Diocese de Assis
Desde a virada do milênio, a CNBB e o CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, que representa a ala mais histórica e tradicional da Reforma Protestante, tentam uma caminhada de unidade no tempo quaresmal. Para tanto, a cada cinco, seis anos, elaboram em conjunto o tema da Campanha da Fraternidade, num trabalho de crescente diálogo e intercâmbio religioso entre suas comunidades, cujo esforço primeiro vem da exemplar busca dos laços ecumênicos entre as tradicionais igrejas cristãs. Belo esforço!
Nesta quinta edição fraterna de uma campanha nascida no seio do catolicismo brasileiro, há de se ressaltar o respeito e a liberdade dada aos redatores do texto-base, elaborado quase que em sua totalidade pelos expoentes das igrejas evangélicas representadas no CONIC. Daí o estilo diferenciado que muitos católicos encontraram no texto. Daí muitas das críticas enciumadas de alguns setores mais tradicionalistas da ampla diversidade de nosso catolicismo carente de mais unidade na sua diversidade. Daí a razão de muitas divergências que maculam o esforço maior desse trabalho, a busca da nossa unidade cristã.
Começa pelo tema de CF: “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e culmina com seu lema retirado da carta de Paulo aos Efésios (2,14) onde se lê: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. Eis, gente, a grande riqueza desse trabalho ecumênico, que não se pode perder por ninharias pastorais ou linhas divergentes que pouco alteram o bem maior do que já conquistamos até aqui. “Ora, não podemos abrir mão de nossas crenças e tradições milenares”, diz alguém. E da nossa realidade de irmãos na fé, podemos? “Essa ou aquela linha doutrinária não condiz com nossa fé”. Tudo bem, mas nosso Cristo continua o mesmo, ontem, hoje e sempre. Ou não? “Mas a ideologia de gênero, o movimento LGBT, o aborto…” Gente, essas ninharias do modismo ou do momento histórico são sempre circunstanciais, passageiras, mundanas, conquanto o que prevalece é a Verdade questionadora de Cristo. Pois então, qual o problema de debater ou levantar essas questões?
Na realidade, o que está em jogo nestas questões é a não visão do todo, do bem maior que a unidade nos oferece. Se, diferentemente das outras campanhas, quem secretaria e modula os textos não é a CNBB, mas um órgão genuinamente evangélico, vamos dar graças por esse progresso e ouvir com maiores atenções o que esses irmãos têm a nos dizer. Ser divergente, não necessariamente é ser discordante. Vale mais nossos pontos comuns do que nossas eventuais discordâncias. Nosso bem maior é a fé que nos une, não as arestas que nos espezinham. Como bem lembrou a secretária geral do CONIC, citando, talvez sem o saber, uma frase bem conhecida do nosso saudoso bispo D. Helder Câmara; “Isso porque um sonho que sonhamos juntos vira realidade”.
Já ouvi absurdos de lideranças e padres feridos no orgulho próprio do mando e desmando numa campanha tipicamente católica, tais como: “Esqueçam essa campanha” ou “Não vamos adotá-la em nossa paróquia (ou mesmo diocese)”, ou “A verdade está do nosso lado”. Será mesmo assim? Tristes estes, que olham apenas para o próprio umbigo e esquecem de que seus cordões umbilicais um dia foram jogados telhado acima ou enterrados no quintal de suas posses… Dividir é ação típica do Inimigo. Quem teima em defender uma unidade sem olhar para a diversidade que nos rodeia, nunca compreenderá o grande sonho de Cristo: “Que todos sejam um”. Esqueçamos nossas picuinhas e guerrinhas em defesa dos nossos territórios e olhemos com mais critérios para o quintal vizinho. Quem sabe aquele irmão desgarrado, desconhecido, tem muito a nos ensinar. Essa parada é dura. Outras mais virão no decorrer dessa CFE.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]