1

Diocese de Assis

A Páscoa da Ressurreição que a Igreja celebrou no último domingo é muito mais do que uma tradicional celebração Católica que encerra a Semana Santa; é muito mais do que uma solene cerimônia religiosa; é muito mais do que uma grande concentração religiosa. O que celebramos é o fundamento da fé. É a essência do cristianismo. É a razão de ser da Igreja Católica: sua origem, sua missão e finalidade.

O eixo da páscoa é o eixo da vida da Igreja: o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Portanto, a Igreja vive da páscoa que celebra e experimenta cada dia, na celebração eucarística, o Cristo Vivo num estado de páscoa permanente. Neste Sentido o Mistério que celebramos no domingo passado não tem fim. Pelo contrário, renova-se a cada dia e renova a própria Igreja.

A liturgia oferece, nesta semana, o que chamamos “oitava da páscoa”. É uma semana vivida como se fosse um dia, o domingo da ressurreição. Enquanto se prolonga por uma semana, o domingo da ressurreição mostra a força de renovação da vida, num tempo que não tem fim. Deus, não só espalha a semente da vida em todos os lugares deste mundo, mas a faz germinar, contrariando e vencendo o espírito de morte, mostrando a força das obras de suas mãos, principalmente, sobre o homem.

A obra de Deus é admirável na criação, mas, muito mais admirável, na redenção, diz uma oração proclamada no Sábado Santo. E é exatamente essa a profundidade do Mistério Pascal: Deus não criou o ser humano e o abandonou ao poder do nada. Ele criou e cuida, bem de perto, com as mesmas mãos, os que fomos constituídos seus filhos e filhas.

Somos testemunhas de que nada tem faltado à Igreja, ao longo dos séculos, porque a providência de Deus sempre chegou antes das nossas necessidades. É preciso admitir: o que necessitamos é sempre muito diferente do que pedimos e queremos. Por isso, a providência de Deus manifestada pela Páscoa da Ressurreição é o tudo que nos têm faltado e não sabemos compreender e experimentar.

Diante disso, que postura de fé precisamos assumir? É preciso viver a fé de modo eucarístico. Fazer da Eucaristia, não apenas um ritual do templo, mas uma celebração da vida que desperta para a mesma prática de Jesus, os mesmos sentimentos de Jesus, o mesmo espírito de Jesus, o mesmo amor de Jesus, a mesma dinâmica de Jesus, a mesma coerência de Jesus, a mesma ousadia de Jesus, a mesma obediência de Jesus porque “Ele, apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus, mas se esvaziou de si e tomou a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens. E mostrando-se em figura humana, humilhou-se, tornou-se obediente até a morte, morte de cruz. Por isso Deus o exaltou e lhe concedeu um título superior a todo título, para que, diante do título de Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e no abismo; e toda língua confesse, para a glória de Deus Pai: Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2,6-11, segundo a Bíblia do Peregrino).

Eu me alegro em compartilhar com todos essas poucas linhas e dizer, como sacerdote, o quão maravilhoso é celebrar a Eucaristia e, inspirado por ela, ser chamado a viver uma vida como a de Jesus. Não é o fato de ser sacerdote que me faz capaz de viver como Jesus, mas, a Eucaristia que a Igreja recebeu como herança para si e para todos quantos dela se aproximarem como discípulos de Cristo.

É por isso que, a vida do Cristão só se faz verdadeira em estado de páscoa permanente. Isto é dom de Deus!

O apelo da páscoa continua insistente e instigante nas lutas diárias, por uma consciência de pertença ao Corpo de Cristo, seja no tecido eclesial ou social. Somos chamados, durante todo o ano 2024, a dar testemunho do ressuscitado e da ressurreição em nossas vidas!

