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Diocese de Assis

 

Nós temos muita coisa a aprender com o coração. Muitos, já escreveram e falaram coisas muito profundas sobre o “fazer do coração” que vale a pena retomar:

Antoine de Saint-Exupéry, no livro ‘O Pequeno Príncipe’ dizia: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

Blaise Pascal, dizia:“O coração tem razões que a própria razão desconhece e por isso a ciência e a técnica sempre ficarão aquém”.

A Bíblia, ao falar do coração, o vê como o centro do pensamento, dos projetos e do amor. Jesus dizia: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8); “De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6,21); “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45).

Sob este ponto de vista, para avaliar as razões do coração, só aprendendo, também, a amar. E, sobre isso, o Apóstolo Paulo tem muito a nos ensinar: “É acreditando de coração que se obtém a justiça, e é confessando com a boca que se chega à salvação” (Rm 10,10); “Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7); “Que a paz de Cristo reine no coração de vocês. Para essa paz vocês foram chamados” (Cl 3,15).

São João Crisóstomo, bispo, século IV, numa de suas homilias sobre a segunda carta aos Coríntios, olha para este tema do amor em Paulo. Vale a pena ler.

“Nosso coração se dilatou!

Aquilo que produz calor costuma dilatar. Assim, é próprio da caridade dilatar, pois é uma virtude cálida e fervente. Ela abria também a boca de Paulo e lhe dilatava o coração. ‘Não amo só de boca, diz ele; meu coração, em verdade, harmoniza-se com o amor; por isso falo confiante, com toda a voz e toda a mente’.

Nada de mais amplo do que o coração de Paulo que, à semelhança de um enamorado, abraçava a todos os fiéis com intenso amor, sem dividir e enfraquecer a amizade, mas conservando-a indivisa. Que há de admirar se era assim em relação aos homens piedosos, se até aos infiéis da terra inteira seu coração os abraçava? Por isto não diz apenas ‘Amo-vos’, mas, o faz com maior ênfase: ‘Nossa boca se abre, nosso coração se dilata’.

Guardamos a todos dentro de nós e não de qualquer jeito, mas com imensa amplidão. Pois aquele que é amado, sem temor passeia no íntimo do coração do que ama. Assim diz: ‘Não estais apertados em nós, mas sim em vossos corações’. Vê a censura temperada com não pequena indulgência. Isto é bem de quem ama. Não disse: ‘Vós não me amais’, e sim: ‘Não do mesmo modo’. De fato, não queria atormentá-los com maior severidade.

Em várias passagens, extraindo textos de cada epístola sua, pode-se ver de que amor incrível ardia para com os fiéis. Aos romanos escreve: ‘Desejo ver-vos’; e: ‘Muitas vezes fiz o propósito de ir até vós’; e também: ‘Se de qualquer modo puder ir fazer-vos boa visita’. Aos gálatas escreve: ‘Meus filhinhos, aos quais gero de novo’; e aos efésios: ‘Por esta razão dobro meus joelhos por vós’. E aos tessalonicenses: ‘Qual a minha esperança ou gáudio, ou coroa de glória? não sois vós?’ Dizia, também, carregá-los em suas cadeias e em seu coração.

Igualmente aos colossenses escreve: ‘Desejo que vejais, vós e aqueles que ainda não viram meu rosto, a grande luta que sustento por vós, para que vossos corações se fortaleçam’. Aos tessalonicenses: ‘À semelhança de uma mãe que acalenta seus filhos, assim amando-vos, desejávamos vos dar não só o Evangelho, mas nossas vidas. Não estais apertados em nós’. Não diz apenas que os ama, mas que é amado por eles, para deste modo atraí-los melhor.  Pois assim escreve: ‘Tito chegou e contou-nos vosso desejo, vossas lágrimas, vosso zelo’.”

E o seu coração, o que tem a dizer? O que tem a quer? O que tem desejar? O que tem a amar?

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Está aí a pergunta que não quer calar: Quem dizeis que é Jesus Cristo? Personagem histórico, ficção ou mera invencionice do misticismo humano? Ou um louco varrido disposto a mudar o mundo? Ou mais um dos muitos profetas a denunciar a exploração dos ricos sobre a fragilidade dos pobres? Quem foi ou é Jesus para você?

Aposto que muitos dos meus leitores preferem o silêncio, a dar uma resposta  coerente com suas convicções pessoais. Isso porque a incerteza paira em meio às divergências que os pensadores humanos mantêm vivas. Entre teorias, práticas e crenças que abafam a espiritualidade e religiosidade nata das carências que temos, permanece a dúvida. Quem é o Filho do Homem?  Quem é, afinal, esse filho de Deus que também se diz Filho do Homem? Deus ou um pobre humano, um filho qualquer, mais um entre tantos que a aventura da vida colocou no seio da terra? Como vemos, a questão vai além da simples constatação de uma afirmativa pessoal e se compraz na pureza de uma resposta repleta de mistérios e verdade suprema: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). Respeitem-se as devidas pontuações, a tonalidade, a revelação pausada e bem urdida de uma resposta inspiradora: o Filho de Deus vivo! Quem lhe revelou tamanho mistério, ó velho Pedro, ó rude pescador, filho de Jonas, ó feliz tradutor dos mistérios do “Pai que está no céu”!

Vivo! O Filho de Deus (e do homem também) está vivo, vive entre nós. Querem revelação mais alvissareira para um povo que esperou tanto, que orou tanto, que nunca perdeu as esperanças em meio ao deserto de uma vida sem sentido? Pois Ele vive, está em nosso meio. É sobre o fundamento da Revelação, a base do reconhecimento de Pedro, que sua Igreja (não igrejas) é construída, edificada entre nós. Aqui está a chave: Tu és Pedro, Eu sou a Pedra em ti, em tua vida, em tua ação. A pedra, a base que muitos construtores rejeitaram. E ainda rejeitam. É sobre essa capacidade de discernimento e de reconhecimento que estaremos aptos a unir céus e terra, realidade humana e realidade divina, os filhos dos homens e o Filho de Deus! Esse é o grande mistério e ministério da Igreja que hoje somos. Igreja de Cristo, não dos homens. Unida ao Cristo, santificada por Ele, inserida na realidade de um mundo limitado, porém universal – esse é o significado do termo católico – e que segue a tradição apostólica. Sem essas chaves, esses detalhes da revelação feita a Pedro, nunca, jamais, entenderemos o valor e a importância de sermos membros de uma verdadeira vida eclesial, inserida no corpo místico de Jesus, unida a Ele.

“Eu te darei as chaves”, disse Jesus. Mas igualmente, alertou: “Sem mim, nada podeis fazer”. Essa é a missão da Igreja no mundo, o ministério que nos cabe como igreja que somos! Una, santa, mas também frágil e pecadora se considerarmos nossas incertezas e infidelidades. Porém esqueçamos o quão pequeninos somos, quando Cristo nos diz o contrário: tudo o que ligarmos ou desligarmos na terra ou no céu terá efeito em nossas vidas.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

A vida dos santos ilumina a vida da Igreja, em sua trajetória rumo ao Reino definitivo. E, é o dia da morte e, não o do nascimento, que conta para o memorial da vida dos santos. A morte do santo confirma aquela identificação com o Cristo morto e ressuscitado, conforme as palavras de São Paulo aos Romanos “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai, assim também nós possamos caminhar numa vida nova. Se permanecermos completamente unidos a Cristo com morte semelhante à dele, também permaneceremos com ressurreição semelhante à dele” (Rm 6,3-5).

Pedro e Paulo são colunas da Igreja. A morte deles, não somente, ilumina a Igreja, em sua trajetória rumo ao Reino Definitivo, mas, a estabelece e a confirma.

Desde o século III que a Igreja une na mesma solenidade os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, as duas grandes colunas da Igreja.

Pedro, pescador da Galileia, irmão de André, foi escolhido por Jesus Cristo como chefe dos Doze Apóstolos, constituído por Ele como pedra fundamental da Sua Igreja e Cabeça do Corpo Místico. Foi o primeiro representante de Jesus sobre a terra.

Paulo, nascido em Tarso, na Cilícia, duma família judaica, não pertenceu ao número daqueles que, desde o princípio, conviveram com Jesus. Perseguidor dos cristãos, converte-se, pelo ano 36, a caminho de Damasco, tornando-se, desde então, Apóstolo apaixonado de Cristo. Ao longo de 30 anos, anunciará o Senhor Jesus, fundando numerosas Igrejas e consolidando na fé, com as suas Cartas, as jovens cristandades. Foi o promotor da expansão missionária, abrindo a Igreja às dimensões do mundo.

