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Diocese de Assis

 

A celebração de Corpus Christi, sempre, nos põe diante do Mistério da Eucaristia. Fonte de vida para Igreja e eixo da vida litúrgica. Do Mistério Eucarístico destaca-se a prática da Adoração Eucarística.

“O culto prestado à Eucaristia fora da Missa é de um valor inestimável na vida da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico. A presença de Cristo nas hóstias consagradas que se conservam após a Missa – presença essa que perdura enquanto subsistirem as espécies do pão e do vinho – resulta da celebração da Eucaristia e destina-se à comunhão, sacramental e espiritual. Compete aos Pastores, inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também as visitas de adoração a Cristo presente sob as espécies eucarísticas” (João Paulo II, Carta Encíclica ‘Ecclesia de Eucharistia’, nº 25).

A Deus se deve adorar, ensina a Palavra e a Igreja. A Adoração é um profundo ato fé em Deus. É o reconhecimento de sua grandeza, poder e majestade. A Adoração é um mergulho nas profundezas de Deus.

Pergunta chave: Quais as características do adorador que o Pai procura?

Resposta da Palavra de Deus! Os verdadeiros adoradores, adorarão em Espírito e Verdade!

“A mulher (samaritana) então disse a Jesus: ‘Senhor, vejo que és profeta!  Os  nossos pais adoraram a Deus nesta montanha. E vocês judeus dizem que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.’ Jesus disse: ‘Mulher, acredite em mim. Está chegando a hora,  em que não adorarão o Pai, nem sobre esta montanha nem em Jerusalém.  Vocês adoram o que não conhecem, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade. Porque são estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’”  (João 4,20-24)

O significado de adorar em espírito e verdade

1 – Adorar em Espírito e Verdade é viver da Ressurreição:

No Espírito da Verdade – “Ele é o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê, nem o conhece. Vocês o conhecem, porque ele mora com vocês, e estará com vocês” (Jo 14,17).  No Espírito que dá Testemunho – “O Advogado, que eu mandarei para vocês de junto do pai, é o Espírito da Verdade que procede do pai. Quando Ele vier, dará testemunho de mim” (Jo 15,26). No Espírito que encaminha para a Verdade – “Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer” (Jo 16,13). No Espírito que é Sopro de Vida Nova – “Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: ‘recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,22).

2 – Adorar em Espírito e Verdade é ser contemplativo

Contemplar o Cristo na Escola de Maria: guardava tudo e meditava no coração (Lc 2,19). Contemplar o Cristo na Escola dos Mártires: derramaram seu sangue, deram a vida (At 22,20). Contemplar o Cristo na Escola dos Apóstolos: foram chamados como amigos (Jo 15,15).  Contemplar o Cristo na Escola dos Santos: lavaram suas vestes e alvejaram no sangue do cordeiro (Ap 7,14). Contemplar o Cristo na Escola das Crianças: possuem o Reino dos céus (Mt 19,14).

3 – Adorar em Espírito e Verdade é:

Antes de fazer-se discurso fazer-se palavra (Jo 1,14). Antes de fazer-se mestre fazer-se discípulo (Mt 23,7). Antes de fazer-se estrela fazer-se luz (Mt 5,16). Antes de fazer-se senhor fazer-se servo (Fl 2,6ss). Antes de fazer-se pão fazer-se eucaristia (Jo 13).

Antes de ser o especialista em retórica ser a testemunha ocular (Jo 1,6; L 1,1). Antes de fazer-se a si mesmo fazer-se um outro cristo (Rm 8, 29; Fl 3, 10.21; Jo 15, 5; 1 Cor 12, 12; Rm 12, 5; Fl 2, 5; Rm13, 14; Gl 3, 27).

Que a festa de Corpus Christi nos encontro verdadeiros adoradores de Deus!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS

 




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Tentar entender o mistério da Santíssima Trindade é a mais cabal prova da petulância humana diante de Deus. Sequer entendemos o mistério, a razão da nossa existência! Então mistério é mistério; se respeita até que a graça, o dom da sabedoria e do entendimento nos permitam penetrar, aceitar, venerar e, oxalá, um dia compreender. O fato que hoje temos é que o Espírito de Deus age em nós através das revelações de seu Filho, sob as bênçãos do Pai que nos ama e governa. Portanto, “toda autoridade me foi dada”… Portanto, “ide e fazei discípulos”… Portanto, “estarei convosco todos os dias”… (Mt 28,16-20).

