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Diocese de Assis

 

Procurando, na Bíblia, alguns textos para o artigo desta semana, senti um forte apelo do coração para escrever sobre a coragem. Sim! A coragem.

Ora, a coragem é entendida, muitas vezes, simplesmente, como destemor; como arroubo dos instintos e das pulsões ou como ação-reação de músculos e força física.

Não! A coragem não é nada disso!

A coragem é, na verdade, a energia interior que projeta o indivíduo para dentro das próprias convicções, de onde haure forças, entusiasmo, motivação, criatividade… para agir em qualquer situação e circunstância.

Corajoso não é o indivíduo que reage a tudo, forçado pelo momento, mas aquele que age movido pelo discernimento. Porque a eficácia de uma atitude não está na rapidez, mas, na lucidez.

A coragem é dom de Deus e vem de Deus!

Vejamos como, na Sagrada Escritura, a coragem é tratada ao longo de suas páginas:

“Sua prosperidade depende de você observar e praticar os estatutos e normas que Javé ordenou a Israel por meio de Moisés. Força e coragem! Não tenha medo, nem se acovarde” (1Cr 22,13).

“Então Davi falou a seu filho Salomão: Força! Coragem! Mãos à obra! Nada de medo ou receio, pois Javé Deus, o meu Deus, está com você. Ele não vai deixar nem abandonar você, enquanto não terminar o serviço de construção do Templo de Javé” (1Cr 28,20).

“Levante-se, porque este assunto compete a você. Estamos do seu lado. Coragem e mãos à obra” (Esd 10,4).

“Na verdade, eles nos queriam amedrontar, pensando que iríamos abandonar a obra, deixando-a sem acabar. Mas aí é que eu colocava mais coragem no trabalho” (Ne 6,9).

“O rei e aqueles que o rodeavam ficaram admirados da coragem com que o rapaz enfrentava os sofrimentos, como se nada fossem” (2Mc 7,12).

“Cada um anima o seu companheiro, dizendo-lhe: coragem” (Is 41,6).

“O Senhor Javé me deu a capacidade de falar como discípulo, para que eu saiba ajudar os desanimados com uma palavra de coragem. Toda manhã ele faz meus ouvidos ficar atentos para que eu possa ouvir como discípulo” (Is 50,4).

“Mas o justo persiste no seu caminho, e quem tem mãos puras redobra a coragem” (Jó 17,9)

“Lembra-te, Senhor, manifesta-te a nós no dia da nossa tribulação. Quanto a mim, dá-me coragem, Rei dos deuses e Senhor dos poderosos” (Est 4,17).

“Coragem, meus filhos! Clamem a Deus, e ele os livrará da opressão e das mãos dos inimigos” (Br 4,21).

“Jerusalém, tenha coragem! Aquele que lhe deu um nome a consolará” (Br 4,30).

“Que os pobres vejam e se alegrem. Busquem a Deus, e vocês terão coragem” (Sl 69,33).

“Jesus, porém, logo lhes disse: ‘coragem! Sou eu. Não tenham medo’” (Mt 14.27).

Não tenho dúvida de que só precisamos de coragem para continuar seguindo o caminho, mesmo com os maiores desafios.

Admita a coragem com outro espírito e viva mais confiante!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Inclusão e Dignidade: Transformando a Sociedade pela Integração da Síndrome de Down

 

No último dia 21, celebramos o Dia Internacional da Síndrome de Down, uma data que ressalta a importância de uma abordagem inclusiva, essencial para construir uma sociedade que valorize a diversidade e assegure igualdade de oportunidades para todos. Este momento nos convida a refletir sobre as nuances médicas, sociais e educacionais que permeiam a vida das pessoas com Síndrome de Down e a necessidade de superar perspectivas tradicionais que muitas vezes os marginalizam.

