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Diocese de Assis

Temos insistido que é preciso ter clareza sobre a quaresma para que ela o efeito pretendido de conversão. O tempo da quaresma não deve ser entendido, erroneamente, como tempo de privações, restrições, medos e lendas.  O tempo da quaresma é muito mais do que uma sucessão de dias até completar quarenta.

Neste artigo, particularmente, queremos valorizar a quaresma como um tempo oportuno; um tempo bom para inquirir-nos sobre o modo como nos relacionamos com os outros. Afinal, há um tipo de “justiça” que devemos superar: aquela da superficialidade e da aparência.  Porque, só a justiça do Reino nos torna justos.  E a justiça do Reino é esta: fazer o bem sem olhar a quem, sem esperar recompensa. O mal, porém, não fazer a ninguém.

Sendo assim, na convivência, tudo depende do modo como nos relacionamos com os outros.  Quem é superficial terá, sempre, relacionamentos, amizades, ligações, motivações… superficiais.  E, esse, é um tipo de relacionamento vazio e, portanto, destrutivo.

O alerta é do próprio Cristo: “Prestem atenção!” Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles.  Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu. Por isso, quando você der esmola, não mande tocar trombeta na frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens.  Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. Ao contrário, quando você der esmola, que a esquerda não saiba o que a sua direita faz, para que a sua esmola fique escondida; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você” (Mt 6,1-4).

O alerta e o questionamento de Jesus incidem diretamente não sobre a Caridade, mas sobre um tipo de caridade que, por si mesma, é destrutiva e mortal: a caridade interesseira e oportunista; a caridade fingida.

A questão principal é a seguinte: não deixar de fazer a caridade, mas aprender a fazer a caridade segundo a justiça do Reino, o AMOR. Quem age assim é feliz e faz feliz os outros.

Não é sem razão que encontramos em 1Cor 13,1-8 a seguinte declaração: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos; ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, Tudo desculpa, tudo crê; tudo espera, tudo suporta… O amor jamais passará.”

E, noutra passagem, em 2Cor 9,6-9: “Saibam de uma coisa: quem semeia com mesquinhez, com mesquinhez há de colher; quem semeia com generosidade, com generosidade há de colher. Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria. Deus pode enriquecer vocês com toda espécie de graças, para que tenham sempre o necessário em tudo e ainda fique sobrando alguma coisa para poderem colaborar em qualquer boa obra, conforme diz a Escritura: ‘Ele distribuiu e deu aos pobres; e sua justiça permanece para sempre’.”

A verdade sobre a caridade, segundo a Sagrada Escritura, é uma só: caridade não é dar coisas, mas dar-se a si mesmo.

A quaresma é assim: aprender a caridade para viver melhor e com sentido!

PE. EDVALDO