Figuras muito diferentes pelo temperamento e pela cultura, viveram, contudo, sempre irmanados pela mesma fé e pelo mesmo amor a Cristo.

  1. Pedro, na sua maravilhosa profissão de fé, exclamava: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. E, no seu amor pelo Mestre, dizia: “Senhor, Tu sabes que eu Te amo”.
  2. Paulo, por seu lado, afirmava: “Eu sei em quem creio”, ao mesmo tempo que exprimia assim o seu amor: “A minha vida é Cristo!”

Depois de ambos terem suportado toda a espécie de perseguições, foram martirizados em Roma, durante a perseguição de Nero. Regando, com o seu sangue, no mesmo terreno, ‘plantaram’ a Igreja de Deus.

Após 2000 anos, continuam a ser ‘nossos pais na fé’. Honrando a sua memória, celebremos o mistério da Igreja fundada sobre os Apóstolos.

Na festa de São Pedro e São Paulo, a Igreja Católica comemora o “dia do Papa” e convida as suas comunidades, em todo o mundo, a fazerem oração pelo Sucessor de Pedro.

Dois momentos da vida de Pedro e Paulo sinalizam particularidades do seu seguimento ao Mestre.

Em Atos 12,1-11: Pedro é envolvido no mesmo destino de Jesus, primeiramente porque foi preso na festa dos pães sem fermento (a Páscoa). Além disso, o texto começa com a decisão do rei Herodes de tentar destruir a Igreja, prendendo e matando seus líderes. O rei deseja remover os pilares da casa para fazer a construção inteira ruir. A prisão de Pedro não é um fato isolado – na mesma época, Tiago (filho de Zebedeu) foi martirizado.

Em 2Tm 4,6-8.17-18: Paulo, também, estava preso e pensava que seria condenado à morte. Suas palavras não revelam nenhuma amargura, mas a serenidade de quem se abandonou nas mãos de Deus. O apóstolo estava pronto para ser imolado, isto é, estava à disposição para ser morto por causa do evangelho. Além disso, considera que a morte por causa do evangelho é aceita por Deus como verdadeira oferta ou sacrifício.

Diante de Pedro e Paulo, somos desafiados ao profetismo do seguimento!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Basta uma olhadela no caos da corrupção e corrosão moral, social e ou comportamental pela qual passa a humanidade, para concluir: estamos afundando num mar de lamas!  O pior é constatar que nesse naufrágio nem sequer a possibilidade de salvação seja algo viável, posto que todos os recursos possíveis e imagináveis Deus já nos ofereceu e agora “Jesus está dormindo” na retaguarda do barco. Descansa no sono dos justos! Sua parte nessa história Ele já cumpriu. Merece descanso.
Em suma, essa é a história que Marcos nos conta (4, 35-41), para nos dizer que a salvação agora nos pertence. Depende de nós. Está em nossas mãos o destino que traçamos ou queremos atingir. Se o outro lado dessa história possui um porto seguro, se a preservação de nossa integridade depende da confiança que ainda temos na misericórdia divina, se é forte a ventania e a borrasca das tentações ainda constituem ameaças, se a barca de Cristo – sua Igreja – sente a força das ondas a penetrar em seus átrios, acordem Jesus! Orem, orem, clamem a Deus por sua misericórdia! Eis a força que nos resta…
“Mestre, estamos perecendo e tu não de importas?” O apelo crucial daqueles que tomam consciência das ameaças a seu redor é a maior expressão de fé duma alma sedenta por salvação. É impossível que o Senhor não ouça esse grito de misericórdia. A força dessa oração é capaz de ferir os tímpanos de Jesus, que se levanta de imediato  e se opõe às ameaças contra nossa integridade, sejam estas físicas ou espirituais. O aparente sono do Senhor é apenas um hiato para provar nossa fé, nossas dúvidas e inseguranças. “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”
Essa é a pergunta que hoje nos questiona. Quem acredita na presença de Cristo no barco de nossa existência, nada teme. Não há força alguma capaz de destruir nossa integridade quando temos Jesus no mesmo barco de nossa existência. Aparentemente, Ele dorme às vezes, mas seu Espírito jamais. Apenas nos prova, momentaneamente, pondo em xeque nossa fé. Dá-nos a consciência da fragilidade de nossas vidas, do medo que nos domina quando nossa fé se deixa abalar pelas circunstâncias e ameaças que circundam nossa existência. Essa tomada de consciência, ao mesmo tempo em que nos mostra o quão pequenos somos diante dos desafios da travessia da vida, também nos mostra o quão grande é o poder da fé que tem em sua retaguarda a proteção divina. Não há o que temer quando Cristo caminha, viaja conosco. Mesmo que aparentemente esteja dormindo, sua presença é a força que nos sustenta.
Eis porque o selo da fé é o escudo cristão. “Não temas, pequenino rebanho!” Mesmo que o mundo se levante contra todos seus princípios e convicções de fé, nada temas! Mesmo que ironizem suas posições contrárias ao comportamento da grande maioria, que questionem suas regras de conduta moral e social, que ridicularizem sua defesa aos princípios éticos e basilares da preservação da vida, em especial os contrários ao aborto, eutanásia ou qualquer outro modismo que se venha a inventar sob os argumentos da liberdade do indivíduo, mesmo que tudo se volte contra sua fé, não temas! Jesus navegou neste mesmo barco. E ainda navega, apesar de seu aparente sono… Basta uma atitude nossa: orar! Pois quem dorme somos nós.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]