PE. EDVALDO JOSÉ DOS SANTOS




O País dos Golpes

 

A ideia de que a Lei é o conjunto de decisões tomadas pela sociedade e que sustenta seus valores comuns e, por isso, deve ser obedecida por todos, não teve uma grande aceitação no Brasil ao longo de sua história. Colônia de exploração, os grupos que foram se consolidando por aqui viram essa terra e o seu povo como meios ou obstáculos para seus interesses, nunca como partes de um projeto comum, no qual cada um dá sua cota de sacrifício e todos usufruem o que produziram coletivamente. Por isso, o Brasil é o país no qual os ricos acham que as políticas afirmativas são uma forma de “privilégio” para os pobres, e reclamam disso. No Dia Internacional da Mulher, ouvi de um homem branco e rico: “acho injusto que não tenha um Dia do Homem”. E emendou, cheio de ira cívica: “depois essa gente ainda vem com essa conversa de igualdade”.

O golpe de Estado é a expressão dessa ausência de espírito coletivo. Quando a lei afeta os interesses, põe em risco os privilégios consolidados por anos e anos de exploração, a Lei é que padece. Ela não é um limite que pertença ao ethos  social, mas um empecilho tolerado parcialmente. Até quando não é mais. E então vem o golpe.

Observem uma breve lista dos golpes nacionais que tivemos desde que o Brasil produziu sua primeira Constituição como nação independente. Ficam de fora os milhares de golpes nas leis estaduais e municipais e nas regras fundamentais que são simplesmente ignoradas, como a inviolabilidade do domicílio ou a presunção de inocência ou a proibição de castigos físicos ou da prática de tortura, passando pelo trabalho análogo à escravidão, entre tantos outros.

Atendo-se apenas aos golpes de Estado, temos: em 1823, um ano após a Independência, o próprio Imperador dá um golpe, fecha a assembleia constituinte e justifica: “a lei deve ser digna do país e de mim”. Prende os deputados e impõe sua própria constituição, feita à sua imagem e semelhança. Em 1840, diante de um quadro de agravamento social, com a população pobre exigindo direitos, os Liberais e Conservadores se unem para salvar seu “modo de vida” e burlam a constituição para entregar o poder ao menino Pedro de Alcântara, com 14 anos e meio. Pedro governaria, mantendo a escravidão, principal ativo das elites rurais, por 48 anos dos seus 49 anos à frente do país.

Em 1889, outro golpe, o primeiro perpetrado pelos militares, inicia a República. Logo a seguir, Deodoro, o primeiro marechal presidente, fecha ilegalmente o Congresso. Na sequência, Floriano, recusa a obedecer a Constituição e se nega a marcar novas eleições. Pouco depois, florianistas tentam matar o primeiro presidente civil do país, Prudente de Morais. A República começa fervendo em meio a disputas de grupos civis e militares pelos espólios da Monarquia. Quanto à Lei, ora, a Lei…

Depois de um período de calmaria, com o arranjo pelo alto firmado pelos cafeicultores e militares funcionando razoavelmente, a ideia do golpe de Estado volta com força nos anos 20: os jovens tenentes se rebelam para “moralizar” o país e acabar com a corrupção, devolvendo a Nação ao Estado e ordem e progresso. Por meio da Lei? Não, das armas. Em 1930, o golpe se consuma e mais um presidente perde o mandato pela força. Assume o gaúcho Getúlio, um civil apoiado por militares. Em 1932, há uma guerra civil, com os paulistas tentando, pela força, retomar as rédeas do país. Em 1935, os comunistas têm a sua chance, sem sucesso. Em 1937, o próprio Getúlio dá um golpe para governar com mais liberdade, porque a Lei o atrapalhava. Em 1938, os integralistas tentam matá-lo, mas não conseguem. Em 1945, os militares param de apoiá-lo e Getúlio cai.

Contaram quantos golpes e tentativas de golpe? Perderam-se nas contas? Calma, que tem mais. Em 1954, Getúlio é acuado por um golpe civil-militar e suicida-se. Na sequência, outra vez, civis e militares se unem para impedir a posse de Juscelino, mas o ministro da Guerra, um raro legalista, impede a aventura; de qualquer forma, Juscelino sofre duas outras tentativas de golpe, em Aragarças e Jacareacanga, mas sobrevive e termina o mandato. O sucessor, Jânio, dura 7 meses e renuncia. E lá vem mais golpe. Os militares tentam impedir a posse do vice, João Goulart. O país pega em armas, dividido. A solução parlamentarista alivia as tensões. Até 1964, quando, outra vez, militares e civis se unem para alterar a ordem e adequá-la aos seus interesses. Mais um golpe.