Eis o tripé da nossa missão! Acreditar na autoridade divina, fazer novos discípulos e observar seus mandamentos, suas ordens. Sem isso, perdemos a razão do existir, tornando-nos  bestas-feras, órfãos de pai e de mãe, incapazes de dar um significado maior à razão da nossa existência e, principalmente, à missão nela embutida. O que não podemos ignorar é que a missão redentora de Cristo agora também é nossa..         Que Ele continua a agir, “está no meio de nós”, mas sua autoridade missionária emana do Pai e usa de seu Espírito santificador para também agirmos como outros Cristos no mundo, dando continuidade à obra da restauração humana. “Sem mim nada podeis fazer”, nos lembrou um dia. Mas cruzar os braços diante de tanto a se fazer é ignorar sua presença e sua ação entre nós e em nós.

Esse é o grande desafio missionário da Igreja no mundo. Confiar nas promessas de Deus, “agir como Jesus agia, amar como Jesus amava”, conforme canta Pe. Zezinho , é deixar agir a Santíssima Trindade em nós, tornando-nos partícipes da construção do mundo novo que tanto sonhamos. Para isso, a inserção nossa no mistério da redenção e reconciliação humana com seu Criador exige a observância “de tudo o que vos ordenei”, nos ensina Jesus. Ou, como bem nos lembra o apóstolo: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8, 16-17). Também participamos da comunhão trinitária, do mistério que reconcilia criatura e Criador. Louvado seja Deus. Louvado sejam seus filhos diletos! Louvado seu espírito santificador, capaz de nos fazer agentes de transformação, outros cristos, semideuses num mundo que dele se distancia.

O mistério da Santíssima Trindade deixará de ser esse mistério todo quando a criatura aceitar sua total dependência da seiva criadora, aquela cujo “Espirito dá a vida e procede do Pai e do Filho”. A unção pentecostal nos prova a necessidade de também vivenciarmos essa experiência trinitária entre nós. Corpo, alma e graça santificante. Nosso corpo, nossa realidade temporal. Nossa alma, o maior dos tesouros dos que se descobrem “filhos” diletos do Pai. E a graça santificante, a força espiritual que um dia livrará nossos corpos e almas da condenação eterna. Assim alcançaremos a plenitude da vida trinitária em Deus.  E nova vida…”a vida do mundo que há de vir”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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No calendário litúrgico da Igreja Católica, o tempo pascal vai até o domingo de Pentecostes. É um tempo onde afirmamos e celebramos o eixo da fé: a ressurreição de Jesus. No domingo depois de Pentecostes, costumamos celebrar a festa da Santíssima Trindade. Uma festa que entrou no calendário da liturgia romana em 1334.

Um belíssimo texto de Santo Atanásio, bispo, do século IV, ilustra muito bem o sentido da vida da fé trinitária.

“Não devemos perder de vista a tradição, a doutrina e a fé da Igreja Católica, tal como o Senhor ensinou, tal como os apóstolos pregaram e os Santos Padres transmitiram. De fato, a tradição constitui o alicerce da Igreja, e é impossível nega-lo, sem de alguma forma, negar a fé.

Ora, a nossa fé é esta: cremos na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; nela não há mistura alguma de elemento estranho; não se compõe de Criador e criatura; mas toda ela é potência e força operativa; uma só é a sua natureza, uma só é a sua eficiência e ação.

O Pai cria todas as coisas por meio do Verbo, no Espírito Santo; e deste modo, se afirma a unidade da Santíssima Trindade. Por isso, proclama-se na Igreja ‘um só Deus, que reina sobre tudo, age em tudo e permanece em todas as coisas’ (cf. Ef 4,6). Reina sobre tudo como Pai, princípio e origem; age em tudo, isto é, por meio do Verbo; e permanece em todas as coisas no Espírito Santo.

