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Quando alguém se põe a caminho tem um objetivo. O objetivo de uma caminhada é sempre chegar a algum lugar. A caminhada quaresmal, nos leva ao núcleo do Mistério da Fé: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Ora, como poderia alguém se colocar a caminho sem se envolver com tudo e todos, ao longo do caminho, e com o objetivo do próprio caminho? É certo que, sem fazer algumas opções e renúncias, no caminho, a finalidade da caminhada fica comprometida e prejudicada.

Será que não é a hora de revermos o caminho e a caminhada!

A Páscoa de Jesus está sendo, cada vez mais, subaproveitada. E é possível usufruir melhor deste grande acontecimento e memorial da fé.

O texto que se segue, é das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo (século IV), e nos ajudará a responder algumas questões pertinentes ao caminho e a nós mesmos.

“Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: ‘Imolai’, disse Moisés, ‘um cordeiro de um ano e meio e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão ? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.

Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

‘De seu lado saiu sangue e água’ (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa. Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ‘ossos e carne da minha carne’ (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.

Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento”.

A páscoa que, neste domingo, é uma data certa no calendário, para nós é o acontecimento mais importante na fé.

Celebremos a vida do Cristo em nós! Feliz páscoa para você!

É para a liberdade que Cristo nos libertou!

PE. EDVALDO JOSÉ DOS SANTOS




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          O processo de julgamento de Jesus é uma dessas peças jurídicas digna de estudo pormenorizado por aqueles que almejam sucesso na carreira advocatícia. É  pauta obrigatória nos estudos de bons profissionais nesta área. Por isso, a narrativa do evangelista Marcos (15,1-39), a mais sintática descrição dos detalhes da condenação e crucificação narrados pelos quatro evangelista, tornou-se fonte de argumentações tanto para a defesa, quanto para a acusação de qualquer réu em vias de julgamento. Presentes nessa minuta os meandros de uma acusação bem urdida e as interrogações não respondidas de uma defesa corrompida pelas ameaças e pela possível perda de popularidade junto aos manipuladores da opinião pública, os poderosos de plantão.

Começa pela questão central: “És tu o rei dos judeus?” Ou seja, és tu o articulador de um golpe contra nossos governantes, aqueles que detêm poderes de conduzir o povo a seu bel-prazer, de articular seus exércitos para manter a subserviência do povo, decidir sobre a vida de seus súditos conforme os interesses político-sociais em vigor? És tu aquele que se levanta contra a vida fausta, temerosa e ardilosa dos que se dizem sumo sacerdotes, defensores da Lei de Deus? “És tu o que há de vir, ou devemos esperar outro”, foi o questionamento daquele que já tinha a resposta em seu coração desde quando aquela voz ecoou num deserto e chegou aos seus ouvidos como retumbante brado da Verdade. Não era um rei, mas um cordeiro, conclui o Batista. E assim o apresentou ao mundo.

E, como todo bom cordeiro, caminhava agora em silêncio para seu próprio abatedouro! Seu silêncio falaria mais alto… “Nada tens a responder? Vê de quanta coisa te acusam!” O silêncio seria sua voz naquele deserto de desamor humano que se negava a escolher entre a verdade que liberta e a mentira que rouba a dignidade da vida humana. Jesus ou Barrabás? Liberdade ou libertinagem? Essas eram as opções que restavam àquela multidão alienada, manipulada em seus princípios e direitos de escolha lúcida, consciente, conforme lhes havia ensinado o réu em questão. “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar!” E agora, mestre sem tribuna, sem ação? Saia dessa, oh grande Messias! Mas Jesus apenas balbuciou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Quebrou o silêncio com um desabafo de quase decepção…, contra aqueles que o acusavam, o abandonavam na sua dor crucial.