Nos 21 anos de regime militar, a ideia de obediência às regras e à Lei foi história pra boi dormir. Ocorreram vários golpes dentro do golpe, como o Ato Institucional número 2, que alterou arbitrariamente a Constituição, proibindo a eleição direta de presidente e fechando os partidos existentes; ou o Ato 5, que fechou o Congresso e suspendeu o habeas corpus. Em 1969, os militares impedem, inconstitucionalmente, a posse do vice, Pedro Aleixo. Enfim, uma bagunça sem fim.

Quem conhece um pouco a nossa História não se surpreende com a dificuldade profunda de muitas autoridades e de parte das elites em respeitar as regras do jogo, com apoio animado de amplos setores da sociedade, particularmente dos setores médios, sempre insatisfeitos e sempre temerosos de suas posses e posições sociais. O que surpreende é que não há, ainda, em pleno século XXI, uma luz no fim desse túnel. Evoé, novos golpistas!

Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso e Colégio Positivo.

@profdanielmedeiros




Espaço Espírita

 

Auxiliemo-nos para sermos auxiliados. Se algum companheiro perde a força do ideal, sejamos aquele suporte de amor que o escore na travessia do desânimo, a fim de que o vejamos refeito para a bênção do Serviço.

Se outro sofre provações ou privações de qualquer natureza, sejamos nós o apoio sobre o qual se mantenha para atingir novamente a segurança precisa.

Se outro se desgoverna na sombra da irritação, façamo-nos, junto dele, o silêncio e a prece capazes de repô-lo na rearmonização necessária.

Se outro ainda nos pareça indiferente ou distante, envolvamo-lo em calor de entendimento e ternura, a fim de que volte ao clima da paz e da eficiência em louvor do Cristo.

Em síntese, convertamo-nos, por amor, em suplementações uns dos outros, no levantamento do bem, de vez que, assim agindo, estaremos glorificando a bendita herança do trabalho que Jesus nos legou, não somente ofertando-lhe o rendimento justo, mas, também, cumprindo o excelso programa de nosso Divino Mestre, quando nos exortou:

– Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

BATUÍRA

Extraído do livro “Mais Luz” – Editora GEEM 

Psicografia: Francisco Cândido Xavier

USE  INTERMUNICIPAL  DE  ASSIS

ÓRGÃO  DA  UNIÃO  DAS  SOCIEDADES  ESPÍRITAS  DO  ESTADO  DE  SÃO  PAULO




Diocese de Assis

 

É mais fácil acreditar na hipótese de um roubo, uma malandragem qualquer, do que na possibilidade de um milagre. Foi essa a primeira reação dos discípulos diante do túmulo vazio onde horas antes haviam depositado o corpo do Senhor. Profanaram seu túmulo, roubaram seu corpo. Não lhes passava pela cabeça aquela estranha linguagem profética de que o Messias haveria de ressuscitar dos mortos.

Ainda hoje essa linguagem é muito dura para a lógica da vida: nascer, crescer, morrer. Ainda hoje muitos teimam na possibilidade do roubo, afastando por completo o maior dos milagres de que se tem notícia na frágil e finita história humana. Como assim, ressuscitou? A possibilidade de um morto voltar à vida foge completamente da lógica, da biológica… real e primária na definição do ato de viver… e morrer! Não, definitivamente não. Um atestado de óbito não dá margens para rasuras, alternativas contrárias ao que se atesta. Então, melhor aceitar as evidências dos fatos: roubaram o corpo do Senhor!