Com um olhar empático e compreensivo, podemos quebrar estereótipos e fomentar uma cultura de inclusão, onde pessoas com Síndrome de Down tenham a oportunidade de desenvolver suas capacidades e contribuir plenamente para a sociedade. Este processo demanda uma revisão crítica das políticas públicas, práticas educacionais e iniciativas sociais para integrá-las dignamente em todas as esferas da vida comunitária.

A Síndrome de Down é uma condição genética, conhecida como trissomia do cromossomo 21, que se caracteriza pela presença de um cromossomo extra. Essa característica afeta o desenvolvimento físico e intelectual, apresentando traços faciais específicos e habilidades intelectuais variadas. No Brasil, a prevalência desta condição nos anos de 2020 e 2021 foi significativa, reforçando a necessidade de políticas inclusivas e de apoio.

Reconhecendo nosso papel, é vital promover políticas que assegurem educação, emprego e programas de capacitação que valorizem as potencialidades desses indivíduos. Além disso, um sistema de saúde que ofereça suporte abrangente é crucial, incluindo acesso a terapias, tratamentos e cuidados preventivos personalizados.

A educação pública e a conscientização desempenham um papel central na mudança de percepção sobre a Síndrome de Down, visando a eliminação do preconceito e a criação de um ambiente inclusivo. O apoio às famílias, por meio de orientação, recursos e suporte financeiro, é fundamental para melhorar a qualidade de vida e enfrentar os desafios diários.

No contexto legal, garantir os direitos e enfrentar os desafios legais é essencial para a inclusão efetiva. As leis devem promover a igualdade e proteger contra a discriminação, assegurando acessibilidade, educação inclusiva, oportunidades de trabalho e participação social. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência é um exemplo de diretriz que busca promover esses direitos, embora sua efetivação ainda encontre obstáculos.

No cenário tecnológico atual, a inovação desempenha um papel crucial na facilitação da inclusão. Ferramentas tecnológicas, aplicativos educacionais e dispositivos assistivos têm o potencial de melhorar significativamente a qualidade de vida, a aprendizagem e a autonomia das pessoas com Síndrome de Down. Assim, o investimento em tecnologia assistiva e a garantia de seu acesso são passos importantes para eliminar barreiras e promover a participação ativa em todos os aspectos da vida.

A colaboração internacional é essencial para avançar na inclusão das pessoas com Síndrome de Down. Iniciativas globais e parcerias entre organizações internacionais, governos, ONGs e a sociedade civil podem impulsionar programas de conscientização, intercâmbio de boas práticas e políticas inclusivas. Essas ações conjuntas contribuem para a construção de um ambiente que valoriza a diversidade e a inclusão, não apenas como princípios éticos, mas como fundamentos de uma comunidade global interconectada e solidária.

Incorporar uma visão de inclusão global, apoiada pela tecnologia e pela cooperação internacional, não apenas reforça o compromisso com os direitos das pessoas com Síndrome de Down, mas também promove uma sociedade mais acolhedora e inclusiva para todos. Ao enfatizar a importância da inclusão em todas as esferas da sociedade, podemos assegurar que cada pessoa com Síndrome de Down tenha a oportunidade de viver uma vida plena, contribuindo para o enriquecimento cultural, social e econômico de nossas comunidades.

É necessária uma ação contínua e colaborativa de todas as esferas governamentais e da sociedade para superar esses desafios, promovendo a inclusão e respeitando a dignidade de cada pessoa com Síndrome de Down. Incorporar a perspectiva legal e de direitos reforça a necessidade de uma abordagem holística que assegure uma sociedade justa e igualitária para todos.

Mauro Bragato é deputado estadual.




As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!” Assim que terminou de pronunciar essas palavras, Jonas Abib, o padre, contou mais uma daquelas suas histórias que ensinavam verdadeiras lições de vida. Em seguida, com a voz cansada e as mãos trêmulas, abençoou os autores do livro de sua biografia, no meio da tarde do dia 13 de julho de 2022. Exatamente cinco meses depois, em 12 de dezembro do mesmo ano, ele faleceu, faltando menos de dez dias para completar 86 anos.