A aparente derrota se agigantou após seu grito final, seu último suspiro nessa vida injusta e passageira. Aos olhos de um oficial romano, presente naquela via crucis de injustiças e humilhações sem limites, aos olhos de um aparente braço forte do sistema e do falso poderio humano sobre a própria vida, aos olhos daquele coração condoído por tudo o que presenciara naquele dia, surge uma lágrima de compaixão, quebra-se o silêncio de um coração condoído, solidário : “Na verdade, este homem era Filho de Deus!” A justiça então se faz…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




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A semana santa está ai! Começa neste dia 24 de março. Vamos vivenciá-la

Começando pelo Domingo de Ramos, a Semana Santa nos permite celebrar, mais de perto, o Mistério Pascal de Cristo entendido como sua Paixão, Morte e Ressurreição. Na Semana Santa vivenciamos os últimos momentos de Jesus iniciado pelo processo injusto que o sentenciou à cruz até a ressurreição comunicada, de antemão, para Maria Madalena. São momentos intensos, comoventes, chocantes, emocionantes. São momentos de tristeza, dor, medo, desespero e abandono misturado com alegria, esperança, confiança e coragem.

A Semana Santa tem o poder de nos fazer sentir gente com o humano sofrimento de Jesus e divino com a sua vitória sobre o pecado e a morte na cruz.

A Semana Santa é o resumo de uma história de fé baseada na obediência, no amor e na fidelidade, tanto sobre Jesus como sobre nós. Deste modo, a Semana Santa é a expressão não dos dias que se sucedem mas, do tempo que se cumpre na fé.

A Semana Santa é o tempo da maturidade no caminho da cruz!

Não podemos desprezar os tempos e nem os momentos. Não podemos perder a chance de fazer desta Semana Santa, a melhor de todas as Semanas Santas de nossa vida. Não podemos perder a chance, também, de fazer desta páscoa a melhor de todas as páscoas de nossa vida.

Para viver bem a Semana Santa, você não pode perder de vista, pelo menos, o TRÍDUO PASCAL que é o centro da Páscoa. Tem início na Celebração da Ceia do Senhor na noite da quinta-feira santa, passa pela Paixão e Cruz de Nosso Senhor, na sexta-feira santa, e chega até o domingo de páscoa, sustentando uma espera em oração, durante toda a noite, na vigília pascal ou sábado de aleluia.

A quinta-feira santa abre o Tríduo Pascal com a celebração de Instituição da Eucaristia (ou missa do lava-pés). Nesta noite recordamos o momento em que Cristo, reunindo os seus apóstolos, resolve dar à ceia pascal judaica, que celebrava a libertação do Egito, um novo sentido: o da libertação da morte e do pecado, com a sua cruz. Dentro desta ceia ele dá um mandamento, que é o seu, o único: “amem aos outros como eu amei vocês”. O sinal deste amor é a obediência e o serviço que vem do lava-pés: “dei o exemplo para que vocês façam a mesma coisa”. A afirmação fundamental desta celebração é que a Igreja faz e vive da Eucaristia.

A sexta-feira santa nos coloca diante do sofrimento e da dor de Jesus. Nós nos reunimos para comemorar e reviver a paixão do Senhor. A Igreja contempla Cristo que, morrendo, se oferece como vítima ao Pai, para libertar toda humanidade do pecado e da morte. Nós adoramos, nesta celebração, o mistério de nossa salvação e dispomos nosso coração, na fé e no arrependimento, para que possamos ser curados e santificados pelo Sacrifício do Cristo. A Cruz tem poder de salvar. Este é o único dia do ano que nunca se celebra missa, só se distribui a comunhão. A celebração deste dia tem quatro partes: paixão proclamada: liturgia da palavra; paixão invocada: solene oração universal; paixão venerada: adoração da cruz e paixão comungada: comunhão eucarística.

O Sábado Santo (ou sábado de aleluia)… este é o dia da espera! É o dia da Vigília Pascal… a noite mais clara de todas as noites do ano; é a maior de todas as celebrações da Igreja porque a LUZ do Cristo põe fim à escuridão. Nesta noite está o fundamento de fé da Igreja. Nesta noite declaramos e assumimos que nossa fé se fundamenta na força de um Deus morto e ressuscitado e disso não nos envergonhamos.  A celebração desta noite tem quatro momentos: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. A noite toda do sábado é celebrada em vigília (acordados) para vermos a madrugada da ressurreição.

