1

Diocese de Assis

 

          Faz mais barulho uma carroça vazia do que um caminhão com sobrecarga de peso. Essa lógica todos compreendemos bem. Quanto mais vazia, mais escandalosa é também nossa vida. Que se dirá, então, da vida espiritual daqueles que sequer percebem a necessidade de também alimentá-la habitualmente? Podem até terem a saciedade física, o fausto de muitos banquetes e vida boemia, a mesa farta e o estomago em plena atividade de digestão contínua, mas o coração, o espírito… ah! Quão famintos estão…

Exatamente nesse grupo é que o murmurinho e as lamentações fazem mais barulho do que as pobres carroças vazias que circulam a seu lado. Muitos são os famintos ao redor, mas o grito de insatisfação se faz ouvir daqueles que mais recebem, que melhor se alimentam, que se dizem privilegiados num mundo de carências e injustiças múltiplas. Choram mais os que podem mais, quando o contrário seria mais lógico. Quanto maior é a incredulidade dos inseguros, mais sonoro é o burburinho entre eles.

Foi o que constatou o próprio Jesus diante do diz-que-diz que se levantou entre os judeus, testemunhas do milagre da multiplicação, da lição contida na história do maná, o pão que salvou o povo de Deus naquela travessia histórica num deserto de contradições e incertezas e agora, na possível “blasfêmia” que Jesus pronunciava de ser Ele o “pão que veio do céu”. Não era ele o filho do carpinteiro? E a resposta vem como uma advertência: “Não murmureis entre vós”! (Jo 6, 43). O murmúrio é sempre um lamento diabólico, a voz gutural do Inimigo. É também a voz de todo aquele que não se abre à revelação da Palavra. “Está escrito nos profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13)”.

Evite, pois, a murmuração em sua vida. Ela é o primeiro passo para se alimentar a dúvida, a incredulidade. Antes, é preciso serenidade e coração aberto para se obter a graça do entendimento, um dom de Deus. É preciso uma experiência pessoal com o Cristo, maior comunhão com seus mistérios e revelações. Uma destas está aqui, nas palavras bem escritas e detalhadas pelo evangelista João. “Eu sou o pão da vida… Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer nunca morrerá” (Jo 6, 48; 50). Ora, se seus conhecimentos já lhe bastam, se sua crença está alicerçada na tradição de uma herança histórica, se a fé que move seu coração ainda está atrelada à lógica da materialidade, se é difícil para você enxergar na simplicidade de um artesão humano a grandiosidade da obra divina, se o murmurinho teológico dos “mestres” de sua escola ironiza os absurdos revelados na escola de Cristo… paciência! Não temos muito ou quase nada a fazer por sua descrença. Que o Senhor tenha piedade!

Mas, diante do barulho que um mistério provoca, há sempre um silêncio que ensurdece nossos ouvidos e aquieta os corações conturbados. Santo Silêncio! É este a voz de Deus a provocar uma revolução na mente e nos corações mais sensíveis, capazes de se deixar transformar pelas revelações da graça. Eis que o pão se faz carne entre nós e em nós. Esse é grande mistério eucarístico que sacia os famintos e dá vida ao mundo. Quando o maná do deserto caiu sobre o acampamento dos israelitas, a pergunta era: “O que é isso?” Hoje, quando contemplamos “o pão vivo, descido dos céus”, temos uma única resposta: “Quem comer deste pão, viverá eternamente”. Qual a dúvida?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

A resposta ao chamado de Deus está ligada à escuta de sua Palavra. Responde bem ao chamado de Deus quem ouve bem! Ora, qual é o melhor lugar para se ouvir o chamado de Deus senão a comunidade? Qual é a melhor resposta ao chamado de Deus senão o serviço alegre e generoso?

A realização vocacional e o serviço às vocações está intimamente relacionado com a vida da Igreja. Convém olhar, então, para Igreja dos nossos dias. O que está acontecendo dentro da comunidade eclesial?

Falando em comunidade-Igreja, não podemos deixar de entender que são diversas expressões de Igreja que marcam, não só um tempo e um lugar, mas, o próprio ser da Igreja. Neste sentido, podemos dizer que estas diferentes formas de concretizar o SER Igreja têm influências significativas nas motivações que levam as pessoas “a assumir e viver a fé e a vocação”.