Diocese de Assis

A perseverança é fundamental e necessária na vida! Sem perseverança não há caminho: nem começo e nem fim; não há esperança: nem sentido e nem motivos; não há projeto: nem objetivo e nem meta; não há sonho: nem horizontes e nem utopia. Sem perseverança não há vida, porque a vida se faz de caminho, de esperança e de projeto e de sonho.

Ora, viver não pode ser uma mera sucessão de dias e de acontecimentos; viver não pode ser um malfadado cumprimento do destino – uma vida de cartas marcadas; viver não pode ser uma sombra de uma luz que já nem existe mais; viver não pode ser um acaso; viver não pode ser um nascer, um crescer, um desenvolver e um morrer.

Viver tem que ser um recomeçar permanente, um redescobrir cada dia, um renovar sempre, um renunciar constante, um retomar persistente, é reconciliação diária. Viver é assumir-se obra inacabada que precisa ser aperfeiçoada cada dia, até chegar à plenitude, em Deus.

Santo Agostinho, bispo, século V., num de seus sermões chama-nos a atenção, exatamente, sobre esta questão da perseverança.

É ler e gostar!

“Qualquer angústia ou tribulação que sofremos é para nós aviso e também correção. As Sagradas Escrituras não nos prometem paz, segurança e repouso; o Evangelho não esconde as adversidades, os apertos, os escândalos; mas ‘quem perseverar até o fim, esse será salva’ (Mt 10,22).

O que de bom teve esta vida desde o primeiro homem, desde que mereceu a morte e recebeu a maldição, maldição de que Cristo Senhor nos libertou?

Não há então, irmãos, por que murmurar , como alguns deles murmuraram, como disse o Apóstolo, e pereceram pelas serpentes (l Cor 10,10).

Que tormento novo sofre hoje o gênero humano que os antepassados já não tenham sofrido? Ou quando saberemos nós que sofremos o mesmo que eles já sofreram? No entanto, encontras homens a murmurar contra seu tempo como se o tempo de nossos pais tivesse sido bom.

Se pudessem retroceder até os tempos de seus avós, será que não murmurariam? Julgas bons os tempos passados porque já não são os teus, por isto são bons.

Se já foste liberto da maldição, se já crês no Filho de Deus, se já estás impregnado ou instruído das Sagradas Escrituras, admiro-me de que consideres bons os tempos de Adão.

Esqueces que teus pais traziam consigo o mesmo Adão? Aquele Adão a quem foi dito: ‘No suor de teu rosto comerás teu pão e lavrarás a terra donde foste tirado; germinarão para ti espinhos e abrolhos’ (cf. Gn 3,19 e 18). Mereceu isto, aceitou-o, como vindo do justo juízo de Deus. Por que então pensas que os tempos antigos foram melhores que os teus? Desde aquele Adão até o Adão de hoje, trabalho e suor, espinhos e cardos. Caiu sobre nós o dilúvio? Vieram os difíceis tempos de fome e de guerra, que foram escritos para não murmurarmos agora contra Deus?

Que tempos aqueles! Só de ouvir, só de ler, não nos horrorizamos todos? Mais razões temos para nos felicitar que para murmurar contra o nosso tempo.”