Na ocasião, a história que o padre contou foi a de um jogo de futebol entre São Paulo e Corinthians, no último domingo de agosto de 1949. Com 12 anos de idade e faltando uma semana para entrar no seminário, Jonas foi ao estádio do Pacaembu junto com o pai, o pedreiro Sérgio Abib, filho de pai libanês e mãe italiana, imigrantes.

Até o intervalo do primeiro tempo, era impossível prever o resultado. No final, ganhou o São Paulo, de 3 a 2. Foram três gols do astro Leônidas, o Diamante Negro! São-paulinos, pai e filho vibraram muito. Encerrada a partida, demorou mais de hora para chegarem em casa, no bairro da Cachoeirinha, lá longe, “a periferia da periferia, na época”, como contou o padre. Por pouco não tinham que percorrer a pé o caminho de terra que os levava à casa recém-construída, a primeira da família, nem pronta de verdade estava. Ônibus não havia naquele dia.

A morte de padre Jonas, em dezembro de 2022, e os meses muito difíceis que se seguiram levaram o projeto do livro a um ponto crítico, justamente na metade do período de um ano e meio dedicado à sua produção. O material jornalístico disponível era abundante e o padre já não estaria mais junto, revisitando com carinho as histórias que sentia sempre tanto prazer em contar. E nem poderia acompanhar o nascimento dos dezesseis capítulos da obra de mais de 500 páginas em que sua vida dialoga o tempo todo com sua fé em Deus, com a esperança e a vontade imensa de servir ao próximo.

 

Nem a morte, porém, impediu padre Jonas de contar as suas histórias, de mais de uma maneira. Histórias alegres, que teceram o arco de sua vida desde o nascimento, em Elias Fausto, interior de São Paulo, em 1936, até a sua morte, em Cachoeira Paulista (SP), na sede da comunidade religiosa que fundou: a Canção Nova. E histórias também tristes, não tão poucas assim.

Já aos 2 anos de idade teve que ser submetido às pressas a uma cirurgia dos olhos, em Campinas (SP), para não perder a visão. O pagamento do empréstimo que o pai precisou fazer durou anos, e obrigou a jovem família a se mudar muito cedo para a capital, em busca de trabalho. A família – pai, mãe e o filho Jonas – passa a morar nos primeiros tempos num porão, no bairro da Barra Funda. Pobre, muito pobre, era o que tinha condições de pagar.

Anos mais tarde, já na segunda metade da década de 1950, o pai arruma a mala para uma longa viagem até o Planalto Central, onde estava sendo erguida a futura capital federal, Brasília, inaugurada em 1961. O pedreiro Sérgio deixaria para trás por quatro ou cinco anos a esposa Josepha com a sua máquina de costura e seis filhos, dois meninos – o mais velho deles, Jonas, no seminário – e quatro meninas, a caçula mal tendo aprendido a andar.

O rosário completo das histórias mais sofridas de padre Jonas fala de doenças e cirurgias diversas e de muitas idas ao hospital, com uma frequência impressionante nos últimos anos de sua vida, até a morte, decorrente de um câncer. Inclui ainda um período dos mais difíceis – “terrível”, na expressão do padre – que desde São João da Cruz (1542-1591) se conhece pelo nome de “noite escura da alma”. Em alguns dos momentos mais dramáticos, parecia o fim. Já não conseguia rezar, perdera o sentido das coisas, se perguntava se tinha valido a pena a vida até então, tanta coisa feita, tanto sonho realizado!

Mas Jonas Abib, que nunca reclamava de nada, se mantinha de pé, do jeito como muitas vezes se aguentava. Ele soube ler, inclusive, na mais profunda depressão – mesmo às vezes com os lábios cerrados de dor e com os olhos turvos pelas lágrimas – um sinal de que estava sendo provado, qual Jó, no exercício da fé, da misericórdia, da paciência e da coragem.

Morreu com a alma leve, qual passarinho, tendo combatido o bom combate, na expressão do apóstolo Paulo. Pouco tempo antes havia redigido, à mão, o último documento que quis deixar para a comunidade que fundou. Era sobre “o hábito do sorriso”. Morreu sorrindo, docemente, em sua casa, cercado de perto e de longe pelas pessoas a quem tanto amou na vida, tendo instantes antes recostado a cabeça no travesseiro do leito hospitalar após ter rezado a oração do Anjo do Senhor.

Dimas Künsch é professor universitário e escritor, autor do livro “O Padre: a História de Vida de Jonas Abib”, junto com a jornalista Renata Carraro.




Diocese de Assis

 

É triste admitir, mas nossa fé está sempre rodeada por fantasmas. A lógica da natureza humana não permite a total compreensão dos mistérios, em especial aqueles sobre os quais não encontramos qualquer explicação racional. Imaginem o quão difícil foi para os discípulos de Jesus entender e aceitar o retorno do mestre ao convívio com eles, quando ainda se achavam assustados e temerosos com tudo o que testemunharam nas cenas da Via Crucis. Como acreditar no que viam, quando eles próprios haviam providenciado os perfumes e a sepultura para aquele corpo desfigurado e vilipendiado com tamanha violência? Como admitir seu retorno à vida? “Estavam vendo um fantasma” (Lc 24, 37). Só podia ser.

O maior entrave da fé é a lógica. Vivemos num mundo prisioneiro dos cinco sentidos (visão, tato, audição, olfato e paladar). Esquecemos que nossa alma possui uma acuidade especial, um sexto sentido, capaz de superar nossas lógicas e os fantasmas que nossas mentes constroem. Somos capazes de enxergar além da realidade que nos cerca. Essa capacidade, no entanto, deve ser bem apurada e direcionada, como a fé nos ensina. Caso contrário, continuaremos a ver fantasmas em tudo que nos rodeia e foge de nossa compreensão. Essa é a limitação daqueles que não purificam sua fé à sombra dos ensinamentos cristãos. Preocupam-se porque não conhecem a pureza desses ensinamentos. “Mas Jesus disse: ‘Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede’!” (Lc 24,38). O sexto sentido da fé pura e genuína complementa e aprimora os sentidos da limitação humana. Tocai e vede.

Eis porque a fé em Cristo não foge da realidade. Ainda nos é possível tocar e ver, sentir a presença divina entre nós graças aos mistérios da ressurreição. Ainda é possível sentar-se à mesa com Cristo, ouvir suas palavras, sentir seu amor, degustar o pão e o vinho, “alguma coisa para comer”, para reavivar a chama de uma esperança maior que nossas lógicas… Sim, a fé não cria fantasmas, mas reaviva em nós as promessas divinas: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei”… Era preciso que não se subtraísse nenhum til ou vírgula da Palavra de Deus…, se quiséssemos alcançar o dom do Entendimento, só concedido àqueles que não mais criassem fantasmas em sua caminhada de fé. Seria essa a graça maior que o Espírito Santo poderia oferecer àqueles que lhe fossem fiéis até o fim, o grande final dessa história de Amor e Fé. Sem falsas visões ou distorções doutrinárias, sem fantasmas!

Hoje, a fé dos tempos modernos supera as lógicas do pragmatismo mundano. Com uma visão maior e mais racional da vida e seus mistérios, ousaria até dizer que nossa fé cresceu em graça e sabedoria. Não diria ser maior do que aquela que nos demonstraram os discípulos de Jesus, que o tocaram e viram, mas com certeza mais amadurecida e coerente. Sabemos que o intelecto humano está mais desenvolvido. Sabemos que a ciência fornece todas as respostas que buscamos para decifrar os segredos da matéria. Mas só a fé explica os mistérios. Só ela é capaz de saciar nosso espírito e abrir nossa inteligência para o sexto sentido humano, o dom do entendimento. Sem essa sensibilidade de alma estaremos limitados à triste realidade de um corpo perecível. Vendo fantasmas onde deveríamos reconhecer o maior dos milagres da história humana, o Cristo Ressuscitado que caminha conosco!

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Espaço Espírita

 

 Se sofres, não agraves ainda mais as tuas dores com pensamentos infelizes.

A irritação, o medo e a revolta deixam o doente mais doente.

Mesmo cercado de dificuldades, dispões de infinitas possibilidades para manter a paz por dentro.

Recorre à prece.

Abriga um pensamento otimista.

Incentiva no Bem quem segue contigo.

Sobretudo, confia em Deus, que não desampara seus filhos.

Lembra-te de que, no mundo, as vidas seguem em direção ao seu porvir.

É provável que, em meio ao caminho, surjam pedras e calhaus a vencer.

Nada, porém, conseguirá impedir que desagues no mar do amor divino, onde fruirás da paz definitiva.

SCHEILLA

  Do livro “A Mensagem do Dia” – Psicografia: Clayton LevyEditora Allan Kardec

USE  INTERMUNICIPAL  DE  ASSIS

ÓRGÃO  DA  UNIÃO  DAS  SOCIEDADES  ESPÍRITAS  DO  ESTADO  DE  SÃO  PAULO

 

 




Regulamentação, já: entregadores do iFood merecem respeito  

 

Durante a pandemia de Covid-19, a atuação dos aplicativos de entrega de comida cresceu exponencialmente no País. Apesar de o serviço ter sido essencial no período de crise sanitária, a falta de concorrência no setor, com pouquíssimas empresas que recebem o pedido na plataforma e realizam o serviço por meio de entregadores, trouxe inúmeros problemas. Só o iFood, por exemplo, detém 80% de participação no mercado brasileiro.

Esta gigante do segmento de delivery se apresenta como “parceira” dos restaurantes. Porém, utiliza práticas comerciais predatórias: cobra taxas de até 30% sobre o valor do pedido, se nega a compartilhar dados dos clientes e, ao admitir estabelecimentos irregulares em sua carteira de entregas, pode colocar em risco a saúde dos usuários e promover concorrência desleal.

O iFood, enfim, se tornou um mal necessário para a maioria do setor de alimentação fora de casa. Mas outro inconveniente chama a atenção de bares e de restaurantes. Trata-se do descaso com que as empresas de aplicativos no geral tratam os entregadores. 

Importante frisar que, mesmo retendo 30% do valor total do pagamento feito ao estabelecimento, o iFood ainda cobra uma taxa de entrega do consumidor. Ganha, portanto, dos dois lados. No entanto, se recusa a valorizar e a proteger, de forma mínima, os motoboys e os ciclistas que se arriscam, em meio às adversidades do trânsito, para o pedido chegar rapidamente na ponta e na mesma condição com que saiu para o consumo. 

O governo federal quer regulamentar a atividade dos entregadores. Trata-se de proposta nada mais do que justa, e necessária, sendo que as empresas que intermediam o delivery e exploram esse ramo de atividade devem assumir sozinhas o custo / investimento. Ocorre que, os estabelecimentos gastronômicos, afeitos às leis vigentes, já arcam com os encargos e o registro do profissional que atende ao telefone, daquele que prepara o prato, do garçom e do funcionário que embala o pedido – só para citar algumas ocupações. Então, por que os entregadores são os únicos sem quaisquer direitos, sem proteção social? 

O Planalto, no entanto, não avança nas conversações, alegando que o iFood se recusa a negociar. Ao que parece, a empresa não entende que o conceito de modernidade, oferecido por ela mesma, precisa se adequar à regulação de atividades trabalhistas. O Brasil, afinal, não é terra sem lei. Há regramentos, limites e garantias que devem ser obedecidos pelos empregadores.

A regulamentação dos entregadores de comida no País é extremamente urgente. Além da segurança de motoboys e de ciclistas, a comodidade dos clientes não pode estar associada à exploração desses trabalhadores, que, se pudessem, estariam, certamente, em profissões menos perigosas e insalubres e que gerariam dividendos maiores no fim de cada mês.

Talvez, o iFood não esteja interessado em dividir seus ganhos para garantir direitos à peça fundamental do sucesso do aplicativo: o ser humano, o cidadão, o trabalhador – que merece ter, não apenas respeito, mas, sobretudo, seus direitos garantidos – é uma questão de justiça!

 

Edson Pinto é diretor-executivo da Federação de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares do Estado de São Paulo (Fhoresp); presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes de Osasco, Alphaville e Região (SinHoRes); mestre em Direito, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC); e autor do livro “Lavagem de Capitais e Paraísos Fiscais” (Editora Atlas).




Digitalização da saúde e os desafios na relação plano e consumidor

 

 

A digitalização da saúde, que compreende o uso de recursos tecnológicos e de Tecnologia da Informação (TI) para fins médicos, é um fenômeno que a cada ano se consolida e expande em todo o país. Grande responsável por essa aceleração foi a pandemia de Covid-19. Apenas entre os anos de 2020 e 2021, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital, foram realizadas mais de 7,5 milhões de consultas por telemedicina. E de lá para cá, a aderência é crescente, inclusive entre usuários de planos de saúde.

No contexto da saúde suplementar, a digitalização da saúde pode envolver mais que a realização de teleconsultas, incluindo aí a implementação de prontuários eletrônicos, que viabilizam a disponibilização de informações dos pacientes de modo mais amplo e ágil nas redes de saúde, e até mesmo o uso de Inteligência Artificial na relação entre médico, plano e paciente.

Nesse sentido, a legislação brasileira, por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula os planos de saúde, tem se adaptado para incorporar e regular essas novas práticas. No caso da telemedicina, por exemplo, ela foi regulamentada de forma emergencial durante a pandemia e, posteriormente, passou a ser objeto de regulamentação específica, permitindo que consultas, diagnósticos e até mesmo prescrições pudessem ser realizadas à distância.

Agora, em conjunto com essa legislação, a digitalização da saúde também deve ser acompanhada pelo que estabelece a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que determina o respeito aos princípios da confidencialidade, privacidade e segurança dos dados dos pacientes. Assim, os planos e os prestadores de serviços de saúde devem garantir a proteção dos dados pessoais, adotando medidas técnicas e administrativas adequadas para prevenir acessos não autorizados e situações de vazamento de informações. A segurança dos dados se apresenta, assim, como um fator a ser tratado com rigor e investimento de quem atua no setor.

Há, também, outro ponto de atenção: a digitalização não deve restringir o acesso dos usuários aos serviços de saúde. Os planos de saúde devem assegurar que a oferta de serviços digitais seja um complemento e não uma substituição ao atendimento presencial, garantindo que todos os usuários, independentemente de sua familiaridade com a tecnologia ou acesso à internet, possam receber atendimento adequado. Os usuários têm o direito de ser informados sobre as modalidades de atendimento disponíveis, incluindo as opções digitais, e devem consentir de forma livre e esclarecida sobre a utilização desses serviços.

A escolha pelo tipo de atendimento deve ser definida pelo paciente, respeitando-se sempre a autonomia do indivíduo e as diretrizes clínicas para cada caso. É importante ressaltar que diversas situações de não conformidade com esse quesito têm acabado na Justiça, com decisões favoráveis aos contratantes dos convênios médicos.

Sem dúvidas, a digitalização da saúde traz boas oportunidades e alternativas para seus usuários. A telemedicina veio para ficar e deve continuar ganhando espaço nos próximos anos. O avanço da tecnologia e a evolução da Inteligência Artificial favorecerão upgrades nesse formato de atendimento médico, o que deve trazer boas experiências para pacientes e para médicos, não só no atendimento quanto também nos cuidados e prevenção à saúde.

Agora, para que tudo isso funcione como se espera, também é fundamental que os profissionais do direito que atuam nessa área estejam atentos às constantes e necessárias atualizações legislativas e regulamentares, bem como às discussões éticas e jurídicas que surgem com a evolução tecnológica na saúde. A digitalização traz benefícios significativos para a prestação de serviços de saúde, mas também impõe desafios relacionados à proteção de dados pessoais e à garantia dos direitos dos pacientes.

 

Natália Soriani é especialista em Direito da Saúde e sócia do escritório Natália Soriani Advocacia

 




Desafios da proteção de dados e a fraude na saúde: uma questão de bilhões de reais

 

 

 

Segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), a partir de pesquisa realizada pela consultoria Ernst &Young (EY), R$ 34 bilhões dos gastos das operadoras médico-hospitalares com contas e exames, em 2022, foram consumidos indevidamente por fraudes, como, por exemplo, reembolso sem desembolso, além de desperdícios com procedimentos desnecessários no país.

No ano passado, a imprensa deu um bom espaço para casos de empresas que demitiram colaboradores por justa causa. Essas demissões foram fundamentadas juridicamente por práticas fraudulentas, infração ética, quebra de confiança na relação de trabalho, violação das políticas internas, entre outros pontos.

E um questionamento ganhou a cena: como essas empresas tiveram conhecimento das ações envolvendo, inclusive, questões de saúde de seus funcionários? A utilização de informações sensíveis precisa acompanhar princípios legais defendidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A legislação impõe que sejam considerados elevados padrões de segurança de informações pessoais. Porém, embora a LGPD imponha limitações ao acesso e ao uso de dados em saúde, existem métodos legais que as organizações do setor e as companhias podem adotar para gerenciar os planos de saúde e otimizar as suas operações.

As empresas contratantes de convênio médico, por exemplo, podem monitorar a utilização dos seus colaboradores e dependentes, é um método que passa pelo consentimento no uso dos dados. Porém, é importante ter transparência e governança para implementar essa supervisão, é necessário que todos saibam o momento que essas informações serão utilizadas e compartilhadas.

Outro método que também pode ser adotado é a parceria das organizações de saúde com entidades autorizadas para acessar e processar determinadas informações dos beneficiários, sempre em conformidade com a LGPD.

Hoje, mesmo com essas possibilidades de gerenciamento do sistema, o setor da saúde está passando por um momento turbulento, com a sua sustentabilidade fortemente ameaçada. Por isso, o combate às fraudes tem que ganhar cada vez mais espaço. Afinal, temos aí uma questão de bilhões de reais. As perdas prejudicam a sinistralidade, o desempenho das operadoras e impactam diretamente as mensalidades dos planos de saúde.

Entidades do setor, como a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), têm divulgado amplamente informações sobre como utilizar corretamente o convênio médico, apontando situações de violação que podem levar o usuário a perder seu benefício ou responder a um processo criminal. Por exemplo, emprestar carteirinhas, fraudar reembolsos, falsificar pedidos médicos, entre outros.

Alegar desconhecimento das regras do jogo já não cabe mais! Precisamos achar soluções para os desafios enfrentados na gestão de colaboradores e benefícios empresariais perante a LGPD.

 

 

Claudia Machado é VP de Benefícios da Howden Brasil, corretora especializada em seguros de alta complexidade, presente em mais de 50 países.




Diocese de Assis

 

Nada há de mais desagradável para um convalescente qualquer do que alguém tocar-lhe a ferida ainda em aberto. A dor retorna com igual intensidade, tal qual quando adquirida de uma forma ou de outra. Dói até na alma, costumamos dizer. Pior ainda quando essa provocação vem acompanhada pela dúvida, pela ironia, pela indiferença…

Não diria ser esse o caso de Tomé, mas a dúvida estava ali presente. ”Se  eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20,25). A incredulidade sempre exige provas convincentes, palpáveis. Não seria diferente com o apóstolo retardatário, aquele que esteve ausente na primeira manifestação do Cristo redivivo em meio a seus discípulos. Mas a visão daquelas chagas foi tão impactante que só lhe restou prostrar-se diante do Mestre e exclamar: “Meu Senhor e meu Deus!”. As feridas ainda recentes por certo causavam dores, senão ao Cristo que sobrepujara uma cruz e um túmulo da perversão humana, ao menos e principalmente aos olhos atônitos e envergonhados daqueles que testemunharam ali a crueldade de que foram capazes os poderosos de seu povo. A que ponto chegaram!  As provas ali estavam, sangrando no corpo e na alma de todos.

As feridas abertas poderiam ser sanadas do corpo glorioso de Jesus. Não havia razão para mantê-las visíveis, já que a vitória sobre a morte era uma transposição que apagava todo e qualquer vestígio de uma derrota circunstancial. Cristo morreu, mas não se deixou derrotar. Cristo saiu do sepulcro com seu corpo glorificado, sem nunca se deixar manchar por qualquer nódoa de nossos pecados. Essa foi sua maior vitória: apagar de vez a derrota vergonhosa proporcionada pelo pecado original. Cristo venceu a morte e nos devolveu a plenitude da vida, a cura definitiva que a alma humana ansiava por alcançar. Desde então, as feridas ainda abertas que rondam nossa história aí estão, por conta do nosso livre arbítrio, o direito que temos de acreditar ou não nas promessas de Deus. Mas preferimos cutucar nossas feridas com a tosca visão dos mistérios que ainda turvam a fé em Cristo Ressuscitado.

Muitas portas permanecem fechadas em nossas vidas porque não abrimos nossos corações para a ação de Deus. Ele, por primeiro, nos mostra as mãos e o lado de seu Filho ferido por nossa ingratidão, mas logo a seguir nos reenvia ao mundo, com a missão de levar adiante sua Paz e Amor sem limites. Perdoa-nos pelo maior dos nossos pecados, a rejeição de sua graça, de sua ação entre nós, em nós. É tempo de percebermos nossa mesquinhez, ao exigir provas, ao desejar o toque ridículo e inútil de nossos dedos na ferida que causamos a seu Filho. É tempo de vestirmos a carapuça de nossa indignidade e esconder a vergonha de nossa prepotência. Parar de exigir de Deus as provas de uma crueldade que só aconteceu por conta de nossos pecados, nossa culpa pura e simples. Caso contrário, as feridas voltarão a se abrir, a vazar, a pulsar em sua dor lancinante, não em Cristo, mas em cada um de nós, lançados ao léu no fogo das maldições eternas. Porque as brasas da geena e as lanças dos algozes de Cristo são capazes de queimar e ferir de morte muitos dos que duvidam  das Verdades de nossa fé. Não cutuque essas feridas ainda mais!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Espaço Espírita

 

Alegas não possuir o bastante para fazer o bem, quando na verdade o bem pede tão pouco de ti.

Reclamas escassez de tempo. Entretanto, bastam poucas horas por semana para cooperar na assistência fraterna.

Referes-te à dificuldade de expressão. Contudo, ninguém precisa da tribuna para ser solidário.

Relacionas despreparo intelectual. Todavia, a palavra de encorajamento dispensa título acadêmico.

Relatas saúde deficiente. No entanto, a visita ao enfermo solitário não é prova de atletismo.

Anotas falta de dinheiro. Entretanto, o talão de cheques não substitui o abraço de conforto.

Relacionas compromissos profissionais. Contudo, todos estamos compromissados de alguma maneira nos caminhos do mundo.

Faze agora todo o bem possível, porque é provável que hoje o pouco seja suficiente, ao passo que amanhã o muito talvez chegue tarde demais.

ANDRÉ LUIZ

Extraído do livro “Decisão” – Editora IDE – Psicografia: Antônio Baduy Filho

USE  INTERMUNICIPAL  DE  ASSIS

ÓRGÃO DA UNIÃO  DAS  SOCIEDADES  ESPÍRITAS  DO  ESTADO  DE  SÃO  PAULO