Acontece que nenhuma lógica humana é maior do que o milagre da própria vida. Se Jesus, redentor e restaurador da maior obra divina, se sua missão era justamente nos devolver a graça, reatar a plenitude da vida, a morte não poderia ter efeito sobre Ele, nunca, jamais! Mesmo que não houvesse a crucificação, que sua morte viesse naturalmente como a qualquer ser vivo, mesmo que os anjos o resgatassem milagrosamente desse vale de lágrimas, se não houvesse a ressurreição, seria vã nossa fé. Conclusão lógica e bem amadurecida no testemunho do apóstolo que conheceu Jesus em sua vida ressurrecta, em uma estrada de Damasco. Quem lhe revelou tamanha ciência teológica senão o Cristo em pessoa? Como explicar seu ardor missionário, sua entrega total e incondicional à doutrina que lhe foi revelada?

Mas as provas que o mundo exige vão além da realidade que limita nossa compreensão. Estão lá, aos rês do chão de um túmulo emprestado, usado provisoriamente, mas capaz de abrigar as evidências de um milagre imensurável. São panos ensanguentados, sujos e impregnados de muito suor e lágrimas, que por certo verteram dos olhos de sua mãe, naquele colo diáfano, naquela despedida de piedade. São “as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20, 6-7), Quem os enrolou? Por que? Mais um enigma para nossa fé pequena. Seria esse o Sudário de Turim, a famosa peça motivo de estudos, veneração e revelações minuciosas da imagem de um homem crucificado? O milenar pano de linho sobre o qual a ciência humana tem se debruçado com avidez e curiosidade, mas sem explicações lógicas para os mistérios ali ocultos?

Como vemos, os mistérios da fé cristã ultrapassam qualquer lógica da precavida sabedoria humana. Mas o apóstolo dos gentios e pagãos tem sempre uma palavra  de ânimo para nossas incertezas: “Aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres”. Perder-se no emaranhado das coisas falíveis e perecíveis é fácil, mas abandonar-se na esperança de uma vida imorredoura, uma fé perene e imortal é muito melhor. Não deixe que a dúvida também lhe roube a alma, além do corpo jogado na geena… O túmulo vazio de Jerusalém nos diz tudo isso.

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Diocese de Assis

Quando alguém se põe a caminho tem um objetivo. O objetivo de uma caminhada é sempre chegar a algum lugar. A caminhada quaresmal, nos leva ao núcleo do Mistério da Fé: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Ora, como poderia alguém se colocar a caminho sem se envolver com tudo e todos, ao longo do caminho, e com o objetivo do próprio caminho? É certo que, sem fazer algumas opções e renúncias, no caminho, a finalidade da caminhada fica comprometida e prejudicada.

Será que não é a hora de revermos o caminho e a caminhada!

A Páscoa de Jesus está sendo, cada vez mais, subaproveitada. E é possível usufruir melhor deste grande acontecimento e memorial da fé.

O texto que se segue, é das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo (século IV), e nos ajudará a responder algumas questões pertinentes ao caminho e a nós mesmos.

“Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: ‘Imolai’, disse Moisés, ‘um cordeiro de um ano e meio e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão ? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.

Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

‘De seu lado saiu sangue e água’ (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa. Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ‘ossos e carne da minha carne’ (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.

Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento”.

A páscoa que, neste domingo, é uma data certa no calendário, para nós é o acontecimento mais importante na fé.

Celebremos a vida do Cristo em nós! Feliz páscoa para você!

É para a liberdade que Cristo nos libertou!

PE. EDVALDO JOSÉ DOS SANTOS




Bolsonaro está brincando com a sua liberdade?

 

 

O jornal norte-americano The New York Times divulgou que o ex-presidente Jair Bolsonaro passou dois dias na embaixada da Hungria. Ele permaneceu no local entre os dias 12 e 14 de fevereiro, portanto, logo após a busca e apreensão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes (08/02), em pleno carnaval. O que pretendia Bolsonaro com a sua hospedagem na embaixada?

Soa no mínimo estranha sua hospedagem na sede da embaixada da Hungria, localizada no território brasileiro. Conforme as imagens divulgadas, Bolsonaro leva até seu próprio travesseiro para dormir no local. Não podemos nos esquecer que o ex-Presidente  mora em Brasília, local da sede das embaixadas de todos os demais países, o que torna ainda mais estranha a situação narrada pelo The New York Times.

Não causa estranheza, por outro lado, a escolha pela embaixada da Hungria, uma vez que a proximidade entre Bolsonaro e o primeiro-ministro Viktor Orbán é inequívoca.

Prova disso, para além das mútuas visitas entre os políticos, há que se destacar que o primeiro-ministro postou, em suas redes sociais, mensagem de apoio a Bolsonaro, no dia da busca e apreensão (08/02), com os seguintes dizeres: “Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente”.

Cumpre lembrar que a decisão do ministro Alexandre de Moraes determinou a entrega dos passaportes dos envolvidos, inclusive do ex-presidente, e proibiu que se ausentassem do país. Ao ingressar e permanecer na embaixada por dois dias, teria Bolsonaro descumprido a medida cautelar diversa da prisão preventiva?

Para responder essa indagação há de se entender a natureza jurídica da embaixada.

Pois bem.

Em síntese, a embaixada é a representação oficial de um governo dentro do território de outra nação

Extrai-se da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, em seu artigo 22, que: “1. Os locais da Missão são invioláveis. Os agentes do Estado acreditado não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da Missão. 2. O Estado acreditado tem a obrigação especial de adotar todas as medidas apropriadas para proteger os locais da Missão contra qualquer instrução ou dano e evitar perturbações à tranquilidade da Missão ou ofensas à sua dignidade. 3. Os locais da Missão, seu mobiliário e demais bens neles situados, assim como os meios de transporte da Missão, não poderão ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução”.

Portanto, a embaixada é um local inviolável, não podendo os agentes do Estado receptor ingressar em suas dependências sem a permissão do chefe da missão diplomática. No entanto, tecnicamente, a embaixada não é território estrangeiro.

Dessa forma, em uma análise preliminar, Bolsonaro não descumpriu a determinação do ministro Alexandre de Moraes, na medida em que não deixou o território brasileiro, haja vista que a sede da missão diplomática não constitui extensão do território da Hungria.

Todavia, em que pese não restar demonstrado que Bolsonaro se ausentou do país, a estadia na embaixada da Hungria, localizada na mesma cidade de sua residência, merece ser analisada  “cum grano salis”.

Ao tomar essa medida inusitada de se hospedar, por dois dias, em uma embaixada estrangeira localizada no território brasileiro, Bolsonaro sinaliza que buscava proteção de um aliado internacional, com escopo de ilidir eventual prisão preventiva.

A conduta do ex-chefe de Estado brasileiro, por si só, pode resultar na decretação de sua prisão preventiva? Para responder este questionamento há de se examinar as causas autorizadoras da custódia cautelar.

A norma de regência das prisões preventivas estabelece, como é cediço, que “poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado”.

Com efeito, para a decretação da prisão preventiva devem estar presentes o fumus commissi delicti e o periculum libertatis, ou seja, prova da materialidade delitiva, indícios suficientes de autoria e o perigo atual gerado por estar em liberdade.

Nos fatos imputados ao ex-presidente, não deixam dúvidas da ocorrência dos crimes dos artigos 359-L e 359-M do Código Penal, na espécie, bem como é patente a presença dos indícios suficientes de autoria. Cumpre examinar se em liberdade o ex-presidente poderia comprometer a aplicação da lei penal, fugindo do país ou se homiziando em uma embaixada de aliado internacional. Assevere que o risco de fuga deve estar fundado em circunstâncias concretas, não podendo ser presumido. Deve ser atual, ou seja, o risco deve ser presente, não pautado em circunstâncias do passado ou por suposições futuras.

A dinâmica dos fatos – busca e apreensão no dia 8 de fevereiro e hospedagem na embaixada da Hungria entre os dias 12 e 14 de fevereiro – indica que Bolsonaro pretendia buscar asilo político, o que impediria a imediata aplicação da lei penal.

Naquele momento, a decretação da prisão preventiva era perfeitamente possível.

Porém, ao deixar a sede da missão diplomática húngara, o risco da não aplicação da lei penal reduziu sensivelmente.

Cumpre agora, com um olhar para o momento atual, mensurar, com as cautelas de estilo, se há risco de Bolsonaro se furtar da aplicação da lei penal, mediante a fuga para outro país ou o asilo na sede da embaixada de uma missão diplomática.

Para se decretar a prisão preventiva, em tese, deve estar evidente a possibilidade de Bolsonaro empreender fuga. Qual a demonstração atual e concreta que o ex-presidente está em vias de se evadir do distrito da culpa?

Aparentemente não há, atualmente, risco na manutenção em liberdade do ex-presidente. No entanto, nada impede que a Polícia Federal, diante de outros elementos, vislumbre risco atual e concreto para aplicação da lei penal com a permanência em liberdade de Bolsonaro e represente pela prisão preventiva. O ministro Alexandre de Moraes, em decisão proferida na última segunda-feira(25), determinou que Bolsonaro esclareça os motivos que o levaram a se hospedar na embaixada húngara.

Marcelo Aith é advogado criminalista. Mestre em Direito Penal pela PUC-SP. Latin Legum Magister (LL.M) em Direito Penal Econômico pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa – IDP. Especialista em Blanqueo de Capitales pela Universidade de Salamanca

 

 




Diocese de Assis

 

 

          O processo de julgamento de Jesus é uma dessas peças jurídicas digna de estudo pormenorizado por aqueles que almejam sucesso na carreira advocatícia. É  pauta obrigatória nos estudos de bons profissionais nesta área. Por isso, a narrativa do evangelista Marcos (15,1-39), a mais sintática descrição dos detalhes da condenação e crucificação narrados pelos quatro evangelista, tornou-se fonte de argumentações tanto para a defesa, quanto para a acusação de qualquer réu em vias de julgamento. Presentes nessa minuta os meandros de uma acusação bem urdida e as interrogações não respondidas de uma defesa corrompida pelas ameaças e pela possível perda de popularidade junto aos manipuladores da opinião pública, os poderosos de plantão.

Começa pela questão central: “És tu o rei dos judeus?” Ou seja, és tu o articulador de um golpe contra nossos governantes, aqueles que detêm poderes de conduzir o povo a seu bel-prazer, de articular seus exércitos para manter a subserviência do povo, decidir sobre a vida de seus súditos conforme os interesses político-sociais em vigor? És tu aquele que se levanta contra a vida fausta, temerosa e ardilosa dos que se dizem sumo sacerdotes, defensores da Lei de Deus? “És tu o que há de vir, ou devemos esperar outro”, foi o questionamento daquele que já tinha a resposta em seu coração desde quando aquela voz ecoou num deserto e chegou aos seus ouvidos como retumbante brado da Verdade. Não era um rei, mas um cordeiro, conclui o Batista. E assim o apresentou ao mundo.

E, como todo bom cordeiro, caminhava agora em silêncio para seu próprio abatedouro! Seu silêncio falaria mais alto… “Nada tens a responder? Vê de quanta coisa te acusam!” O silêncio seria sua voz naquele deserto de desamor humano que se negava a escolher entre a verdade que liberta e a mentira que rouba a dignidade da vida humana. Jesus ou Barrabás? Liberdade ou libertinagem? Essas eram as opções que restavam àquela multidão alienada, manipulada em seus princípios e direitos de escolha lúcida, consciente, conforme lhes havia ensinado o réu em questão. “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar!” E agora, mestre sem tribuna, sem ação? Saia dessa, oh grande Messias! Mas Jesus apenas balbuciou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Quebrou o silêncio com um desabafo de quase decepção…, contra aqueles que o acusavam, o abandonavam na sua dor crucial.

A aparente derrota se agigantou após seu grito final, seu último suspiro nessa vida injusta e passageira. Aos olhos de um oficial romano, presente naquela via crucis de injustiças e humilhações sem limites, aos olhos de um aparente braço forte do sistema e do falso poderio humano sobre a própria vida, aos olhos daquele coração condoído por tudo o que presenciara naquele dia, surge uma lágrima de compaixão, quebra-se o silêncio de um coração condoído, solidário : “Na verdade, este homem era Filho de Deus!” A justiça então se faz…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]




Espaço Espírita

 

– Chico Xavier, nos últimos tempos o homem vem destruindo paulatinamente a natureza. Qual a opinião do Espiritismo sobre esta triste tendência?

Resposta:- A nossa resposta está contida na pergunta. A destruição dos recursos da natureza, mesmo a título de progresso, é uma triste tendência dos homens da atualidade. E cremos que semelhante agressão à vida natural se fará seguida por amargas consequências de que o tempo trará notícias à Humanidade Terrestre.

(Entrevista concedida por Francisco Cândido Xavier a Luiz Costa Filho e publicada no Jornal de Higienópolis – São Paulo/SP em junho/1983) 

Extraído do livro “Entender conversando” Editora IDE

USE  INTERMUNICIPAL  DE  ASSIS

ÓRGÃO DA UNIÃO  DAS  SOCIEDADES  ESPÍRITAS  DO  ESTADO  DE  SÃO  PAULO




Diocese de Assis

 

A semana santa está ai! Começa neste dia 24 de março. Vamos vivenciá-la

Começando pelo Domingo de Ramos, a Semana Santa nos permite celebrar, mais de perto, o Mistério Pascal de Cristo entendido como sua Paixão, Morte e Ressurreição. Na Semana Santa vivenciamos os últimos momentos de Jesus iniciado pelo processo injusto que o sentenciou à cruz até a ressurreição comunicada, de antemão, para Maria Madalena. São momentos intensos, comoventes, chocantes, emocionantes. São momentos de tristeza, dor, medo, desespero e abandono misturado com alegria, esperança, confiança e coragem.

A Semana Santa tem o poder de nos fazer sentir gente com o humano sofrimento de Jesus e divino com a sua vitória sobre o pecado e a morte na cruz.

A Semana Santa é o resumo de uma história de fé baseada na obediência, no amor e na fidelidade, tanto sobre Jesus como sobre nós. Deste modo, a Semana Santa é a expressão não dos dias que se sucedem mas, do tempo que se cumpre na fé.

A Semana Santa é o tempo da maturidade no caminho da cruz!

Não podemos desprezar os tempos e nem os momentos. Não podemos perder a chance de fazer desta Semana Santa, a melhor de todas as Semanas Santas de nossa vida. Não podemos perder a chance, também, de fazer desta páscoa a melhor de todas as páscoas de nossa vida.

Para viver bem a Semana Santa, você não pode perder de vista, pelo menos, o TRÍDUO PASCAL que é o centro da Páscoa. Tem início na Celebração da Ceia do Senhor na noite da quinta-feira santa, passa pela Paixão e Cruz de Nosso Senhor, na sexta-feira santa, e chega até o domingo de páscoa, sustentando uma espera em oração, durante toda a noite, na vigília pascal ou sábado de aleluia.

A quinta-feira santa abre o Tríduo Pascal com a celebração de Instituição da Eucaristia (ou missa do lava-pés). Nesta noite recordamos o momento em que Cristo, reunindo os seus apóstolos, resolve dar à ceia pascal judaica, que celebrava a libertação do Egito, um novo sentido: o da libertação da morte e do pecado, com a sua cruz. Dentro desta ceia ele dá um mandamento, que é o seu, o único: “amem aos outros como eu amei vocês”. O sinal deste amor é a obediência e o serviço que vem do lava-pés: “dei o exemplo para que vocês façam a mesma coisa”. A afirmação fundamental desta celebração é que a Igreja faz e vive da Eucaristia.

A sexta-feira santa nos coloca diante do sofrimento e da dor de Jesus. Nós nos reunimos para comemorar e reviver a paixão do Senhor. A Igreja contempla Cristo que, morrendo, se oferece como vítima ao Pai, para libertar toda humanidade do pecado e da morte. Nós adoramos, nesta celebração, o mistério de nossa salvação e dispomos nosso coração, na fé e no arrependimento, para que possamos ser curados e santificados pelo Sacrifício do Cristo. A Cruz tem poder de salvar. Este é o único dia do ano que nunca se celebra missa, só se distribui a comunhão. A celebração deste dia tem quatro partes: paixão proclamada: liturgia da palavra; paixão invocada: solene oração universal; paixão venerada: adoração da cruz e paixão comungada: comunhão eucarística.