Vamos viver a Semana Santa!

É para a liberdade que Cristo nos Libertou!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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          Circula nas redes sociais um vídeo de um menino, dez a doze anos mais ou menos, com uma mochila às costas, ameaçando seus professores na tentativa de fugir da escola. A criança diz palavrões impublicáveis, prometendo matar a todos, inclusive seus pais e familiares e dizendo que Jesus não existe, mas o Diabo sim! Por diversas vezes se declara fã e seguidor deste… E deixa estarrecidos, sem ação, sem palavras os adultos ao seu redor! E deixa no ar uma pergunta: o que nossas crianças estão assistindo, aprendendo no ambiente familiar? Donde vem tamanho desrespeito à vida?

Parece-nos perguntas sem respostas. Mas não. O que se ouve daquela criança totalmente revoltada com o mundo, com a vida, é um grito insano de uma sociedade sem Deus. Não há mais aquele desejo bem formulado pelos que se deixavam atrair pelas palavras de Jesus, tais quais aqueles gregos que se aproximaram de Felipe e lhe pediram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. Tal desejo foi realizado e o que ouviram de Jesus foi um enigma sobre o sentido da vida: “Chegou a hora… Quem se apega à vida, perde-a… Agora o chefe deste mundo vai ser expulso… quando for elevado, atrairei todos a mim” (Jo 12, 20-33). Ou seja, sem a cruz, sem a renúncia, sem dor e sofrimento ninguém verá o Cristo glorificado entre nós. Sem a aceitação do calvário que aqui padecemos não haverá vitória ou qualquer salvação possível.

O menino dessa escola é uma afirmativa clara e suscinta da descrença que nos assola. Ver Jesus tornou-se um premente desejo daqueles que apenas “ouviram falar” de sua proposta de mudanças radicais no padrão de comportamento humano, mas ignoraram a prática de suas palavras. Não basta o desejo de mudanças. O segredo do cristianismo autêntico passa, necessariamente, pela cruz, seu sinal de vitória, de glorificação divina! Quando o imperador Constantino, convertido à prática cristã, mandou colocar sobre o obelisco de Roma o estandarte da cruz, estava hasteando sua bandeira de vitória. Agradecia a Deus pela compreensão daquilo que se tornou seu lema imperial: “Com este sinal, vencerás”! Ora, se as cruzes sociais que hoje contemplamos, especialmente aquelas que nos assustam na dificuldade de educarmos nossas crianças para a fé, é preciso assumi-las com mais amor e carinho, com maiores convicções de que realmente só Jesus pode operar nesta causa, só Ele para nos tirar dessa sinuca em que nos encontramos, no descrédito que toma conta de tudo, de todos!

Chegou nossa hora! Hora de retomar nosso desejo de conhecer Jesus como realmente nossa única esperança neste mundo em trevas. Hora de desejar ouvir a voz de Deus a glorificar seu Filho na aceitação da cruz. “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!”. Não, não é um trovão que nos assusta, a voz quase fantasmagórica que os céus nos revelam, mas é o próprio Pai quem nos aponta o caminho a seguir. É por nossa causa, pelas dúvidas que nos afligem, pela realidade que nos assusta, pelas incertezas que se apossam de nossas crianças, filhos e netos que desconhecem, ignoram, ironizam nosso Cristo e sua cruz. Pai, afasta de nós esse cálice, esse cale-se!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 




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A cruz não é apenas um símbolo religioso, é um sinal da obra redentora de Deus, em vista da nossa Salvação. A cruz é a expressão mais autêntica do amor de Deus para com seu povo. Negar a Cruz é negar o Cristo, nas palavras de Paulo: “Uma coisa eu já disse muitas vezes, e agora repito com lágrimas: há muitos que são inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição; o deus deles é o ventre, sua glória está no que é vergonhoso, e seus pensamentos em coisas da terra” (Fl 3,18-19).  Assumir a Cruz é assumir o Cristo, nas palavras de Mateus “Então Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga’…” (Mt 16,24).

No seminário, quando ainda era estudante ouvi Dom Maurício, professor à época, afirmando, sempre o seguinte: “Sem o amor a cruz não seria verdadeiro poder e sem a ressurreição o poder não seria verdadeiro amor”.

A questão é a seguinte: “você está com disposição para assumir a fé com a exigência de cruz ou vai deixa-la continuar sendo um mundo mágico e esperanças pequenas e de momento?”

 

A CRUZ DE CRISTO É A FONTE DE TODAS AS BÊNÇÃOS E ORIGEM DE TODAS AS GRAÇAS (Dos Sermões de São Leão Magno, papa – Século V).

Que a nossa inteligência, iluminada pelo Espírito da Verdade, acolha com o coração puro e liberto, a glória da cruz que se irradia pelo céu e a terra; e perscrute, com o olhar interior, o sentido destas palavras do Senhor, ao falar da iminência de sua paixão: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado” (Jo 12,23). E em seguida: “Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora!’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu Filho”! (Jo 12,27). E tendo vindo do céu a voz do Pai que dizia: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo”! (Jo 12,28), Jesus continuou, dirigindo-se aos presentes: “Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei tudo a mim a mim” (Jo 12,30-32).

Ó admirável poder da cruz! Ó inefável glória da Paixão! Nela se encontra o tribunal do Senhor, o julgamento do mundo, o poder do Crucificado!

Atraístes tudo a vós, Senhor, para que o culto divino fosse celebrado, não mais em sombra e figura, mas num sacramento perfeito e solene, não mais no templo da Judéia,: mas em toda parte e por todos os povos da terra.

Agora, com efeito, é mais ilustre a ordem dos levitas; maior a dignidade dos Sacerdotes e mais santa a unção dos pontífices. Porque vossa cruz é fonte de todas as bênçãos e origem de todas as graças. Por ela, os que crêem recebem na sua fraqueza a força, na humilhação a glória e na morte a vida. Agora, abolida a multiplicidade dos sacrifícios antigos, toda a variedade das vítimas carnais é consumada na oferenda única do vosso corpo e do vosso sangue, porque, sois o verdadeiro Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo (Jo 1,29). E assim realizais em vós todos os mistérios, para que todos os povos formem um só reino, assim como todas as vítimas são substituídas por um só sacrifício.

Proclamemos, portanto, amados filhos, o que o santo doutor das nações, o apóstolo Paulo, proclamou solenemente Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra; Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1Tm 1,15). E é ainda mais admirável a misericórdia de Deus para, conosco porque Cristo não morreu pelos justos, nem pelos santos, mas pelos pecadores e pelos ímpios. E como a natureza divina não estava sujeita ao suplício da morte, ele assumiu, nascendo de nós, o que poderia oferecer por nós.

Outrora ele ameaçava nossa morte com o poder de sua morte, dizendo pelo profeta Oséias: Ó morte, eu serei a tua morte; inferno, eu serei a tua ruína (cf. Os 13,14). Na verdade, morrendo, ele se submeteu às leis do túmulo, mas destruiu-as, ressuscitando. Rompeu a perpetuidade da morte, transformando-a de eterna em temporal. Pois, como Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão (lCor 15,2).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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O contraste entre dia e noite, sol e lua é conhecido por qualquer ser vivo. Todavia, dentre estes, nós humanos somos os únicos a temer as trevas e apreciar a luz solar. Tanto que se tornou um quase elogio a afirmativa que nos define como filhos diletos do Pai: Vós sois filhos da luz, não das trevas! Quem nos definiu com tamanha clareza de espírito outro não foi senão aquele que se autodefiniu como sendo ele próprio a luz do mundo. Não parou por aí, pois numa conversa com Nicodemos foi bem suscinto ao afirmar: “a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más” (Jo, 3,19). Apesar dos temores, ainda preferimos as trevas. Contradição das contradições!

O contraditório está na maledicência de muitas das nossas ações sorrateiras, às quais a doutrina cristã denomina como pecado. Acontece que o pecado saiu de moda, não mais é aceito pela filosofia libertina e libertária das teorias psicológicas que tentam dar razão a tudo que o ser humano faz em sã consciência. O problema é exatamente esse: a sã consciência. Basta a ideia de que sua liberdade é maior do que os freios da moralidade ou da religiosidade, para que uma ação pecaminosa seja praticada sem constrangimento algum. Então o mal deixa de ser mal, porque as trevas que o encobrem já não assustam tanto. Ou, como bem afirmou Jesus: “Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas” (Jo 3,20). Já não reconhece o mal que faz. O importante é tirar proveito de tudo, mesmo que isto prejudique um semelhante. Azar o dele, pois o que importa é o benefício próprio, o eu na centralidade do tudo. Isso é o egoísmo. Esse é o grande pecado social dos tempos modernos. A escuridão que vivemos.

“Mas, quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3,21).  Aqui luz e trevas ganham um diferencial bem definido. Não há como ser luz e viver nas trevas ou ser trevas e manter-se na luz. “Não se esconde a luz debaixo da mesa”, diria Jesus, para ressaltar a importância dessa função para aqueles que fazem de suas vidas um farol, um guia luminoso por onde quer que marque presença.  A revelação de Jesus a Nicodemos foi deveras alvissareira, motivo de muito júbilo e alegria, pois Deus enviava seu Filho “não para condenar, mas para salvar”. Daí a razão de tanto júbilo presente nas celebrações do quarto domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria. Daí o porque do povo de Deus exultar-se com o anúncio da luz divina presente entre nós e em nós, através da nossa fé em Jesus, luz do mundo, espelho de Deus! Mas, principalmente, a descoberta pessoal de que também nos igualamos ao Cristo com nossa ação transformadora, nossa presença, nossa insignificância revestida da importância de fazer “brilhar” nossa luz em meio às trevas das incertezas humanas. ‘Que brilhe vossa luz no meio dos homens!”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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O tempo da quaresma é sempre promissor de horizontes de mudança e conversão. Neste tempo, as provocações da Palavra de Deus sinalizam elementos concretos para a vida nova almejada na conversão. São Leão Magno (papa, séc V), num belíssimo sermão aponta alguns elementos fundamentais de vida nova. Vejamos!

“Em todo tempo, amados filhos, a terra está repleta da misericórdia do Senhor (Sl 32,5). A própria natureza é para todo fiel uma lição que o ensina a louvar a Deus, pois o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe proclamam a bondade e a onipotência de seu Criador; e a admirável beleza dos elementos postos a nosso serviço requer da criatura racional uma justa ação de graças.

O retorno, porém, desses dias que os mistérios da salvação humana marcaram de modo mais especial e que precedem imediatamente a festa da Páscoa, exige que nos preparemos com maior cuidado por meio de uma purificação espiritual.

Na verdade, é próprio da solenidade pascal que a Igreja inteira se alegre com o perdão dos pecados. Não é apenas nos que renascem pelo santo batismo que ele se realiza, mas também naqueles que desde há muito são contados entre os filhos adotivos.

É, sem dúvida, o banho da regeneração que nos toma criaturas novas; mas todos têm necessidade de se renovar a cada dia para evitarmos a ferrugem inerente à nossa condição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos sem exceção, devemos empenhar-nos para que, no dia da redenção, pessoa alguma seja ainda encontrada nos vícios do passado.

Por conseguinte, amados filhos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo tempo, deve praticá-lo agora com maior zelo e piedade, para cumprir a prescrição, que remonta aos apóstolos, de jejuar quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas, sobretudo abstendo-se do pecado.