Agora, diga a verdade: não é por precipitação que jogamos fora a maior parte (pra não dizer tudo) das melhores coisas, das melhores experiências, das melhores oportunidades, das melhores ocasiões? Diz a sabedoria popular que, “o apressado como cru e quente” e nunca consegue saborear, com bom paladar aquilo que vai para a mesa; porque o tempo da mesa nunca chega a ser permitido, por pura precipitação.

Controlemos, pois, os nossos impulsos para não desperdiçarmos a hora da graça, no tempo de Deus.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Uma das realizações do agricultor – senão a maior – é poder colher o que um dia semeou com alegria e esperança. “Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice”… o machado, a máquina, a colheitadeira que seja! De uma forma ou de outra, a expectativa de uma colheita farta é sempre inspiradora de uma alegria própria, um momento de júbilo, mantenedor de sonhos e vida renovada. É o momento da paga por tanto suor um dia derramado. Por que não também sangue, lágrimas? Só Deus para avaliar o quanto custou um prato cheio na mesa de um operário, um lavrador justo e honesto naquilo que faz!

Num país propício à agricultura, onde “em se plantando tudo dá”, o assunto esbarra no privilégio dos grandes latifúndios e dos muitos sem terra a sonhar com seu quinhão. Não vamos aqui limitar nossa reflexão, posto que o cerne da parábola de Cristo era a temática do Reino de Deus, não dos reinados humanos. Aqui entra um porém: se quisermos vislumbrar as riquezas do Reino de Deus entre nós é preciso espalhar a semente do bem, da justiça, do amor, da fraternidade, da solidariedade, da igualdade, e afastar tudo aquilo que nos segrega e nos diferencia no direito de bem viver! Numa sociedade de desiguais não há colheita de fartura e bonança para todos! Nada se colhe em terreno ressequido, em solo infértil… Da mesma forma em coração empedernido, em mente obcecada pela ambição desmedida, em almas congeladas pela insensibilidade, desamor…

A uns muitos, a outros nada? Esse é o diferencial do fiel na balança na colheita que Deus quer fazer, no dia do grande juízo. A menor das sementes, o grão de mostarda por Ele semeado em nossos corações, a fé e esperança em um novo Reino, aparentemente, está sufocada entre muitas cizânias e ervas daninhas que deixamos crescer em nossas vidas. Todavia, é a mostarda a maior das hortaliças “e estende ramos tão grandes  que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc 4, 32). Quem nos conta essa parábola quer nos apresentar a grandiosidade da obra criadora, seus mistérios, suas dádivas em prol daqueles que derramam o suor do trabalho em vistas do bem comum, a mesa farta, a recompensa pessoal de cada esforço por uma vida digna. Assim o Reino de Deus acontece entre nós!

Pudéssemos penetrar mais fundo na singeleza dessa história quase infantil e os doutores da comunidade humana haveriam de se corar pela vergonha de suas teses, teorias e ciências sociais! Quantas asneiras já se disse e se impôs no campo das relações humanas. Quantos “ismos” a definir relações políticas, fronteiras territoriais, limites geográficos e propriedades privadas que nada produzem! O egoísmo faz crescer cizânias, espinheiros, ervas venenosas… mas poucos, pouquíssimos frutos que alimentem ou acolham os “pequeninos”, os pássaros feridos e famintos a rodear muitos quintais, muros e cercados elétricos de nosso mundo retalhado, quadriculado, dimensionado por posses e títulos patrimoniais. Ou mesmo fronteiras reclamadas como pátria amadas! Não é esse o Reino que Deus sonhou para seus filhos. Nem a pátria “amada, idolatrada” que sonhamos… Pois bem, o tempo da colheita se repete ciclicamente, hoje e sempre, desde sempre. O que Jesus nos ensina é separar o joio do trigo, é deixar amadurecer a semente boa, o bem entre nós, para que um dia possamos sentar à mesa da reconciliação universal e brindar à vida com mais igualdade e solidariedade. Acreditem! A mostarda dará sabor a esse banquete.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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As pessoas se identificam umas com as outras. E, em maior ou em menor grau, passam a adotar para si o que é do outro: o estilo, a linguagem, os costumes, os hábitos, os modos, as amizades, os lugares, as ideias, as tendências, as referências, os comportamentos…

Não existe uma só pessoa no mundo que não se inspire em algo ou em alguém. É próprio do ser humano “identificar-se com”.

Na vida, cada um elege seus ídolos e ideologias, segundo o grau de identificação, mas, não sem riscos.

