CHÃO DE ESTRELAS
Por Alcindo Garcia
No ramo das Comunicações acabei por me tornar um crítico em potencial. Novelas do Globo, sempre com o mesmo tema. Homossexualismo, lesbianismo, infidelidades conjugais, quando não a violência exacerbada em cada capítulo. Vez ou outra, formam-se redes nacionais para comunicação de algum pai da Pátria. E lá vem propaganda enganosa. Dessa forma, prefiro ouvir música. Ouço Beatles, Tina Turner, Titãs, Marisa Monte. Os inesquecíveis “Is Time Góes By” (do filme Casablanca), “La Mer” (de Charles Trenet) e entre os clássicos As “Bacchianas” de Villa Lobos e o “Bolero de Ravel”.
Entre as músicas brasileiras, destaco um clássico da música popular que vale por um conteúdo sociológico: “Chão de Estrelas”, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, autêntica literatura e poesia. A letra integra o folclore onde o brasileiro faz blague, desabafa-se e resigna-se. Suas estrofes encerram com extraordinário poder de síntese, na sua simplicidade e no seu lírico sabor, verdadeira resignação a tudo.
Certos políticos (já em campanha!) se aproveitam desta índole pacífica tão bem retratada em “Chão de Estrelas” com o único objetivo de manipular nossa gente, pobre e sofrida, mas que se satisfaz com migalhas de ajudas oficiais. Comparem nas estrofes.
“Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas,
Pareciam estranho festival…
Festa dos nossos panos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional!
A porta do barraco era sem trinco;
E a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão…
Tu pisavas nos astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabocla, o luar e o violão…”.
Nestas estrofes está a descrição da miséria, o estigma do desemprego (é sempre feriado nacional!…), e a extraordinária vontade de ser feliz, buscando nas estrelas, na música e no amor, o que a terra e os políticos negaram.
(Alcindo Garcia é Jornalista) e-mail: [email protected]