A estes santos e razoáveis jejuns, nada virá juntar-se com maior proveito do que as esmolas. Sob o nome de obras de misericórdia, incluem-se muitas e louváveis ações de bondade; graças a elas, todos os fiéis podem manifestar igualmente os seus sentimentos, por mais diversos que sejam os recursos de cada um.

Se verdadeiramente amamos a Deus e ao próximo, nenhum obstáculo impedirá nossa boa vontade. Quando anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14), proclamavam bem-aventurado, não só pela virtude da benevolência, mas também pelo dom da paz, todo aquele que, por amor, se compadece do sofrimento alheio.

São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite aos verdadeiros cristãos tomar parte na distribuição de esmolas, sejam eles ricos, possuidores de grandes bens, ou pobres, sem muitos recursos. Apesar de nem todos poderem ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade que manifestam.”

O profeta Isaías é bastante enfático e contundente ao ser porta voz destas palavras: “Vejam! O jejum que eu aprecio, o dia em que uma pessoa procura se humilhar, não deve ser desta maneira: curvar a cabeça como se fosse uma vara, deitar de luto na cinza… É isso que vocês chamam de jejum, um dia para agradar a Javé? O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente. Se você fizer isso, a sua luz brilhará como a aurora, suas feridas vão sarar rapidamente, a justiça que você pratica irá à sua frente e a glória de Javé virá acompanhando você. Então você clamará, e Javé responderá; você chamará por socorro, e Javé responderá: ‘Estou aqui!’” (Isaías 58,5-9).

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




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A preocupação está posta desde o início do cristianismo. Há aqui um profetismo de Jesus acerca do futuro de sua Igreja: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio (Jo 2, 16).Tanto que foi esse um dos raros momentos de impaciência e quase agressividade de Jesus ao expulsar aqueles vendilhões do Templo com um chicote às mãos. O chicote que o diga! Os que negociavam as ofertas (bois, ovelhas e pombas) às portas do Templo se viram momentaneamente prejudicados com aquela intervenção inesperada. A ação intempestiva e as duras palavras de Jesus contra o comércio que ali praticavam alertou as consciências mais sensíveis pela contradição de seus atos. Aproveitavam-se da fé popular para dela obterem lucro. Exploravam a ingenuidade daquele povo… Nada diferente dos dias atuais!

Mas não é bom generalizar. Há muitas e honrosas exceções! Nem sempre o aspecto financeiro dentro do ambiente religioso foi uma atitude meramente mercantilista ou de cunho oportunista por parte daqueles que cuidam das necessidades espirituais do povo de Deus. Há que se diferenciar estes, daqueles. As necessidades primárias para sustentação do culto e daqueles que se consagraram ao serviço do altar sempre existiram. São obrigações dos que se beneficiam desse serviço. Das doze tribos de Israel, uma tinha a função sagrada de servir e cuidar única e exclusivamente da questão litúrgica e espiritual de tudo o que se realizava no Templo. Era a Tribo de Levi, a família sacerdotal do povo de Deus. Mas, para tanto, era preciso que as demais tribos cuidassem das necessidades primárias desta casta de consagrados, não só no aspecto das necessidades básicas, como também em todas as questões relacionadas ao templo e à manutenção do culto. A estes se destinavam os dízimos e ofertas do povo.

Nada mudou desde então. As comunidades de fé continuam obrigadas a fazer frente a essas necessidades, ao sustento daqueles que tudo renunciam para servir ao altar do Senhor. O que acontece é o oportunismo de alguns que veem nesse serviço um meio de ganho fácil, de enriquecimento ilícito, de realização de falcatruas e ou negociatas com a fé popular… Então Jesus aprofunda a questão, ameaçando com a destruição do templo, de tudo, para uma edificação renovada, em três dias apenas. Seus ouvintes nada entenderam e viram nessa afirmativa uma questão de demência. “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” (Jo 2,20). Eis no que resulta a ignorância na fé e a opinião daqueles que não conhecem as belezas dos mistérios cristãos. Dentre eles a ressurreição. Dentre eles o templo de Deus que nos tornamos. Dentre eles a ação do Espírito em nossas vidas, que aceita e consagra nossas ofertas como sinal de gratidão a Deus por tudo que dele recebemos, temos e somos. Nessa perspectiva, nossos dízimos e ofertas nunca serão objetos de comércio ou negociata com Deus, mas sim canais extraordinários de graças e bênçãos.

Deixemos de lado a opinião mundana. Nessa relação de fé o que importa não é a quantidade do que temos para oferecer, mas a qualidade de nossos gestos de amor e responsabilidade para com as coisas e as causas de Deus. Se temos mais, se somos agraciados com dons e talentos maiores dos que os de muitos irmãos, temos sim que participar mais, contribuir com mais, fazer nossa parte sem nos preocuparmos com o julgamento e a opinião do mundo. O que importa é que Jesus conhece “o homem por dentro”!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 




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A vida sem alegria não tem graça… não tem ritmo… não tem assunto… não ter cor… não tem calor… não tem sabor… não tem festa. A alegria é uma das coisas mais preciosas da vida porque amplia o senso de realização e o prazer de viver.

A alegria não é uma válvula de escape; não é um subterfúgio; não é coisa de “bobos alegres”; não é fanfarronice; não é extravagância. A alegria é muito mais do que sorriso e risada. A alegria satisfação e contentamento. Alegria é um dom da fé. Por isso, é necessário que nos alegremos; que cultivemos a alegria. A alegria é tudo na vida!

Veja com que palavras somos exortados pela Sagrada Escritura:

Fl 4,4-6. “Fiquem sempre alegres no Senhor! Repito: fiquem alegres! Que a bondade de vocês seja notada por todos. O Senhor está próximo. Não se inquietem com nada. Apresentem a Deus todas as necessidades de vocês através da oração e da súplica, em ação de graças”.

Rm 12,15. “Alegrem-se com os que se alegram, e chorem com os que choram”

Jo 16,20. “Eu lhes garanto: vocês vão gemer e se lamentar, enquanto o mundo vai se alegrar. vocês ficarão angustiados, mas a angústia de vocês se transformará em alegria”

1Pd 1,6. “Por isso, vocês devem alegrar-se, mesmo que agora, se necessário, fiquem tristes por um pouco de tempo, devido às várias provações”

Is 29,19. “Os pobres voltarão a se alegrar com Javé, e os indigentes da terra ficarão felizes com o Santo de Israel”.

Is 12,3. “Com alegria vocês todos poderão beber água nas fontes da salvação”.

Ecle 3,12. “Então compreendi que não existe para o homem nada melhor do que se alegrar e agir bem durante a vida”.

Ecle 8,15. “Por isso, eu exalto a alegria, porque não existe felicidade para o homem debaixo do sol, além do comer, beber e alegrar-se. Essa é a única coisa que lhe serve de companhia na fadiga, nos dias contados da vida que deus lhe concede debaixo do sol”.

Eclo 31,27. “O vinho traz vida para os homens, desde que você o beba com moderação. Que vida existe quando falta vinho? ele foi criado para alegrar as pessoas”.

Pr 10,28. “A esperança dos justos acaba em alegria, mas a esperança dos injustos termina em fracasso”

Eclo 1,20. “O homem paciente resiste até o momento oportuno, e será recompensado no final com a alegria”.

Cl 1,12. “Com alegria, dêem graças ao Pai, que permitiu a vocês participarem da herança dos cristãos, na luz”

Rm 14,17. “O Reino de Deus não é questão de comida ou bebida; é justiça, paz e alegria no Espírito Santo”

Ninguém precisa inventar motivos para se alegrar; eles já existem e precisam ser descobertos. A alegria esta ao nosso alcance e é traduzida, também, como boa notícia.