Na fé, identificação tem outro nome: “configurar-se a”.

O Cristão é chamado a se configurar-se a Cristo. Quer dizer: tornar-se um outro Cristo, não segundo uma identificação externa mas, interna, ontológica, essencial. Só na fé isso é possível. Por que só na fé? Porque trata-se algo profundo e, não um simples verniz que fica bonito, mas, para a aparência.

Tudo o que é humano, só fica bom se atingir a profundidade da pessoa, senão, é gasto e não investimento; é perda e não ganho; é ilusão e não esperança.

O texto a seguir é do Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, de São Gregório de Nissa, bispo, século IV e dá uma visão excelente sobre o configurar-se a Cristo. Leia!

“Paulo sabe quem é Cristo, mais acuradamente do que todos. Com efeito, por suas atitudes mostrou como deve ser quem recebe o nome do Senhor, porque o imitou tão exatamente que revelou em si mesmo o próprio Senhor. Por tal imitação cheia de amor, transferiu seu espírito para o Exemplo, de modo que não mais parecia ser Paulo e sim Cristo, como ele mesmo bem o diz, reconhecendo a graça em si: ‘Quereis uma prova daquele que em mim fala, o Cristo’. E mais: ‘Vivo eu, já não eu, mas é Cristo quem vive em mim’.

Manifestou, então, para nós que força possui este nome de Cristo, ao dizer que Cristo é a Virtude de Deus, a Sabedoria de Deus e deu-lhe os nomes de Paz, Luz inacessível onde Deus habita, Expiação, Redenção, máximo Sacerdote e Páscoa, Propiciação pelas almas, Esplendor da glória e Figura de sua substância, Criador dos séculos, Alimento e Bebida espirituais, Pedra e Água, Fundamento da fé e Pedra angular, Imagem do Deus invisível, grande Deus, Cabeça do Corpo da Igreja, Primogênito da nova criação, Primícias dos que adormeceram, Primogênito entre os mortos, Primogênito entre muitos irmãos, Mediador entre Deus e os homens, Filho unigênito coroado de glória e de honra, Senhor da glória, Princípio das coisas e Rei da justiça, e ainda de Rei da paz, Rei de tudo, Possuidor do domínio sobre o reino que Dão tem limites.

Com esses e outros nomes do mesmo gênero designou o Cristo, nomes tão numerosos que não se pode contá-los com facilidade. Se forem combinadas e enfeixadas as significações de cada um, eles nos mostrarão o admirável valor e majestade deste nome, Cristo, que é impossível de traduzir-se por palavras, mas pode ser demonstrado, na medida em que conseguimos entendê-lo com nosso espírito.

Por ter a bondade de nosso Senhor nos concedido primeiro, o maior e o mais divino de todos os nomes, o nome de Cristo, nós somos chamados ‘cristãos’.

É necessário, então, que se vejam expressos, em nós, todos os outros nomes que explicam o nome do Senhor, para não sermos falsamente ditos ‘cristãos’, mas o testemunhemos com nossa vida.”

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Não queria estar na pele de Jesus quando uma multidão o cercou furiosa, curiosa e até mesmo esperançosa em dele receber alguma atenção. Era tanta gente que Ele, discípulos e familiares sequer podiam entrar na casa que os abrigava. Os próprios “parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3,21). Os que o perseguiam para incriminá-lo por injúria ou blasfêmia contra a ordem e a lei, não tinham dúvidas: Ele estava possuído por um demônio! A confusão era geral. Alguns buscavam cura para seus males, outros provas para silenciar as esclarecedoras revelações daquele Mestre sem diploma algum. Através de Belzebu é que expulsava a corja satânica, diziam seus inimigos.

Pode um reino destruir-se a si próprio, satanás ir contra si mesmo? “Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se”, afirmou categoricamente o próprio Cristo. Da mesma forma uma família que se divide. Não se sustentará por muito tempo. Da mesma forma aquele que conduz sua fé e esperança no lastro indestrutível da família trinitária, fonte de todo o bem que possamos desejar ou merecer em vida. Não. Quem é de Deus nunca será vencido por Satanás. “Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo…” Oh, coitado! Esse nunca será salvo. Eis o pecado sem perdão. A falta mais grave daquele que ouve a palavra, percebe a presença divina em sua vida, recebe uma revelação de fé, um sopro do Espírito… e se nega a aceitar a verdade que se abre à sua frente, em sua vida. Aqui o homem se autodestrói, por conta e risco de sua arrogância, de se achar senhor e diretor de si próprio. Triste realidade dos tempos modernos, a negação da fé!

Mas se existe o pecado sem perdão, existe também o perdão sem limites! A misericórdia de Deus é infinita e vai além da nossa compreensão. Atribuir uma possessão demoníaca à fala e ação de Jesus, é ignorância pura, posto que a multidão que a fé cristã atrai ao redor de seu Mestre é maior e mais diversa do que imaginamos ou contabilizamos em nossos átrios de fé. “Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”, disse um dia, referindo-se à sua morte de cruz. Essa atração diversa é a seara da ação de Deus no mundo. O Evangelho aqui citado nos mostra essa diversidade de público e o detalhe de que nem a própria família e seus discípulos mais fiéis compreenderam a dimensão do Reino por Ele anunciado. Por isso o consideraram um demente, um louco varrido! Por isso Jesus os alertou contra o perigo do pecado sem perdão. E conclamou a todos a abrirem mente e coração ao grande apelo que ali lhes fazia: tomarem parte na família trinitária, a grande família de Deus que constitui seu povo eleito. “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus…” (Mc 3,34-35), faz parte da família de Jesus neste mundo.

O convite é desafiador. Se quisermos afastar de nosso caminho a sedução destrutiva do Inimigo, aquele que se julga poderoso, senhor desse mundo, é preciso fazer parte da família cristã. Reconhecer sua origem divina, seu Pai, sua Mãe, seus irmãos… Inserir-se nessa casa de Deus no mundo, sua Igreja, seu Povo escolhido! Deixar-se purificar nas águas do Batismo, no sangue do Cordeiro. Alimentar seu Espírito com a verdade de suas Palavras, lembrando sempre que o Pão não é tudo, mas “toda a Palavra que sai da boca de Deus”… E esta, quem nos fala é Jesus. Então, sim: “esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Palavra da salvação.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Dia da Santificação

Dia 07 de junho, dia do Sagrado Coração de Jesus é, também, o dia de oração pela Santificação do Clero. Em virtude disso conclamamos a todos para que rezem por nós, padres, mas, de modo particular, rezem pelo padre que lhe dá assistência em sua paróquia. A Igreja escolheu a festa do Sagrado Coração de Jesus, o Bom Pastor, como um dia especial de orações pela santificação de todos os ministros ordenados. A vocação à santidade é universal. “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3).

Mutirão de Oração

Este mutirão de oração será para confirmar a vocação e eleição de cada consagrado, realizada por Deus, no seio da comunidade de fé: “Todo sumo sacerdote, escolhido entre os homens, é constituído para o bem dos homens nas coisas que se referem a Deus. Sua função é oferecer dons e sacrifício pelos pecados. Desse modo, ele é capaz de sentir justa compaixão por aqueles que ignoram e erram, porque também ele próprio está cercado de fraqueza; e, por causa disso, ele deve oferecer sacrifícios, tanto pelos próprios pecados como pelo pecado do povo” (Hb 5,1-3).

Santidade e não perfeição

A santidade não é uma busca de alguns privilegiados e escolhidos. Todos nós somos chamados a ser santos porque esta é a vontade de Deus. A santidade é o que devemos querer todos os dias porque, a santidade é possível e nos humaniza; porque o pressuposto da santidade é a nossa condição humana (grandezas e misérias); porque a graça supõe a natureza (Lv 11,45; 19,2; 20,7.26).

A busca de perfeição, ao contrário, só leva ao derrotismo e à frustração porque, por mais que façamos, não atingimos perfeição.  Porque, na verdade, perfeito, só Deus. Quem nos torna perfeitos é Deus (Hb 13,21) em seu amor e bondade.

Santificação, um caminho longo, mas necessário

O caminho da santificação é porta apertada que exige dos consagrados, não apenas desempenho no campo moral, no fazer, mas, também, no campo existencial, no ser. Isso implica configuração com o Cristo; ou seja, “ser outro um Cristo” no mundo.

A carta aos Filipenses 2,5-8 faz a grande proclamação: “Tenham em vocês mesmos os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo”.

