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Diocese de Assis

A cruz não é apenas um símbolo religioso, é um sinal da obra redentora de Deus, em vista da nossa Salvação. A cruz é a expressão mais autêntica do amor de Deus para com seu povo. Negar a Cruz é negar o Cristo, nas palavras de Paulo: “Uma coisa eu já disse muitas vezes, e agora repito com lágrimas: há muitos que são inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição; o deus deles é o ventre, sua glória está no que é vergonhoso, e seus pensamentos em coisas da terra” (Fl 3,18-19).  Assumir a Cruz é assumir o Cristo, nas palavras de Mateus “Então Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga’…” (Mt 16,24).

No seminário, quando ainda era estudante ouvi Dom Maurício, professor à época, afirmando, sempre o seguinte: “Sem o amor a cruz não seria verdadeiro poder e sem a ressurreição o poder não seria verdadeiro amor”.

A questão é a seguinte: “você está com disposição para assumir a fé com a exigência de cruz ou vai deixa-la continuar sendo um mundo mágico e esperanças pequenas e de momento?”

 

A CRUZ DE CRISTO É A FONTE DE TODAS AS BÊNÇÃOS E ORIGEM DE TODAS AS GRAÇAS (Dos Sermões de São Leão Magno, papa – Século V).

Que a nossa inteligência, iluminada pelo Espírito da Verdade, acolha com o coração puro e liberto, a glória da cruz que se irradia pelo céu e a terra; e perscrute, com o olhar interior, o sentido destas palavras do Senhor, ao falar da iminência de sua paixão: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado” (Jo 12,23). E em seguida: “Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora!’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu Filho”! (Jo 12,27). E tendo vindo do céu a voz do Pai que dizia: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo”! (Jo 12,28), Jesus continuou, dirigindo-se aos presentes: “Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei tudo a mim a mim” (Jo 12,30-32).

Ó admirável poder da cruz! Ó inefável glória da Paixão! Nela se encontra o tribunal do Senhor, o julgamento do mundo, o poder do Crucificado!

Atraístes tudo a vós, Senhor, para que o culto divino fosse celebrado, não mais em sombra e figura, mas num sacramento perfeito e solene, não mais no templo da Judéia,: mas em toda parte e por todos os povos da terra.

Agora, com efeito, é mais ilustre a ordem dos levitas; maior a dignidade dos Sacerdotes e mais santa a unção dos pontífices. Porque vossa cruz é fonte de todas as bênçãos e origem de todas as graças. Por ela, os que crêem recebem na sua fraqueza a força, na humilhação a glória e na morte a vida. Agora, abolida a multiplicidade dos sacrifícios antigos, toda a variedade das vítimas carnais é consumada na oferenda única do vosso corpo e do vosso sangue, porque, sois o verdadeiro Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo (Jo 1,29). E assim realizais em vós todos os mistérios, para que todos os povos formem um só reino, assim como todas as vítimas são substituídas por um só sacrifício.

Proclamemos, portanto, amados filhos, o que o santo doutor das nações, o apóstolo Paulo, proclamou solenemente Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra; Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1Tm 1,15). E é ainda mais admirável a misericórdia de Deus para, conosco porque Cristo não morreu pelos justos, nem pelos santos, mas pelos pecadores e pelos ímpios. E como a natureza divina não estava sujeita ao suplício da morte, ele assumiu, nascendo de nós, o que poderia oferecer por nós.

Outrora ele ameaçava nossa morte com o poder de sua morte, dizendo pelo profeta Oséias: Ó morte, eu serei a tua morte; inferno, eu serei a tua ruína (cf. Os 13,14). Na verdade, morrendo, ele se submeteu às leis do túmulo, mas destruiu-as, ressuscitando. Rompeu a perpetuidade da morte, transformando-a de eterna em temporal. Pois, como Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão (lCor 15,2).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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O contraste entre dia e noite, sol e lua é conhecido por qualquer ser vivo. Todavia, dentre estes, nós humanos somos os únicos a temer as trevas e apreciar a luz solar. Tanto que se tornou um quase elogio a afirmativa que nos define como filhos diletos do Pai: Vós sois filhos da luz, não das trevas! Quem nos definiu com tamanha clareza de espírito outro não foi senão aquele que se autodefiniu como sendo ele próprio a luz do mundo. Não parou por aí, pois numa conversa com Nicodemos foi bem suscinto ao afirmar: “a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más” (Jo, 3,19). Apesar dos temores, ainda preferimos as trevas. Contradição das contradições!

O contraditório está na maledicência de muitas das nossas ações sorrateiras, às quais a doutrina cristã denomina como pecado. Acontece que o pecado saiu de moda, não mais é aceito pela filosofia libertina e libertária das teorias psicológicas que tentam dar razão a tudo que o ser humano faz em sã consciência. O problema é exatamente esse: a sã consciência. Basta a ideia de que sua liberdade é maior do que os freios da moralidade ou da religiosidade, para que uma ação pecaminosa seja praticada sem constrangimento algum. Então o mal deixa de ser mal, porque as trevas que o encobrem já não assustam tanto. Ou, como bem afirmou Jesus: “Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas” (Jo 3,20). Já não reconhece o mal que faz. O importante é tirar proveito de tudo, mesmo que isto prejudique um semelhante. Azar o dele, pois o que importa é o benefício próprio, o eu na centralidade do tudo. Isso é o egoísmo. Esse é o grande pecado social dos tempos modernos. A escuridão que vivemos.

“Mas, quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3,21).  Aqui luz e trevas ganham um diferencial bem definido. Não há como ser luz e viver nas trevas ou ser trevas e manter-se na luz. “Não se esconde a luz debaixo da mesa”, diria Jesus, para ressaltar a importância dessa função para aqueles que fazem de suas vidas um farol, um guia luminoso por onde quer que marque presença.  A revelação de Jesus a Nicodemos foi deveras alvissareira, motivo de muito júbilo e alegria, pois Deus enviava seu Filho “não para condenar, mas para salvar”. Daí a razão de tanto júbilo presente nas celebrações do quarto domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria. Daí o porque do povo de Deus exultar-se com o anúncio da luz divina presente entre nós e em nós, através da nossa fé em Jesus, luz do mundo, espelho de Deus! Mas, principalmente, a descoberta pessoal de que também nos igualamos ao Cristo com nossa ação transformadora, nossa presença, nossa insignificância revestida da importância de fazer “brilhar” nossa luz em meio às trevas das incertezas humanas. ‘Que brilhe vossa luz no meio dos homens!”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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O tempo da quaresma é sempre promissor de horizontes de mudança e conversão. Neste tempo, as provocações da Palavra de Deus sinalizam elementos concretos para a vida nova almejada na conversão. São Leão Magno (papa, séc V), num belíssimo sermão aponta alguns elementos fundamentais de vida nova. Vejamos!

“Em todo tempo, amados filhos, a terra está repleta da misericórdia do Senhor (Sl 32,5). A própria natureza é para todo fiel uma lição que o ensina a louvar a Deus, pois o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe proclamam a bondade e a onipotência de seu Criador; e a admirável beleza dos elementos postos a nosso serviço requer da criatura racional uma justa ação de graças.

O retorno, porém, desses dias que os mistérios da salvação humana marcaram de modo mais especial e que precedem imediatamente a festa da Páscoa, exige que nos preparemos com maior cuidado por meio de uma purificação espiritual.

Na verdade, é próprio da solenidade pascal que a Igreja inteira se alegre com o perdão dos pecados. Não é apenas nos que renascem pelo santo batismo que ele se realiza, mas também naqueles que desde há muito são contados entre os filhos adotivos.

É, sem dúvida, o banho da regeneração que nos toma criaturas novas; mas todos têm necessidade de se renovar a cada dia para evitarmos a ferrugem inerente à nossa condição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos sem exceção, devemos empenhar-nos para que, no dia da redenção, pessoa alguma seja ainda encontrada nos vícios do passado.

Por conseguinte, amados filhos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo tempo, deve praticá-lo agora com maior zelo e piedade, para cumprir a prescrição, que remonta aos apóstolos, de jejuar quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas, sobretudo abstendo-se do pecado.

A estes santos e razoáveis jejuns, nada virá juntar-se com maior proveito do que as esmolas. Sob o nome de obras de misericórdia, incluem-se muitas e louváveis ações de bondade; graças a elas, todos os fiéis podem manifestar igualmente os seus sentimentos, por mais diversos que sejam os recursos de cada um.

Se verdadeiramente amamos a Deus e ao próximo, nenhum obstáculo impedirá nossa boa vontade. Quando anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14), proclamavam bem-aventurado, não só pela virtude da benevolência, mas também pelo dom da paz, todo aquele que, por amor, se compadece do sofrimento alheio.

São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite aos verdadeiros cristãos tomar parte na distribuição de esmolas, sejam eles ricos, possuidores de grandes bens, ou pobres, sem muitos recursos. Apesar de nem todos poderem ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade que manifestam.”

O profeta Isaías é bastante enfático e contundente ao ser porta voz destas palavras: “Vejam! O jejum que eu aprecio, o dia em que uma pessoa procura se humilhar, não deve ser desta maneira: curvar a cabeça como se fosse uma vara, deitar de luto na cinza… É isso que vocês chamam de jejum, um dia para agradar a Javé? O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente. Se você fizer isso, a sua luz brilhará como a aurora, suas feridas vão sarar rapidamente, a justiça que você pratica irá à sua frente e a glória de Javé virá acompanhando você. Então você clamará, e Javé responderá; você chamará por socorro, e Javé responderá: ‘Estou aqui!’” (Isaías 58,5-9).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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A preocupação está posta desde o início do cristianismo. Há aqui um profetismo de Jesus acerca do futuro de sua Igreja: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio (Jo 2, 16).Tanto que foi esse um dos raros momentos de impaciência e quase agressividade de Jesus ao expulsar aqueles vendilhões do Templo com um chicote às mãos. O chicote que o diga! Os que negociavam as ofertas (bois, ovelhas e pombas) às portas do Templo se viram momentaneamente prejudicados com aquela intervenção inesperada. A ação intempestiva e as duras palavras de Jesus contra o comércio que ali praticavam alertou as consciências mais sensíveis pela contradição de seus atos. Aproveitavam-se da fé popular para dela obterem lucro. Exploravam a ingenuidade daquele povo… Nada diferente dos dias atuais!

Mas não é bom generalizar. Há muitas e honrosas exceções! Nem sempre o aspecto financeiro dentro do ambiente religioso foi uma atitude meramente mercantilista ou de cunho oportunista por parte daqueles que cuidam das necessidades espirituais do povo de Deus. Há que se diferenciar estes, daqueles. As necessidades primárias para sustentação do culto e daqueles que se consagraram ao serviço do altar sempre existiram. São obrigações dos que se beneficiam desse serviço. Das doze tribos de Israel, uma tinha a função sagrada de servir e cuidar única e exclusivamente da questão litúrgica e espiritual de tudo o que se realizava no Templo. Era a Tribo de Levi, a família sacerdotal do povo de Deus. Mas, para tanto, era preciso que as demais tribos cuidassem das necessidades primárias desta casta de consagrados, não só no aspecto das necessidades básicas, como também em todas as questões relacionadas ao templo e à manutenção do culto. A estes se destinavam os dízimos e ofertas do povo.

Nada mudou desde então. As comunidades de fé continuam obrigadas a fazer frente a essas necessidades, ao sustento daqueles que tudo renunciam para servir ao altar do Senhor. O que acontece é o oportunismo de alguns que veem nesse serviço um meio de ganho fácil, de enriquecimento ilícito, de realização de falcatruas e ou negociatas com a fé popular… Então Jesus aprofunda a questão, ameaçando com a destruição do templo, de tudo, para uma edificação renovada, em três dias apenas. Seus ouvintes nada entenderam e viram nessa afirmativa uma questão de demência. “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” (Jo 2,20). Eis no que resulta a ignorância na fé e a opinião daqueles que não conhecem as belezas dos mistérios cristãos. Dentre eles a ressurreição. Dentre eles o templo de Deus que nos tornamos. Dentre eles a ação do Espírito em nossas vidas, que aceita e consagra nossas ofertas como sinal de gratidão a Deus por tudo que dele recebemos, temos e somos. Nessa perspectiva, nossos dízimos e ofertas nunca serão objetos de comércio ou negociata com Deus, mas sim canais extraordinários de graças e bênçãos.

Deixemos de lado a opinião mundana. Nessa relação de fé o que importa não é a quantidade do que temos para oferecer, mas a qualidade de nossos gestos de amor e responsabilidade para com as coisas e as causas de Deus. Se temos mais, se somos agraciados com dons e talentos maiores dos que os de muitos irmãos, temos sim que participar mais, contribuir com mais, fazer nossa parte sem nos preocuparmos com o julgamento e a opinião do mundo. O que importa é que Jesus conhece “o homem por dentro”!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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A vida sem alegria não tem graça… não tem ritmo… não tem assunto… não ter cor… não tem calor… não tem sabor… não tem festa. A alegria é uma das coisas mais preciosas da vida porque amplia o senso de realização e o prazer de viver.

A alegria não é uma válvula de escape; não é um subterfúgio; não é coisa de “bobos alegres”; não é fanfarronice; não é extravagância. A alegria é muito mais do que sorriso e risada. A alegria satisfação e contentamento. Alegria é um dom da fé. Por isso, é necessário que nos alegremos; que cultivemos a alegria. A alegria é tudo na vida!

Veja com que palavras somos exortados pela Sagrada Escritura:

Fl 4,4-6. “Fiquem sempre alegres no Senhor! Repito: fiquem alegres! Que a bondade de vocês seja notada por todos. O Senhor está próximo. Não se inquietem com nada. Apresentem a Deus todas as necessidades de vocês através da oração e da súplica, em ação de graças”.

Rm 12,15. “Alegrem-se com os que se alegram, e chorem com os que choram”

Jo 16,20. “Eu lhes garanto: vocês vão gemer e se lamentar, enquanto o mundo vai se alegrar. vocês ficarão angustiados, mas a angústia de vocês se transformará em alegria”

1Pd 1,6. “Por isso, vocês devem alegrar-se, mesmo que agora, se necessário, fiquem tristes por um pouco de tempo, devido às várias provações”

Is 29,19. “Os pobres voltarão a se alegrar com Javé, e os indigentes da terra ficarão felizes com o Santo de Israel”.

Is 12,3. “Com alegria vocês todos poderão beber água nas fontes da salvação”.

Ecle 3,12. “Então compreendi que não existe para o homem nada melhor do que se alegrar e agir bem durante a vida”.

Ecle 8,15. “Por isso, eu exalto a alegria, porque não existe felicidade para o homem debaixo do sol, além do comer, beber e alegrar-se. Essa é a única coisa que lhe serve de companhia na fadiga, nos dias contados da vida que deus lhe concede debaixo do sol”.

Eclo 31,27. “O vinho traz vida para os homens, desde que você o beba com moderação. Que vida existe quando falta vinho? ele foi criado para alegrar as pessoas”.

Pr 10,28. “A esperança dos justos acaba em alegria, mas a esperança dos injustos termina em fracasso”

Eclo 1,20. “O homem paciente resiste até o momento oportuno, e será recompensado no final com a alegria”.

Cl 1,12. “Com alegria, dêem graças ao Pai, que permitiu a vocês participarem da herança dos cristãos, na luz”

Rm 14,17. “O Reino de Deus não é questão de comida ou bebida; é justiça, paz e alegria no Espírito Santo”

Ninguém precisa inventar motivos para se alegrar; eles já existem e precisam ser descobertos. A alegria esta ao nosso alcance e é traduzida, também, como boa notícia.

Compartilhe a alegria! Entre no dinamismo das pessoas que se encontraram permitindo-se não, apenas, momentos de alegria, mas uma vida de alegria.

Alegre-se! Permita-se ao transbordamento de autenticidade que só é possível na alegria.

A alegria leva ao contentamento e, o contentamento muda as feições do rosto de qualquer pessoa, criando oportunidades múltiplas para o desabrochar da verdade, da liberdade e do amor.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




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Algo que dá sentido à vida humana é a compreensão de quanto esta é bela. Melhor ainda quando essa descoberta vem acompanhada por uma revelação de fé, uma manifestação divina. Imaginem então o quão maravilhosa e espetacular foi a experiência do monte Tabor, onde a transfiguração humano/divina do Cristo Jesus deixou boquiabertos os três discípulos: Pedro, Tiago e João. Diz o evangelista que a visão desses três privilegiados foi algo tão extraordinário que estes não queriam voltar para a realidade do mundo aqui embaixo. Jesus lhes mostrava seu verdadeiro rosto. “Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas” (Mc 9,3). A visão beatífica, serena e transfigurada, coroada de luz e aureolada com as nuvens celestiais, era-lhes um espetáculo sem referenciais com a lógica do mundo. Tanto que sentiram medo a certo momento. Tanto que uma nuvem momentânea da dúvida os cobriu com sua sombra. Estariam sonhando? Seria real o que suas vistas contemplavam?

Nisso tudo resulta uma revelação de fé. A compreensão da beleza de Deus presente na divindade de Cristo é o primeiro passo para se aceitar sua doutrina e “descer do monte” de nossas incertezas e tribulações com mais convicção e ardor, dispostos e renovados pela verdade de seus ensinamentos. “Este é meu Filho muito amado; ouvi-o”. Esta é a voz que nos devolve à realidade, fortalecidos pela alegria de uma descoberta pessoal, intimista, mais familiarizados com os mistérios e as revelações de Deus em nossas vidas. Por isso a fé é um tesouro escondido, só plenamente revelado àqueles que se dispõem a “encarar” a luz divina presente no olhar humano do Cristo transfigurado. Mistérios de fé, nos dizem nossos sacerdotes ao apresentar a transubstanciação das espécies eucarísticas em corpo e sangue… É o milagre do Tabor, a transfiguração que nos foi dada contemplar nos dias atuais, nos nossos átrios de fé e devoção cristã. Por isso, é bom estarmos aqui, como testemunhas de um milagre que ainda podemos ver com nossos olhos mortais! Esse é o mistério, o segredo da fé cristã e de sua resistência até os dias atuais, até os dias finais

A correlação entre o milagre da transfiguração e a transubstanciação eucarística fica bem evidente no pedido que Jesus faz ao voltar para a realidade do mundo: “Não contem a ninguém o que viram aqui, até que eu tenha ressuscitado dos mortos”. A revelação viria depois, na despedida da última ceia, o grande mistério da fé cristã que se tornou “memorial da morte e ressurreição”, lembrança permanente do Cristo transfigurado, ressuscitado dentre nós e glorificado na glória de sua ascensão à direita do Pai. Esse é nosso Messias, nosso Salvador, o Filho de Deus, vivo! Por isso é bom viver, é bom estarmos aqui para glorificar pela vida que temos, pela oportunidade que nos dá o Pai criador de “guardarmos seus mistérios” em nosso coração pequenino, mas extraordinariamente grandioso quando agraciado pelas revelações que a fé nos possibilita testemunhar em vida. É bom estarmos aqui, neste mundo, contribuindo para que este seja melhor, mais humano e digno das bênçãos celestes. É bom sermos provas vivas dos milagres que ainda rondam nossas vidas e que muitos teimam em não enxergar. Assim pensando e agindo, um dia ainda iremos, como os discípulos, olhar ao derredor e ver em todos os semelhantes o rosto transfigurado de Cristo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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A fé é um patrimônio único, valiosíssimo, impagável; é uma herança que supera os tempos, os momentos, as crises e as gerações. A fé é uma das virtudes teologais, junto com a esperança e o amor.

A fé não depende, necessariamente, de quem crê mas, se realiza efetivamente nele, com todos os frutos que lhe são próprios. A fé não é uma criação de Deus, mas é, antes, o espaço por excelência de sua experiência. “A  é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem” (Hb 11,1).

Ter fé, portanto, não é uma obrigação, não é uma norma, não é uma tradição, não é um hábito. Ter fé é uma necessidade e, só que crê têm a plenitude da vida!

“Portanto, irmãos, tenham cuidado para que não haja entre vocês nenhum homem de coração perverso e sem , que se afaste do Deus vivo” (Hb 3,12). “É impossível agradar a Deus sem a . De fato, quem se aproxima de Deus, deve acreditar que ele existe e que recompensa aqueles que o procuram” (HB 11,6). “O meu justo vive pela fé!” (Hb 10,38).

Foi por causa da  que os antigos foram aprovados por Deus. Pela , sabemos que a Palavra de Deus formou os mundos; foi assim que aquilo que vemos originou-se de coisas invisíveis.

Pela , Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim. E por causa da , ele foi declarado justo… Pela , Henoc foi levado embora, para que não experimentasse a morte.

Pela , ao ser avisado divinamente sobre coisas que ainda não via, Noé levou isso a sério, e construiu uma arca para salvar a sua família. Por essa , ele condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que provém da .

Pela , Abraão, chamado por Deus, obedeceu e partiu para um lugar que deveria receber como herança. E partiu sem saber para onde. Pela , ele foi residir como estrangeiro na terra prometida. Morou em tendas juntamente com Isaac e Jacó, que também eram herdeiros da mesma promessa. Foi pela  que também Sara, embora sendo velha, se tornou capaz de ter uma descendência, pois ela acreditou em Deus, que lhe havia prometido isso. Pela , Abraão, submetido à prova, ofereceu Isaac; e justamente ele, que havia recebido as promessas, ofereceu seu único filho.

Pela , Isaac abençoou Jacó e Esaú, também a respeito de coisas futuras.

Pela , Jacó, agonizante, abençoou cada um dos filhos de José, e se prostrou, apoiando-se na extremidade do bastão.

Pela , José mencionou, já no fim da vida, o êxodo dos filhos de Israel.

Pela , Moisés, recém-nascido, foi escondido pelos seus pais durante três meses, porque viram que o menino era bonito. Eles não temeram o decreto do rei. Pela , quando já era adulto, Moisés recusou ser chamado filho da filha do faraó. Pela , Moisés deixou o Egito, sem temer a ira do rei; permaneceu firme, como se visse o Invisível. Pela , ele celebrou a páscoa e marcou as portas com sangue, para que o exterminador não matasse os primogênitos de Israel. Pela , atravessaram o mar vermelho como se fosse terra seca, enquanto os egípcios, tentando fazer o mesmo, se afogaram.

Pela , caíram os muros de Jericó, após as voltas ao seu redor durante sete dias… (Hb 11,2-33).

“Por isso, façam esforço para pôr mais virtude na fé, mais conhecimento na virtude, mais autodomínio no conhecimento, mais perseverança no autodomínio, mais piedade na perseverança, mais fraternidade na piedade e mais amor na fraternidade. De fato, se vocês tiverem essas virtudes em abundância, elas não permitirão que vocês se tornem inúteis ou infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pd 1,5-8).

Eis porque, viver bem é crer! E pra você, crer é viver bem?

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Parece-me um tanto forçado o termo Amizade Social num contexto de fraternidade cristã. Porque a boa notícia que nos trouxe os Evangelhos é exatamente o desafio de uma fraternidade universal, que vai muito mais além do que as aparências de uma convivência social pura e simples. Na sociedade ainda imperam as normas do procedimento ético, das boas maneiras, do farisaísmo social que as relações humanas fazem questão de preservar como lei de conduta e maturidade nas relações interpessoais. Qualquer manual de etiqueta é capaz de nos apontar essa falsidade comportamental. Mas a verdadeira convivência fraterna, desejada e praticada pelo mestre de Nazaré, rasgou toda e qualquer cartilha de comportamento social para valorizar por primeiro a beleza das relações humanas, deixando de lado suas normas e etiquetas excessivamente inibidoras e constrangedoras. Numa verdadeira relação fraterna predominam gestos de espontaneidade, pureza e autenticidade.

Para os construtores do Reino de Deus entre os homens não pode haver meia verdade. Ou tudo, ou nada. Ou você aceita o desafio de uma relação pessoal além das aparências que a tentação demoníaca tenta construir na vida social, ou nossas amizades nunca passarão de falsa diplomacia plasmada pelas normas e exigências do mundo, nunca de Deus. Essa é uma exigência puramente humana, mundana, que não penetra no âmago do verdadeiro espírito de fraternidade universal. Melhor então agir como Jesus, que se afastou da convivência social para viver entre os animais selvagens, onde os anjos desciam dos céus para o servir (Mc 1, 13)? Felizmente, isso só durou quarenta dias! Pelo menos ali, no deserto e na quietude das falsas relações sociais, a plenitude do amor divino era mais evidente! Mas essa não era a missão cristã, pois o tempo e a ação evangelizadora se cumprem no aqui, no hoje, na realidade do tempo presente. Não podemos fugir dessa nossa necessidade de inserção na realidade do mundo. Por isso nossa fé segue os passos do Cristo, que nos convida à conversão imediata, seguindo seus exemplos, seu Evangelho de fraternidade universal: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).

Penetrar nesse desafio de fé e coerência evangélica nos leva a construir uma relação muito além das aparências sociais. O mundo político tem nos dificultado a construção de um mundo novo conforme os parâmetros do ensinamento cristão. Direita ou esquerda nunca foram situações simpáticas ao bom senso que só o meio termo, o diálogo, as concessões de um e as renúncias do outro são capazes de solidificar fraternalmente, sem a tentação da vitória de um sobre a derrota do outro. Não é guerreando que se constrói a Paz. Esse é um conceito diabólico, que muitos abraçam como bandeira de ação e não enxergam o sarcasmo do Diabo por detrás dessa bandeira institucionalizada. Não é por aí. Com o Diabo não existe diálogo. Papa Francisco já nos alertou em um de suas falas do Angelus (2021): “Quando o sedutor se aproxima, começa a seduzir-nos: “Mas pensa isso, faz aquilo…”, a tentação é entrar em diálogo com ele, como fez Eva; e se entrarmos em diálogo com o Diabo, seremos derrotados”. Só o diálogo com Deus, com sua Palavra, pode restaurar o diálogo entre nós.

Fica pois a pureza evangélica como único e melhor caminho para a paz fraternal que desejamos alcançar. Esqueçam essa amizade social. Melhor caminho é a amizade cristã. Busquem primeiramente o diálogo fraternal, sem divisões, sem tendências, sem radicalismos políticos ou sociais. O verdadeiro cristão não negocia com o Inimigo, o Pai das falsas ilusões, da mentira institucionalizada. Não é por aí o caminho da evangelização sonhada e almejada por Cristo. A boa nova da salvação não negocia com doutrinas meramente transitórias. Um único caminho nos promete as alegrias do Reino de Deus entre nós, o diálogo com Deus e os irmãos. Portanto, “convertei-vos e crede no Evangelho”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 




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É impressionante, mas bem antes de Jesus, desde sempre e até os dias atuais, basta um farfalhar, um burburinho qualquer anunciando milagres… lá está o povo! Não importa a origem dos boatos ou mesmo a intervenção, o dono dos milagres. Todo e qualquer milagre é ação divina. É Deus agindo entre nós, nos dando os ares de sua graça e benevolência. Assim pensa o povo. Assim, ao menor sinal dessa ação de Deus no mundo dos homens, o povo acorre faminto e sedento para contemplar, testemunhar, e se beneficiar com eventual graça dos céus.

Seria isso mesmo? A fama de Jesus se alastrou rapidamente, graças à facilidade, que lhe era peculiar, de entender a necessidade dos que o procuravam desejosos de cura, ansiosos para dele obterem um mínimo de misericórdia. “Se queres tens o poder de curar-me”. O leproso nada exigiu. Apenas confiou, depositou nele seu grande desejo de cura. E a resposta foi positiva: “Eu quero: fica curado!”. O episódio aqui exposto foi mais um, dentre os muitos milagres que Jesus realizava no meio do povo carente e sofredor ( Mc 1, 40-45). Ilustra a simplicidade e naturalidade dos milagres por Ele realizados. Basta seu querer. Sua ação de piedade para com aquele que sofre é instantânea. Do seu amor flui a cura. Da cura, um segredo: “Não contes nada disso a ninguém!”. Eis no que resulta a graça de Deus: num pedido de silêncio, não de aplausos e manifestações de loas ou oba-oba superficiais, como muitas das nossas aglomerações populares ao redor de espetáculos mirabolantes, incompreensíveis, fora da lógica! Um milagre não é um espetáculo circense, algo que se deva admirar pura e simplesmente com nosso olhar surpreso, mas insensível às ações de Deus na nossa história. Exige introspecção.  Quem recebe um milagre, antes de exibi-lo como presente de predileção, deve guarda-lo em seu coração como incumbência de maiores responsabilidades na sua vida de fé. Milagre recebido é compromisso de purificação. Impossível mantê-lo em segredo, mas também impossível deixar de proclamá-lo com a vida nova que se recebe.

No caso do leproso, Jesus lhe pediu que não contasse nada a ninguém porque ainda não era sua hora, o momento de manifestar plenamente seu poder e glória. Jesus iniciava seu ministério e ainda agia apenas em favor daqueles que o procuravam com a pureza e simplicidade de alma, mas o momento de sua glorificação se daria “do alto da cruz”, quando atrairia todos a si. A plenitude seria sua ressurreição, o maior dos milagres da história humana até os dias de hoje. No entanto, a cura de um leproso era um fato bem visível. Então o assedio popular cresceu. “Por isso Jesus não podia  mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos” (Mc 1,45). Continua impossível esconder a graça de um milagre!

Eles ainda acontecem! Não é uma intervenção humana, mas uma interferência divina na história humana. Não existem milagres sem o consentimento de Deus e a súplica do ser humano. Desejo de Deus aliado a um pedido humano. Aqui anjos e santos são meros intercessores, pois o milagre provem de Deus, nunca dos insignificantes poderes que pensamos possuir. Interceder, sim; mas realizar, jamais!  Eis porque devemos refutar as propaladas ações “milagreiras” de determinadas crenças, pessoas ou tantas outras ações mirabolantes que vemos por aí. Sem procedência divina, sem a interferência e provação da cruz, sem a crença da vitória de Cristo sobre a morte, não existem milagres. Cuidado com os charlatões à espreita. Só Cristo se diz ressurreição e vida! Só Ele é o Senhor dos Milagres!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




Diocese de Assis

Há quem pensa que conhece o amor só porque experimentou a paixão; há que pensa que vive o amor só porque se deu a conhecer a alguém; há quem pensa que tem o amor só porque está com alguém… O amor é mais! O amor é maior!

O amor é a experiência humana mais completa e integradora, mais profunda e simples, mais acessível e tocante, mais direta e envolvente. O amor é o tudo de uma pessoa. O amor é a alma humana. O amor é a vida! Portanto, amar é viver!

A Sagrada Escritura é bastante contundente, quando se refere ao amor: O amor é Deus! Por isso é tão acessível e possível aos homens.

O amor não é algo abstrato e nem se reduz aos sentimentos, à vontade e aos desejos. O amor é o que confirma a existência humana em tudo o que lhe é humano.

Quem não ama deixou de ser gente ou nunca foi.

Vejamos o que dizem alguns textos bíblicos

No Cântico dos Cânticos 8,5-7, encontramos esta belíssima passagem: “Grave-me, como selo em seu coração, como selo em seu braço; pois o amor é forte, é como a morte! Cruel como o abismo é a paixão. Suas chamas são chamas de fogo, uma faísca de Javé! As águas da torrente jamais poderão apagar o amor, nem os rios afogá-lo. Quisesse alguém dar tudo o que tem para comprar o amor… seria tratado com desprezo.”

Em 1 Coríntios 13,1-8, São Paulo faz o testamento do amor: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

No livro dos Provérbios 12,1 lemos esta indicação: “Quem ama a correção ama o saber; quem detesta a correção torna-se imbecil.” E em Provérbios 29,3 está escrito: “Quem ama a sabedoria alegra o seu pai, mas quem frequenta prostitutas desperdiça seus bens”

Em 1 João 4,7-8, lê-se: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” E, 1 João 5,1, completa: “Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus; e quem ama aquele que gerou, ama também aquele que por este foi gerado.”

Haverá outra coisa tão necessária que, alguém possa querer ou esperar, em sua breve existência, que não seja amar? Que maior inspiração para os sonhos e projetos, senão, amar, acima de tudo? Que luz mais clara e incisiva pode haver, para iluminar as situações críticas da vida, onde o perdão é extremamente necessário, senão, amar?

Amar não é uma alternativa é uma condição; é uma necessidade. Se não amar, a pessoa humana se desintegra porque, amar é viver e, viver, é amar!

Santo Agostinho assim sintetiza esta verdade: “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”

Não há dúvida, Viver bem é amar!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS