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Diocese de Assis

 

Não se encontra uma pessoa de fé genuína sem que esta não tenha tido uma revelação dos céus. Isso mesmo: a fé é uma revelação divina. Por isso, a imagem de uma estrela guiando os três reis e atraindo a curiosidade dos pastores nas cercanias de Belém não é uma simples alegoria ou metáfora bem escrita; é uma manifestação sobrenatural. Alguns autores tentam associar a visão dessa estrela com a passagem de um cometa qualquer. Outros a consideram simples ilusão de ótica. Outros um recurso literário para se explicar a grandiosidade do milagre que a encarnação do Verbo representou para a humanidade. De uma forma ou de outra, Deus emitiu um sinal aos crédulos e incrédulos: “Nasceu para vós o Salvador!”

Interessante é observar o caminho percorrido pelos magos. Foram diretos a Jerusalém, cidade santa e palco até hoje dos muitos atritos e divergências que a fé num Deus único tem provocado durante sua história de milênios. Bateram às portas do rei Herodes, o grande cego das manifestações divinas a seu povo eleito e – já naquela época – injustiçado e perseguido pelos poderes humanos. Seria ele o teocrata das ilusões de poder, para quem a pergunta dos reis caiu como uma bomba em seu colo: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2).  Aquela informação, vinda da boca de forasteiros importantes, vizinhos com poderes idênticos aos seus, não poderia ser desconsiderada ou ficar sem uma resposta à altura. Tanto que Herodes simulou interesse e articulou uma armadilha: “Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo”.

Por trás do poder humano o que quase sempre impera é o jogo de interesses. Esse é o grande perigo a que incorrem povos e nações oprimidas pela lei dos mais fortes e acaba no “massacre dos inocentes”, na perseguição àqueles que anseiam pela vinda do Messias. Essa é a razão única para se explicar os fatos que circundam a história da Igreja e a perseguição deflagada aos que vivem seu espírito de fé e esperança num mundo melhor. Padre Júlio Lancellotti, nestes dias turvos de incompreensão e acusações injustas, que nos diga! Papa Francisco em seus dias de calvário pela má interpretação de seus ditos e escritos, pela não compreensão de sua pureza evangélica, que nos diga! Padres e bispos comprometidos com a Igreja pobre, santa, mas também pecadora pela fragilidade humana que possui, que nos digam! A soberba imperialista e a falsa ideia de um cristianismo sem compromisso com os mais fracos não combina com a revelação daquela pobre manjedoura na periferia de uma Judéia quase invisível no mapa.

Quase que ao mesmo tempo, o grande desafio feito pelos anjos da revelação divina foi a motivação de contemplar o milagre anunciado. Os pastores diziam uns aos outros: “Vamos até Belém, e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou” (Lc 2,15). Quem lhes revelou esse caminho? Quem lhes apontou o estranho brilho daquela luz sobre um estábulo pobre, insignificante, improvisado, onde o grande milagre da revelação se manifestava? Eis a grandiosidade da fé dos pequenos. Não exige teorias e teoremas, prova dos nove, certidões e carimbos. Basta reconhecimento de um milagre, visão do caminho que a luz divina lhes aponta. “Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura (Lc 2,16)”.  A simples contemplação de um fato e a revelação nele contida lhes era suficiente. Por isso, deram glórias e louvaram a Deus, “por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito”. A fé pura e genuína só exige um coração aberto aos milagres do cotidiano. O povo sabe disso…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




Diocese de Assis

 

Os dias vividos nesta terra não deveriam ser comparados com nada pesado ou penoso, mesmo quando temos que enfrentar crises, problemas, dificuldades, perseguições, medos, infelicidades, maldades, tristeza, morte… Tudo isso, e muito mais, faz parte da mesma vida que tem alegrias, prazeres, belezas, abundâncias, flores, farturas, festas…

Por que haveríamos de maldizer a dor se com isso maldizemos, também, a providência dos remédios que curam? Por que poderíamos rejeitar as tristezas se, com isso rejeitamos, também, as alegrias espalhadas por toda a vida? Por que teríamos objeção às dificuldades se, com isso, objetamos o processo de crescimento por causa do enfrentamento delas?

A vida humana é um mistério longe de ser esgotado pelos nossos desejos, ilusões e apatias. Por isso, em qualquer situação deveríamos ser agradecidos porque, por detrás de uma tristeza existe, sempre, uma alegria; na sombra de uma dor aparece, sempre, um remédio; ao lado de uma dificuldade acontece, sempre, muito crescimento e maturidade.

Viver é sentir o sopro da eternidade em nós e no mundo!

O escritor sagrado do livro do Eclesiastes em 5,17-19, tem uma bonita descoberta: “Concluí que a felicidade para o homem é comer e beber, usufruindo de toda a fadiga que ele realiza debaixo do sol, durante os dias de vida que Deus lhe concede. Essa é a sua porção. Todo homem que recebe de Deus riquezas e bens para que possa sustentar-se, ter a sua porção e desfrutar do seu trabalho, considere isso dom de Deus.  19 Desse modo, o homem não se preocupa demais com sua vida fugaz, porque Deus o mantém ocupado na alegria do coração.”

O mesmo escritor sagrado do Eclesiastes oferece alguns discernimentos importantes que deveríamos levar em conta, para vencer nossas ansiedades e resistências contra a vida que temos e que, diante dela não podemos tudo e não sabemos tudo:

Discernir e resistir

“Mais vale a honradez do que um bom perfume, e o dia da morte é melhor que o dia do nascimento. É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde se faz festa, pois aquele é o fim de todo homem e faz, desse modo, quem está vivo refletir. É melhor a tristeza do que o riso, porque, debaixo de um rosto triste, o coração pode estar alegre.

O pensamento do sábio está na casa onde há luto, mas o pensamento do insensato está na casa onde se faz festa. É melhor ouvir a repreensão do sábio do que o elogio dos insensatos, porque assim como crepitam os gravetos debaixo do caldeirão, tal é o riso do insensato. Isso também é fugaz, porque a extorsão torna insensato o sábio, e o suborno lhe corrompe o discernimento” (Eclesiastes 7,1-7).

O futuro pertence a Deus

“Mais vale o fim de uma coisa do que o seu começo, e a paciência é melhor do que a pretensão. Não fique tão depressa com o espírito irritado, porque a irritação se abriga no peito dos insensatos. Não diga: ‘Por que os tempos passados eram melhores que os de hoje?’ Não é a sabedoria que faz você levantar essa questão. A sabedoria é boa como uma herança, e útil para aqueles que vêem o sol, pois à sombra da sabedoria se vive como se vive à sombra do dinheiro. Mas a sabedoria é mais vantajosa, porque faz viver quem a possui.

Procure compreender a obra de Deus, porque ninguém endireita o que ele encurvou. Esteja alegre no dia feliz, e no dia da desgraça procure refletir, porque um e outro foram feitos por Deus, para que o homem nunca possa descobrir nada do seu próprio futuro” (Eclesiastes 7,8-14).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Um dia termina, outro começa. Assim também anos, séculos, milênios…No alvorecer de um novo ano há sempre as reminiscências do que se foi. Ter sido bom ou ruim depende da perspectiva de cada um. O fato é que sobrevivemos, ultrapassamos os umbrais de um novo tempo. Ao último coube a missão de apagar as luzes, fechar portas e janelas, exalar o perfume no ar ou sacudir a poeira dos pés. Ilusoriamente, é assim que nos despedimos do passado. Ontem foi ontem, o que vale é o hoje, o presente.

“Completaram-se os dias para a purificação”, nos diz o último dos evangelhos do ano, quando celebramos o Dia da Sagrada Família. Aqui está o gancho, o fio da meada dessa oportuna reflexão no início de um novo tempo que chega. Segundo a tradição judaica, após o nascimento de uma criança observava-se um período pós-parto, quando mãe e criança se resguardavam do esforço exaurido para se alcançar “vida nova”. Após vencer essa etapa, obrigatoriamente, eram conduzidos ao templo, para apresentar o recém-nascido ao Senhor. “Todo primogênito do sexo masculino” era consagrado solenemente a Deus. O menino Jesus se enquadrava no privilégio dessa consagração, apesar de sua origem divina já o consagrar como oferta viva e perene de Deus aos homens. Mas lei é lei, se cumpre!

O cumprimento desta passa pelas expectativas da história humana, onde o que existia  ( e continua a existir) era a esperança de um novo tempo, o sonho de liberdade perene advindo da promessa de um Messias, um salvador. Tal qual o sonho do velho Simeão, que ansiava contemplar a face serena e promissora desse libertador do seu povo sofrido. Eis que lhe foi concedida essa graça. Com o menino nos braços, naquele encontro casual no templo, Simeão agradeceu: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram  a tua salvação” (Lc 2,29-30). Nisso resulta a fé dos que leem nos acontecimentos do dia a dia a ação sempre generosa de Deus. Não são as trevas do passado motivos de pânico e desânimo pelas expectativas futuras. Quando a esperança é maior que a realidade que nos cerca, com certeza, daremos aos nossos braços a oportunidade de embalar um sonho envolto na imagem de uma criança consagrada; uma criança-esperança que nasce todos os dias, tal qual o menino Jesus apresentado naquele Templo.

Também somos templo! Templos vivos do Espírito Santo. Também é possível remexer nossos sonhos e esperanças, tirar deles o mofo que deixamos acumular, fazê-los reluzir novamente à luz da fé que ainda nos sobra e encontrar, dentro de nós mesmos, a face sempre serena e sorridente desse menino de luz. “Esse menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos…” Esse menino renasce sempre, a cada ano, a cada nova etapa de nossas vidas, com o propósito único de renovar e fortalecer nossos sonhos e esperanças. “Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”, profetizou Simeão, para calcar em nossos propósitos de vida uma fé além e acima de nossa cruenta realidade.  Agora depende de nós. Ser boa ou ruim a história que hoje escrevemos, com a nossa vida, depende de cada um de nós. Não fiquemos só na expectativa de um novo tempo, uma realidade nova. Os sonhos são passíveis de realização. se nossa vontade for maior. Se nossos esforços seguirem os passos da Sagrada Família, aquela que nos deu exemplo em tudo, até na dor, na desesperança de momentos. Porém, como o salmista, devemos lembrar: “A esperança dos maus dá em nada” (Sl 112). Acenda sua luz.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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O ano novo está ai, de portas abertas e, não podemos cruzar os braços e esperar as coisas acontecerem sozinhas, como num passe de mágica. Nós temos obrigação de nos envolvermos com a vida que temos. Somos responsáveis pelo que somos, pelo que queremos e pelo que devemos fazer.

Sabemos que tudo tem o seu tempo e o seu lugar e que, nada, acontece por acaso. Deus tem falado, sempre e claramente, a respeito de tudo o que devemos ser, querer e fazer.

Ninguém nasce pronto! Aprendemos a caminhar, caminhando! Por isso, enquanto caminhamos, aprendemos a ouvir a voz de Deus, através dos acontecimentos, das pessoas… e, de nós mesmos. São os sinais dos tempos. Aliás, é preciso muita coragem para enxergar e assumir as ‘revelações’ dos sinais dos tempos porque, muitas vezes, tais ‘revelações’ despertam, em nós, medos e angustia.

Nossa vida está marcada por muitos sinais que sugerem uma profunda e verdadeira revisão de vida. Como não podemos fugir dessa necessidade, vamos fazer revisão para operarmos com mais eficiência e eficácia, em tudo o que nos for dado.

Trata-se de refletirmos sobre a nossa e o nosso batismo; sobre nossa vida e existência. Quer dizer, refletir sobre a nossa experiência de Deus e nossa missão ou, melhor ainda, refletir sobre o nosso ser e o nosso fazer. Não só refletir, refletir e dialogar! Só assim descobriremos novos caminhos para a realização pessoal e comunitária.

Estamos em tempo de revisão geral: pessoal, familiar, profissional, religiosa… Não perca esta oportunidade! Logo abaixo tem um roteiro muito sugestivo para sua revisão de vida. Bom Trabalho!

Roteiro prático de revisão de vida.

Imagine que você está para morrer. Você deve escrever uma carta para os seus amigos; uma espécie de testamento, cujos capítulos ou partes poderiam ter títulos baseados nos seguintes tópicos:

  1. As coisas que amei na vida;
  2. As seguintes experiências me foram caras;
  3. Estas ideias me trouxeram libertação;
  4. Estas crenças eu deixei para trás;
  5. Estas convicções foram minhas normas de vida;
  6. Eu vivi para tais coisas;
  7. Estas foram as visões interiores que obtive na escola da vida: a) visões de Deus; b) visões do mundo; c) visões da natureza humana; d) visões de Jesus Cristo; e) visões do Amor; f) visões de da religião; g) visões da Oração;
  8. Estes foram os riscos que enfrentei;
  9. Estes foram os perigos com que brinquei;
  10. Estes foram os sofrimentos que me amadureceram;
  11. Estas são as lições que a vida me ensinou;
  12. Estas são as influências que modelaram minha vida (pessoas, ocupações, livros, acontecimentos…);
  13. Estes são os textos bíblicos que iluminaram meu caminho;
  14. Estes são os fatos de minha vida dos quais eu me arrependo;
  15. Estas são as realizações de minha vida;
  16. Estas são as pessoas que venero em meu coração;
  17. Estes são os meus desejos não realizados;
  18. Agora, procuro um final para este documento: a) uma poesia (minha ou de outro); b) uma oração; um desenho; c) uma foto de revista; d) um texto bíblico ou qualquer coisa que me pareça apropriada para pôr um fecho neste meu testamento.

Parece complicado, mas não é não. Tente! Faça um ano novo diferente.

Em 2024 estaremos juntos de novo! Feliz ano novo!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Está no ar a magia da revelação cristã, embrulhada como presente numa manjedoura de animais, num curral quase sempre fétido e improvisado. Está no ar o que deveria ser a maior e mais bela das festividades humanas; não mais o  é. O que fizemos do nosso Natal? A resposta exige tato e sensibilidade, que só a alma serena e devota de um poeta é capaz de nos dar com certeza e precisão: “É Natal, a partilha é possível, necessária, mudará tudo”. Obrigado, companheiro das desilusões e da esperança renovada. Natal é muito mais do que a festa da hipocrisia e do farisaísmo que a domina. É nossa oportunidade de redenção.

Então, o que faremos? Por enquanto, na ala dos desentendidos estão muitos dos burrinhos dos nossos presépios ou das vaquinhas sonolentas e indiferentes ao milagre que acontece diante de seus olhos. Veem, mas não enxergam. Tristes estes, que fazem da noite divina um hiato do tempo, a ruminar sonolentamente seus dias e ignorar os sinais de um novo dia que vence as trevas e prepara nova aurora de vida e esperança. De burrinhos e vaquinhas de presépio temos muito.

Mas há aqueles que se deixam representar pelos inesperados e curiosos visitantes de primeira hora, extasiados que estavam com o clarão de uma luz a iluminar aquela noite mágica. Diziam-se pastores, operários sempre atentos aos sinais de perigo e alerta contra as ameaças dos lobos e coiotes a rondar seus rebanhos. Onde estão estes agora? O que fizeram da magia daquela noite aureolada pelo solstício de uma revelação divina? Um deles trazia nos ombros uma ovelha perdida, desgarrada ou, quiçá, ferida no caminho. Aquela ovelha lhe representa?

Perguntas por perguntas, já vemos o limiar dos reinados terrenos a caminho do berço improvisado. Trazem também presentes. Porém muito mais simbólicos do que os que oferecemos hoje, na onda do consumismo que dominou esse momento cristão. Ouro, ilusão do ouro! Incenso como nossas loas voláteis e passageiras! A mirra de nossos amargores, falácias, decepções! Eis o que temos para oferecer; eis tudo o que hoje depositamos no altar da fé que pensamos ter…

Cadê o ouro verdadeiro, a riqueza maior que poderíamos colocar naquele berço casto e sagrado? Quem ali é capaz de oferecer seu único tesouro que nenhuma ferrugem ou ácido da indiferença mundana seja capaz de corroer, consumir? Quem se dispõe a oferecer a vida, o mais precioso dos tesouros que um dia recebemos de Deus?

Mas há também o simbolismo do incenso, esse que é capaz de se elevar de nossos corações com o perfume casto e suave de nossa gratidão. Nossas orações ganham essa dimensão sagrada, quando elevada aos céus com a pureza e simplicidade de uma fé transformadora, saudável, reluzente como qualquer alma generosa e complacente. Saibamos incensar o menino que nasce diuturnamente em nossos corações, agraciados por sua presença.

Por fim, saibamos também presenteá-lo com a mirra, a essência da profilaxia que nos cura e liberta de todo mal. O santo remédio do arrependimento e da purificação que nos prepara a alma para viver intensamente com a saúde espiritual de que tanto o mundo precisa. Quando soubermos valorizar esse espírito natalino com o respeito que ele merece, teremos a resposta aos dilemas e problemas que hoje temos. E a pergunta será: O que mais poderemos fazer?

                             WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

A verdade do natal não é, simplesmente, uma data, um calendário, um tempo. A verdade do natal é uma luz que ilumina as trevas… todas as trevas… em todos os lugares e pessoas. A verdade do natal ultrapassa data, calendário, tempo para alcançar distâncias e distantes, noite e dia, bons e maus, pequenos e grandes, ricos e pobres, amigos e inimigos… Extremos e contrastes, surpresas e rupturas marcam o nascimento do Deus-luz nas trevas.

Oh! Noite em que a Luz quebrou o domínio das trevas! A Luz brilhou nas trevas! É o Natal do Senhor! Noite de alegria, pois nasceu o Salvador da humanidade.

O testemunho bíblico

A Sagrada Escritura faz o natal passar pela promessa de salvação. Uma esperança que ensina a viver na conversão. São Paulo a Tito ajuda esclarecer esta perspectiva.

“A graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Essa graça nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, para vivermos neste mundo com autodomínio, justiça e piedade, aguardando a bendita esperança, isto é, a manifestação da glória de Jesus Cristo, nosso grande Deus e Salvador. Ele se entregou a si mesmo por nós, para nos resgatar de toda iniqüidade e para purificar um povo que lhe pertence, e que seja zeloso nas boas obras” (Tt 2,11-14).

O profeta Isaías visualiza o tempo da luz para um povo em situação de trevas: é a chegada da libertação e da paz.

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso. Multiplicaste o povo, aumentaste o seu prazer. Vão alegrar-se diante de ti, como na alegria da colheita, como no prazer dos que repartem despojos de guerra. Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro Maravilhoso’, ‘Deus Forte’, ‘Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz’. Grande será o seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo de Javé dos exércitos é quem realizará isso” (Is 9,1-6).

Ao contrário do nascimento de João que acontece em casa, em torno de parentes e vizinhos, Jesus nasce fora da sua cidade, numa estrebaria, rodeado somente de seus pais, Maria e José. Duas ideias convém ressaltar a respeito do natal, mais de cunho espiritual que exegético: a primeira delas é a observação do evangelista de que, chegados a Belém, não havia lugar na hospedaria em que Maria pudesse dar à luz o seu Filho. Uma gruta, provavelmente, que abrigava o rebanho dos pastores durante a noite e o defendia das intempéries do tempo, será o lugar do parto. Essa notícia visa despertar no leitor e no ouvinte do evangelho o desejo de tê-lo acolhido em sua própria casa. A segunda ideia é o anúncio cujo objeto é uma grande alegria: nasceu o Salvador. Considerados impuros, no tempo do Messias, por sua própria profissão, eles serão destinatários e portadores da alegria da salvação. É antecipada, aqui, a missão de Jesus: “o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido.”

É assim que Lucas nos faz ver a chegada do Menino-Deus-Luz.

“Enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa. Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse aos pastores: ‘Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura’.” (Lc 2, 1-14).

Desejo a todos um Natal de Luz! Bendita seja a Luz em nossas trevas!

 

PE. Edvaldo Pereira dos Santos




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Diz a sabedoria popular: “Não dê trela para um louco, senão você acaba igual”. Mas é na loucura de muitos que encontramos a verdade em plenitude. Ao menos foi assim que se nos revelou a mais cristalina das verdades humanas. Eis que um maltrapilho e andarilho, um quase esmoler das nossas vilas e cercanias, andava por aí gritando que o tempo já se cumpriu, nova aurora se anunciava, que os dias que tantos sonhavam estavam chegando. O pobre esfarrapado nem calçado tinha. Vestia-se com peles e comia gafanhotos embebidos em mel silvestre. E gritava em alto e bom som as verdades que seu peito retinha: “Daquele que vem não sou digno sequer de desatar seus calçados!”

Sim, esse era o profeta de um novo tempo. Não era o Messias como muitos pensavam, mas seu discurso possuía o timbre de uma revelação maravilhosa. Tal qual aquele louco que perambulava pelas ruas de um Rio dum janeiro qualquer, num passado bem recente, clamando por mais gentileza aos transeuntes apressados pela correria dos nossos tempos. Cuidado, devagar! “Gentileza gera gentileza!”, dizia a todos. Da mesma forma, aquele às margens de um outro rio, um Jordão puro e cristalino, também dizia: “Vigiai, vigiai!” Estejam atentos, pois a pureza dessas águas não se compara com a força transformadora e cristalina da promessa que Ele vai realizar: seu batismo no Espírito. O caudaloso rio que renova a vida do nosso deserto não se compara em nada ao rio de graças e bênçãos que “Aquele que vós não conheceis – e que vem depois de mim” (Jo  1, 26) – tem para nos oferecer.

Esse João Ninguém , mesmo assim, continuava seu rito de iniciação, purificando a todos com seu gesto batismal. Daí a importância desse ritual em nossas vidas, o princípio de uma caminhada de fé, o batismo nas águas que nos permite antecipar a necessária preparação para nosso advento espiritual, nossa vida em consonância com os planos de Deus, que nos revela o clima de paz e harmonia sempre presentes em Betânia, além do Jordão. O local das revelações cristãs onde coincidentemente João estava batizando. Betânia tornou-se símbolo de paz e harmonia, uma casa predileta do Cristo entre nós. Ao longo de seu ministério era ali que Jesus refazia suas forças, na companhia de Lázaro, suas irmãs e muitos discípulos amados por Ele. Dentre eles, familiares de João, seu primo que “perdeu a cabeça” pela fé que professou…

“Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”. Essa era sua identidade, sua única razão de ser, de existir, que aparentemente nos soa como demência pura e simples, cuja consequência lhe foi fatal, mas nos proporcionou o reconhecimento do Cristo entre nós. Eis sua maior riqueza, a virtude da “gentileza” de revelação profética! Se hoje temos Jesus como a maior dádiva divina, se sua doutrina chegou até nós como o mais perfeito roteiro para se alcançar a plenitude que sonhamos, se nossa história encontrou novo sentido após a aurora do anúncio de que o “Cordeiro de Deus” está entre nós, foi graças à coragem e insanidade de João Batista, a voz que hoje retumba no deserto de nossas tribulações: “Vigiai e orai, pois o Reino de Deus está próximo”!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Em todo tempo é tempo de missão, mas, quando se aproxima o natal de Jesus, nos vemos convocados, de novo, por aquele que é o enviado do Pai e que, a partir de Belém e da manjedoura nos ensina a viver em missão.

Vida em missão é como semente lançada na terra: entra no mistério do crescimento, do fruto maduro e da colheita. Mas é bom enfatizar que, não é a vida de um lado e, a missão de outro, mas, vida em missão; juntas e misturadas.

A vida foi concebida para ser missão e a missão para ser vida. Separadas, elas não são sementes, não são lançadas, não brotam, não crescem, não frutificam e não viram colheita.

Eis, portanto, o alerta que nos faz o Senhor: “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna. Se alguém quer servir a mim, que me siga. E onde eu estiver, aí também estará o meu servo. Se alguém serve a mim, o Pai o honrará” (Jo 12,24-26).

Mas, afinal de contas, que outro sentido e valor teria a nossa vida? De que maneira seria tão preciosa? Como encontraria tantas razões? Onde seria revestida com tanta beleza?

Paulo tem algumas convicções sobre o valor e o sentido da vida em missão que, resultaram da vivência e aprofundamento, pessoal, no mistério do Cristo morto e ressuscitado. São iluminações que nos ajudam, também, a responder sim, com convicção:

Considerar o Cristo como o centro e a razão de tudo.

“Por causa de Cristo, porém, tudo o que eu considerava como lucro, agora considero como perda. Quero, assim, conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a comunhão em seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a ele em sua morte, a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos. Não que eu já tenha conquistado o prêmio ou que já tenha chegado à perfeição; apenas continuo correndo para conquistá-lo, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo” (Fl 3,7.10-12).

Receber, da graça de Deus, a força na fraqueza.

“Ele, porém, me respondeu: ‘Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder.’ Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. E é por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12,9-10).

Sustentar, com o testemunho, o serviço confiado por Cristo.

“Mas, de modo nenhum considero minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e o serviço que recebi do Senhor Jesus, ou seja, testemunhar o Evangelho da graça de Deus” (At 20,24).

As respostas de Paulo e de tantos homens e mulheres, na história da fé, nos permitem entender que não se trata de qualquer vida e de qualquer missão mas, a vida em missão a partir do Mistério de Cristo, de sua própria vida em missão.

Sendo assim, compreendendo a nossa própria existência no mundo, como ‘um viver em missão’, daremos sentido novo a tudo o que somos e fazemos, sonhamos e queremos, e projetamos e realizamos; terá razão e sentido o passado, o presente e o futuro; ganhará mais sentido a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, a vida e a morte…

Viveremos em missão porque, viver em missão é como nossa respiração diária, faz parte de nós!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

Surpreso fiquei com o anúncio de que rodovia que uso diariamente e que liga meu interior à grande capital foi eleita como a segunda melhor rodovia brasileira. Não só surpreso, mas igualmente decepcionado, pois imaginei o quão péssimas seriam as demais. Porque por aqui o tráfego é terrível, os remendos se sucedem uns sobre os outros, os longos aclives e declives tornam-se as maiores causas de grandes acidentes e o título histórico de corredor da morte ainda não lhe foi tirado em definitivo. Sinceramente, onde “arranjaram” esse título?

Mas a surpresa acontece numa semana em que o calendário litúrgico nos desafia: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!”  O grito profético do deserto é bem atual, posto que nos chama à responsabilidade e nos convida a refletir sobre fatos, acidentes e incidentes, que nos rondam diuturnamente e para os quais sempre apontamos culpados, damos-lhes nomes e sobrenomes, mas nunca nos incluímos nesta vasta lista. Consertar estradas não é atribuição nossa. Os responsáveis que arquem com as consequências de eventuais desastres.

Confessemos os nossos pecados. Neste campo aparentemente vazio, que constitui também nosso “interior”, está a raiz condutora da vitalidade necessária para “aplainarmos” os caminhos do Senhor. Endireitar suas veredas é também manter nossa ligação com a capital celeste, a Jerusalém que sonhamos. Endireitar suas veredas é evitar “remendos” improvisados e fazer das artérias de nosso coração um canal de fluxo e refluxo permanente com a vontade de Deus; é evitar longos aclives de declives, altos e baixos, mas construir pontes seguras que nos unam aos canais das graças celestes. É alcançar o outro lado sem os obstáculos do medo e da insegurança.

Por isso o grito no deserto é a voz da nossa consciência a pedir socorro. Do Batista herdamos a consagração batismal, mas também a audácia testemunhal, ou seja: a coragem de apontar a todos o Cristo que passa, o Cordeiro de Deus entre nós. “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu” (Mc 1,7). Essa deveria ser a afirmativa mais sonora e constante na vida dos que evangelizam. Nada fazemos com nossas fraquezas e limitações pessoais, mas através delas é que nos tornamos capazes de transformar o mundo com nossa presença e ação missionária. Como diria Paulo: quando sou fraco é que me sinto forte”. Na estrada que hoje percorremos a paisagem não é das melhores, mas o tráfego terá mais fluidez se nos dispusermos a endireitar seu trajeto e buscarmos com mais objetividade as metas que o Espírito nos aponta. Metas de um novo tempo. Caminhos certeiros e seguros que só o anúncio evangélico é capaz de proporcionar àqueles que percorrem a estrada da vida. Mas ainda se surpreendem com a revelação de ser esta não a segunda, mas a melhor rodovia de retorno à nossa morada definitiva.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

 

Basta a proximidade de qualquer final de ano para as previsões fatalistas de videntes e sensitivos invadirem nossas mídias e assombrarem o povo simples. Simples na fé e ignorantes na doutrina. Uma dessas sensitivas, ainda hoje, saiu-se com um prognóstico de que nos próximos trinta anos grande parte da população mundial iria “desencarnar” e só sobraria uma maioria de gente boa, purificando-se a raça humana como sonhou o Criador. Até aqui, o desastre não seria tão ruim. Mas Deus é Pai de todos e sua misericórdia se estende “de geração em geração”.  Para bons e maus.

Então, como fica o Evangelho desse início de Advento, onde Marcos (13, 33-37) mostra toda a clarividência de Jesus, nos apontando um final dos tempos? “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer”. Essa é a verdade que nos preocupa. Um dia iremos prestar contas, frente a frente, cara a cara, com o Senhor de tudo, o dono da nossa casa comum, que hoje quase destruímos com a desordem que aqui praticamos. Estamos assustados com os prejuízos que já se somam como verdadeira catástrofe ambiental. As conferências e planos de restauração estão aí, para “inglês” ver, mas com conteúdos que, se respeitados, seriam de boa valia diante do  caos que ora vemos e sentimos na pele. O aquecimento global é fato. A crise alimentar cresce assustadoramente. A escassez da água potável e dos reservatórios hídricos também preocupa. Nossas matas têm menos verde. As queimadas matam aves e animais do outrora paraíso terreno.

Onde te escondes, Senhor? “Como nos deixastes andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações para não termos o teu temor?” (Is 63,17) O grito de socorro que agora ouvimos parece-nos tardio. Mas vem a hora – e é chegada – de que a consciência do desastre e a visão dos prejuízos nos dão novo alento de esperança e nos faz mais submissos diante da confiança que o Pai nos deposita. Então o milagre acontece. Então a criança insubordinada que ainda somos se dá conta de que algo precisa ser melhorado; um comportamento contrário aos padrões da boa conduta e do respeito ao que é de todos passa a gerir eventuais atitudes de irresponsabilidade coletiva. O bem se torna mais desejado.

Eis que um novo advento, um retorno aos sonhos de uma esperança renovada torna-se aspiração de vida nova. Esse é o momento. Esse é o final que desejamos e que buscamos com nova esperança, novo ardor no coração daqueles que hoje se dão conta da “bagunça” que aqui fizemos. Volte, Senhor Jesus! Estamos dispostos a “desencarnar” o homem velho e fazer nascer no coração de todos o alerta de um novo tempo. “Para que não suceda que, vindo de repente”, o Senhor nos encontre dormindo”. Deixemos de lado as previsões catastróficas… Essas não têm espaço na vida daqueles que alimentam suas esperanças e conduzem suas vidas na expectativa do retorno aos Planos de Deus. Neste não há derrota, destruição e morte. “Vigiai!”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]