São Paulo, escrevendo aos Coríntios acerca dos dons espirituais, tudo refere a Deus Pai como princípio de todas as coisas, dizendo: Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. ‘Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos’ (lCor 12,4-6).

Os dons que o Espírito distribui a cada um vêm do Pai por meio do Verbo. De fato, tudo o que é do Pai é do Filho; por conseguinte, as graças concedidas pelo Filho, no Espírito Santo, são dons do Pai. Igualmente, quando o Espírito está em nós, está em nós o Verbo, de quem recebemos o Espírito; e, como o Verbo, está também o Pai. Assim se cumpre o que diz a Escritura: ‘Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos a nossa morada’ (Jo 14,23). Pois onde está a luz, aí também está o esplendor da luz; e onde está o esplendor, aí também está a sua graça eficiente e esplendorosa.

São Paulo nos ensina tudo isto na segunda Carta aos corintios, com as seguintes palavras: ‘A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós’ (2Cor 13,13). Com efeito, toda a graça que nos é dada em nome da Santíssima Trindade, vem do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.

Assim como toda a graça nos vem do Pai por meio do Filho, assim também não podemos receber nenhuma graça senão no Espírito Santo. Realmente, participantes do Espírito Santo, possuímos o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do mesmo Espírito.”

A fé Trinitária nos ajuda a sonhar a vida em comunidade, pois, Deus não é a Solidão do “um”, Todo-Poderoso e distante pela majestade e pela eternidade. Pelo Contrário, Deus é intercomunicação perfeita, na unidade das três pessoas divinas. Em Deus não há nenhuma confusão triteísta (três deuses), mas o maravilhoso Mistério que o dogma não é capaz de conter: Deus é Uno e Trino.

É por isso que, quando traçamos, sobre nós, o sinal da cruz, em cada oração, estamos reconhecendo e aceitando esse mistério, como iluminador da nossa humanidade mesmo quando não entendemos e nem explicamos tudo.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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PORTAS E CORAÇÕES ABERTOS

Basta uma simples ameaça contra o conforto ou segurança de nossas vidas para nos armarmos com instrumentos de defesa. Quando não os temos, isolamo-nos, fugimos ou nos fechamos em um canto qualquer. Fechar portas e janelas é uma dessas atitudes imediatas. Deixar de ouvir palavras de moderação ou alerta é também fechar mentes e corações para a razoabilidade de uma reação sem contendas. Se a ameaça é física, afinamos nossa agressividade. Se nos ameaçam moral, intelectual ou espiritualmente, pondo em xeque nossas crenças e convicções, então se tranca o coração, isola-se qualquer possibilidade de entendimento ou diálogo.

Isso tudo aconteceu com os discípulos de Jesus, naquele “primeiro” dia da semana após o terrível espetáculo de sua morte de cruz. Por medo dos judeus, algozes primeiros do mestre nazareno, nada mais prudente do que se esconderem, fecharem as portas com boa guarnição de trincos e ferrolhos, apagarem luzes, baixarem as vozes e orarem… Rezar mais e mais! Terrível aquela situação de medo e insegurança. O que seria de suas vidas agora?

Não mais havia paz entre eles. A esperança que lhes restava era um sopro, uma réstia de luz qual a que agora penetrava aquela sala pelas frestas das paredes mal vedadas da casa onde se escondiam. Uma casa conhecida por todos que ali estavam, onde se reuniam habitualmente, onde Jesus com eles pernoitara muitas noites, onde fizeram aquela última e maravilhosa (também misteriosa) refeição de despedida… Onde Maria os acolhia como se casa dela fosse, mas que tinha os ares de uma  Betania especial, uma sala ampla no segundo piso, local quase sagrado onde se sentia o lampejo miraculoso de uma proteção celestial… Ali Jesus ceara com eles e pedira que se recordassem sempre daquele momento diáfano: “Façam isso em minha memória”!

Eis que, sob a proteção daquele teto bendito, sob a guarnição de suas portas sólidas e  bem trancadas, Jesus surge miraculosamente, lhes desejando paz! Suas mãos chagadas e seu coração traspassado não deixam dúvidas. É Ele. Um sopro de alento novo alivia seus temores. É Ele mesmo! Seu sorriso largo e seu sereno olhar… Seus lábios portadores de tantas palavras de esperança agora lhes desejam apenas paz. Sopra sobre eles um alento de vida nova, de espírito renovado. Aquele mesmo Espírito que flui de suas palavras de ordem e tarefa a se cumprir. Não temas, pequenino rebanho. Saiam dessa masmorra, desse torpor sem ação, sem missão a se cumprir. O mundo espera por  vocês. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,22).

Basta que acreditem. Que aceitem e recebam o Espírito Santo. Então a reconciliação será universal, o perdão recíproco, sem limites, sem fronteiras… Basta perdoar e a paz será restaurada, as barreiras demolidas, as portas abertas. Tanto na terra quanto no céu.  O milagre de Pentecostes é o grande segredo da reconciliação que o mundo ainda não descobriu. “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e as portas serão abertas”. Os corações também.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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LIGANDO TERRA E CÉUS

Outra não foi a missão de Jesus senão unir terra e céus através de suas ações e ensinamentos. “Fez e ensinou desde o começo até o dia em que foi levado para o céu” (At 1, 1-2). Com sua ascensão coroou-se sua missão terrena, ocupando seu lugar  “à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde virá para julgar os vivos e os mortos”, dizemos em nossa Profissão de Fé, o juramento sagrado que fazemos através da oração do Creio.

Em suma, essa é a fé cristã. A ressurreição foi seu maior milagre, mas sua ascensão devolveu-nos a esperança do arrebatamento, o resgate definitivo de sua Igreja, “que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal” (Ef 1, 23). Ou seja: a ascensão de Cristo abriu-nos as portas do Reino dos Céus, devolveu-nos a possibilidade de salvação…

Ora, se essa é nossa fé e esperança, não há porque  hesitarmos na prática dos mandamentos que apontam esse caminho. Os mistérios da redenção humana passam, necessariamente, pelos caminhos que Cristo trilhou entre nós, pelo seu nascimento, crescimento, conquistas e derrotas transitórias, morte, mas também ressurreição e ascensão. Houve sofrimento, perseguição, derrotas, incompreensão, traição, sim! Mas houve também muita luz, proteção celestial, gratidão, amor de Mãe, proteção dos Anjos, verdadeira fraternidade humana, compreensão, respeito, gratidão!  Esse é o nosso Cristo, o redentor por excelência, cuja história de vida em nada difere da nossa, mas antecipa a glória reservada, as vitórias almejadas por todos os que buscam praticar seus ensinamentos, seus exemplos de vida.

Para isso, a prática é questão de ordem, de tudo ou nada. “Ide” e fazei o mesmo que Ele fez. “Ide” pelo mundo… pelo mundo inteiro… “Ide e anunciai”…  Condição única e essencial para seguir seus passos, que não deixa ressalvas, não faz acepções, não abre exceções, mas frisa o imperativo do verbo: anunciai o Evangelho a toda criatura!  Ou isso, ou nada disso. “Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado”. Simples assim.

Então não há o que temer. Os sinais de proteção divina àqueles que fiam seus dias no desempenho dessa missão, estão aí para atestar a consistência dessa promessa. Dois mil anos da história da Igreja, a constante perseguição contra ela, ostensiva e intensiva ao longo desses séculos, seu crescimento, o reconhecimento de ser ela a maior e mais longeva instituição humana a resistir e conquistar espaço em todos os tempos e lugares, não é mera coincidência. Cobras e lagartos se dizem a seu respeito, mas as serpentes da maledicência e o veneno das instituições político-financeiras do homem descrente sequer arranham o verniz de suas portas bimilenares. Até as garras demoníacas e suas ações ardilosas em nada modificam seus ensinamentos, sua doutrina inviolável. Então é isso. O Senhor continua no comando, “confirmando sua palavra por meio dos sinais”, que acompanham a história da sua Igreja. Por isso, demos graças.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Todo homem que recebe de Deus riquezas e bens para que possa sustentar-se, ter a sua porção e desfrutar do seu trabalho, considere isso dom de Deus. Desse modo, o homem não se preocupa demais com sua vida fugaz, porque Deus o mantém ocupado na alegria do coração” (Eclesiastes 5,18-19).

Em comparação com aquele que se sacia de suas posses, nas trevas das preocupações e, com grande tédio da vida, acumula as coisas perecíveis, declara ser preferível aquele que desfruta coisas presentes. Este, pelo menos, sente-se feliz em usá-las; para aquele, porém, apenas o peso das inquietações. E diz porque é um dom de Deus poder gozar das riquezas. É porque não terá muito que pensar nos dias de sua vida.

Com efeito, Deus o ocupa com a alegria de seu coração: não terá tristeza, não se afligirá com pensamentos, levado pela alegria e o prazer das coisas diante de si. Contudo, melhor ainda é entender, com o Apóstolo, o alimento e a bebida espirituais, dados por Deus, e ver a bondade de todo seu esforço, porque com enorme trabalho e desejo vamos poder contemplar os bens verdadeiros.

É esta a nossa porção: alegrarmo-nos em nosso desejo e fadiga. Este é um bem, sem dúvida, mas até que Cristo, nossa vida, se manifeste, ainda não é a plenitude do bem.

Todo o trabalho do homem é para sua boca e, no entanto, seu espírito não se sacia. Qual é a vantagem do sábio sobre o insensato? Qual a do pobre, se não de saber como caminhar em face da vida?

O fruto de todo trabalho dos homens neste mundo é consumido pela boca, mastigado e desce ao estômago para ser digerido. E por muito pouco tempo deleita o paladar, pois dá prazer somente enquanto está na boca.

Além disto, não se sacia a alma de quem comeu com o alimento. Primeiro, porque ele deseja comer de novo. Pois, quer o sábio, quer o tolo, não pode viver sem alimento, e a preocupação do pobre é sustentar seu mirrado corpo para não morrer à míngua. Segundo, porque a alma não encontra utilidade alguma na refeição do corpo, o alimento é comum ao sábio e ao ignorante, e o pobre vai aonde percebe haver recursos.

Apesar de tudo é preferível entender a expressão do autor do Eclesiastes que, instruído nas Escrituras celestes, concentra todo o trabalho em sua boca, e sua alma não se sacia por desejar sempre aprender. Nisso tem mais o sábio do que o insensato; porque, embora se sinta pobre (aquele pobre que o Evangelho declara feliz), caminha para alcançar a vida, seguindo pela estrada apertada e difícil que a ela conduz. É pobre de obras, porém, sabe onde mora Cristo, a vida.

Finalmente, é preciso que o homem saiba que o futuro a Deus pertence, como diz o Eclesiastes 7,8-14: “Mais vale o fim de uma coisa do que o seu começo, e a paciência é melhor do que a pretensão. Não fique tão depressa com o espírito irritado, porque a irritação se abriga no peito dos insensatos. Não diga: ‘Por que os tempos passados eram melhores que os de hoje?’ Não é a sabedoria que faz você levantar essa questão. A sabedoria é boa como uma herança, e útil para aqueles que vêem o sol, pois à sombra da sabedoria se vive como se vive à sombra do dinheiro. Mas a sabedoria é mais vantajosa, porque faz viver quem a possui. Procure compreender a obra de Deus, porque ninguém endireita o que ele encurvou. Esteja alegre no dia feliz, e no dia da desgraça procure refletir, porque um e outro foram feitos por Deus, para que o homem nunca possa descobrir nada do seu próprio futuro.

(Texto a partir do comentário sobre o Eclesiastes, de São Jerônimo, século V).

Pe. Edivaldo Pereira dos Santos




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Como identificar os cristãos? Pela Bíblia? Pela Igreja? Pelo Palavreado? Pelos trejeitos? Pela roupa? Pelos costumes? Pelos amigos?

No século II, um belíssimo texto da carta a Diogneto responde a estas perguntas e a muitas outras. Vale a pena ler.

“Os cristãos não se diferenciam dos outros homens nem pela pátria nem pela língua nem por um gênero de vida especial. De fato, não moram em cidades próprias, nem usam linguagem peculiar, e a sua vida nada tem de extraordinário. A sua doutrina não procede da imaginação fantasista de espíritos exaltados, nem se apóia em qualquer teoria simplesmente humana, como tantas outras.

Moram em cidades gregas ou bárbaras, conforme as circunstâncias de cada um; seguem os costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer em outros usos; mas o seu modo de viver é admirável e passa aos olhos de todos por um prodígio. Habitam em suas pátrias, mas como de passagem; têm tudo em comum como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria.

Todo país estrangeiro é sua pátria e toda pátria é para eles terra estrangeira. Casam-se como toda gente e criam seus filhos, mas não rejeitam os recém-nascidos. Têm em comum a mesa, não o leito.

São de carne, porém, não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas sua cidade é no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. Condenam-nos sem os conhecerem; entregues à morte, dão a vida. São pobres, mas enriquecem a muitos; tudo lhes falta e vivem na abundância.

São desprezados, mas no meio dos opróbrios enchem-se de glória; são caluniados, mas transparece o testemunho de sua justiça. Amaldiçoam-nos e eles abençoam. Sofrem afrontas e pagam com honras. Praticam o bem e são castigados como malfeitores; ao serem punidos, alegram-se como se lhes dessem a vida. Os judeus fazem-lhes guerra como a estrangeiros e os pagãos os perseguem; mas nenhum daqueles que os odeiam sabe dizer a causa do seu ódio.

Numa palavra: os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo. A alma está em todos os membros do corpo; e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, mas não provém do corpo; os cristãos estão no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível é guardada num corpo visível; todos vêem os cristãos, pois habitam no mundo, contudo, sua piedade é invisível.

A carne, sem ser provocada, odeia e combate a alma, só porque lhe impede o gozo dos prazeres; o mundo, sem ter razão para isso, odeia os cristãos precisamente porque se opõem a seus prazeres.

A alma ama o corpo e seus membros, mas o corpo odeia a alma; também os cristãos amam os que os odeiam. Na verdade, a alma está encerrada no corpo, mas é ela que contém o corpo; os cristãos encontram-se detidos no mundo como numa prisão, mas são eles que abraçam o mundo.

A alma imortal habita numa tenda mortal; os cristãos vivem como peregrinos em moradas corruptíveis, esperando a incorruptibilidade dos céus. A alma aperfeiçoa-se com a mortificação na comida e na bebida; os cristãos, constantemente mortificados, vêem seu número crescer dia a dia. Deus os colocou em posição tão elevada que lhes é impossível desertar.”

Ser Cristão é, portanto, não uma questão de status, de honra ou de poder, mas de pertença: “vocês são de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor 3,23).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Para quem possui ao menos uma parreira de uvas em casa ou conhece a arte da vindima, ou, quiçá, seja um viticultor de sucesso, sabe perfeitamente o quão importante é a arte da poda. Nada é tão fundamental para uma boa colheita do que seus segredos e prática em tempo certo, na maneira como se corta, no manejo do instrumento, na observação dos ciclos lunares, etc, etc. Pois bem: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto, ele o corta…( Jo 15, 1-2)”, nos disse Jesus.

Percebeu agora a importância dessas palavras na vida cristã? Unidade e bons frutos! Sem isso, nada somos. Sem a apresentação de resultados práticos e visíveis, derivados da seiva de nossa fé, corta-se o ramo seco que se tornou nossa vida e a descarta dos planos celestiais. “Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados (Jo 15, 6)”. Alguém aí ainda não entendeu tão claras e objetivas palavras ou quer que se desenhe? A didática das promessas de Cristo não poderia ser mais contundente e sua pedagogia usa das coisas simples para realçar a importância de nossa unidade a Ele, fonte primeira dos bons frutos que o Pai espera de nós.

