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Diocese de Assis

“Já me aconteceu ver árvores jovens, belas, que elevavam seus ramos sempre mais alto para o céu; pareciam uma canção de esperança. Mais tarde, depois de uma tempestade, encontrei-as caídas, sem vida”. Com tão significativo paralelo, Papa Francisco introduz o sexto capítulo de sua carta Chistus vivit, para sublinhar a importância do aprofundamento dos jovens cristãos na fé que dizem possuir. “Compreender isto permite-nos distinguir entre a alegria da juventude e um falso culto desta de que alguns se servem a fim de seduzir os jovens e usá-los pra seus fins” (180). Clareza na fé e visão crítica dos fatos, nos pede em suma. “Que não te arranquem da terra”, diz em subtítulo.

A importância dessa visão crítica vem do fato de muitas distorções doutrinais pelas quais passa a história da Igreja, suas divisões, separações e confusões ideológicas, bem como as perseguições agnósticas dum mundo onde o culto ao corpo – “o corpo jovem torna-se o símbolo deste novo culto” (182) – e a superficialidade da vida – “que confunde beleza com aparência” (183) – tendem a promover um espécie de “espiritualidade sem Deus, uma afetividade sem comunidade nem compromisso com os que sofrem, o medo dos pobres vistos como sujeitos perigosos e uma série de ofertas que pretendem fazer-vos acreditar num futuro paradisíaco” (184). Constata-se nesse processo “uma destruição cultural, que é tão grave como a extinção das espécies animais e vegetais” (186).

Citando velho provérbio (Se o jovem soubesse e o velho pudesse, não haveria nada que não se fizesse), o Papa lembra a importância do respeito e congraçamento entre gerações, que na Igreja vem do respeito às tradições e da herança bíblica de seus ensinamentos. “Por isso, é bom deixar que os idosos contem longas histórias, que às vezes parecem mitológicas, fantasiosas – são sonhos de anciãos -, mas frequentemente estão cheias duma rica experiência” (195). E resume, assertivamente: “Se caminharmos juntos, jovens e idosos, poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro…” (199). Passado e futuro é que fazem a história que juntos escrevemos.

Idosos interpretando os sinais das estrelas e jovens remando com forças, levam juntos a canoa de Cristo, a barca que representa sua Igreja no mundo. Essa é a missão duma pastoral de conjunto, onde “a pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, convidando os jovens para acontecimentos que, de vez em quando, lhes proporcionem um espaço onde não só recebam uma formação, mas lhes permitam compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo” (204). Eis em síntese a Pastoral Juvenil sonhada pelo Papa. “É necessário aproximar-se dos jovens com a gramática do amor, não com o proselitismo” (211). Ambientes adequados e receptivos são primordiais. “Hoje, muitos jovens sentem-se filhos do fracasso, porque os sonhos de seus pais e avós acabaram queimados na fogueira da injustiça, da violência social, do ‘salve-se quem puder’. Quanto desenraizamento!” (216). Não podemos perder a singularidade da mensagem evangélica. “Às vezes, por pretender uma pastoral juvenil asséptica, pura, caraterizada por ideias abstratas, afastada do mundo e preservada de toda a mancha, reduzimos o Evangelho a uma proposta insípida, incompreensível, distante, separada das culturas…” (232). Esquecemos dos milagres da ação missionária.

“Quero lembrar que não há necessidade de fazer um longo percurso para que os jovens se tornem missionários” (239). Aqui Francisco nos pega. “A pastoral juvenil deve ser sempre uma pastoral missionária” (240). Um simples convite a uma participação litúrgica ou ação cristã já é uma atitude de missão. As redes sociais são hoje excelentes instrumentos dessa ação. Nossos jovens se apresentam como potenciais líderes, que não podem decepcionar, pois “quando caem, provocam um impacto devastador na capacidade que os jovens têm de se comprometer na Igreja” (246). Noutras palavras: Cristo chama. Vem e segue-me. Com coerência e raízes sadias…

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]