O Sábado Santo (ou sábado de aleluia)… este é o dia da espera! É o dia da Vigília Pascal… a noite mais clara de todas as noites do ano; é a maior de todas as celebrações da Igreja porque a LUZ do Cristo põe fim à escuridão. Nesta noite está o fundamento de fé da Igreja. Nesta noite declaramos e assumimos que nossa fé se fundamenta na força de um Deus morto e ressuscitado e disso não nos envergonhamos.  A celebração desta noite tem quatro momentos: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. A noite toda do sábado é celebrada em vigília (acordados) para vermos a madrugada da ressurreição.

Vamos viver a Semana Santa!

É para a liberdade que Cristo nos Libertou!

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS




Fado

A ironia do tempo: no domingo, a direita brasileira cantou a plenos pulmões o verso do Chico: “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”. Afinal, a vitória das direitas – a mais racional, tradicional, sob o nome de Aliança Democrática,  e a mais bizarra, chamada – seguindo a cartilha da novilíngua de Orwell – de “Chega”, desbancaram o Partido Socialista, há oito anos no poder, nas eleições antecipadas depois da demissão do Primeiro-Ministro, enrolado em meio a acusações de corrupção. Aliás, outra ironia – já que as esquerdas sempre pregaram a lisura na gestão pública –  outra canção do Chico: “Dormia, a nossa pátria-mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída, em tenebrosas transações.”

O resultado, comemorado por bolsonaros, maltas, malafaias et caterva, não é propriamente uma vitória acachapante, mas uma vitória suficiente, já que garante uma desestabilização inegável do bipartidarismo português, vigente, em meio a arranjos (muitas vezes à socapa) desde a revolução dos Cravos, o movimento dos capitães que acabou com a ditadura que relegou Portugal à condição de um pária europeu, um país melancólico, de favas e fados e vilas de senhoras de luto permanente com rosários nas mãos e imagens de António de Oliveira na parede caiada e sem viço. 

Agora, sobre o futuro, nem a Deus pertence, mas aos arranjos que envolverão, à direita – PPD, PSD, CDS, PP, PPM – com a Iniciativa Liberal, e /ou com o Chega, que alcançou a posição de terceira força política do país, ganhando a projeção que o Vox tem na Espanha, ou o Partido pela Liberdade na Holanda, ou mesmo o Alternativa para a Alemanha. Luís Montenegro, líder da coligação vencedora, a AD, prometeu que não colocaria o Chega no governo. Mas a realidade pode mudar suas convicções. Sem a extrema direita, a Aliança Democrática governará como minoria, como Lula faz por aqui, no Brasil, tendo que matar um leão por dia, e, mesmo assim, sem conseguir escapar de extensas e dolorosas mordidas. No caso de Portugal, isso significa a possibilidade de novas eleições, o que pode gerar um impasse como o que a Bélgica e Israel viveram. É o preço de um sistema de governo pensado para ser bipartidário e não a colcha de retalhos no qual a política portuguesa se transformou.

Por outro lado, o Partido Socialista – replicando outro verso do genial Chico Buarque: “Eu semeio o vento, na minha cidade, vou pra rua e bebo a tempestade” – recebeu uma reprimenda dos eleitores, e perdeu mais de meio milhão de votos – 10% do total de eleitores que foram às urnas. O tempo no poder – quase 9 anos – sempre cobra um preço, mas a renúncia do primeiro ministro em meio a acusações de corrupção enquanto os salários médios dos portugueses são um dos menores da União Europeia, somado a uma brutal gentrificação de suas principais cidades, tem provocado um efeito “manifestações de 2013”, sem os black blocs, mas com a mesma indignação. Os brazucas que o digam, vítimas que têm sido em diversos episódios de ódio incontido e de desprezo declarado. Todo esse caldo é um prato cheio para o novo fascismo que põe em risco a Democracia no século XXI. Resta torcer que os versos do Chico não se tornem realidade e não tenhamos de ver e viver “outra realidade menos morta, tanta mentira, tanta força bruta”  outra vez.

Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.