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Diocese de Assis

 

Procurando, na Bíblia, alguns textos para o artigo desta semana, senti um forte apelo do coração para escrever sobre a coragem. Sim! A coragem.

Ora, a coragem é entendida, muitas vezes, simplesmente, como destemor; como arroubo dos instintos e das pulsões ou como ação-reação de músculos e força física.

Não! A coragem não é nada disso!

A coragem é, na verdade, a energia interior que projeta o indivíduo para dentro das próprias convicções, de onde haure forças, entusiasmo, motivação, criatividade… para agir em qualquer situação e circunstância.

Corajoso não é o indivíduo que reage a tudo, forçado pelo momento, mas aquele que age movido pelo discernimento. Porque a eficácia de uma atitude não está na rapidez, mas, na lucidez.

A coragem é dom de Deus e vem de Deus!

Vejamos como, na Sagrada Escritura, a coragem é tratada ao longo de suas páginas:

“Sua prosperidade depende de você observar e praticar os estatutos e normas que Javé ordenou a Israel por meio de Moisés. Força e coragem! Não tenha medo, nem se acovarde” (1Cr 22,13).

“Então Davi falou a seu filho Salomão: Força! Coragem! Mãos à obra! Nada de medo ou receio, pois Javé Deus, o meu Deus, está com você. Ele não vai deixar nem abandonar você, enquanto não terminar o serviço de construção do Templo de Javé” (1Cr 28,20).

“Levante-se, porque este assunto compete a você. Estamos do seu lado. Coragem e mãos à obra” (Esd 10,4).

“Na verdade, eles nos queriam amedrontar, pensando que iríamos abandonar a obra, deixando-a sem acabar. Mas aí é que eu colocava mais coragem no trabalho” (Ne 6,9).

“O rei e aqueles que o rodeavam ficaram admirados da coragem com que o rapaz enfrentava os sofrimentos, como se nada fossem” (2Mc 7,12).

“Cada um anima o seu companheiro, dizendo-lhe: coragem” (Is 41,6).

“O Senhor Javé me deu a capacidade de falar como discípulo, para que eu saiba ajudar os desanimados com uma palavra de coragem. Toda manhã ele faz meus ouvidos ficar atentos para que eu possa ouvir como discípulo” (Is 50,4).

“Mas o justo persiste no seu caminho, e quem tem mãos puras redobra a coragem” (Jó 17,9)

“Lembra-te, Senhor, manifesta-te a nós no dia da nossa tribulação. Quanto a mim, dá-me coragem, Rei dos deuses e Senhor dos poderosos” (Est 4,17).

“Coragem, meus filhos! Clamem a Deus, e ele os livrará da opressão e das mãos dos inimigos” (Br 4,21).

“Jerusalém, tenha coragem! Aquele que lhe deu um nome a consolará” (Br 4,30).

“Que os pobres vejam e se alegrem. Busquem a Deus, e vocês terão coragem” (Sl 69,33).

“Jesus, porém, logo lhes disse: ‘coragem! Sou eu. Não tenham medo’” (Mt 14.27).

Não tenho dúvida de que só precisamos de coragem para continuar seguindo o caminho, mesmo com os maiores desafios.

Admita a coragem com outro espírito e viva mais confiante!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

É triste admitir, mas nossa fé está sempre rodeada por fantasmas. A lógica da natureza humana não permite a total compreensão dos mistérios, em especial aqueles sobre os quais não encontramos qualquer explicação racional. Imaginem o quão difícil foi para os discípulos de Jesus entender e aceitar o retorno do mestre ao convívio com eles, quando ainda se achavam assustados e temerosos com tudo o que testemunharam nas cenas da Via Crucis. Como acreditar no que viam, quando eles próprios haviam providenciado os perfumes e a sepultura para aquele corpo desfigurado e vilipendiado com tamanha violência? Como admitir seu retorno à vida? “Estavam vendo um fantasma” (Lc 24, 37). Só podia ser.

O maior entrave da fé é a lógica. Vivemos num mundo prisioneiro dos cinco sentidos (visão, tato, audição, olfato e paladar). Esquecemos que nossa alma possui uma acuidade especial, um sexto sentido, capaz de superar nossas lógicas e os fantasmas que nossas mentes constroem. Somos capazes de enxergar além da realidade que nos cerca. Essa capacidade, no entanto, deve ser bem apurada e direcionada, como a fé nos ensina. Caso contrário, continuaremos a ver fantasmas em tudo que nos rodeia e foge de nossa compreensão. Essa é a limitação daqueles que não purificam sua fé à sombra dos ensinamentos cristãos. Preocupam-se porque não conhecem a pureza desses ensinamentos. “Mas Jesus disse: ‘Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede’!” (Lc 24,38). O sexto sentido da fé pura e genuína complementa e aprimora os sentidos da limitação humana. Tocai e vede.

Eis porque a fé em Cristo não foge da realidade. Ainda nos é possível tocar e ver, sentir a presença divina entre nós graças aos mistérios da ressurreição. Ainda é possível sentar-se à mesa com Cristo, ouvir suas palavras, sentir seu amor, degustar o pão e o vinho, “alguma coisa para comer”, para reavivar a chama de uma esperança maior que nossas lógicas… Sim, a fé não cria fantasmas, mas reaviva em nós as promessas divinas: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei”… Era preciso que não se subtraísse nenhum til ou vírgula da Palavra de Deus…, se quiséssemos alcançar o dom do Entendimento, só concedido àqueles que não mais criassem fantasmas em sua caminhada de fé. Seria essa a graça maior que o Espírito Santo poderia oferecer àqueles que lhe fossem fiéis até o fim, o grande final dessa história de Amor e Fé. Sem falsas visões ou distorções doutrinárias, sem fantasmas!

Hoje, a fé dos tempos modernos supera as lógicas do pragmatismo mundano. Com uma visão maior e mais racional da vida e seus mistérios, ousaria até dizer que nossa fé cresceu em graça e sabedoria. Não diria ser maior do que aquela que nos demonstraram os discípulos de Jesus, que o tocaram e viram, mas com certeza mais amadurecida e coerente. Sabemos que o intelecto humano está mais desenvolvido. Sabemos que a ciência fornece todas as respostas que buscamos para decifrar os segredos da matéria. Mas só a fé explica os mistérios. Só ela é capaz de saciar nosso espírito e abrir nossa inteligência para o sexto sentido humano, o dom do entendimento. Sem essa sensibilidade de alma estaremos limitados à triste realidade de um corpo perecível. Vendo fantasmas onde deveríamos reconhecer o maior dos milagres da história humana, o Cristo Ressuscitado que caminha conosco!

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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A história da fé cristã não só pressupõe a ressurreição de Jesus em suas afirmações e verdades, mas, tem nela a sua razão, fundamento e eixo. Trata-se da fonte originadora de tudo o que a igreja diz, pratica, crê celebra e ensina.

Quando falamos em ressurreição, isso não quer dizer, apenas, que Jesus está vivo ou que voltou a viver. Estamos falando de um mistério: o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus ou Mistério Pascal.

Segundo este Mistério, Jesus não só está vivo… não só voltou a viver. Jesus sofreu, morreu, foi sepultado e venceu a morte e tudo o que a ela está relacionado. Depois disso, ele transformou a sua vitória em herança de vida eterna, para aqueles que o Pai escolheu como o seu Povo.

Quem são aqueles que o Pai escolheu como o seu povo?

Como tomar parte desta herança de vida eterna?

O catecismo da Igreja Católica diz que o ser humano tem o desejo de Deus inscrito em seu coração, portanto, toda pessoa humana é capaz de Deus, isto é, pode sentir Deus, aceitar Deus e seguir a sua Santa Vontade. Mas, é Deus que, sempre, toma a iniciativa, despertando o sentir, o querer, o pensar e o agir das pessoas, numa atração irresistível ao sumo bem. “Todos aqueles que o Pai me dá, virão a mim. E eu nunca rejeitarei aquele que vem a mim (…). Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,37.44).

É na liberdade que o ser humano é conquistado por Deus para a Salvação. É por isso que, a obra de Cristo, na cruz, como Mistério Pascal, pode ser admitida na vida, pela descoberta, aceitação e vivência, através das marcas da ressurreição, espalhadas pelo mundo, em todo o canto e lugar.

A marca do novo tempo: o primeiro dia da semana – domingo

“Era o primeiro dia da semana. Ao anoitecer desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou” (Jo 20,19a).

A marca da paz na hora dos conflitos e dificuldades

“Ficou no meio deles e disse: ‘A paz esteja com vocês.’ Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor” (Jo 20,19b-20)

A marca da paz e do Espírito Santo para o seguimento e missão

“Jesus disse de novo para eles: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.’ Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo. Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados’” (Jo 20,21-23).

A marca do Testemunho

Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos disseram para ele: ‘Nós vimos o Senhor.’ Tomé disse: ‘Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei’” (Jo 20,24-25).

A marca da Fé

“Uma semana depois, os discípulos estavam reunidos de novo. Dessa vez, Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: ‘A paz esteja com vocês.’ Depois disse a Tomé: ‘Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé.’ Tomé respondeu a Jesus: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ Jesus disse: ‘Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditaram sem ter visto’” (Jo 20,26-29).

A marca da confiança

“Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome” (Jo 20,30-31).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Nada há de mais desagradável para um convalescente qualquer do que alguém tocar-lhe a ferida ainda em aberto. A dor retorna com igual intensidade, tal qual quando adquirida de uma forma ou de outra. Dói até na alma, costumamos dizer. Pior ainda quando essa provocação vem acompanhada pela dúvida, pela ironia, pela indiferença…

Não diria ser esse o caso de Tomé, mas a dúvida estava ali presente. ”Se  eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20,25). A incredulidade sempre exige provas convincentes, palpáveis. Não seria diferente com o apóstolo retardatário, aquele que esteve ausente na primeira manifestação do Cristo redivivo em meio a seus discípulos. Mas a visão daquelas chagas foi tão impactante que só lhe restou prostrar-se diante do Mestre e exclamar: “Meu Senhor e meu Deus!”. As feridas ainda recentes por certo causavam dores, senão ao Cristo que sobrepujara uma cruz e um túmulo da perversão humana, ao menos e principalmente aos olhos atônitos e envergonhados daqueles que testemunharam ali a crueldade de que foram capazes os poderosos de seu povo. A que ponto chegaram!  As provas ali estavam, sangrando no corpo e na alma de todos.

As feridas abertas poderiam ser sanadas do corpo glorioso de Jesus. Não havia razão para mantê-las visíveis, já que a vitória sobre a morte era uma transposição que apagava todo e qualquer vestígio de uma derrota circunstancial. Cristo morreu, mas não se deixou derrotar. Cristo saiu do sepulcro com seu corpo glorificado, sem nunca se deixar manchar por qualquer nódoa de nossos pecados. Essa foi sua maior vitória: apagar de vez a derrota vergonhosa proporcionada pelo pecado original. Cristo venceu a morte e nos devolveu a plenitude da vida, a cura definitiva que a alma humana ansiava por alcançar. Desde então, as feridas ainda abertas que rondam nossa história aí estão, por conta do nosso livre arbítrio, o direito que temos de acreditar ou não nas promessas de Deus. Mas preferimos cutucar nossas feridas com a tosca visão dos mistérios que ainda turvam a fé em Cristo Ressuscitado.

Muitas portas permanecem fechadas em nossas vidas porque não abrimos nossos corações para a ação de Deus. Ele, por primeiro, nos mostra as mãos e o lado de seu Filho ferido por nossa ingratidão, mas logo a seguir nos reenvia ao mundo, com a missão de levar adiante sua Paz e Amor sem limites. Perdoa-nos pelo maior dos nossos pecados, a rejeição de sua graça, de sua ação entre nós, em nós. É tempo de percebermos nossa mesquinhez, ao exigir provas, ao desejar o toque ridículo e inútil de nossos dedos na ferida que causamos a seu Filho. É tempo de vestirmos a carapuça de nossa indignidade e esconder a vergonha de nossa prepotência. Parar de exigir de Deus as provas de uma crueldade que só aconteceu por conta de nossos pecados, nossa culpa pura e simples. Caso contrário, as feridas voltarão a se abrir, a vazar, a pulsar em sua dor lancinante, não em Cristo, mas em cada um de nós, lançados ao léu no fogo das maldições eternas. Porque as brasas da geena e as lanças dos algozes de Cristo são capazes de queimar e ferir de morte muitos dos que duvidam  das Verdades de nossa fé. Não cutuque essas feridas ainda mais!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

A Páscoa da Ressurreição que a Igreja celebrou no último domingo é muito mais do que uma tradicional celebração Católica que encerra a Semana Santa; é muito mais do que uma solene cerimônia religiosa; é muito mais do que uma grande concentração religiosa. O que celebramos é o fundamento da fé. É a essência do cristianismo. É a razão de ser da Igreja Católica: sua origem, sua missão e finalidade.

O eixo da páscoa é o eixo da vida da Igreja: o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Portanto, a Igreja vive da páscoa que celebra e experimenta cada dia, na celebração eucarística, o Cristo Vivo num estado de páscoa permanente. Neste Sentido o Mistério que celebramos no domingo passado não tem fim. Pelo contrário, renova-se a cada dia e renova a própria Igreja.

A liturgia oferece, nesta semana, o que chamamos “oitava da páscoa”. É uma semana vivida como se fosse um dia, o domingo da ressurreição. Enquanto se prolonga por uma semana, o domingo da ressurreição mostra a força de renovação da vida, num tempo que não tem fim. Deus, não só espalha a semente da vida em todos os lugares deste mundo, mas a faz germinar, contrariando e vencendo o espírito de morte, mostrando a força das obras de suas mãos, principalmente, sobre o homem.

A obra de Deus é admirável na criação, mas, muito mais admirável, na redenção, diz uma oração proclamada no Sábado Santo. E é exatamente essa a profundidade do Mistério Pascal: Deus não criou o ser humano e o abandonou ao poder do nada. Ele criou e cuida, bem de perto, com as mesmas mãos, os que fomos constituídos seus filhos e filhas.

Somos testemunhas de que nada tem faltado à Igreja, ao longo dos séculos, porque a providência de Deus sempre chegou antes das nossas necessidades. É preciso admitir: o que necessitamos é sempre muito diferente do que pedimos e queremos. Por isso, a providência de Deus manifestada pela Páscoa da Ressurreição é o tudo que nos têm faltado e não sabemos compreender e experimentar.

Diante disso, que postura de fé precisamos assumir? É preciso viver a fé de modo eucarístico. Fazer da Eucaristia, não apenas um ritual do templo, mas uma celebração da vida que desperta para a mesma prática de Jesus, os mesmos sentimentos de Jesus, o mesmo espírito de Jesus, o mesmo amor de Jesus, a mesma dinâmica de Jesus, a mesma coerência de Jesus, a mesma ousadia de Jesus, a mesma obediência de Jesus porque “Ele, apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus, mas se esvaziou de si e tomou a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens. E mostrando-se em figura humana, humilhou-se, tornou-se obediente até a morte, morte de cruz. Por isso Deus o exaltou e lhe concedeu um título superior a todo título, para que, diante do título de Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e no abismo; e toda língua confesse, para a glória de Deus Pai: Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2,6-11, segundo a Bíblia do Peregrino).

Eu me alegro em compartilhar com todos essas poucas linhas e dizer, como sacerdote, o quão maravilhoso é celebrar a Eucaristia e, inspirado por ela, ser chamado a viver uma vida como a de Jesus. Não é o fato de ser sacerdote que me faz capaz de viver como Jesus, mas, a Eucaristia que a Igreja recebeu como herança para si e para todos quantos dela se aproximarem como discípulos de Cristo.

É por isso que, a vida do Cristão só se faz verdadeira em estado de páscoa permanente. Isto é dom de Deus!

O apelo da páscoa continua insistente e instigante nas lutas diárias, por uma consciência de pertença ao Corpo de Cristo, seja no tecido eclesial ou social. Somos chamados, durante todo o ano 2024, a dar testemunho do ressuscitado e da ressurreição em nossas vidas!

PE. EDVALDO JOSÉ DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

É mais fácil acreditar na hipótese de um roubo, uma malandragem qualquer, do que na possibilidade de um milagre. Foi essa a primeira reação dos discípulos diante do túmulo vazio onde horas antes haviam depositado o corpo do Senhor. Profanaram seu túmulo, roubaram seu corpo. Não lhes passava pela cabeça aquela estranha linguagem profética de que o Messias haveria de ressuscitar dos mortos.

Ainda hoje essa linguagem é muito dura para a lógica da vida: nascer, crescer, morrer. Ainda hoje muitos teimam na possibilidade do roubo, afastando por completo o maior dos milagres de que se tem notícia na frágil e finita história humana. Como assim, ressuscitou? A possibilidade de um morto voltar à vida foge completamente da lógica, da biológica… real e primária na definição do ato de viver… e morrer! Não, definitivamente não. Um atestado de óbito não dá margens para rasuras, alternativas contrárias ao que se atesta. Então, melhor aceitar as evidências dos fatos: roubaram o corpo do Senhor!

Acontece que nenhuma lógica humana é maior do que o milagre da própria vida. Se Jesus, redentor e restaurador da maior obra divina, se sua missão era justamente nos devolver a graça, reatar a plenitude da vida, a morte não poderia ter efeito sobre Ele, nunca, jamais! Mesmo que não houvesse a crucificação, que sua morte viesse naturalmente como a qualquer ser vivo, mesmo que os anjos o resgatassem milagrosamente desse vale de lágrimas, se não houvesse a ressurreição, seria vã nossa fé. Conclusão lógica e bem amadurecida no testemunho do apóstolo que conheceu Jesus em sua vida ressurrecta, em uma estrada de Damasco. Quem lhe revelou tamanha ciência teológica senão o Cristo em pessoa? Como explicar seu ardor missionário, sua entrega total e incondicional à doutrina que lhe foi revelada?

Mas as provas que o mundo exige vão além da realidade que limita nossa compreensão. Estão lá, aos rês do chão de um túmulo emprestado, usado provisoriamente, mas capaz de abrigar as evidências de um milagre imensurável. São panos ensanguentados, sujos e impregnados de muito suor e lágrimas, que por certo verteram dos olhos de sua mãe, naquele colo diáfano, naquela despedida de piedade. São “as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20, 6-7), Quem os enrolou? Por que? Mais um enigma para nossa fé pequena. Seria esse o Sudário de Turim, a famosa peça motivo de estudos, veneração e revelações minuciosas da imagem de um homem crucificado? O milenar pano de linho sobre o qual a ciência humana tem se debruçado com avidez e curiosidade, mas sem explicações lógicas para os mistérios ali ocultos?

Como vemos, os mistérios da fé cristã ultrapassam qualquer lógica da precavida sabedoria humana. Mas o apóstolo dos gentios e pagãos tem sempre uma palavra  de ânimo para nossas incertezas: “Aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres”. Perder-se no emaranhado das coisas falíveis e perecíveis é fácil, mas abandonar-se na esperança de uma vida imorredoura, uma fé perene e imortal é muito melhor. Não deixe que a dúvida também lhe roube a alma, além do corpo jogado na geena… O túmulo vazio de Jerusalém nos diz tudo isso.

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Quando alguém se põe a caminho tem um objetivo. O objetivo de uma caminhada é sempre chegar a algum lugar. A caminhada quaresmal, nos leva ao núcleo do Mistério da Fé: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Ora, como poderia alguém se colocar a caminho sem se envolver com tudo e todos, ao longo do caminho, e com o objetivo do próprio caminho? É certo que, sem fazer algumas opções e renúncias, no caminho, a finalidade da caminhada fica comprometida e prejudicada.

Será que não é a hora de revermos o caminho e a caminhada!

A Páscoa de Jesus está sendo, cada vez mais, subaproveitada. E é possível usufruir melhor deste grande acontecimento e memorial da fé.

O texto que se segue, é das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo (século IV), e nos ajudará a responder algumas questões pertinentes ao caminho e a nós mesmos.

“Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: ‘Imolai’, disse Moisés, ‘um cordeiro de um ano e meio e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão ? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.

Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

‘De seu lado saiu sangue e água’ (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa. Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ‘ossos e carne da minha carne’ (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.

Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento”.

A páscoa que, neste domingo, é uma data certa no calendário, para nós é o acontecimento mais importante na fé.

Celebremos a vida do Cristo em nós! Feliz páscoa para você!

É para a liberdade que Cristo nos libertou!

PE. EDVALDO JOSÉ DOS SANTOS




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          O processo de julgamento de Jesus é uma dessas peças jurídicas digna de estudo pormenorizado por aqueles que almejam sucesso na carreira advocatícia. É  pauta obrigatória nos estudos de bons profissionais nesta área. Por isso, a narrativa do evangelista Marcos (15,1-39), a mais sintática descrição dos detalhes da condenação e crucificação narrados pelos quatro evangelista, tornou-se fonte de argumentações tanto para a defesa, quanto para a acusação de qualquer réu em vias de julgamento. Presentes nessa minuta os meandros de uma acusação bem urdida e as interrogações não respondidas de uma defesa corrompida pelas ameaças e pela possível perda de popularidade junto aos manipuladores da opinião pública, os poderosos de plantão.

Começa pela questão central: “És tu o rei dos judeus?” Ou seja, és tu o articulador de um golpe contra nossos governantes, aqueles que detêm poderes de conduzir o povo a seu bel-prazer, de articular seus exércitos para manter a subserviência do povo, decidir sobre a vida de seus súditos conforme os interesses político-sociais em vigor? És tu aquele que se levanta contra a vida fausta, temerosa e ardilosa dos que se dizem sumo sacerdotes, defensores da Lei de Deus? “És tu o que há de vir, ou devemos esperar outro”, foi o questionamento daquele que já tinha a resposta em seu coração desde quando aquela voz ecoou num deserto e chegou aos seus ouvidos como retumbante brado da Verdade. Não era um rei, mas um cordeiro, conclui o Batista. E assim o apresentou ao mundo.

E, como todo bom cordeiro, caminhava agora em silêncio para seu próprio abatedouro! Seu silêncio falaria mais alto… “Nada tens a responder? Vê de quanta coisa te acusam!” O silêncio seria sua voz naquele deserto de desamor humano que se negava a escolher entre a verdade que liberta e a mentira que rouba a dignidade da vida humana. Jesus ou Barrabás? Liberdade ou libertinagem? Essas eram as opções que restavam àquela multidão alienada, manipulada em seus princípios e direitos de escolha lúcida, consciente, conforme lhes havia ensinado o réu em questão. “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar!” E agora, mestre sem tribuna, sem ação? Saia dessa, oh grande Messias! Mas Jesus apenas balbuciou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Quebrou o silêncio com um desabafo de quase decepção…, contra aqueles que o acusavam, o abandonavam na sua dor crucial.

A aparente derrota se agigantou após seu grito final, seu último suspiro nessa vida injusta e passageira. Aos olhos de um oficial romano, presente naquela via crucis de injustiças e humilhações sem limites, aos olhos de um aparente braço forte do sistema e do falso poderio humano sobre a própria vida, aos olhos daquele coração condoído por tudo o que presenciara naquele dia, surge uma lágrima de compaixão, quebra-se o silêncio de um coração condoído, solidário : “Na verdade, este homem era Filho de Deus!” A justiça então se faz…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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A semana santa está ai! Começa neste dia 24 de março. Vamos vivenciá-la

Começando pelo Domingo de Ramos, a Semana Santa nos permite celebrar, mais de perto, o Mistério Pascal de Cristo entendido como sua Paixão, Morte e Ressurreição. Na Semana Santa vivenciamos os últimos momentos de Jesus iniciado pelo processo injusto que o sentenciou à cruz até a ressurreição comunicada, de antemão, para Maria Madalena. São momentos intensos, comoventes, chocantes, emocionantes. São momentos de tristeza, dor, medo, desespero e abandono misturado com alegria, esperança, confiança e coragem.

A Semana Santa tem o poder de nos fazer sentir gente com o humano sofrimento de Jesus e divino com a sua vitória sobre o pecado e a morte na cruz.

A Semana Santa é o resumo de uma história de fé baseada na obediência, no amor e na fidelidade, tanto sobre Jesus como sobre nós. Deste modo, a Semana Santa é a expressão não dos dias que se sucedem mas, do tempo que se cumpre na fé.

A Semana Santa é o tempo da maturidade no caminho da cruz!

Não podemos desprezar os tempos e nem os momentos. Não podemos perder a chance de fazer desta Semana Santa, a melhor de todas as Semanas Santas de nossa vida. Não podemos perder a chance, também, de fazer desta páscoa a melhor de todas as páscoas de nossa vida.

Para viver bem a Semana Santa, você não pode perder de vista, pelo menos, o TRÍDUO PASCAL que é o centro da Páscoa. Tem início na Celebração da Ceia do Senhor na noite da quinta-feira santa, passa pela Paixão e Cruz de Nosso Senhor, na sexta-feira santa, e chega até o domingo de páscoa, sustentando uma espera em oração, durante toda a noite, na vigília pascal ou sábado de aleluia.

A quinta-feira santa abre o Tríduo Pascal com a celebração de Instituição da Eucaristia (ou missa do lava-pés). Nesta noite recordamos o momento em que Cristo, reunindo os seus apóstolos, resolve dar à ceia pascal judaica, que celebrava a libertação do Egito, um novo sentido: o da libertação da morte e do pecado, com a sua cruz. Dentro desta ceia ele dá um mandamento, que é o seu, o único: “amem aos outros como eu amei vocês”. O sinal deste amor é a obediência e o serviço que vem do lava-pés: “dei o exemplo para que vocês façam a mesma coisa”. A afirmação fundamental desta celebração é que a Igreja faz e vive da Eucaristia.

A sexta-feira santa nos coloca diante do sofrimento e da dor de Jesus. Nós nos reunimos para comemorar e reviver a paixão do Senhor. A Igreja contempla Cristo que, morrendo, se oferece como vítima ao Pai, para libertar toda humanidade do pecado e da morte. Nós adoramos, nesta celebração, o mistério de nossa salvação e dispomos nosso coração, na fé e no arrependimento, para que possamos ser curados e santificados pelo Sacrifício do Cristo. A Cruz tem poder de salvar. Este é o único dia do ano que nunca se celebra missa, só se distribui a comunhão. A celebração deste dia tem quatro partes: paixão proclamada: liturgia da palavra; paixão invocada: solene oração universal; paixão venerada: adoração da cruz e paixão comungada: comunhão eucarística.

O Sábado Santo (ou sábado de aleluia)… este é o dia da espera! É o dia da Vigília Pascal… a noite mais clara de todas as noites do ano; é a maior de todas as celebrações da Igreja porque a LUZ do Cristo põe fim à escuridão. Nesta noite está o fundamento de fé da Igreja. Nesta noite declaramos e assumimos que nossa fé se fundamenta na força de um Deus morto e ressuscitado e disso não nos envergonhamos.  A celebração desta noite tem quatro momentos: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. A noite toda do sábado é celebrada em vigília (acordados) para vermos a madrugada da ressurreição.

Vamos viver a Semana Santa!

É para a liberdade que Cristo nos Libertou!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

          Circula nas redes sociais um vídeo de um menino, dez a doze anos mais ou menos, com uma mochila às costas, ameaçando seus professores na tentativa de fugir da escola. A criança diz palavrões impublicáveis, prometendo matar a todos, inclusive seus pais e familiares e dizendo que Jesus não existe, mas o Diabo sim! Por diversas vezes se declara fã e seguidor deste… E deixa estarrecidos, sem ação, sem palavras os adultos ao seu redor! E deixa no ar uma pergunta: o que nossas crianças estão assistindo, aprendendo no ambiente familiar? Donde vem tamanho desrespeito à vida?

Parece-nos perguntas sem respostas. Mas não. O que se ouve daquela criança totalmente revoltada com o mundo, com a vida, é um grito insano de uma sociedade sem Deus. Não há mais aquele desejo bem formulado pelos que se deixavam atrair pelas palavras de Jesus, tais quais aqueles gregos que se aproximaram de Felipe e lhe pediram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. Tal desejo foi realizado e o que ouviram de Jesus foi um enigma sobre o sentido da vida: “Chegou a hora… Quem se apega à vida, perde-a… Agora o chefe deste mundo vai ser expulso… quando for elevado, atrairei todos a mim” (Jo 12, 20-33). Ou seja, sem a cruz, sem a renúncia, sem dor e sofrimento ninguém verá o Cristo glorificado entre nós. Sem a aceitação do calvário que aqui padecemos não haverá vitória ou qualquer salvação possível.

O menino dessa escola é uma afirmativa clara e suscinta da descrença que nos assola. Ver Jesus tornou-se um premente desejo daqueles que apenas “ouviram falar” de sua proposta de mudanças radicais no padrão de comportamento humano, mas ignoraram a prática de suas palavras. Não basta o desejo de mudanças. O segredo do cristianismo autêntico passa, necessariamente, pela cruz, seu sinal de vitória, de glorificação divina! Quando o imperador Constantino, convertido à prática cristã, mandou colocar sobre o obelisco de Roma o estandarte da cruz, estava hasteando sua bandeira de vitória. Agradecia a Deus pela compreensão daquilo que se tornou seu lema imperial: “Com este sinal, vencerás”! Ora, se as cruzes sociais que hoje contemplamos, especialmente aquelas que nos assustam na dificuldade de educarmos nossas crianças para a fé, é preciso assumi-las com mais amor e carinho, com maiores convicções de que realmente só Jesus pode operar nesta causa, só Ele para nos tirar dessa sinuca em que nos encontramos, no descrédito que toma conta de tudo, de todos!

Chegou nossa hora! Hora de retomar nosso desejo de conhecer Jesus como realmente nossa única esperança neste mundo em trevas. Hora de desejar ouvir a voz de Deus a glorificar seu Filho na aceitação da cruz. “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!”. Não, não é um trovão que nos assusta, a voz quase fantasmagórica que os céus nos revelam, mas é o próprio Pai quem nos aponta o caminho a seguir. É por nossa causa, pelas dúvidas que nos afligem, pela realidade que nos assusta, pelas incertezas que se apossam de nossas crianças, filhos e netos que desconhecem, ignoram, ironizam nosso Cristo e sua cruz. Pai, afasta de nós esse cálice, esse cale-se!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]