1

Diocese de Assis

 

Algo que dá sentido à vida humana é a compreensão de quanto esta é bela. Melhor ainda quando essa descoberta vem acompanhada por uma revelação de fé, uma manifestação divina. Imaginem então o quão maravilhosa e espetacular foi a experiência do monte Tabor, onde a transfiguração humano/divina do Cristo Jesus deixou boquiabertos os três discípulos: Pedro, Tiago e João. Diz o evangelista que a visão desses três privilegiados foi algo tão extraordinário que estes não queriam voltar para a realidade do mundo aqui embaixo. Jesus lhes mostrava seu verdadeiro rosto. “Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas” (Mc 9,3). A visão beatífica, serena e transfigurada, coroada de luz e aureolada com as nuvens celestiais, era-lhes um espetáculo sem referenciais com a lógica do mundo. Tanto que sentiram medo a certo momento. Tanto que uma nuvem momentânea da dúvida os cobriu com sua sombra. Estariam sonhando? Seria real o que suas vistas contemplavam?

Nisso tudo resulta uma revelação de fé. A compreensão da beleza de Deus presente na divindade de Cristo é o primeiro passo para se aceitar sua doutrina e “descer do monte” de nossas incertezas e tribulações com mais convicção e ardor, dispostos e renovados pela verdade de seus ensinamentos. “Este é meu Filho muito amado; ouvi-o”. Esta é a voz que nos devolve à realidade, fortalecidos pela alegria de uma descoberta pessoal, intimista, mais familiarizados com os mistérios e as revelações de Deus em nossas vidas. Por isso a fé é um tesouro escondido, só plenamente revelado àqueles que se dispõem a “encarar” a luz divina presente no olhar humano do Cristo transfigurado. Mistérios de fé, nos dizem nossos sacerdotes ao apresentar a transubstanciação das espécies eucarísticas em corpo e sangue… É o milagre do Tabor, a transfiguração que nos foi dada contemplar nos dias atuais, nos nossos átrios de fé e devoção cristã. Por isso, é bom estarmos aqui, como testemunhas de um milagre que ainda podemos ver com nossos olhos mortais! Esse é o mistério, o segredo da fé cristã e de sua resistência até os dias atuais, até os dias finais

A correlação entre o milagre da transfiguração e a transubstanciação eucarística fica bem evidente no pedido que Jesus faz ao voltar para a realidade do mundo: “Não contem a ninguém o que viram aqui, até que eu tenha ressuscitado dos mortos”. A revelação viria depois, na despedida da última ceia, o grande mistério da fé cristã que se tornou “memorial da morte e ressurreição”, lembrança permanente do Cristo transfigurado, ressuscitado dentre nós e glorificado na glória de sua ascensão à direita do Pai. Esse é nosso Messias, nosso Salvador, o Filho de Deus, vivo! Por isso é bom viver, é bom estarmos aqui para glorificar pela vida que temos, pela oportunidade que nos dá o Pai criador de “guardarmos seus mistérios” em nosso coração pequenino, mas extraordinariamente grandioso quando agraciado pelas revelações que a fé nos possibilita testemunhar em vida. É bom estarmos aqui, neste mundo, contribuindo para que este seja melhor, mais humano e digno das bênçãos celestes. É bom sermos provas vivas dos milagres que ainda rondam nossas vidas e que muitos teimam em não enxergar. Assim pensando e agindo, um dia ainda iremos, como os discípulos, olhar ao derredor e ver em todos os semelhantes o rosto transfigurado de Cristo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

A fé é um patrimônio único, valiosíssimo, impagável; é uma herança que supera os tempos, os momentos, as crises e as gerações. A fé é uma das virtudes teologais, junto com a esperança e o amor.

A fé não depende, necessariamente, de quem crê mas, se realiza efetivamente nele, com todos os frutos que lhe são próprios. A fé não é uma criação de Deus, mas é, antes, o espaço por excelência de sua experiência. “A  é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem” (Hb 11,1).

Ter fé, portanto, não é uma obrigação, não é uma norma, não é uma tradição, não é um hábito. Ter fé é uma necessidade e, só que crê têm a plenitude da vida!

“Portanto, irmãos, tenham cuidado para que não haja entre vocês nenhum homem de coração perverso e sem , que se afaste do Deus vivo” (Hb 3,12). “É impossível agradar a Deus sem a . De fato, quem se aproxima de Deus, deve acreditar que ele existe e que recompensa aqueles que o procuram” (HB 11,6). “O meu justo vive pela fé!” (Hb 10,38).

Foi por causa da  que os antigos foram aprovados por Deus. Pela , sabemos que a Palavra de Deus formou os mundos; foi assim que aquilo que vemos originou-se de coisas invisíveis.

Pela , Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim. E por causa da , ele foi declarado justo… Pela , Henoc foi levado embora, para que não experimentasse a morte.

Pela , ao ser avisado divinamente sobre coisas que ainda não via, Noé levou isso a sério, e construiu uma arca para salvar a sua família. Por essa , ele condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que provém da .

Pela , Abraão, chamado por Deus, obedeceu e partiu para um lugar que deveria receber como herança. E partiu sem saber para onde. Pela , ele foi residir como estrangeiro na terra prometida. Morou em tendas juntamente com Isaac e Jacó, que também eram herdeiros da mesma promessa. Foi pela  que também Sara, embora sendo velha, se tornou capaz de ter uma descendência, pois ela acreditou em Deus, que lhe havia prometido isso. Pela , Abraão, submetido à prova, ofereceu Isaac; e justamente ele, que havia recebido as promessas, ofereceu seu único filho.

Pela , Isaac abençoou Jacó e Esaú, também a respeito de coisas futuras.

Pela , Jacó, agonizante, abençoou cada um dos filhos de José, e se prostrou, apoiando-se na extremidade do bastão.

Pela , José mencionou, já no fim da vida, o êxodo dos filhos de Israel.

Pela , Moisés, recém-nascido, foi escondido pelos seus pais durante três meses, porque viram que o menino era bonito. Eles não temeram o decreto do rei. Pela , quando já era adulto, Moisés recusou ser chamado filho da filha do faraó. Pela , Moisés deixou o Egito, sem temer a ira do rei; permaneceu firme, como se visse o Invisível. Pela , ele celebrou a páscoa e marcou as portas com sangue, para que o exterminador não matasse os primogênitos de Israel. Pela , atravessaram o mar vermelho como se fosse terra seca, enquanto os egípcios, tentando fazer o mesmo, se afogaram.

Pela , caíram os muros de Jericó, após as voltas ao seu redor durante sete dias… (Hb 11,2-33).

“Por isso, façam esforço para pôr mais virtude na fé, mais conhecimento na virtude, mais autodomínio no conhecimento, mais perseverança no autodomínio, mais piedade na perseverança, mais fraternidade na piedade e mais amor na fraternidade. De fato, se vocês tiverem essas virtudes em abundância, elas não permitirão que vocês se tornem inúteis ou infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pd 1,5-8).

Eis porque, viver bem é crer! E pra você, crer é viver bem?

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Parece-me um tanto forçado o termo Amizade Social num contexto de fraternidade cristã. Porque a boa notícia que nos trouxe os Evangelhos é exatamente o desafio de uma fraternidade universal, que vai muito mais além do que as aparências de uma convivência social pura e simples. Na sociedade ainda imperam as normas do procedimento ético, das boas maneiras, do farisaísmo social que as relações humanas fazem questão de preservar como lei de conduta e maturidade nas relações interpessoais. Qualquer manual de etiqueta é capaz de nos apontar essa falsidade comportamental. Mas a verdadeira convivência fraterna, desejada e praticada pelo mestre de Nazaré, rasgou toda e qualquer cartilha de comportamento social para valorizar por primeiro a beleza das relações humanas, deixando de lado suas normas e etiquetas excessivamente inibidoras e constrangedoras. Numa verdadeira relação fraterna predominam gestos de espontaneidade, pureza e autenticidade.

Para os construtores do Reino de Deus entre os homens não pode haver meia verdade. Ou tudo, ou nada. Ou você aceita o desafio de uma relação pessoal além das aparências que a tentação demoníaca tenta construir na vida social, ou nossas amizades nunca passarão de falsa diplomacia plasmada pelas normas e exigências do mundo, nunca de Deus. Essa é uma exigência puramente humana, mundana, que não penetra no âmago do verdadeiro espírito de fraternidade universal. Melhor então agir como Jesus, que se afastou da convivência social para viver entre os animais selvagens, onde os anjos desciam dos céus para o servir (Mc 1, 13)? Felizmente, isso só durou quarenta dias! Pelo menos ali, no deserto e na quietude das falsas relações sociais, a plenitude do amor divino era mais evidente! Mas essa não era a missão cristã, pois o tempo e a ação evangelizadora se cumprem no aqui, no hoje, na realidade do tempo presente. Não podemos fugir dessa nossa necessidade de inserção na realidade do mundo. Por isso nossa fé segue os passos do Cristo, que nos convida à conversão imediata, seguindo seus exemplos, seu Evangelho de fraternidade universal: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).

Penetrar nesse desafio de fé e coerência evangélica nos leva a construir uma relação muito além das aparências sociais. O mundo político tem nos dificultado a construção de um mundo novo conforme os parâmetros do ensinamento cristão. Direita ou esquerda nunca foram situações simpáticas ao bom senso que só o meio termo, o diálogo, as concessões de um e as renúncias do outro são capazes de solidificar fraternalmente, sem a tentação da vitória de um sobre a derrota do outro. Não é guerreando que se constrói a Paz. Esse é um conceito diabólico, que muitos abraçam como bandeira de ação e não enxergam o sarcasmo do Diabo por detrás dessa bandeira institucionalizada. Não é por aí. Com o Diabo não existe diálogo. Papa Francisco já nos alertou em um de suas falas do Angelus (2021): “Quando o sedutor se aproxima, começa a seduzir-nos: “Mas pensa isso, faz aquilo…”, a tentação é entrar em diálogo com ele, como fez Eva; e se entrarmos em diálogo com o Diabo, seremos derrotados”. Só o diálogo com Deus, com sua Palavra, pode restaurar o diálogo entre nós.

Fica pois a pureza evangélica como único e melhor caminho para a paz fraternal que desejamos alcançar. Esqueçam essa amizade social. Melhor caminho é a amizade cristã. Busquem primeiramente o diálogo fraternal, sem divisões, sem tendências, sem radicalismos políticos ou sociais. O verdadeiro cristão não negocia com o Inimigo, o Pai das falsas ilusões, da mentira institucionalizada. Não é por aí o caminho da evangelização sonhada e almejada por Cristo. A boa nova da salvação não negocia com doutrinas meramente transitórias. Um único caminho nos promete as alegrias do Reino de Deus entre nós, o diálogo com Deus e os irmãos. Portanto, “convertei-vos e crede no Evangelho”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

É impressionante, mas bem antes de Jesus, desde sempre e até os dias atuais, basta um farfalhar, um burburinho qualquer anunciando milagres… lá está o povo! Não importa a origem dos boatos ou mesmo a intervenção, o dono dos milagres. Todo e qualquer milagre é ação divina. É Deus agindo entre nós, nos dando os ares de sua graça e benevolência. Assim pensa o povo. Assim, ao menor sinal dessa ação de Deus no mundo dos homens, o povo acorre faminto e sedento para contemplar, testemunhar, e se beneficiar com eventual graça dos céus.

Seria isso mesmo? A fama de Jesus se alastrou rapidamente, graças à facilidade, que lhe era peculiar, de entender a necessidade dos que o procuravam desejosos de cura, ansiosos para dele obterem um mínimo de misericórdia. “Se queres tens o poder de curar-me”. O leproso nada exigiu. Apenas confiou, depositou nele seu grande desejo de cura. E a resposta foi positiva: “Eu quero: fica curado!”. O episódio aqui exposto foi mais um, dentre os muitos milagres que Jesus realizava no meio do povo carente e sofredor ( Mc 1, 40-45). Ilustra a simplicidade e naturalidade dos milagres por Ele realizados. Basta seu querer. Sua ação de piedade para com aquele que sofre é instantânea. Do seu amor flui a cura. Da cura, um segredo: “Não contes nada disso a ninguém!”. Eis no que resulta a graça de Deus: num pedido de silêncio, não de aplausos e manifestações de loas ou oba-oba superficiais, como muitas das nossas aglomerações populares ao redor de espetáculos mirabolantes, incompreensíveis, fora da lógica! Um milagre não é um espetáculo circense, algo que se deva admirar pura e simplesmente com nosso olhar surpreso, mas insensível às ações de Deus na nossa história. Exige introspecção.  Quem recebe um milagre, antes de exibi-lo como presente de predileção, deve guarda-lo em seu coração como incumbência de maiores responsabilidades na sua vida de fé. Milagre recebido é compromisso de purificação. Impossível mantê-lo em segredo, mas também impossível deixar de proclamá-lo com a vida nova que se recebe.

No caso do leproso, Jesus lhe pediu que não contasse nada a ninguém porque ainda não era sua hora, o momento de manifestar plenamente seu poder e glória. Jesus iniciava seu ministério e ainda agia apenas em favor daqueles que o procuravam com a pureza e simplicidade de alma, mas o momento de sua glorificação se daria “do alto da cruz”, quando atrairia todos a si. A plenitude seria sua ressurreição, o maior dos milagres da história humana até os dias de hoje. No entanto, a cura de um leproso era um fato bem visível. Então o assedio popular cresceu. “Por isso Jesus não podia  mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos” (Mc 1,45). Continua impossível esconder a graça de um milagre!

Eles ainda acontecem! Não é uma intervenção humana, mas uma interferência divina na história humana. Não existem milagres sem o consentimento de Deus e a súplica do ser humano. Desejo de Deus aliado a um pedido humano. Aqui anjos e santos são meros intercessores, pois o milagre provem de Deus, nunca dos insignificantes poderes que pensamos possuir. Interceder, sim; mas realizar, jamais!  Eis porque devemos refutar as propaladas ações “milagreiras” de determinadas crenças, pessoas ou tantas outras ações mirabolantes que vemos por aí. Sem procedência divina, sem a interferência e provação da cruz, sem a crença da vitória de Cristo sobre a morte, não existem milagres. Cuidado com os charlatões à espreita. Só Cristo se diz ressurreição e vida! Só Ele é o Senhor dos Milagres!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

Há quem pensa que conhece o amor só porque experimentou a paixão; há que pensa que vive o amor só porque se deu a conhecer a alguém; há quem pensa que tem o amor só porque está com alguém… O amor é mais! O amor é maior!

O amor é a experiência humana mais completa e integradora, mais profunda e simples, mais acessível e tocante, mais direta e envolvente. O amor é o tudo de uma pessoa. O amor é a alma humana. O amor é a vida! Portanto, amar é viver!

A Sagrada Escritura é bastante contundente, quando se refere ao amor: O amor é Deus! Por isso é tão acessível e possível aos homens.

O amor não é algo abstrato e nem se reduz aos sentimentos, à vontade e aos desejos. O amor é o que confirma a existência humana em tudo o que lhe é humano.

Quem não ama deixou de ser gente ou nunca foi.

Vejamos o que dizem alguns textos bíblicos

No Cântico dos Cânticos 8,5-7, encontramos esta belíssima passagem: “Grave-me, como selo em seu coração, como selo em seu braço; pois o amor é forte, é como a morte! Cruel como o abismo é a paixão. Suas chamas são chamas de fogo, uma faísca de Javé! As águas da torrente jamais poderão apagar o amor, nem os rios afogá-lo. Quisesse alguém dar tudo o que tem para comprar o amor… seria tratado com desprezo.”

Em 1 Coríntios 13,1-8, São Paulo faz o testamento do amor: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

No livro dos Provérbios 12,1 lemos esta indicação: “Quem ama a correção ama o saber; quem detesta a correção torna-se imbecil.” E em Provérbios 29,3 está escrito: “Quem ama a sabedoria alegra o seu pai, mas quem frequenta prostitutas desperdiça seus bens”

Em 1 João 4,7-8, lê-se: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” E, 1 João 5,1, completa: “Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus; e quem ama aquele que gerou, ama também aquele que por este foi gerado.”

Haverá outra coisa tão necessária que, alguém possa querer ou esperar, em sua breve existência, que não seja amar? Que maior inspiração para os sonhos e projetos, senão, amar, acima de tudo? Que luz mais clara e incisiva pode haver, para iluminar as situações críticas da vida, onde o perdão é extremamente necessário, senão, amar?

Amar não é uma alternativa é uma condição; é uma necessidade. Se não amar, a pessoa humana se desintegra porque, amar é viver e, viver, é amar!

Santo Agostinho assim sintetiza esta verdade: “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”

Não há dúvida, Viver bem é amar!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Não há como fugir da curiosidade que o título aqui desperta. Por experiência, definição, ironia, crítica ou mesmo rejeição, sabemos que a casa da sogra foi sempre sinônimo de encontros e desencontros familiares. Lá se forjam os pilares de uma família, mesmo que muitas vezes suas bases não estejam devidamente preparadas para a solidez que exigem. Lá, filhos, genros e noras, bem como netos e bisnetos, se espelham no exemplo dos mais velhos e moldam seus futuros à luz de um testemunho de vida, positivo ou negativo. É na casa da sogra que se desenha o futuro de muitos lares.

Pois bem: foi na casa da sogra de Simão Pedro que Jesus buscou abrigo, um local para repousar momentaneamente, após um dia inteiro de pregações numa das sinagogas da região. Queria apenas um cantinho para refazer suas forças, mas lá também encontrou problemas. Sua anfitriã, a sogra de Pedro, estava acamada, ardendo em febre e sem coragem alguma para lhe fazer as honras da casa. Compreensivo e atencioso, Jesus se aproximou de seu leito, olhou-a com seu olhar sempre misericordioso, “segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se” (Mc 1,31). Quase que instantaneamente, a febre sumiu. E ela se pôs a lhe servir os quitutes da casa. A história se espalhou como um rastilho de pólvora e, mal se tinha posto o sol daquele dia, “levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio”. Mateus registra um detalhe sintomático: “A cidade inteira se reuniu em frente da casa”. Acabou-se o descanso do Mestre nazareno…

Nada disso seria relevante, não fosse a presença de Jesus. Presença e ação. Ação e atração. Poderia ser um local qualquer, uma casa, uma praia ou mesmo, como era de seu feitio, um encontro casual no templo ou na rua. Para se obter uma bênção ou cura de Jesus, basta um encontro com Ele. A casa da sogra foi circunstancial, mas sua cura não. Foi necessário estender-lhe a mão, deixar-se levantar por Ele. Foi preciso reconhecer em si a graça alcançada e, “imediatamente”, se colocar a serviço. Aquela mulher, que hospedou Jesus em sua casa, soube valorizar sua presença, seu encontro com Ele. Obter a cura veio da alegria em bem servi-lo, face ao privilégio daquela visita.

A febre do mundo não nos deixa entender muitos desses momentos em nossa vida cotidiana. Você já se perguntou quantas vezes Jesus buscou hospedagem em sua casa, em seu coração? Quantas vezes nossas vidas atribuladas e agitadas pelas circunstâncias que prostram nosso ânimo e coragem, nos fizeram indiferentes à presença de Deus nesses momentos? Quantas vezes não vimos sua mão estendida e deixamos de servi-lo com nova disposição? Não foram as lamúrias daquela velha senhora que se fizeram ouvir naquele leito febril, mas sim a alegria e gratidão pela visita ilustre. Aquela mulher não despejou reclamações e queixumes aos pés do Senhor.  A presença de Jesus renova qualquer alma, mesmo aquelas que se deixaram dominar pelas febris ilusões dessa nossa casa comum, o mundo.

Daquela casa Jesus saiu de fininho, durante a madrugada, para rezar e saudar um novo dia. Só então os donos da casa deram por sua falta, pois a alegria restaurada pelos milagres ali presenciados era maior que os detalhes de sua retirada estratégica. É assim mesmo. Cumprida a missão, é preciso seguir o caminho. Jesus continua entre nós, no deserto de nossas tribulações, no conflito de nossas enfermidades, marcando presença, realizando milagres, atraindo corações sedentos de vida nova. Quando o reencontraram, os discípulos lhe disseram: “Todos estão te procurando”! Você também?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

 

Tem gente que não acredita em Deus, mas teme os demônios. Tem gente que faz pacto com demônios, mas ignora os pactos que Deus fez e faz com a humanidade. Tem gente que duvida dos poderes demoníacos e desdenha dos poderes de Deus. Tem gente que paga pra ver e outros que só acreditam vendo. Enquanto isso…

Os seres feitos à semelhança de seu Criador, aqueles que refletem em vida a fiel imagem do Pai, põem em dúvida sua origem divina, enquanto o príncipe das trevas, o demônio em pessoa, demostra naturalmente sua fé em Deus: “Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!” (Mc 1,24).  Ora, ora… Se o demônio é capaz de demonstrar toda sua ciência e conhecimento da missão redentora de Cristo, quem somos nós para duvidar dos planos de salvação traçados por Deus através de Jesus? Este não veio para condenar, mas para salvar. Até mesmo a  salvação de Satanás era uma possibilidade, remota sim, mas viável, se este se submetesse aos ensinamentos trazidos pelo “Santo de Deus”. Mas a ousadia demoníaca não perde sua pose… Então  Jesus dita as ordens do momento: “Cala-te, sai deste homem!” E o espírito imundo obedece, reconhece a autoridade daquela voz.

A legião demoníaca cresce à medida que lhe permitimos sua ação entre nós. Seu maior pecado é a inveja, a necessidade que tem de se igualar a Deus, enquanto seus demônios tumultuam e agitam a história humana com todo e qualquer tipo de ações contrárias ao projeto de Deus. Afinal, o Pai da Mentira não nos quer à salvos, postos à direita do trono que poderia ter sido seu. O anjo do mal não admite essa predileção divina e quer nossa derrota de corpo e de alma. O embate entre o bem e o mal visa nossa destruição, segundo o ponto de vista demoníaco. Ou nossa Salvação, segundo desejos de Deus. Aqui entra o livre arbítrio, a nossa escolha, o caminho que seguiremos.

Somos livres para decidir nosso futuro. Deus apenas nos aponta o caminho, através da doutrina deixada por seu Filho. Daí sua importância, o farol que esta representa, a necessidade premente que temos de divulga-la o mais possível, buscando adeptos, saneando mentes e corações confusos, perturbados pela ação demoníaca, incertos na definição do caminho a seguir, de qual seja a crença verdadeira. Deus ou o Demônio? O bem ou o mal? Luz ou trevas? Eis que, absurdamente, grande maioria ainda tem dúvidas; está perdida entre a realidade terrena e a obscura incerteza do outro lado dessa história. “Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade”! Eis no que resulta a conscientização doutrinaria da Igreja, a ação missionária de seus discípulos. Se neste embate vencerem os demônios que nos cercam, a culpa da derrota terá sido pela nossa omissão evangelizadora, nunca pela nossa ação. Portanto, a destruição ou não, a salvação ou derrota da história humana está em nossas mãos. Depende de nós!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

 

Nossa visão sobre as coisas está sempre prejudicada pela identificação de felicidade com circunstância. Vivemos a prisão dos momentos. Confundimos o todo com a parte. Medimos o pequeno pelo grande. Dedicamos uma parte consideravelmente grande de nossa vida com negatividade. Distraímo-nos, facilmente, com bobagens: coisas artificiais e superficiais. Somos um poço de reclamação permanente. Nunca estamos contentes com nada.

Na verdade cada um de nós precisaria redescobrir o centro motivacional da vida para compor a própria existência. Porque a maior causa de nossa visível insatisfação com tudo e, a vezes, com todos, não é outra coisa senão, a falta de sentido humano. A questão é que vivemos para fora de nós mesmos. Somos forasteiros da nossa própria condição. Somos turistas da nossa humanidade. Somos visitantes de nossa história. Nos escondemos em padrões culturais, políticos, econômicos e, até religiosos como um escudo de proteção. E deveria ser isso para nós, plataforma do sentido humano.  Em outras palavras, nós vivemos sempre a partir das referências externas: é o que fulano diz, é o que beltrano pensa, é o que sicrano gosta… Vivemos a ditadura da exterioridade e isso não é vida que valha a pena.

Na linguagem bíblica, a parábola do semeador resume aquilo que é a vida humana em suas misérias e grandezas, suas forças e fraquezas, suas aberturas e fechamentos, sua humanidade e divindade. Enfim, o sentido profundo de uma existência completa, assumida e não negada.

“Jesus ensinava-lhes muitas coisas com parábolas. No seu ensinamento dizia para eles: ‘Escutem. Um homem saiu para semear. Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; os passarinhos foram e comeram tudo. Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda. Porém, quando saiu o sol, os brotos se queimaram e secaram, porque não tinham raiz. Outra parte caiu no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto. Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, brotando e crescendo: rendeu trinta, sessenta e até cem por um.’  E Jesus dizia: ‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça’!

O semeador semeia a Palavra. Os que estão à beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a ouvem, chega Satanás e tira a Palavra que foi semeada neles.  Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e a recebem com alegria; mas eles não têm raiz em si mesmos: são inconstantes, e, quando chega uma tribulação ou perseguição por causa da Palavra, eles logo desistem. Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; mas surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, que sufocam a Palavra, e ela fica sem dar fruto. Por fim, aqueles que receberam a semente em terreno bom, são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um” (Mc 4,2-20).

Precisamos recuperar-nos para nós mesmos. Precisamos redescobrir os valores que nos fazem ser gente. Precisamos recuperar a nossa integridade. Precisamos responsabilizarmo-nos por tudo aquilo que diz respeito ao nosso ser total. Precisamos refazer a aliança de amor conosco mesmo.

É tempo de refazer-nos para não sucumbirmos às múltiplas ditaduras no nosso tempo; principalmente, nossas próprias ditaduras!

É tempo de refazer-nos, dando voz o silêncio para que, a força da sabedoria que ativa outras virtudes e dons venha, não das muitas palavras, mas do coração que se deixa tocar pelo amor e pela misericórdia!

É tempo de refazer-nos como humanos irmanados!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

O grande desafio que o cristianismo propõe ao mundo é encarar a realidade do tempo presente. Seja este bom ou ruim, o fato é que a fé cristã nos convida a viver o aqui e o agora com a perspectiva do olhar de Cristo. Este transforma realidades adversas com a nossa presença e ação, se acreditarmos nas boas novas claras e objetivas que retumbaram no deserto da Galileia e ecoam agora em nossos corações. O momento é o nosso. Seguir Jesus é acreditar que também temos voz nesse processo de mudanças proposto a quem “tem olhos para ver e ouvidos para ouvir”. Agora é nossa vez.

Isso posto, eis que falta a ação, a necessidade única de coerência com o desafio que nos foi feito: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. Simão e André, Tiago e João nos representam. A árdua tarefa de um trabalho “em águas mais profundas”, onde os resultados são mais promissores e a compensação mais generosa, é a promessa que nos foge quando cruzamos nossos braços diante da perspectiva de um novo Reino, um tempo de bonanças e esperanças renovadas, o mundo novo que sonhamos. Estamos às portas dessa nova realidade, mas hesitamos na ação, duvidamos da capacidade de mudanças que a fé nos oferece. Somos ou não os agentes de transformação do mundo, como nos ensina a Igreja? Somos ou não a luz das trevas que nos cercam, como nos disse o Cristo? Somos ou não esse fermento na massa, capaz de levedar e fazer crescer a esperança por dias melhores? Se tudo isso é característica da fé cristã, o que estamos esperando?

As perguntas nos assombram,  confronta com a realidade oposta àquilo que ouvimos, enquanto consertávamos nossas redes, preparávamos nossos instrumentos de trabalho. Esse é o grande obstáculo dos meticulosos trabalhadores da messe! Preocupam-se em demasia com suas capacidades e recursos operacionais, mas pouco fazem por não se abandonarem plenamente na fé que nutrem. Se acham donos da verdade mas não mergulham na Verdade de Cristo. Será mesmo assim? Terei sucesso nessa empreitada de tudo deixar e partir, seguindo Jesus? O que nos falta é o abandono nas mãos Daquele que nos desafia a ir em frente, a dar o primeiro passo, a seguir à sombra de suas promessas. Coerência também é abandono. Acreditar é se deixar guiar.

Não fomos nós que escolhemos esse caminho, mas é o próprio Senhor quem nos escolhe para trilhá-lo. Quem se deixa guiar pelas sendas desse caminho estreito torna-se discípulo, portanto alguém que tenta imitá-lo. Não há alegria maior do que segui-lo. A mudança de rumos vai de encontro aos anseios da humanidade, que não quer discórdias, não quer doenças, não quer injustiças, nem desamor, nem gerras. Papa Francisco falou recentemente em alto e bom som: “A guerra é a mais terrível das doenças sociais… e os mais fracos é que pagam o preço”. Muitos acharam ser este um gesto de intromissão deste.  Católico que rejeita os alertas de sua Igreja, os ensinamentos de sua tradição apostólica, a autoridade de seu pontífice, há muito deixou de ser católico. Melhor continuar “consertando” suas redes imprestáveis.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

          Normalmente, quando nos aproximamos de alguém que nos agrade e nos cative com sua simpatia, jeito de ser, de olhar, de pensar, logo queremos saber mais a seu respeito. Onde mora, quem são seus familiares, donde vem, o que faz? Foi o que aconteceu com os dois discípulos de João que, vendo Jesus passar, abandonaram tudo e o seguiram. Aquela quase espionagem foi logo descoberta e o mestre não os repeliu, ao contrário, abriu as portas de sua casa para os acolher e hospedar com desvelo. André era um destes. Não tardou para convidar mais um àquele time de curiosos, seu irmão Simão.

“Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer Pedra)” (Jo 1,42). Assim se iniciou a comunidade dos apóstolos, com o primado de Pedro já se despontando dentre eles. Aqui nascia a “eclesia”, a primeira comunidade cristã. Nascia na casa de Jesus, seu primeiro e único mestre!

A questão ainda não está de todo respondida. “Mestre, onde  moras?” Esse é o dilema da comunidade órfã dos ensinamentos cristãos, pois quem por primeiro faz a pergunta não são os curiosos observadores dos passos de Jesus, mas Ele próprio: “O que estais procurando?”. A resposta a uma dúvida humana é sempre uma pergunta que se repete. O que procuramos? Saber onde Ele mora é pouco, não nos basta como sonhadores por um mundo novo, um novo sentido existencial, uma vida mais justa e amena em suas provações diárias. O que procuramos é tudo isso e muito mais, que o olhar misterioso daquele “estranho forasteiro” guardava dentro de si. Seria sua casa a fonte do que procuravam, o celeiro do segredo que seu olhar denunciava? “Vinde ver”, lhes desafiara Jesus. Naquele fim de dia permaneceram com Ele em sua casa.

Acharam o que procuravam? Teria Jesus lhes revelado de pronto todo seu projeto eclesial, os principais pontos do ministério que iniciava, os segredos de sua doutrina de paz e amor? Não, claro que não! A escola seria longa, o caminho árduo, as provações diárias. Haveriam de aprender na caminhada, no amor e na dor de uma convivência construída à luz das revelações diárias. A casa era apenas um detalhe circunstancial, pois logo, logo nem isso teriam. Nem “onde repousar a cabeça”, diante do árduo trabalho pela frente. Talvez aquele primeiro momento tenha sido um simples prelúdio que o olhar penetrante e maravilhoso de Jesus lhes revelava com a manifestação de um amor muito mais profundo e misericordioso. Era isso o que viam naquele “lar, doce lar”, onde Maria lhes servia os quitutes de uma casa pobre.  Talvez um jarro d´água, uma tortilha qualquer, mas muito amor e respeito. Eles foram, eles viram! Eles degustaram tudo aquilo na casa de Jesus.

O que estamos procurando? E esperando? Na casa de Jesus cabemos todos, somos bem-vindos e acolhidos com o mais puro amor. Na casa de Jesus o maná do deserto ainda cai do céu, o pão e os peixes se multiplicam com sua graça e predileção por “aqueles que o Pai lhes deu”. Na casa de Jesus ainda está Maria, a serviçal sempre atenta e carinhosa, que nos ensina a fazer “tudo o que Ele nos mandar”.  A Igreja, a verdadeira Igreja, ainda é essa misteriosa casa! A Igreja, povo de Deus que sonha e sofre, sofre e sonha, mas resiste com sua esperança imortal. Onde está Jesus nisso tudo? Pe. Júlio Lancellotti, numa revelação da graça atuante nessa Igreja, nos disse recentemente: “Às vezes procuro Jesus no Sacrário, mas Ele fica em silêncio e teima em se esconder debaixo de viadutos e pontes de concreto”. Ali também é sua morada…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]