O grande desafio, diante disso é: colaborar eficazmente para a construção de “uma Igreja, onde todos os aspectos essenciais para a sua vida e para a sua missão, no meio da humanidade, sejam bem integrados”.

O modo como devemos motivar as pessoas para responderem positivamente ao chamado é faze-las enxergar a Igreja como um povo de servidores, dentro do pluralismo das vocações, ministérios e carismas”. Porém, tal perspectiva não é possível quando um único cenário de Igreja tende a se impor. A Igreja é diversidade!

No processo de discernimento, é necessário ajudar os vocacionados a olharem para “a decisão vocacional como um serviço aos irmãos e não como ascensão social ou busca de uma posição privilegiada na sociedade e na Igreja”.

A radicalidade da resposta de um vocacionado, feita a partir da experiência da Igreja “Povo de Deus” (cf. LG, 9-17), é a de viver um seguimento de Jesus que seja, de fato, permanente escola onde se aprende que toda vocação é sempre uma vida “diaconal”: “Eu estou no meio de vocês como quem está servindo” (Lc 22,27).

A Igreja toda, a começar pelos consagrados, deve ser servidora do evangelho! A preocupação com as vocações deve ser de toda a comunidade cristã. O princípio é este: “todos somos animadores vocacionais”; somos responsáveis uns pela vocação dos outros. Cada pessoa batizada tem a responsabilidade de viver bem o chamado e, também, de contribuir para que as demais tenham condições de responder ao chamamento divino para ser gente e para seguir Jesus.

A comunidade eclesial é “mediadora da vocação e o lugar de sua manifestação”. A nossa resposta vocacional precisa colaborar para que tenhamos, de fato, uma Igreja que seja espaço de ação do Espírito que quer suscitar as vocações do Pai, no seguimento de Jesus. Isso quer dizer que não é suficiente qualquer jeito de Igreja. Existe um modelo, ou se quisermos, um cenário de Igreja, que é o lugar do apelo, do chamamento divino.

Não podemos oferecer aos cristãos de hoje apenas uma experiência do sagrado. Precisamos propor uma autêntica espiritualidade, capaz de lhes dar ânimo e coragem para continuar firmes na missão, mesmo diante dos inúmeros desafios que aparecem. Não é possível seguir Jesus Cristo nos tempos atuais sem experimentarmos quotidianamente a graça de Deus e sem o esforço para permanecermos coerentes com as exigências do discipulado.

O testemunho vocacional da Igreja é o que torna mais parecida com o seu Mestre, Senhor e guia; é o que a torna mais próxima dos homens e mulheres de cada tempo e lugar; é o que a faz mais humana e divina.

É isso o que significa pensar a vocação como Igreja!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Um dos episódios mais contraditórios no processo de libertação de um povo é o apego deste ao sistema vigente. Sofrem, são injustiçados, humilhados, escravizados até, mas não renunciam à subserviência, aos mandos e desmandos dos governantes de plantão. Nada compreendem, sequer se dão conta do uso político e social que lhes rouba a dignidade mínima, mas são unanimidade na aprovação das migalhas que recebem. Não possuem a visão crítica dos fatos e desconhecem os direitos que se lhes são negados. Até a própria liberdade é quase um luxo, uma regalia que não lhes faz falta.

Nessa situação, o próprio povo de Deus um dia se encontrou, durante a travessia do deserto. Tinham saudades das cebolas do Egito! Ah, como eram felizes sob o jugo do Faraó, “quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura!” (Ex 16, 3). Escravidão, que nada… Tinham o estomago saciado, ao menos isso!

Querem a simpatia de um povo? Deem pão e circo! Essa lógica, como veem, vem de longe. Mas é uma máxima bem conhecida também nos nossos dias. Não é e nunca pode ser um procedimento cristão, posto que a doutrina que seguimos nos impele a viver “em conformidade com a verdade que está em Jesus”, afirma Paulo. E conclui: “Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras” (Ef, 4,22). Alimentamo-nos não com as falsas esperanças e ilusões passageiras dum mundo que subverte as expectativas da fé na ressurreição. Esse é nosso alimento, o centro da fé cristã. Tudo o mais é passageiro, corrompido e falível. O alimento que nos dá vida vem do alto. “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27). Duvida?

Esse é o verdadeiro testemunho que o seguimento fiel à doutrina de Cristo faz florescer na comunidade de fé. Sem esse “selo” não existe comunidade, muito menos um povo que se possa dizer seguidor do Mestre. “Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6, 32-33). Desnecessário dizer algo mais. Apenas questiono aqueles que ainda desconhecem a ação libertadora presente na Eucaristia cristã. Esse é o pão que nos liberta, nos alimenta, nos fortalece. Não nos deixa órfãos, não escraviza, não nos submete aos sistemas de subserviência do mundo político e social. A Eucaristia é o alimento do corpo e da alma que faz crescer nossa consciência de servidão a Deus, nunca aos homens. É isso que falta àqueles que ainda desconhecem a força que emana do pão da vida.

E Ele ainda nos ensina, com todas as letras: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”. Duas condições: ir até Ele e Nele acreditar! E nunca mais lhe faltará o alimento. Nem do corpo, nem da alma. E seremos livres para sempre.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

 

Abre-se o mês vocacional…

Agosto, para a Igreja, é tempo de dialogar a nossa vocação e missão

A existência humana mistura fé e vida.  É difícil compreender um homem que não tenha fé. Mesmo os mais incrédulos ou ateus buscam “algo” em que se sustentar. FÉ e VIDA são duas faces da mesma existência. LOGO, a nossa existência, no que diz respeito à experiência de vida e de fé, se realiza como um CHAMADO.

CHAMADOS À VIDA

Primeira Constatação: Estou vivo! Precisamos aprofundar o Sentido e o Valor da Vida como Chamado. Nossa vida tem sentido, por isso vale a pena viver. Enquanto estou vivendo estou dando uma resposta ao chamado que Deus me fez. Segunda Constatação: Minha origem! Há uma história que faz referência à minha vida, que me situa desde o nascimento até a morte. Terceira Constatação: Foi Deus quem me chamou à vida! Não sou obra do acaso! Sou único e irrepetível. Somos obras perfeitas, amadas e queridas. Precisamos “voltar” ao útero para muitos necessários recomeços. Contemplar a vida nos seus primórdios, na sua gênese, na sua matriz primordial. Precisamos recuperar as raízes humanas da nossa existência para darmos mais visibilidade à nossa fé.

CHAMADOS À NOVA VIDA

Primeira Constatação: Quem me chamou, me mantêm vivo e nos mantem nele, com ele e por ele. “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2,20-21). Segunda Constatação: Eu nasci de novo! Como se não tivesse bastado um nascimento, Deus nos deu um segundo: o batismo. “Eu garanto a você: se alguém não nasce do alto, não poderá ver o Reino de Deus (…) ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nasce da água e do Espírito” (João 3,3-5). Terceira Constatação: Foi Deus quem me chamou ao novo nascimento! Ele me quis, me instruiu, me fez conhecedor e me revestiu das coisas novas: “De fato, vocês foram despojados do homem velho e de suas ações, e se revestiram do homem novo que, através do conhecimento, vai se renovando à imagem do seu Criador” (Colossenses 3,9-11). Precisamos “voltar” à pia Batismal para retomarmos os sinais da vida nova: a água, o óleo nossos pais, nossos padrinhos, a igreja, o padre e o ‘eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’ que apontam para o Criador e Renovador da vida.

ENVIADOS PARA A MISSÃO

Aquele que envia, vai a frente… nos precede em tudo: em todas as situações e lugares. Entre os muitos elementos importantes do envio destaco três. Primeiro Um só Espírito Muitos Pentecostes: Atos 2,1-13; 4,23-31; 10,44-48; 19,1-7. Segundo: Um novo Pentecostes na Igreja. É o Pentecostes “pessoal” que abre as comportas dos dons à pessoa e o Pentecostes “eclesial” que revela o chamado à unidade sempre no mesmo e único espírito. Terceiro: A Missão é de Deus; ele é que chama e envia. Envia os DOZE. Jesus chamou: Mt 10,1-4; preparou: Mt 5,1-16; 10,26-11,1; enviou: Mt 10,5-33.

Envia a NÓS: Jesus nos chamou, nos preparou, nos enviou. Ef 1,3-5; O Batismo e a Missão de Jesus: Mt 3,1-4; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22; Jo 3,1-8;  O Batismo e a Missão da Igreja: Mt 28,16ss.

A consciência do CHAMADO abre, em nós, uma nova consciência sobre a nossa vida e missão e, nos coloca num âmbito de exigências pessoais que envolvem todo o nosso ser e nos permitem o novo do Reino de Deus: “É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade” (Efésios 4,22-24).

É tempo de retomada… é tempo de confirmarmos nossa vocação e eleição… é tempo de renovarmos o ‘eis-me, aqui, Senhor: “…procurem com mais cuidado firmar o chamado que escolheu vocês. Agindo desse modo, nunca tropeçarão” (2 Pedro 1,10).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




Diocese de Assis

 

Nada se multiplica se não houver um princípio gerador. Parece teorema físico ou equação matemática, mas é exatamente esta a lição que se encontra no milagre da multiplicação dos pães, que hoje nos conta o evangelista João (6,1-15). Antes de seguir adiante, há na narrativa uma sugestão razoável: o Mestre pede que as pessoas se sentem. Pois sente-se você também… Sossegue seu espírito… e saboreie a refeição que virá!

Olhe o cenário. A multidão aumenta minuto a minuto. A orla do lago de Tiberíades, também chamado de mar da Galileia, está pontilhado de pessoas carentes, uma multidão ansiosa e faminta por milagres… Acorrem a Jesus como última esperança de suas vidas. Diante daquele povaréu todo o mestre levanta uma questão: como alimentar esse povo? Ele tinha a resposta, mas era preciso provocar a consciência antes de realizar o milagre… “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”, responde Filipe. De fato, nenhuma fortuna do mundo seria capaz de satisfazer a fome daquela multidão. Não naquele deserto, naquelas circunstâncias! Não integralmente, com o estômago vazio e o coração conturbado por tantas e tantas carências. O corpo pedia energias, mas a alma agitada e ansiosa por um afago de misericórdia encontrava no olhar de Jesus o lampejo de vida que tanto buscavam.

Lá estava uma criança extasiada com todo aquele alvoroço. Tinha no olhar o brilho de uma descoberta sobrenatural, gerador do milagre que antevia em seu coração. “Aqui estou, Senhor! Eis-me aqui!”, diria como outro Isaias diante do desafio que lhe era proposto. E, estendendo sua cesta com o lanche que trouxera, o menino ofereceu do pouco que tinha: cinco pães e dois peixes! Não é nada, é muito pouco, mas é tudo o que hoje tenho… Aqui começa o milagre da partilha, da generosidade, da multiplicação! O pouco que se faz muito. A farinha da viúva de Serepta mais uma vez fazendo história! Só que desta vez por iniciativa de uma criança, portadora da pureza e inocência de uma alma solidária, sensível às necessidades de uma multidão de famintos. Era pouco, mas era tudo o que podia oferecer, com a certeza de que o Senhor faria o restante, valorizaria sua pequena oferta.

Então Jesus fez sentar aquele povo todo. “Tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados… E fez o mesmo com os peixes”. O desprendimento infantil era o gerador do grande milagre da partilha. A partir da generosidade de uma criança acontece o que a lógica humana diz ser impossível, pois uma multidão não se sacia com tão pouco. Diante de Deus, o princípio de tudo é o nada, a insignificância do que temos e somos. Jesus é o agente multiplicador da nova criação que renasce naquele deserto. O simbolismo eucarístico, com o povo “sentado” ao redor de Jesus, a se alimentar com aquele “pão-vivo”, a renovar suas energias para a longa travessia de um novo deserto, prefigurando nova caminhada libertadora, remete à nossa caminhada como Igreja hoje. O milagre da multiplicação ainda acontece.

Nisso resulta nossa experiência eclesial ao redor da mesa eucarística. Eis a importância das nossas ofertas, em especial da oferta dos pequeninos, das nossas crianças, dos mais necessitados! Aos olhos de Deus é o desprendimento humano que faz gerar o milagre da solidariedade, da fraternidade, de tudo o mais que sonhamos na vida cristã. Só um coração de criança é capaz de transformar a mesa vazia em um banquete festivo, capaz de alimentar multidões. Isso tudo André descobriu ao dar importância à generosidade daquela criança e de sua irrisória oferta diante de Jesus. A multiplicação então acontece.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

Elogio é, sempre, uma coisa muito delicada e, por vezes, perigosa, porque pode ser semente para o orgulho e fermento para a vaidade. O elogio é necessário? Para que serve um elogio? Quem precisa de elogio? Qual é a origem do verdadeiro elogio? Essas e outras perguntas batem de frente com os diversos elogios que circulam entre nós.

Bom seria se ninguém precisasse ficar à caça de elogios e que eles fossem tão naturais quanto as obras que os inspiram a ser dados. Bom seria se os elogios não dependessem de vínculos, de interesses, de afetos, de sentimentos e de nada que pudesse comprometer a sua veracidade. Melhor, ainda, se esses elogios tivessem como pressuposto o Bem que respalda e está por detrás das palavras, das obras, das iniciativas, das ações e das vidas de quem os recebe. Porque, de outra forma, como diz o Eclesiastes 7,5: “É melhor ouvir a repreensão do sábio do que o elogio dos insensatos”

O livro do Eclesiastes nos chama à recordação da história para identificar onde, realmente, estão as pessoas ilustres e os elogios que lhes são devidos, por causa de suas vidas unidas ao altíssimo.

Eclesiastes 44,1-15

“Vamos fazer o elogio dos homens ilustres, nossos antepassados através das gerações. O Senhor neles criou imensa fama, pois mostrou sua grandeza desde os tempos antigos.

Alguns exerceram autoridade de rei e ganharam fama por seus feitos. Outros, por sua inteligência, se tornaram conselheiros, e fizeram revelações proféticas. Uns guiaram o povo com suas decisões, compreendendo os costumes de sua gente e tendo palavras sábias para instruí-la. Outros compuseram cânticos melodiosos e escreveram narrativas poéticas. Outros ainda foram ricos e cheios de poder, vivendo na paz em suas casas. Todos, porém, foram honrados por seus contemporâneos e glorificados enquanto viviam. Alguns deixaram o nome, que ainda é lembrado com elogios. Outros não deixaram nenhuma lembrança e desapareceram como se não tivessem existido. Foram-se embora como se nunca tivessem estado aqui, tanto eles como os filhos que tiveram. Mas aqueles que vamos lembrar foram homens de bem, cujos atos de justiça não foram esquecidos. Na sua descendência, eles têm uma rica herança, que é a sua posteridade. Seus descendentes permanecem fiéis às alianças, e graças a eles também seus netos.

A descendência deles permanecerá para sempre, e sua fama jamais se apagará. Seus corpos foram sepultados em paz, e o nome deles viverá através das gerações. Os povos proclamarão a sabedoria deles, e a assembléia celebrará o seu louvor.

Ora, se às pessoas ilustres cabem os elogios, por uma vida exemplar, unida a Deus, de modo semelhante, Deus deve entrar na lista do nosso reconhecimento, mas, ao invés de elogios, Deus merece o louvor.”

No mesmo livro do Eclesiastes 50,22-24, o escritor sagrado faz, a todos, o convite ao louvor a Deus: “E agora, bendigam o Deus do universo, que realiza por toda parte coisas grandiosas. Ele exaltou os nossos dias desde o seio materno e age conosco segundo a sua misericórdia. Que ele nos dê um coração alegre e conceda a paz aos nossos dias em Israel, para todo o sempre. Que a sua misericórdia permaneça fielmente conosco, e nos resgate enquanto vivermos.”

Finalmente, em Eclesiastes 51,1 o autor sagrado, do louvor convida ao agradecimento: “Eu te agradeço, Senhor Rei, e te louvo, meu Deus Salvador, glorificando o teu nome, porque foste para mim um protetor e socorro, e libertaste meu corpo da perdição, do laço da língua caluniadora e dos lábios que produzem a mentira. Na presença dos meus adversários, tu foste meu apoio e me libertaste, conforme a grandeza da tua misericórdia e do teu Nome, das mordidas daqueles que estavam prestes a me devorar. Tu me livraste das mãos dos que procuravam tirar-me a vida e das numerosas provas que sofri. Tu me livraste do fogo que me rodeava, de um fogo que não acendi, das profundas entranhas do mundo dos mortos, da língua impura, da palavra mentirosa.”

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




Diocese de Assis

 

Já imaginou se seu trabalho e sua vida cotidiana não tivessem um dia sequer de merecido repouso, um período de férias ao menos anual? Você não estaria vivendo, mas vegetando. Poderia até se autodefinir como um escravo qualquer. Ao invés de dar graças pelo trabalho ou mesmo pelos afazeres diários para sobreviver, seria capaz de imprecações malditas contra a própria vida, a razão de seus dias. Estaria cometendo um erro, pois a vida não é e não pode ser somente trabalho, trabalho, trabalho…

Também na vida missionária. Não podemos (e não devemos) incorrer nesse erro, comum a muitos que se deixam impregnar pelo entusiasmo de uma ideia ou proposta transformadora na vida do povo. Lançam-se numa ação impetuosa, tresloucada, estressante, como se o mundo dependesse única e exclusivamente de seu trabalho, sua pregação. Há um quê de prepotência nesse tipo de evangelização sem limites, sem espaço para renovação de forças. Por isso é preciso cautela, critérios e até um pouco de humildade quando nos é confiada uma tarefa desse porte. Não vamos colocar nosso burrinho à frente. A carroça só se movimenta ao passo das forças e capacidades do animal que a traciona. No caso, nós mesmos!

A advertência e o exemplo estão bem evidentes no evangelho de Marcos (6,30-34), quando nos conta o surpreendente convite que Jesus fez a seus apóstolos cansados: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Imagino o suspiro de alívio daqueles companheiros do Mestre, que contemplavam assustados a multidão de famintos, agoniados, desesperançados, doentes e marginalizados que acorriam até eles, “tanta gente chegando e saindo, que não tinham tempo nem para comer”. Percebendo o desgaste a que estavam sujeitos, Jesus muda o cenário, dá-lhes uma oportunidade de respirar um pouco e reabastecer seus ânimos. “Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado”.

Nem por isso a missão foi interrompida, vejam bem! O hiato de tempo dado aos apóstolos que auxiliavam Jesus apenas fez aumentar a multidão, que fechou o cerco do outro lado. Aquelas pessoas continuaram na expectativa da graça, aquela que a compaixão cristã não deixa morrer na praia… Verdade! Mal retomaram o trabalho, refeitos e reanimados em suas energias físicas e espirituais, nova disposição tomou conta de seus discípulos e missionários. Aquele povo aparentemente sem pastor, voltou a cercá-lo com esperança renovada. E a doutrina do mestre voltou a ser ouvida com mais clareza!

A missão nunca pode ser algo extenuante para o missionário. Deve ser aceita e praticada com alegria e renovado ardor. Se o cansaço e o desânimo tomam conta, e preciso, urgentemente, uma parada estratégica. Porque, afinal, ninguém é de ferro. A força da missão vem do repouso no colo do Senhor.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




Diocese de Assis

 

Um grande desafio da vida missionária é não se deixar contaminar pelas coisas do mundo. O cristão está inserido numa realidade cheia de contradições com sua fé. Essa é a questão: transformar ou se deixar transformar? Exigir mudanças ou mudar suas atitudes e convicções conforme as exigências do mundo? A atitude de coerência é o caminho único que trilha aquele que escolhe viver na verdade. Quem assim age, sacode a poeira das falsas ilusões. E segue seu caminho de fé.

O envio que Jesus faz a seus discípulos se dá após meticuloso ensinamento e consequente aprendizado. Primeiro a teoria. Depois a prática. Nessa estão inseridas as exigências de uma ação vitoriosa sobre o espírito mundano, as tentações e ilusões da vida sem critérios. Nada deveriam carregar como apêndice contra possíveis fracassos ou necessidades banais. O cajado de apoio seria seus ensinamentos e suas promessas. Os penduricalhos da sobrevivência viriam da Providência e do zelo amoroso do Senhor da Messe, aquele que agiria e falaria por eles. Sequer suas palavras seriam suas, mas teriam o timbre sempre inspirador e consolador do Espírito que os enviava. Dessa forma, não se preocupassem e não se deixassem contaminar pela poeira do fracasso dos que se fizessem surdos ou indiferentes à mensagem. O apelo à conversão estaria dado. Ser aceito ou não já não era problema dos que o faziam, mas daqueles que o recebiam…

Dois a dois partiram, naquela primeira expedição da Igreja rumo à vida dissoluta do mundo. Dois a dois voltaram, eufóricos, jubilosos, radiantes com os resultados daquela maravilhosa experiência de agir como outros cristos no mundo. “Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo” (Mc 6, 13). Foi a primeira ação e animação missionária da Igreja.

O anúncio da conversão foi, é e continuará sendo o primeiro objetivo e razão de ser da Igreja no mundo. Seu modelo em nada se alterou, desde então. As circunstâncias e necessidades seguem o padrão estabelecido por Jesus, seu mentor e fomentador único. O missionário que age em dissonância com esses ensinamentos não representa o colegiado apostólico, não fala em nome da fé que a tradição cristã herdou das promessas de seu Mestre. Fora desse testemunho, do colegiado estabelecido, da experiência comunitária (dois a dois é o mínimo) e do abandono na proteção divina, não existe missão. Pelo menos essa que nos delegou Jesus com seu poder e autoridade.

Fora disso, demos o nome que bem entender às delegações que roubam a doutrina, distorcem seus ensinamentos, simulam seus ritos, ridicularizam sua hierarquia, confundem seus seguidores com facilitações à prática doutrinaria, mas nada possuem de autenticidade missionária. Agem como simulacros da verdade. Adaptam à tradição doutrinária dos apóstolos uma inversão de valores, nunca uma conversão… A esses a alegria de uma experiência missionária autêntica nunca será concedida. Missão impossível!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

Todo conselho tem o desafio de aconselhar. Mas, o que é aconselhar!?

Aconselhar, segundo o dicionário, é dar opinião, opinar, orientar, indicar, sugerir, recomendar…

Quem dá conselhos deve vigiar-se para não se impor ou determinar o que se deve fazer. Por outro lado, quem pede conselhos, não deve ir como quem busca uma fórmula mágica e, nem deve tomar o que foi dado como se fosse uma luva na mão.

Todo conselho, antes de pacificar, deve mexer com a pessoa, chocar, desinstalar, provocar, fazer ferver, colocar em crise. Por que assim? Porque temos uma tendência infeliz de pôr panos quentes nas coisas ou abafar o caso, fazendo parecer que tudo está bem ou resolvido. Mas não é bem assim! A falta de enfrentamento das situações é que deixa a vida mal resolvida, num faz de conta e numa fake existência.

Sobre conselhos é bom reparar o que diz o livro do eclesiástico, 37,7-31:

Cuidado com os Conselheiros

Todo conselheiro dá conselhos, mas há quem dá conselho em seu próprio interesse. Seja cauteloso com o conselheiro, e procure saber quais são as necessidades dele. Pois ele pode aconselhar em benefício próprio e não lançar a sorte em favor de você, dizendo: “Você está num bom caminho”. Depois, ele fica de longe, vendo o que vai acontecer a você.

Não peça conselhos a quem olha você com desconfiança, e esconda a sua intenção de todos os que têm inveja de você. Nunca peça conselhos a uma mulher sobre a rival dela; nem a um covarde sobre a guerra; nem a um negociante sobre o comércio; nem a um comprador sobre a venda; nem a um invejoso sobre a gratidão; nem a um egoísta sobre a bondade; nem a um preguiçoso sobre o trabalho; nem a um empreiteiro sobre o fim da tarefa; nem a um empregado preguiçoso sobre um grande trabalho. Não procure nenhuma dessas pessoas para receber delas algum conselho. Ao contrário, freqüente sempre o homem fiel, a quem você conhece como praticante dos mandamentos, que tenha a mesma disposição sua e que, se você tropeçar, sofrerá com você. Siga o conselho do seu próprio coração, porque mais do que este ninguém será fiel a você. A alma do homem freqüentemente o avisa melhor do que sete sentinelas colocadas em lugar alto. Além disso tudo, peça ao Altíssimo que dirija seu comportamento conforme a verdade.

