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Diocese de Assis

 

          Pensar e imaginar um  reino onde seus súditos, predominantemente, são pobres criaturas famintas e sedentas, despidas de qualquer traje digno de um padrão social, estropiadas em seus direitos de cidadania, acometidas de muitas doenças ou prisioneiras de um sistema injusto, é pensar e imaginar um povo derrotado e falido em qualquer projeto.

Por outro lado, pensar e imaginar um rei soberano e glorioso, dono das maiores riquezas, capaz de estender seu poder até os  confins do mundo, exibir seu cetro magistral acima de qualquer reinado, impor sua autoridade sem equiparar-se com qualquer outro soberano na terra, escolher seu povo com critérios fora dos padrões convencionais, é pensar e imaginar um reinado utópico, quase impossível…

Eis que esse Rei existe e seus súditos constituem um povo eleito, uma leva infindável de desvalidos que foi posta à direita de seu rei e elevado à posição de herdeiros universais. “Vinde, benditos do meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! (Mt 25,34). Eis a maior riqueza do Rei dos reis… Essa é a predileção, opção preferencial no dizer teológico que muitos refutam, do legítimo herdeiro universal do reino infinito que Deus nos oferece como a única riqueza imperecível desse mundo. Serão eles o fiel da balança que julgará nossos critérios de riquezas e justiça até aqui imaginados pelos reinados do mundo dos homens. Será sob a ótica da convivência fraterna e solidária entre nós que a soberania e vitalidade desse reino se sobrepujará sobre todos os demais.

Cristo-Rei haverá de reinar num universo de pobreza e carências múltiplas. Essa é a base de seu reinado, seu poder acima de tudo e de todos os poderes e potestades que possamos imaginar. O universo dos pobres determina o poder de Deus! Neste, as fortunas e ilusórias riquezas dos que se acham donos desse mundo é falácia transitória, imoral, falível como qualquer outro projeto de poder humano.

Mas quando virás, Senhor? Essa é a pergunta que todos se fazem. Independentemente de sua resposta, o que nos salta aos olhos é a lição da pobreza. Não será sobre o acúmulo de bens que seremos julgados. A questão se chama desapego, desprendimento ou mesmo partilha. Sobre esses itens, aliados à boa administração dos bens recebidos, é que mereceremos ou não a recompensa maior “no Reino que para todos se está preparado”. O importante é a consciência de que somos pobres, paupérrimos; nada seríamos ou teríamos sem a concessão do Senhor do Universo, o herdeiro universal! Daqui só levaremos as mãos vazias, porém o coração cheio de gestos concretos de amor àqueles que prefiguraram o rosto do Cristo entre nós. “Eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar” (Mt, 25, 43). Nesse universo está a salvação, o passaporte para o Reino definitivo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Final do Ano Litúrgico!

A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo encerra o ano litúrgico de 2023 e abre os horizontes e perspectivas do novo ano litúrgico de 2024.

O ano litúrgico é diferente do ano civil que termina em 31 de dezembro e começa um novo ano em 1º de Janeiro. Para o Calendário Litúrgico, o tempo tem outras referências e compreensão que a medição cronológica. O tempo, na Liturgia é Kairós. “Os gregos antigos tinham três conceitos para o tempo: chronos, kairós e Aeon. Chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido, associado ao movimento linear das coisas terrenas, com um princípio e um fim. Kairós refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece, o tempo da oportunidade. Aeon já era um tempo sagrado e eterno, sem uma medida precisa, um tempo da criatividade onde as horas não passam cronologicamente, também associado ao movimento circular dos astros, e que na teologia moderna corresponderia ao tempo divino.”

Para a liturgia, a ação de Deus, na história, marca a vida de tal maneira que, os acontecimentos, desta história, passam a “marcar” o tempo e ser referência pessoal e comunitária para tudo. Dessa forma, o calendário litúrgico tem como eixo, os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), formando um ciclo de três anos que se alternam a cada ano. O Ano A é Mateus; o ano B é Marcos e, o ano C, é Lucas. Estamos terminando o ano A (Mateus). O Novo ano litúrgico que se dá no próximo final de semana é o ano B (Marcos)

Pois bem, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo encerra o ano litúrgico de 2023 e traduz as perspectivas e horizontes da fé que apontam para aquele que é o Rei.

O Antigo Testamento traz a profecia do Rei-Pastor que cuida do seu povo como o pastora cuida das ovelhas.

Ez 34,11-12.15-17: “Assim diz o Senhor Javé: Eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas. (…) reunirei de todos os lugares por onde se haviam dispersado, nos dias nebulosos e escuros. Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar – oráculo do Senhor Javé. Procurarei aquela que se perder, trarei de volta aquela que se desgarrar, curarei a que se machucar, fortalecerei a que estiver fraca. Quanto à ovelha gorda e forte, eu a destruirei, pois cuidarei do meu rebanho conforme o direito. Quanto a você, rebanho meu, assim diz o Senhor Javé: Vou julgar entre ovelha e ovelha, entre carneiros e bodes”

O Novo Testamento nos aproxima da figura do Rei-Jesus que apascenta o seu povo com a própria vida. Ele tem o poder de tudo submeter, inclusive a morte.

1 Cor 15,20-26.28:“Cristo ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram. De fato, já que a morte veio através de um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, na sua própria ordem: Cristo como primeiro fruto; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. A seguir, chegará o fim, quando Cristo entregar o Reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo principado, toda autoridade, todo poder. Pois é preciso que ele reine, até que tenha posto todos os seus inimigos debaixo dos seus pés.  O último inimigo a ser destruído será a morte…”

Também no Novo Testamento, aparece a figura do Rei-Juiz que tem o poder de julgar os povos todos no advento do Reino do Pai.

Mt 25,31-46: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita, e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita. ‘Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo…’”

A visão de final de ano litúrgico, sob a Hegemonia e o Senhorio de Cristo, nos permite uma visão de esperança, assegurada como Boa Nova do Reino de Deus.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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Pensar a dinâmica do Reino de Deus com os critérios do reino dos homens é coisa própria do materialismo humano. Por isso Jesus explica essa dinâmica falando de dinheiro, juros e correções monetárias, para que a cabecinha oca de alguns consiga penetrar nos mistérios e na grandiosidade do que seja esse Reino que nos aguarda. Os talentos eram uma espécie de moeda vigente à época. Tornou-se nossa moeda de troca para nossa própria salvação. Mas não uma moedinha qualquer! Senão, vejamos…

Qualquer recurso que a vida coloque em nossas mãos, no caminho que trilhamos, na história que aqui vivemos, deve ser um trampolim de crescimento, um meio de obtermos vantagens e provarmos nossa capacidade de renovação de forças. Isso é o mínimo que Deus nos pede diante dos homens. Que aproveitemos as chances que temos, que valorizemos os recursos, os dons recebidos em vida. Se a um lhe foi dado cinco, no mínimo, há o dever da multiplicação. Dois, o dobro. Um apenas…, que este não se perca no desânimo dos derrotistas, dos insatisfeitos, dos invejosos! Pois esse um também pode render tanto quanto os talentos daquele que foi melhor agraciado e que teve maiores responsabilidades, mais trabalho a desenvolver.

Sinceramente, nesta perspectiva, prefiro ser aquele que recebeu menos. Pois multiplicar o pouco é mais fácil do que administrar fortunas. Mas a ingenuidade do pequeno é se deixar enterrar na derrota, diante da grandiosidade dos que possuem mais. Inveja pura e simples! Esse é o caminho dos que se deixam vencer pelo “olho gordo” sobre as graças daqueles que imaginamos privilegiados diante de Deus. “Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez!” (Mt 25,28). O pouco com Deus é muito, nos diz a sabedoria do povo. Ou seja, é preciso valorizar o “pouco” que pensamos receber, para que a generosidade do Pai se manifeste em nós. Os juros e dividendos dessa matemática são proporcionalmente mais rentáveis que a lógica calculista dos banqueiros do nosso mercantilismo social. Aos olhos de Deus o que conta é nossa ação, nossos esforços a serviço do Reino. A serviço do Reino deveria ser um adesivo em nossas vidas!

Mas eis que, não contentes e corroídos pela inveja e preguiça, escondemos ou enterramos dons e talentos graciosamente recebidos. Perdemos o segredo da Eternidade; ignoramos a lógica da graça, que é contrária à lógica mundana, pois, aos olhos de Deus, “aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25-29). Cuidado! Não interprete esse versículo com os critérios da visão materialista, apenas. Aqui não se trata do sonoro tilintar de nossas falíveis e desvalorizáveis moedas – invencionice humana – , mas dos preciosíssimos dons e talentos que um dia recebemos de Deus. Nessa perspectiva, os juros que destes possamos gerar é que nos garantirão a Salvação esperada. Sé é que seja esta sua maior ambição. Caso contrário, delete tudo o que leu até aqui.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Se existe algo no mundo que seja gerador de graças e bênçãos ao humano que somos, esse algo se chama talento. Ou seja: o espírito criativo do ser humano deriva dos dons e talentos que possui. Nenhum outro animal ou criatura é capaz de criar alternativas, multiplicar bens, gerar soluções, apontar erros ou construir novos caminhos do que o próprio ser humano. Mas isso é graças à sua inteligência, dirá alguém. Exatamente. Essa é nosso maior talento, que nos distingue de todos os demais seres vivos que nos rodeiam. O dom do discernimento é o rótulo diferencial que nos faz soberanos entre todas as demais criaturas do reino, seja este animal, vegetal ou mesmo espiritual. Ah! Existe esse último? Ainda bem que sim…

A vida espiritual nos aponta um Reino em maiúsculo. Infelizmente, por conta da desatenção de muitos para esse detalhe, enterramos os maiores talentos que um dia recebemos gratuitamente e negligenciamos seus bens e benefícios. Deixamos de aproveitar das maiores graças e bênçãos que essa passagem terrena, a vida, oferece generosamente a todo e qualquer “empregado” do Reino de Deus. Por conta e risco dessa negligência humana com o sagrado é que o mundo está como está. Os dons e talentos que nos acompanham desde o berço e que se somam à nossa história ao longo dos anos, não são méritos nossos, mas dádivas divinas, celestiais se você assim preferir. O fato é que nada teríamos e nada seríamos sem o consentimento do Pai, o mesmo que nos criou, que nos concedeu não só a vida, mas também a consciência do respeito a ela, da gratidão por ela.

Fora disso, nossos méritos deixam de ser dádivas, para se tornarem sinais de maldição, de usurpação. Tudo o que amealhamos ou conquistamos sem a unção da fé, sem a gratidão do Senhor que nos concedeu a administração de seus bens “de acordo com a capacidade de cada um”, dia mais, dia menos haveremos de lhe prestar contas. Seremos cobrados não só pela negligência com os bens que nos foram confiados, como igualmente pela malícia de nos apossarmos de bens que não os nossos, de talentos que não nos foram confiados, de dons que nunca possuímos. Aqui encontramos explicações para a fugacidade e inconsistência de riquezas que pensávamos possuir. O servo infiel, oportunista, malandro na arte do engodo, nunca encontrará reconhecimentos diante do patrão providente e justo. “Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e ceifo onde não semeei?” (Mt 19,26). Tu sabias que diante da ciência divina nenhum subterfúgio é capaz de prosperar? Que enganamos a muitos homens e até à nós mesmos, mas a Deus não se engana? Que nada escapa do Juízo Final? É, o servo mau aqui fica mal…

Então, multiplicar os talentos é muito mais do que questão de sobrevivência. Não somente social, terrena, financeira ou moralmente falando, mas também e principalmente no quesito mais precioso desse latifúndio terreno: o reino espiritual que coroa nossa existência. Nossos dons terrenos, materiais, são esmolas irrisórias diante dos dons mais preciosos que o Patrão lá do alto nos confiou um dia. Esses, sim, deveremos multiplicar cem por um. Essa é a proporcionalidade que nos será cobrada um dia.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Quantas vezes ouvimos falar da história das virgens previdentes e não previdentes, que buscavam as graças de um noivo? Quantas vezes aprofundamos essa história, sem nunca a entendermos plenamente? Pois é essa exatamente a parábola das almas sedentas pelo encontro definitivo com Deus, a maior e mais pura aspiração da natureza espiritual do ser humano. Essa é a razão do nosso existir. Para perfazer esse caminho é preciso manter acesa a chama da nossa fé, trazer conosco o combustível necessário que clareia os passos dos que almejam (almejar vem de buscar com a alma) as alegrias do Reino entre nós.

Recordando em suma: Jesus coloca nessa história o exemplo de dez virgens. Cinco eram previdentes, cinco não. As previdentes traziam consigo o óleo necessário para manter acesa a chama de suas luzes. Sabiam que, no cair da noite, nas horas derradeiras do dia mais sonhado de suas existências, haveriam de reconhecer mais facilmente o noivo que vinha e que as receberiam de imediato sob o brilho de suas luzes. Haveriam de brilhar para Ele. Seriam a luz do mundo em trevas. Já as imprevidentes, sem preocupações maiores, sem critérios de um caminhar longe das trevas que as encobriam, pois que “o noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e dormindo”, foram surpreendidas com a falta de óleo em suas lâmpadas. E encontraram fechadas as portas do Reino. Nisso resulta nossa imprevidência com as coisas do alto, as questões do ser espiritual que somos!

Fica, pois, bem evidente a simplicidade dos ensinamentos cristãos, cuja racionalidade está centrada no objetivo do nosso existir: ser luz do mundo! Ser sinal de salvação no meio das trevas que nos encobrem, da noite longa e tenebrosa dessa vigília na espera do “noivo” que chega, que aparentemente parece demorar, mas que há de chegar no momento que menos se espera. Não há como improvisar esse momento, essa festa “de casamento” que Deus nos prepara como encontro definitivo num mundo novo com o qual sonhamos. “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!” (Mt 25, 11) Esse é o brado mais retumbante da humanidade, mesmo que muitos ainda estejam indiferentes e achem ser possível “comprar o óleo” da salvação no momento final, no último instante de suas vidas. Não há como garantir esse momento, “pois não sabeis qual será o dia nem a hora”, e a conquista do Reino Definitivo se inicia no agora do nosso existir. Quem quiser garantir seu lugar ao Sol, sob a Luz da verdade que nos rege neste mundo, deve estar atento, diuturnamente, pois que a vigilância constante é nossa única garantia, nosso passaporte para a Eternidade.

Tudo isso resume nosso existir, dá sentido à vida. Não é mera pregação de fanáticos ou beatos confinados em crenças escatológicas, adventícias. Há um outro lado nessa história, que todos respeitamos, mas nem todos o fazem por merecer. A previdência de grande maioria está centrada apenas no seu aspecto social, nas falácias de uma aspiração meramente transitória, essa crença humana que diz ser a vida uma instituição de momentos, de circunstâncias, de fatos plausíveis e palpáveis. Melhor não pagar pra ver. Melhor manter acesa a chama da nossa fé.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Toda a vida cristã está baseada no modelo de vida do Cristo: suas ações, suas palavras, seus sentimentos, seus pensamentos, seus gestos, sua postura, sua mentalidade, sua sabedoria, seu amor, sua compaixão, sua misericórdia, seu perdão, sua ternura, sua percepção, sua sensibilidade, seu zelo, sua atenção, sua verdade, sua sinceridade…

O cristianismo, portanto, não é, simplesmente, uma ideologia, mas, um ideal; não é uma doutrina, mas, um itinerário de vida; não é uma convenção, mas, uma convicção; não é crença, mas, é fé.

Neste sentido, cristão é aquele que, identificado com o Cristo, se con-figura a ele. Isto é, torna-se um outro Cristo; sem deixar de ser o que é, assume, como sendo seu as ações, as palavras, os sentimentos, os pensamentos, os gestos, a postura, a mentalidade, a sabedoria, o amor, compaixão, a misericórdia, o perdão, a ternura, a percepção, a sensibilidade, o zelo, a atenção, a verdade, a sinceridade… do Cristo. A esse respeito, Tomas Kempis, no passado (1441), falava em Imitação de Cristo. O Evangelho fala de ser santo como o Senhor é Santo. Não são duas verdades que se excluem, mas que se completam. A prática da fé, pela imitação do Cristo, faz chegar à santidade. E santidade deve ser o escopo (meta) da vida.

Ora, quando muita gente pensa que a busca de santidade anula a natureza humana, como fazer da santidade uma meta sem se tornar desumano consigo e com os outros?

É preciso ter claro que, a santidade não desumaniza a pessoa, pelo contrário, totaliza, completa, plenifica. Porque o ideal de santidade pressupõe a realização da pessoa total e não de uma parte dela.

O grave problema de quem considera a busca da santidade como um risco à humanidade de uma pessoa, é a visão compartimentada e fragmentária de tudo.  Ora, quem fragmenta tudo, enxerga tudo através da limitada condição dos fragmentos. De tal forma que a referência de valor, de sentido, de verdade… será sempre pequena.  Por exemplo: quem não vê o tempo para além de um só dia, vai querer tirar proveito de tudo só naquele dia; quem não vê a fome para além da comida, não vai passar de um comilão; quem não vê o trabalho para além do dinheiro, vai continuar sendo um escravo remunerado; quem não enxerga o dinheiro para além do possuir, não vai deixar nunca de ser materialista; quem não enxerga o sexo para além do prazer, nunca resolve as suas obsessões e desvios.

O ideal cristão de santidade pressupõe a natureza humana: suas fraquezas e forças; suas limitações e grandezas, suas contingências e necessidades; seu nada e seu tudo…

Na fé, a visão de homem total (santo) é a de homem Feliz. E isso só é possível fazendo coincidir felicidade com santidade, santidade com realização e realização com prazer.

O grande desastre da vida humana é que, uma inversão, arbitrada pela fragmentarismo, coloca o prazer como princípio de tudo. Nisto está a derrocada do homem porque o hedonismo faz ponte com o individualismo, com o materialismo, com o egoísmo e com muitos outros “ismos” que esvaziam e escravizam.

As bem-aventuranças de Jesus, em Mateus 5,1-12, oferecem um programa de vida, onde o ideal de felicidade é a realização da pessoa em sua totalidade. Tomando como ponto de partida as realidades não negadas (mas assumidas) da vida, mostra como é possível ser feliz. A proposta, presente ali, é de felicidade e, não simplesmente de alegria.  Porque alegria é sempre algo passageiro; vem e vai rápido. A Felicidade, ao contrário, é algo mais duradouro e precisa de mais tempo para se consolidar para se tornar realização. Porque ela pode chegar não só através de uma alegria, mas também de uma tristeza.

Bem-aventuranças! Vale a pena conferir LENDO-AS e TRAZENDO-AS para a vida.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




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Desde que o mundo é mundo, o conflito humano tem sido sua marca registrada. A história raramente foi um mar de rosas, pois que suas guerras e contradições sempre estiverem presentes aqui e acolá. Dessa forma, parece-nos que a luta pela sobrevivência tem em seu bojo a necessidade do combate corpo a corpo e as guerras tornam-se uma necessidade natural de se escrever essa história narrando as vitórias e conquistas dos que podem mais. Como se a glória fosse mérito dos mais fortes. Como se a purificação estive sempre do lado dos poderosos. Como se o direito à vida fosse um contínuo processo seletivo só concedido àqueles que cantassem vitórias no campo de batalhas.  Assim, de uma guerra à outra, de uma bomba aqui, um morteiro ali, um massacre ao lado ou uma invasão mais além, vamos construindo nossa história com o direito de pisotear os mais fracos. Essa é a razão de qualquer guerra. Esse é o conflito existencial que escrevemos, ontem, hoje e sempre!

Então toda e qualquer guerra é justificável? Esse é o perigo maior que molda a opinião pública quando declaramos nossas guerras. Primeiramente se estabelecem as razões. Depois o lado, o posicionamento pró ou contra, a necessária divisão de forças. Então, seja o que Deus quiser! Mas Deus não quer nada disso, ao contrário, Ele é  e sempre foi o mediador de todo e qualquer conflito. Tanto que Jesus, o Príncipe da Paz, foi bem claro e suscinto em sua promessa de recompensa aos que buscam a santidade em meio às contradições da vida humana: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Aqui não se encontra espaço que justifique uma situação a favor de qualquer tipo de guerra ou conflito armado. A paz é antes o único caminho capaz de nos promover e devolver à raça humana a dignidade de “filhos”, a razão maior e mais gratificante daqueles que buscam e encontram seu vínculo consanguíneo com o Criador. Ser elevado à categoria de filhos de Deus é a maior glória, a vitória suprema que justifica qualquer renúncia ou sacrifício em favor da paz.

Quando, pois a Igreja se posiciona contrária a qualquer tipo de guerra, não está tomando partido a favor deste ou daquele lado. Não é o Papa um mediador de conflitos, nem um negociador da paz em favor do mais fraco, como muitos possam pensar ou dizer. A bandeira cristã não tem cor. É branca como a pureza de uma alma sem segundas intenções, senão o ideal do Reino de Deus entre nós. Não vamos colocar nas declarações da Santa Sé as divergentes opiniões que as Nações Unidas deixam escapar com o veneno da parcialidade que forja nossas justificativas. A opinião dos que constroem a Paz não tem lado, nem cor, nem raça, nem crença. Por isso muitos não compreendem o lado neutro dos que se posicionam contrários a qualquer tipo de conflito. Buscam por primeiro o diálogo, a moderação, a cautela. São incompreendidos e injustiçados, mas também é na retidão desse posicionamento que a Igreja estende seu manto de Mãe e Medianeira entre Deus e os homens. Porque, como Igreja que somos, ainda podemos ouvir de seu Mestre e Senhor: “Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim” (Mt 5, 11).

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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Dia 18 de outubro foi o dia de São Lucas e, por conseguinte, dia do médico. Mas, quem afinal de contas, é o médico? Como o vemos? O que dele esperamos? Como o tratamos? Quando o procuramos? Somos amigos ou apenas clientes dos médicos? Em todas as profissões existe negligência. Tal fato compromete ou justifica as nossas constantes generalizações? Sabemos identificar, realmente, os problemas que merecem uma chamada de atenção dos médicos? Ou somos daqueles que falam da pessoa pra todo mundo e, menos para o interessado? Talvez, quem sabe, a melhora de algum profissional da medicina está dependendo de uma crítica mais verdadeira e direta da sua parte.  Crítica que não é direta e sincera é apenas fofoca. E, fofoca estraga a vida de qualquer vivente, inclusive de quem a alimenta.

Como é difícil agradar as pessoas. A dificuldade aumenta quando está associada à incompreensão. De fato, ninguém é perfeito. E, não dá para exigir 100% de eficiência de nenhum ser humano. Mas as pessoas são implacáveis, parece que têm um grande estoque de defeitos para jogá-los sobre aqueles que, segundo os julgamentos circunstanciais precisam de um rótulo.

A incompreensão e rotulação sobre os médicos acontecem sob diversos aspectos. Se atendem depressa são chamados de “dinheiristas”; se atendem devagar são “embrulhões”. Se erram num diagnóstico ou cirurgia são chamados de açougueiros; se acertam, nem um muito obrigado – “não fizeram mais do que a obrigação”, dizem. Se não receitam remédio, não são bons médicos; se receitam é porque estão ganhando comissão.

Rótulos e mais rótulos… Vá entender o povo!

ASSIM DIZ A PALAVRA: “Honre os médicos por seus serviços, pois também o médico foi criado pelo Senhor…” (Eclesiástico 30,1-4.6-14).

Você conhece os médicos de sua cidade? Já precisou do serviço deles? Contentou-se apenas em pagar-lhes ou foi-lhes, também, agradecidos? Já parou para pensar que, por mais limitado que seja um médico, precisamos de um para a nossa saúde? Você é também daqueles que detesta determinado médico só porque fulano disse isso, disse aquilo…?

Uma última pergunta: você teria pique para ser médico? Faria o que faz um médico?

O dia 18 de outubro já passou, mas, visite um médico para agradecê-lo e incentivá-lo no trabalho; ofereça alguma prece a Deus por ele; mande-lhe um cartão; faça uma chamada telefônica dando-lhe os parabéns; motive uma outra pessoa para fazer o mesmo. Lembre-se, muitos são os que criticam e procuram destruir com palavras mas, poucos são os que incentivam, valorizam e reconhecem o valor e o serviço dos outros. Se você quiser, pode ser um daqueles que incentivam e não sucumbem ao falatório sem freio.

Aos médicos dizemos: Perseverem na profissão, não como simples meio de capitação de recursos, mas como justo “ganha pão”; não como executor de técnicas, mas como quem está a serviço da vida; não como quem tem um número de inscrição junto ao Conselho de Medicina, mas como quem tem compromisso ético; não como quem não se aproxima para não se envolver, mas como quem se envolve para curar; não como quem atende em função do relógio, mas da necessidade do paciente; não como quem trata de um estranho, mas como alguém que cuida de um irmão.

