual contou seu sonho. O padre, como lhe convinha pelos conhecimentos do ofício, disse ter sonhado que subia aos céus pela escada de Jacó e enquanto o fazia, contemplava um mundo cheio de ganância e miséria, que deixava para trás sem nenhuma tristeza. O jovem político, mais ardiloso, disse que, no sonho, já estava no céu, à espera do padre. E o caboclo?

– Bem, eu sonhei que via o padre subindo a escada, enquanto o doutorzinho aqui já o esperava no céu. Gritava aos dois que voltassem, pois esqueceram o queijo. Como não me responderam e como já gozavam das alegrias do céu, comi o queijo…

Não importa o sonho. A realidade é que, enquanto muitos tecem planos para se apossarem das prendas que pensam merecer; enquanto a lábia de alguns produz teorias e planos para surrupiar egoisticamente o que um gesto de partilha, mesmo do pouco, contentaria a todos, Deus dá aos pobres a inteligência necessária para receberem o quinhão que os mantêm vivos.

A verdade é que todos constroem suas interpretações de virtudes, desde que delas possam se aproveitar, receber algum benefício. Infelizmente, tanto no campo religioso, quanto no campo político, as interpretações se moldam mais aos interesses pessoais. Enquanto sonham com um paraíso pessoal, pobres se contentam com as migalhas de uma cruel realidade. Não fosse essa paciente e obstinada virtude da simplicidade e da sabedoria popular, o que seria daqueles que pensam conduzir o destino do povo? Que sonham gozar das alegrias celestes ainda em vida? Que caminham com o povo com o olhar gordo sobre o pouco que lhes sobra? Que ambicionam até o último naco de um queijo mal partilhado?

Nenhuma virtude terá valor, nenhum dogma religioso, nenhum ideal político, se não houver por primeiro a prática da caridade, rainha das virtudes. Por primeiro, o pequeno, o pobre. Depois, sim, poderemos sonhar com nosso paraíso pessoal. “Aspirai aos dons superiores. E agora, ainda vou indicar-vos o caminho mais excelente de todos” (1Cor 12,21). A caridade não se restringe a um simples pedaço de queijo. Com uma renúncia, mesmo que circunstancial, ela será autêntica. Pois cinco pães e um peixe alimentaram uma multidão no deserto. Não sonhe com o céu nas alturas, quando por primeiro devemos sonhar com o céu entre nós. Pois que a escada de Jacó é o caminho mais curto entre o Céu e a Terra…, desde que saibamos partilhar com justiça aquelas sacas de trigo distribuídas entre irmãos. Sem trapaças, sem orgulho, sem privilégios…

Então está dito: nem religião, nem política, nem astúcia pessoal. O que nos levará ao céu, ao confronto de nossas misérias com a abundância da casa paterna, é a prática das virtudes que a fé nos exige. Faça delas a fonte de energias das quais necessita, para não reclamar um dia que alguém lhe roubou seu queijo…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

“Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino” (Lc 12,32).

O Pai tem prazer em dar-nos o Reino! Por que? Afinal, quem somos nós para Deus? O que é o Reino para que o Pai tenha prazer em dá-lo a nós? É algo tão bom ou melhor do que aquilo que nós esperamos, queremos, procuramos e, buscamos? O que tem a ver conosco? É de comer, de beber ou de vestir? Em que é compatível com a nossa vontade?

Todos nós estamos cercados de necessidades e vontades. Claro! São propensões humanas, legítimas e naturais. São duas forças importantes e verdadeiras. Estão na base de nossas lutas e buscas; de nossas expectativas e esperanças; de nossos desejos e anseios. São importantes e verdadeiras, mas, em nós, são confusas e tensas, principalmente em relação à intensidade, à prioridade, ao tempo e ao momento.

Geralmente, sacrificamos as necessidades para satisfazer as nossas vontades, sem, nem sequer, medirmos a gravidade e as consequências das nossas escolhas e atos.

Vivemos pendurados nas urgências, por causa das ilusões. Temos pressa! Não pode ser para depois: tem que ser agora. Não dá para esperar; não dá para pensar; não dá para refletir. Tem que ser agora!

A imposição da vontade acontece por causa do império dos instintos. Se quem manda são os instintos, então, não há tempo a perder. Tem que ser agora! A vontade é impulsiva, imediatista, passageira e pouco profunda, como os instintos. Por isso as pessoas vivem frustradas, decepcionadas e descontentes?

Necessidade e vontade são confusas, tensas, conflitivas e um desafio para nós porque:

– Não nos conhecemos de verdade. Somos estranhos para nós mesmos! Não somos, simplesmente, animais racionais. Somos pessoas capazes de consciência, liberdade e vontade. A vontade sozinha não tem profundidade.

– Estamos em desacordo com o tempo e o momento (Ecle 3,1-8). Conhecemos o tempo, apenas, como relógio e calendário e o tempo é mais; é Kairós (momento oportuno, tempo de Deus, dom, graça…). “Há, porem, uma coisa que vocês, amados, não deveriam esquecer: para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos são como um dia” (2Pd 3,8).

– Falta visão de fé sobre a vida. Não pertencemos a este mundo, mas a Deus. Fomos criados para a vida eterna. O túmulo não é o nosso fim. Presente, passado e futuro são dimensões do tempo que apontam para a eternidade. É muito pouco os sabores deste mundo. Nossa esperança não deve ser só para este mundo (1Cor 15,19). O fato é que não sabemos o que pedir, como e quando. Precisamos do auxílio do Espírito Santo (Rm 8,26).

– Existe um hiato entre o nosso pedido e a resposta de Deus.  A impressão que dá é que ele não ouve, não entende e demora. “O Senhor não demora para cumprir o que prometeu, como alguns pensam, achando que há demora” (2Pd 3,9a.).

– Não compreendemos a vontade de Deus e não a aceitamos, porque queremos uma coisa e Deus dá outra, ou não dá. Pudera! A vontade de Deus não está baseada em nossa vontade, mas, em nossa necessidade. Ele sabe o que, de fato, precisamos. Ele não quer que ninguém se perca. “É que Deus tem paciência com vocês, porque não quer que ninguém se perca, mas que todos cheguem a se converter” (2Pd 3,9b).

Nunca vamos aceitar o Reino de Deus e entender o prazer do Pai de dá-lo a nós enquanto não mudarmos a visão sobre a vida. Enquanto não assumirmos a fé como nosso o eixo. Enquanto não entrarmos na vontade de Deus. Enquanto não aceitarmos o seu kairós. Enquanto não buscarmos as coisas do alto.

O Reino de Deus é o próprio Deus. É a Trindade e tudo o que a ela se refere. É um mundo novo; uma vida nova…

Você tem prazer em receber o Reino que o Pai tem prazer em dá-lo a você?

 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS