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Democracia começa em casa

 

 

Há pouco mais de um mês uma pesquisa eleitoral revelou que mais de 60% dos brasileiros não se lembram em quem votaram para deputado federal e senador nas últimas eleições (2018). E que, entre os 17% que guardam alguma lembrança, 36% não fazem a menor ideia do que os parlamentares eleitos com seus votos têm feito no Congresso até o momento.

O que isso significa? Esse alheamento político talvez possa ser entendido pelo fato de que boa parte da população esteja focada, pura e simplesmente, em sobreviver. Não dá para usar o tempo, acredita, preocupando-se com o que a classe política anda fazendo ou desfazendo em Brasília ante tamanha fome, tamanho desemprego e abandono do poder público no dia a dia do País. 

Mas essa alienação da política também pode ser vista como uma escolha racional. O brasileiro opta por se abster da política. Não por acaso, falar de política chega a ser proibido. E não falo aqui do dito popular: “Política e religião não se discute na mesa do jantar”. Mas falo de proibições de fato de se fazer reuniões políticas em condomínios, em clubes, em grupos de whatsapp e em outras ágoras de hoje em dia. 

A sociedade civil, ao contrário de buscar uma participação mais efetiva na política, faz exatamente o oposto, tenta se isolar cada vez mais da política. E esta opção por abstenção é o que gera a política que temos hoje no Brasil. Um país que acha graça na candidatura de Tiriricas e Kid Bengalas. Um país que se encanta por políticos populistas. A falta de perspectiva política é resultado direto dessa escolha da sociedade civil não querer se envolver a sério na política. 

Mas o fato é que, ao optarem por se manter alienados, os brasileiros deixam de exercer a cidadania em um de seus aspectos essenciais: o de escolher racionalmente quem os representará nos próximos quatro anos na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados, no Senado e à frente do governo estadual e federal. 

Vamos lembrar que a defesa da democracia começa no exercício da cidadania, na discussão, participação política cotidiana e permanente. Para ir direto ao cerne da questão: na democracia do século 21, a participação popular não pode se restringir à eleição de seus representantes, é preciso que o brasileiro acompanhe as atividades do Parlamento depois das eleições, fiscalizando a atividade dos políticos durante seus mandatos. 

Precisamos trazer a política para o dia a dia. Política precisa ser discutida em casa, de preferência, à hora da refeição. É preciso que a discussão sobre a sociedade comece no menor núcleo social e passe para todos os espaços comuns de convivência. Afinal é da discussão dos problemas que parte a solução dos problemas. E é do engajamento político que sairá a garantia de que as soluções propostas pela comunidade possam ser realmente implementadas. Ou seja, é pela política que começa a transformação. 

Democracia, palavra de origem grega, não vamos esquecer, tem um único significado, a do “poder soberano do povo”. Nós ansiamos por um Estado democrático de Direito, defendido por cidadãs e cidadãos brasileiros de todos os quadrantes. E, para isso, precisamos escolher participar da política. 

Adriana Ventura é deputada federal e presidente da Frente Ética Contra a Corrupção