ORAÇÃO: Senhor Deus, médico dos médicos, abençoai e santificai todos os médicos; dai-lhes sabedoria e discernimento para a boa realização do seu ofício; conduzi os seus passos para que possam ir ao encontro dos enfermos; sustentai as suas mãos para que promovam a cura dos males e doenças. Dai-lhes vida longa. Amém!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Diocese de Assis

 

O maior educador do mundo não cursou nenhuma faculdade. Seu ministério durou apenas três anos, mas sua doutrina atravessa milênios e produziu o maior acervo humano de estudos e considerações sobre o que ensinou com divina maestria. É claro, nos referimos ao detentor de toda Sabedoria, o Mestre dos mestres, Jesus de Nazaré.  Todo educador tem uma característica especial no ofício de ensinar. Seja no aspecto da abordagem, no tom da voz, na postura física, nos meios que usa ou mesmo no olhar, cada mestre utiliza-se de seus carismas para cativar a atenção de seus ouvintes e lhes transmitir novas lições, conceitos, ideias. É o segredo da pedagogia autêntica: cativar primeiro, transmitir depois.

Teria Jesus algumas dessas artimanhas? Quando completou doze anos, procurou os professores da época, os doutores da Lei. Foi ensinar aos mestres. Dizem os Evangelhos que aquela criança especial ensinou mais do que buscou aprender. A idade não era impedimento para manifestar a Sabedoria de que era detentor. Tranquilamente, sem alarde, sem presunção, o menino se pôs entre os doutores, “ouvindo-os e interrogando-os”. Pôs se à escuta, para conhecer o terreno. Algumas perguntas, como quem nada quer, possibilitaram-lhe avaliar melhor aqueles que se arvoravam em conhecedores da doutrina, senhores da Lei de Moisés, guardiões da conduta e da moral do povo de Deus. Mas o menino se dava a conhecer aos poucos. Com uma observação aqui e um comentário ali, revelou-se paulatinamente, a ponto de todos se silenciarem para melhor atenção às suas palavras. “Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas” (Lc 2,47). Fazia um preâmbulo para a mensagem que traria anos depois. Sua hora ainda não chegara! O menino Jesus “crescia em sabedoria e graça”, buscando os elementos básicos para aprimorar seus métodos de ensino, a mais perfeita das pedagogias da cultura humana.

Aos trinta anos, “cheio de força do Espírito, voltou para a Galileia”, para oficializar seu ministério. “Ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos”. Sua oratória possuía um timbre especial – não o dos grandes oradores – permeado pela simplicidade, sabedoria e a verdade límpida e cristalina de uma revelação de amor. Em Nazaré, onde se criou, ousou ler um trecho de Isaias (16) e o atribuiu como referência à sua pessoa. (O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu e enviou-me para anunciar…) Tranquilamente enrolou o livro e afirmou com simplicidade: “Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir” (Lc 4,21). Aqui começou a divisão. Aqui se plantou a discórdia dentre seus ouvintes. Poderia um simples filho de carpinteiro, conhecido de todos, arrogar para si tão sagrada missão?

A possibilidade de sucesso na arte de ensino exige, muitas vezes, o uso de máscaras, falsetes, jogo de cintura e até flexibilização de alguns conceitos, quando se quer conquistar um discípulo. Muitos dos nossos mestres se vendem dessa forma. Ensinam o que o aluno quer e não o que sua matéria pontifica. São cautelosos com suas doutrinas, para não ferir conceitos e costumes enraizados na cultura do ouvinte. Medem seus passos, no intuito de cativar um mínimo de simpatia. São condescendentes com práticas, ideias ou comportamentos às vezes contrários às próprias convicções. Falseiam a verdade que conhecem. Temem críticas à matéria ou comentários contra suas pessoas.

O Mestre dos mestres fez de sua doutrina um tesouro escondido, que se revela aos que o buscam com esforço pessoal. Não como aqueles que se inflam de sabedoria humana e facilmente se perdem dentro da prepotência do saber. O maior educador do mundo, apesar de detentor da sabedoria divina, aprendeu de sua paciência em observar a cultura humana. Soube, como ninguém, valorizar as lições de casa, atribuindo a si próprio toda sabedoria humana: “Eu sou o caminho, a verdade, a vida”…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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Se existir uma devoção mística capaz de preencher todas as carências e sensibilidades, anseios e necessidades, temores e audácias do animal que somos, essa figura tem um nome: mãe. Não há, em toda e qualquer estrutura humana de formação ou simples sobrevivência de um indivíduo, elemento mais importante e com funções tão bem definidas do que a figura materna. Nem biológica, nem psicológica, nem espiritualmente falando. Mãe é tudo; protetora, formadora, conselheira, companheira… Mãe é desafio, incentivo. Alegria nas vitórias, tristeza nas quedas, lenitivos nas dores, solidariedade sempre. É vida!

Por isso mesmo, a vida espiritual do ser carente e conflituoso que caracteriza o humano seria órfã sem a figura materna. Todas as religiões exaltam, de uma forma ou outra, a importância mística da maternidade. Jesus nos deu Maria. Seu significado e importância na vivência espiritual do cristão é o que de mais precioso herdamos durante o processo da obra redentora do Filho gerado – e não criado – como fruto bendito de um ventre feminino. Se neste coube tamanho milagre, quando o Criador se fez criatura, imaginem quantos mais caberiam em seu colo de amor infinito? A mãe de Cristo, por mérito e lógica da fraternidade que é centro da identidade cristã, tornou-se natural e consequentemente a mãe de todos o que se dizem irmãos em Cristo. Ou não? Discordar dessa lógica é negar a doutrina que nos faz irmãos.

Por isso, as manifestações marianas ao longo desses dois milênios de fé cristã é prova de que o zelo maternal de Maria cumpre seu papel. Não há em qualquer quadrante desse mundo terreno onde chegou a mística cristã, país, povo ou comunidade que não possua uma devoção mariana sob títulos dos mais diversos e representativos. Da misericórdia ao bom conselho. Da rosa mística à coroa das tristes chagas. Desatadora dos nós à rainha dos céus, estrela da manhã, lume da esperança. O ébano negro da África nos trouxe um de seus mais recentes títulos: Nossa Senhora do Dízimo, como a nos lembrar a triste negritude dos continentes que não partilham um pouco mais de suas riquezas ou ignoram a função santa da dimensão social da nossa fé. Mas ao povo brasileiro restou o título mais singelo, a revelar aquela que simplesmente apareceu entre nós, emergiu negra em sua concepção venerável, que se cobriu com o manto azul das estrelas e da abóboda do nosso céu abençoado pelo cruzeiro que aqui resplandece. Aparecida… aquela que se revelou e repetiu entre nós o milagre da pesca abundante. A mãe a nos ensinar o ofício do filho, a nos desafiar como Ele: “Lançai novamente as redes”!

Trezentos anos depois, aqui estamos. Relembrar esses fatos não pode ser apenas um momento comemorativo, um episódio histórico que tomou conta de nosso povo e fez da nossa mãe morena a padroeira da nação, a rainha da nossa fé cabocla, ainda adolescente em seu compromisso missionário. Ainda somos um povo carente de maturidade evangélica e, como tal, necessitado da proteção materna da Senhora de Aparecida, bem como da proteção sempre maternal da Santa Madre Igreja, esta que exerce a função de Maria entre nós. Quem vê Maria com o respeito e a admiração que devotamos às nossas mães, reconhece também a autoridade da mãe Igreja… Porque em ambas, Maria e Igreja, o que resplandece por primeiro é a doutrina do Mestre, para a qual tanto a Mãe quanto a Igreja ainda nos ensinam: “Fazei tudo o que Ele vos disser”! Trezentos anos não é nada. Estamos ainda engatinhando em nossa devoção. Mas esta dá ao mundo as provas de nosso respeito e admiração. A Maria devotamos o maior santuário mariano do mundo. Tijolo por tijolo, estamos construindo uma mística de gratidão materna que não se vê com tanta intensidade quanto aqui devotamos. Prova de amor e gratidão. Prova de fé, como bem cantamos nesta data: “Solidários no sacrário, missionários queremos ser. Pequenina, restaurada, a sua imagem nos ensinou a ser um povo que não sabe esmorecer”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]