Compromisso de todos

Aqueles que foram escolhidos para o serviço do povo de Deus, que receberam a imposição das mãos e foram ungidos para esta missão, têm um dever especial de ser sinais da santidade. Entretanto, a santidade dos consagrados não é algo que acontece fora da comunidade; fora das relações de vida comunitária. Por isso, no que depender de cada um, que o padre não fique sem oração. Porque a santificação não é, simplesmente, ‘uma coisa’ de quem se consagrou por uma vocação específica, mas um compromisso de todos os que, pelo batismo, receberam a marca da Trindade Santa.

Diz-nos, São Pedro, em sua carta que, santificação é um processo de libertação para a vida nova: “Por isso, estejam de espírito pronto para agir, sejam sóbrios e ponham toda a esperança na graça que será trazida a vocês quando Jesus Cristo se manifestar. Como filhos obedientes, não devem mais viver como antes, quando ainda eram ignorantes e se deixavam guiar pelas paixões. Pelo contrário, assim como é santo o Deus que os chamou, também vocês tornem-se santos em todo o comportamento, porque a Escritura diz: ‘sejam santos, porque eu sou santo’. Pois vocês sabem que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata nem ouro, que vocês foram resgatados da vida inútil que herdaram dos seus antepassados. Vocês foram resgatados pelo precioso sangue de Cristo, como o de um cordeiro sem defeito e sem mancha. Por meio dele é que vocês acreditam em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus” (1Pd 1,13-21).

PE. DIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Há grande diferença entre a lei dos homens e a Lei de Deus. A legislação humana vem acrescida de detalhes e pormenores próprios que se adaptam aos costumes e modismos de cada geração. Anseia sempre pela perfeição que não temos, mas buscamos constantemente. Por isso nossas leis exigem mais do que pensamos praticar ou merecer. Buscamos, através das nossas leis mutáveis e flexíveis, a justificação de um padrão de dignidade que pensamos ter. Já a Lei de Deus que muitas vezes menosprezamos  ou desdenhamos, prima por sua simplicidade e objetividade. Dez em um: amar a Deus e ao próximo. Como deveríamos amar-nos a nós mesmos!

Bem nos lembra uma verdade cristã: “A lei foi feita para o homem e não o homem para a lei”. Essa sutil diferença entre os preceitos humanos e os mandamentos divinos é que dá a grandiosidade do amor divino por suas criaturas. O conceito do certo e errado é Ele quem dimensiona, abrindo nossos corações e consciência para o melhor caminho a seguir. A medida e a diferença entre preceito e mandamento está diretamente relacionada com nossos conceitos de fé e razão. Deixa de ser as excessivas exigências das leis humanas para submeter-se ao peso do coração, símbolo do amor sem medidas, generosidade, perdão e compreensão. Um coração que ama é nosso melhor juiz.

Não seja você o juiz do seu irmão. Ao contrário, estenda-lhe a mão, nunca o chicote. A cura de um homem com a mão seca, naquela sinagoga onde se discutia o peso das leis, não foi mera coincidência. A pergunta ficou sem as respostas dos doutores da lei: “É permitido  no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida  ou deixa-la morrer?” (Mc 3,4). Era preciso estender-lhe a mão… Mais uma vez, o alerta subliminar da doutrina de Cristo privilegia a dignidade humana, não a frieza dos letrados, a dura lei do farisaísmo mundano. “Dura lex, sed lex”, ainda gritam seus guardiões. Os mesmos que decretaram a morte daquele galileu insubmisso aos braços da lei dos homens. Dura era a lei, mas era lei, preconizavam os poderosos.

Afinal, qual a diferença entre uma e outra, entre a constituição dos poderes e a constituição do amor?  Preceitos continuam como regras do proceder humano diante de suas condutas sociais, formalidades institucionais. É a doutrina da ordem imposta. Não vamos rasgar nossas constituições por tão pouco, mas respeitá-las com o devido senso da justiça humano-cristã. Já um mandamento divino tem a bênção celestial de uma voz de comando superior a tudo, a todos. Também é preceito, uma vez que se revestiu como um decálogo sagrado, princípio básico de um povo em busca de sua liberdade e soberania. Vale lembrar que, mesmo com sua simplicidade e objetividade, de dez leis suscintas e perfeitas que eram, o decálogo do Sinai, ao longo dos séculos, foi acrescido de seiscentos e tantos novos itens pelos guardiões da lei. Por isso Jesus o resumiu drasticamente. Basta um: o amor. Amor a Deus e ao próximo! O resto… o resto virá por acréscimo. Eis nossa lei, o preceito do amor, o mandamento novo… Isso nos basta!

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]