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Diocese de Assis

Eis o que estamos vivendo: uma verdadeira pandemia de crise espiritual! Não mais um simples vírus biológico assusta e assola a integridade humana, mas também um terrível e incontrolável devorador da espiritualidade inerente ao ser humano. Este perdeu todo e qualquer senso de lógica, decência, equilíbrio na fé que tenta proferir. Os escândalos aí estão! Os desvios se sucedem, dia a dia, deixando incautos e desavisados mais incautos e desavisados, sem lhes oferecer pistas do melhor caminho. Com quem a verdade? Onde estacionar nossa esperança? Qual voz possui o timbre profético dos novos tempos? Enfim, vale a pena acreditar, quando tudo concorre para contínuas decepções?

Eis o perigo da descrença total. A maior e mais terrível das doenças humanas não é aquela que fere o corpo, ameaça a vida, mas faz sucumbir a esperança, a última das guardiãs da alma humana. Contra esta não existe vacina, nem anticorpos, nem qualquer paliativo biológico que vença sua voracidade diabólica. Ela se dissemina exatamente no silêncio dos que se entregam sem reação, sem palavras que despertem a inercia da maioria, a indiferença dos agentes de saúde da espiritualidade humana. Dos omissos. Na ação dos oportunistas. Muitos desses estão escandalosamente tirando proveito da cegueira dos ingênuos, deitando e rolando sobre essa ingenuidade, para se locupletarem em seus projetos de poder, fama, glória e dinheiro, muito dinheiro.

Não mais me espantam os sucessivos noticiários de escândalos religiosos. A mídia pensa ganhar audiência, mas perde. Não porque esteja disseminando inverdades, mas generalizando uma fraqueza humana como se esta fosse natural, institucionalizada. Uma instituição milenar não pode ser responsabilizada por deslizes de alguns poucos, que, aqui e acolá, pisam na bola vez ou outra. É o caso da Igreja cristã e de seu inúmeros braços devocionais que hoje são massacrados pelos deslizes ou desvios de alguns de seus membros (muitos desses apenas acusados, mas sem comprovações; outros desgraçadamente comprovados), mas cujas ações ou omissões não distorcem o objetivo evangélico: levar todos os homens à salvação, ao entendimento de sua vida espiritual…

Uma pessoa de fé não pode julgar. Tem os olhos da carne arrancados pela certeza da misericórdia. Tem as mãos amputadas pela impossibilidade de assinar sentenças capitais. Os ouvidos moucos para as incertezas dos boatos. Cortar o mal pela raiz nos ensina a voz da prudência.  “Se teus olhos, tuas mãos… te escandalizam, arranca-os”, diria nosso mestre. Mas olhos e mãos são instrumentos de uma ação maior, a caridade, a solidariedade com os injustiçados, a esperança sempre renovada de que o bem vencerá, a verdade libertará.

Não sejamos nós os disseminadores do caos total, essa pandemia que faz naufragar nossa esperança maior. Os escândalos aí estão, solapando nossa fé, minando os porões seculares da Igreja de Cristo, a maior e mais visada das guardiãs da espiritualidade humana. É ela o alvo do momento. Querem nos destruir, destruindo por primeiro a instituição que zela pela integridade da fé cristã. Os eventuais escândalos que pipocam aqui e ali, continuarão existindo, porque a fraqueza é nosso lado humano. Mas não será apontando erros ou desvios próprios da fragilidade de que todos somos revestidos, que apagaremos dessa história a fortaleza da fé que defendemos. Sobre ela nada prevalecerá. Nem uma situação caótica como a atual, da qual sairemos mais fortalecidos e purificados, como em todos os momentos críticos pelos quais já passamos. E passaremos. Pois outros escândalos virão, para honra e glória daquele que tudo pode, tudo vence. E nos conforta com promessa de justiça: “Ai daqueles que escandalizam os pequeninos!”

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]