O verdadeiro sábio

A palavra é o princípio de qualquer obra, e antes de agir, é preciso refletir.  A raiz dos pensamentos é a mente, e ela produz quatro ramos: bem e mal, vida e morte. Mas os quatro são dominados pela língua. Existe quem é capaz de instruir muitas pessoas, mas é inútil para si mesmo. Existe quem ostenta sabedoria em palavras, mas é detestado e acaba morrendo de fome. Porque o Senhor não lhe concede sua graça, ele fica desprovido de qualquer sabedoria. Existe quem é sábio só para si, e os frutos seguros de sua inteligência estão em sua própria boca. O homem sábio instrui o seu povo. Todos podem confiar nos frutos de sua inteligência. O homem sábio é cumulado de bênçãos, e é proclamado feliz por todos os que o vêem. A vida do homem tem os dias contados, porém os dias de Israel são incontáveis. O sábio gozará de confiança no meio do seu povo, e seu nome viverá para sempre.

Autocontrole

Meu filho, prove a si mesmo durante a sua vida. Veja o que é prejudicial, e não o conceda a si próprio. Nem tudo convém a todos, nem todos gostam de tudo. Não seja insaciável de prazeres, nem se precipite sobre os pratos de comida. Porque o abuso na comida provoca doenças, e a gula produz cólicas. Muitos morreram por causa da gula, e quem sabe se controlar vive muito tempo.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Nenhum profeta é bem visto em sua própria terra. Nenhum santo é reconhecido por sua família. Ou, como bem dizemos: santo da casa não faz milagres. Em suma, esta é a mensagem que Marcos registrou em seu evangelho (Mc 6, 1-6) para nos dizer da rejeição que as ações milagrosas de Jesus receberam de seus conterrâneos e familiares. “Não é este o filho do carpinteiro”?

A cena nos remete a situações bem conhecidas no nosso meio. De fato, é difícil para nós mortais a compreensão de que Deus continua a agir em nosso meio. E o faz, muitas vezes, através de alguém bem próximo de nós, um irmão, um parente, amigo ou amiga de nossa convivência diária. Às vezes uma graça alcançada vem das mãos de alguém que sequer imaginamos como instrumento de uma ação milagrosa. Às vezes somos nós mesmos esses instrumentos, despretensiosos, incapazes, imperfeitos, mas eficientes quando postos a serviço da graça divina. Já ouvimos muitas vezes: não somos nós que nos tornamos capazes, é Ele que nos capacita! Nada temos de perfeição, mas a Perfeição age em nós, quando nos deixamos conduzir e agir conforme sua Vontade.

Ora, é de onde menos se espera que surge um milagre em nossas vidas. Às vezes, sorrateiramente. Outras, ostensivamente. Na surdina ou no alvoroço, no corre-corre da vida diária, o fato é que Deus nunca desampara aqueles que Nele buscam sua misericórdia e seu amor. Mesmo que aparentemente essa ação tenha um rótulo derrotista ou com ares de um fracasso momentâneo, dia mais, dia menos, compreenderemos que aquele momento de angústia, sofrimento ou morte foi apenas circunstancial. “E ali Ele não pôde fazer milagre algum”, mas não os abandonou pela simples rejeição momentânea. Jesus continuou presente com sua ação solidária, realizando curas, “impondo-lhes as mãos”. Derramava-lhes o Espírito de sua missão purificadora, transformadora. Um dia, quem sabe, iriam compreender.

Essa é a graça que a presença cristã realiza no mundo! Mesmo com toda rejeição, intolerância ou ironia contra nossa fé, o milagre continua como  sua marca registrada. O cristão que se deixa guiar pela força da fé que o congrega, quer queira ou não, torna-se membro da família de Cristo, toma parte do ministério de transformação, a fonte dos milagres que Deus realiza dentre os seus. Porque Jesus age por aqueles que Deus lhe deu, porque somos Dele. “Tudo o que é meu é teu. E tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado” (Jo 17, 10). Somos, pois, membros da família trinitária, fonte do milagre da vida.

Quem, portanto, é este que faz milagres entre nós? As respostas aí estão. Quando nos rejeitarem pelo simples fato de traçarmos em nosso peito o sinal da cruz cristã ou proferirmos nossa crença em milagres, ou aceitarmos com amor nossas cruzes cotidianas, não desanimemos. Isso tudo Ele já sofreu por nós! Agora é nossa vez

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]