Quantos ramos secos nos dias atuais! Seria falta de nutrientes no solo ressequido de nossos corações? Ou a necessidade de uma poda mais radical nesse crescimento exacerbado dos muitos ramos de nossa existência, a planta de muitas folhas sem frutos que a vida humana apresenta?  Estamos crescendo em exuberância aos olhos de muitos, mas sem os resultados esperados pelo agricultor que aqui nos colocou, nos plantou. De nada adianta um parreiral vistoso, verdejante, sem as podas necessárias, sem os frutos bons e saborosos de uma existência produtiva. Disso é que nos fala Paulo, ao mencionar fé sem obras, existência vazia, morta, sem resultados agradáveis a Deus. Galho seco se lança fora! A fé sem frutos, sem resultados práticos, é realmente morta.

Oportuno se faz, de quando em quando, um exame na saúde de nossa vida espiritual. Para isso existe a Igreja e seus sacramentos. Em especial o reconhecimento de nossas fraquezas, a Confissão e a Eucaristia, fonte de nossa espiritualidade, o grande alimento que nos mantêm unidos ao Cristo e nutridos por Ele nesse desafio de produzir para Deus. De nada adianta uma caminhada de fé sem esses pressupostos de inserção ao Cristo e total adesão aos seus ensinamentos. Não há alternativas, nem enxertos em ramos diferentes da fé que recebemos no batismo, nem manipulações da moderna tecnologia agrícola que parece “fazer milagres” no campo das produções humanas, nem adubação, nem vento, nem chuvas “provocadas” mas incontroláveis, nada disso resolverá nosso problema sem os “frutos saborosos” que o Pai espera de cada um de nós. A natureza divina rejeita improvisos de última hora!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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É fundamental dar sentido para os nossos passos. Mas, antes, é necessário encontrar o caminho! Por não haver preocupação com o caminho é que surgem os atalhos; é que as pessoas se perdem; é que a vida desanda. A falta de caminho subjuga uma pessoa à fatalidade do destino.

O texto bíblico retirado de João 14,1-6 é bastante contundente:“Jesus continuou dizendo: ‘Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. (…) para onde eu vou, vocês já conhecem o caminho.’ Tomé disse a Jesus: ‘Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho?’  Jesus respondeu: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.”

São Clemente I, papa (século I) num dos fragmentos de sua carta aos coríntios, assim escreve:

“Este é o caminho, caríssimos, onde encontramos, nossa salvação: Jesus Cristo, o pontífice de nossas oferendas, nosso defensor e arrimo nas fraquezas.

Por ele nossos olhos se voltam para as alturas dos céus; por ele contemplamos, como num espelho, o rosto puríssimo e sublime de Deus; por ele abrem-se os olhos de nosso coração; por ele a nossa inteligência, insensata e obscurecida, desabrocha para a luz; por ele quis o Senhor fazer-nos saborear a ciência imortal, pois sendo ele ‘o esplendor da glória de Deus, foi colocado tão acima dos anjos quanto o nome que herdou supera o nome deles’” (cf. Hb 1,3.4).

Combatamos, portanto, irmãos, com todas as forças, sob as suas ordens irrepreensíveis.

Consideremos os soldados, que combatem sob as ordens dos nossos comandantes. Quanta disciplina, quanta obediência, quanta submissão em executar o que se ordena!

Nem todos são chefes supremos, ou comandantes de mil, cem ou cinquenta soldados, e assim por diante; mas cada um, em sua ordem e posto, cumpre as ordens do imperador e dos comandantes. Os grandes não podem passar sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. A eficiência depende da colaboração recíproca.

Sirva de exemplo o nosso corpo. A cabeça nada vale sem os pés, nem os pés sem a cabeça. Os membros do corpo, por menores que sejam, são necessários e úteis ao corpo inteiro; mais ainda, todos se harmonizam e se subordinam para salvar todo o corpo.

Asseguremos, portanto, a salvação de todo o corpo que formamos em Cristo Jesus, e cada um se submeta ao seu próximo conforme o dom da graça que lhe foi concedido.

O forte proteja o fraco e o fraco respeite o forte; o rico seja generoso para com o pobre e o pobre agradeça a Deus por ter dado alguém que o ajude na pobreza. O sábio manifeste sua sabedoria não por palavras, mas por boas obras; o humilde não dê testemunho de si mesmo, mas deixe que outro o faça. Quem é casto de corpo não se vanglorie, sabendo que é Deus quem lhe dá o dom da continência.

Consideremos, então, irmãos, de que matéria somos feitos, quem éramos e em que condições entramos no mundo, de que túmulo e trevas nos fez sair aquele que nos plasmou e criou, para nos introduzir no mundo que lhe pertence, onde nos tinha preparado tantos benefícios antes mesmo de termos nascido.

Sabendo, pois, que recebemos todas estas coisas de Deus, por tudo lhe demos graças. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém”.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Há de se convir que não foi por acaso a citação de Jesus à classe dos mercenários, quando nos contou a parábola do bom pastor. “O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa” (Jo 10, 12). No redil das ovelhas os dois estão sempre presentes. Estes com o desejo de obter vantagens, lucrar sobre eventuais descuidos, conquistar a confiança das ovelhas ingênuas, descuidadas, desgarradas… Aqueles com o intuito único de garantir o bem estar, saúde e integridade das ovelhas que lhe foram confiadas… Ao primeiro sopro das adversidades fogem os mercenários!

Essa realidade conhecemos bem. Nem sempre a salvação está garantida num redil onde mercenários usam máscaras de pastores preocupados e dissimulados, mas que almejam tão somente as benesses de um cargo, os dividendos sociais, a estabilidade profissional, o reconhecimento e a formalidade que a áurea de uma posição possa oferecer. Garantias circunstanciais de qualquer bom mercenário.

Já o bom pastor põe em risco tudo isso, até a própria vida! Nesse prisma, um único e autêntico pastor pode reivindicar para si todos os atributos da bondade e perfeição que seu ministério deixou como herança. Só Jesus foi o Bom Pastor autêntico! Os demais ainda tentam, são simulacros da Perfeição que exemplificou com a vida. Por maiores e mais santificados que sejam os ministérios dos bons pastores do povo, ainda possuem a marca da fraqueza humana que impede a plenitude na ação de bem administrar a messe, o rebanho que lhes fora confiado. Exceções existem, é lógico, mas todas elas susceptíveis a acertos e desacertos, comuns ao nosso gênero.

Por isso, não generalizemos nossas críticas e opiniões a respeito deste ou daquele rebanho, ou pastor, ou credo, ou grupo religioso. O fato é que todos estão inseridos no rebanho de Cristo e, bem ou mal, um dia chegaremos lá, prontos para a tosquia, a colheita do Senhor da Messe! O fato é que Ele continua se dando a conhecer, se manifestando a todos, aqui e acolá, apesar da ação sorrateira dos mercenários de plantão! O fato é que o Bom Pastor desse redil ainda conduz seu povo à vida, à plenitude de seu Amor, ao zelo por todos os que se deixam guiar à sombra de seu cajado. Não se trata de uma entrega submissa a uma crença pura e simples, mas de um amadurecimento de fé. Deixar-se guiar pelas promessas de um mestre do naipe de Cristo é uma opção pessoal, mas que necessita de um mínimo de senso crítico para bem conhecer aqueles que nos conduzem. Porque de boas intenções e bons pregadores o inferno também está cheio.  É necessário conhecer e se deixar conhecer, conduzir, mas também se deixar conduzir, acreditar, desconfiando sempre, confiar sem acreditar em tudo o que se vê, se ouve, se diz…

Porém, não temas, pequenino rebanho!  O fundamento da fé cristã conhece bem a consistência de sua pedra angular, aquela mesma que foi rejeitada pelos construtores dos muitos muros e paredes que a civilização levantou e ainda levanta. Era essa a pedra essencial na configuração de um arco, uma ponte… era ela quem dava sustentação, travando uma obra consolidada, permitindo-lhe resistir ao peso dos anos, séculos, milênios… Jesus Cristo! “Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome  dado aos homens pelo qual possamos ser salvos” (At 4-12). Eis nosso Pastor, nosso único e verdadeiro guia, a conduzir seu povo pelos caminhos da melhor pastagem. Quem se deixa guiar à luz desses ensinamentos há de encontrar a porta dos verdejantes prados celestiais. E nunca os currais dos falsos pastores e mercenários!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]