Compartilhe a alegria! Entre no dinamismo das pessoas que se encontraram permitindo-se não, apenas, momentos de alegria, mas uma vida de alegria.

Alegre-se! Permita-se ao transbordamento de autenticidade que só é possível na alegria.

A alegria leva ao contentamento e, o contentamento muda as feições do rosto de qualquer pessoa, criando oportunidades múltiplas para o desabrochar da verdade, da liberdade e do amor.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 




Diocese de Assis

 

Algo que dá sentido à vida humana é a compreensão de quanto esta é bela. Melhor ainda quando essa descoberta vem acompanhada por uma revelação de fé, uma manifestação divina. Imaginem então o quão maravilhosa e espetacular foi a experiência do monte Tabor, onde a transfiguração humano/divina do Cristo Jesus deixou boquiabertos os três discípulos: Pedro, Tiago e João. Diz o evangelista que a visão desses três privilegiados foi algo tão extraordinário que estes não queriam voltar para a realidade do mundo aqui embaixo. Jesus lhes mostrava seu verdadeiro rosto. “Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas” (Mc 9,3). A visão beatífica, serena e transfigurada, coroada de luz e aureolada com as nuvens celestiais, era-lhes um espetáculo sem referenciais com a lógica do mundo. Tanto que sentiram medo a certo momento. Tanto que uma nuvem momentânea da dúvida os cobriu com sua sombra. Estariam sonhando? Seria real o que suas vistas contemplavam?

Nisso tudo resulta uma revelação de fé. A compreensão da beleza de Deus presente na divindade de Cristo é o primeiro passo para se aceitar sua doutrina e “descer do monte” de nossas incertezas e tribulações com mais convicção e ardor, dispostos e renovados pela verdade de seus ensinamentos. “Este é meu Filho muito amado; ouvi-o”. Esta é a voz que nos devolve à realidade, fortalecidos pela alegria de uma descoberta pessoal, intimista, mais familiarizados com os mistérios e as revelações de Deus em nossas vidas. Por isso a fé é um tesouro escondido, só plenamente revelado àqueles que se dispõem a “encarar” a luz divina presente no olhar humano do Cristo transfigurado. Mistérios de fé, nos dizem nossos sacerdotes ao apresentar a transubstanciação das espécies eucarísticas em corpo e sangue… É o milagre do Tabor, a transfiguração que nos foi dada contemplar nos dias atuais, nos nossos átrios de fé e devoção cristã. Por isso, é bom estarmos aqui, como testemunhas de um milagre que ainda podemos ver com nossos olhos mortais! Esse é o mistério, o segredo da fé cristã e de sua resistência até os dias atuais, até os dias finais

A correlação entre o milagre da transfiguração e a transubstanciação eucarística fica bem evidente no pedido que Jesus faz ao voltar para a realidade do mundo: “Não contem a ninguém o que viram aqui, até que eu tenha ressuscitado dos mortos”. A revelação viria depois, na despedida da última ceia, o grande mistério da fé cristã que se tornou “memorial da morte e ressurreição”, lembrança permanente do Cristo transfigurado, ressuscitado dentre nós e glorificado na glória de sua ascensão à direita do Pai. Esse é nosso Messias, nosso Salvador, o Filho de Deus, vivo! Por isso é bom viver, é bom estarmos aqui para glorificar pela vida que temos, pela oportunidade que nos dá o Pai criador de “guardarmos seus mistérios” em nosso coração pequenino, mas extraordinariamente grandioso quando agraciado pelas revelações que a fé nos possibilita testemunhar em vida. É bom estarmos aqui, neste mundo, contribuindo para que este seja melhor, mais humano e digno das bênçãos celestes. É bom sermos provas vivas dos milagres que ainda rondam nossas vidas e que muitos teimam em não enxergar. Assim pensando e agindo, um dia ainda iremos, como os discípulos, olhar ao derredor e ver em todos os semelhantes o rosto transfigurado de Cristo.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]